Um novo alvo dos cartéis mexicanos de drogas: idosos e suas casas de veraneio


Um dos grupos criminosos mais poderosos do México administra call centers com operadores que se oferecem para comprar cotas de casas de veraneio compartilhadas por aposentados - e zerar suas contas bancárias

Por Maria Abi-Habib

Primeiro os cartéis inovaram traficando drogas. Depois no ramo dos abacates, em empreendimentos imobiliários e na construção civil. Agora, um grupo criminoso mexicano conhecido por sua brutalidade está mirando os idosos e suas cotas imobiliárias (timeshares).

A operação é relativamente simples. Funcionários do cartel passando-se por representantes de vendas telefonam para proprietários de cotas imobiliárias oferecendo-se para comprar os investimentos por preços generosos. Os representantes exigem taxas antecipadas para todo tipo de coisa, de listas de anúncios a pagamentos de multas para o governo. Persuadem suas vítimas a transferir grandes quantias em dinheiro para o México — às vezes centenas de milhares de dólares — e então desaparecem.

Esse esquema rendeu ao Cartel de Jalisco Nova Geração centenas de milhões de dólares ao longo da década recente, de acordo com autoridades americanas que não estão autorizadas a falar publicamente, por meio de dezenas de call centers instalados no México que miram implacavelmente americanos e canadenses proprietários de cotas imobiliárias. Eles chegam a subornar empregados de resorts mexicanos para obter dados de hóspedes, afirmam autoridades americanas.

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Turistas em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea no México: nos últimos cinco anos, os proprietários americanos de casas de veraneio sofreram golpes de US$ 288 milhões, segundo o FBI  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Esse golpe representa a mais recente evolução do Cartel de Jalisco Nova Geração, que impregnou tanto o setor ilegal quanto o setor legal da economia mexicana. Com pouco mais que um telefone e um roteiro convincente, funcionários do cartel caçam vítimas em vários países.

E até esses empregados são vulneráveis à crueldade do cartel. Em maio, os corpos de oito jovens mexicanos que trabalhavam em um call center do cartel foram descobertos em dezenas de sacos plásticos em uma ravina nas imediações de Guadalajara, no Estado de Jalisco.

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O cartel mira normalmente os idosos, pessoas aposentadas que querem deixar o máximo de dinheiro que puderem para suas famílias vendendo as propriedades que possuem. Várias vítimas entrevistadas pelo New York Times afirmaram que o dinheiro que perderam com os golpistas excedeu o valor inicial de cotas imobiliárias na Jamaica, na Califórnia e no México.

“Eu sou velho, como esses clientes”, afirmou Michael Finn, fundador do Finn Law Group, em St. Petersburg, na Flórida, que representa milhares de pessoas acometidas por várias formas de fraudes em cotas imobiliárias. “Nós tendemos a dar confiança quando alguém nos telefona e conversa conosco vendendo esses sonhos.”

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Finn percebeu a gravidade desse tipo de fraude dois anos atrás, quando recebeu um telefonema de uma mulher desesperada, cuja mãe tinha transferido US$ 1,2 milhão, as economias de sua vida inteira, para o México para poder vender sua cota imobiliária.

A indústria de timeshares está aquecida, registrando US$ 10,5 bilhões em vendas em 2022, um salto de 30% em relação ao ano anterior, de acordo com a Associação Americana de Desenvolvimento de Resorts. Quase 10 milhões de americanos usam casas de veraneio compartilhadas, afirmou a associação, gastando uma média de US$ 22 mil em seus investimentos, além de encargos anuais na faixa de US$ 2 mil. A maioria das cotas imobiliárias é em resorts no litoral.

O crescimento do setor coincide com um aumento de 79% ao longo dos últimos quatro anos em queixas de fraudes relacionada a cotas imobiliárias registradas pelo FBI. Mas as autoridades americanas só podem investigar golpes originados no México com cooperação de seus homólogos mexicanos. E firmas de advocacia dos EUA não podem abrir processos no México, pois não têm jurisdição.

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Héctor Flores, que rastreia vítimas de assassinato no estado de Jalisco e disse saber de 30 pessoas que desapareceram de call centers dos criminosos desde 2017 Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Ao longo dos últimos cinco anos, donos de cotas imobiliárias perderam US$ 288 milhões, segundo o FBI, por meio de vários tipos de fraude, incluindo as perpetradas pelo cartel. O montante real muito provavelmente ronda US$ 350 milhões, já que cerca de 20% das vítimas não prestam queixa.

“As vítimas preferem não denunciar porque ficam envergonhadas e escondem isso da família”, afirmou Finn.

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Em outubro de 2022, um casal de aposentados — James, de 76 anos, e sua mulher, Nicki, de 72 — afirmou que recebeu um telefonema de um suposto corretor de imóveis da Worry Free Vacations, de Atlanta, oferecendo-se para intermediar a venda de sua cota imobiliária em Lake Tahoe, Califórnia, para um abastado empresário mexicano. Ambos pediram para que seu sobrenome não fosse publicado por estar “muito envergonhados” por ter caído no golpe.

Conforme as filhas ficaram adultas, a família parou de usar a casa de veraneio que tinha comprado nos anos 90, por cerca de US$ 8 mil, então o casal resolveu aproveitar a oportunidade de venda.

O golpe começou com taxas menores, afirmou James — uns poucos milhares de dólares aqui e acolá, destinados a cobranças do governo mexicano para o registro de “transações transfronteiriças”. As contas foram ficando cada vez mais caras após ele ser informado que estava sendo multado pelas autoridades mexicanas em razão de várias violações e que poderia ser extraditado para o México por violar a lei caso não pagasse. Em um determinado momento, afirmou James, os golpistas chegaram a convencê-lo a investir em uma nova propriedade comercial no país.

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Cerca de duas dúzias de pagamentos depois, o casal tinha transferido cerca de US$ 900 mil para várias contas bancárias no México, de acordo com registros analisados pelo Times.

Golpes que lesam vítimas a esse ponto não são incomuns, segundo o FBI. A agência afirma que, normalmente, vítimas como James e Nicki transferem dinheiro para contas bancárias de integrantes do Cartel de Jalisco Nova Geração.

O casal afirmou que perdeu as economias de toda a vida e agora está endividado. James e Nicki contaram que acabaram pegando emprestado US$ 150 mil de uma de suas filhas e vendendo a casa em que James foi criado, mas que não tiveram nenhum centavo de retorno.

“Tenho certeza de que se eu lhes contasse, elas diriam, ‘Como você pôde ter sido tão burro?””, afirmou James sobre suas filhas. “E eu me fiz essa mesma pergunta. Eu achava que tinha alguma inteligência.”

Um call center em Guadalajara, México, em 19 de fevereiro de 2024, que operava dando golpes em idosos para o Cartel Jalisco Nova Geração: oito funcionários do centro foram encontrados mortos mais tarde  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Os golpistas se identificaram como representantes de vendas e uma autoridade do Banco Central mexicano, mostram e-mails analisados pelo Times, e prometiam com frequência que o casal pagaria apenas “uma última taxa” e seu dinheiro seria liberado.

Mas depois de cada pagamento uma nova taxa aparecia.

Em um comunicado, o Banco Central mexicano afirmou que está ciente da fraude das cotas imobiliárias sendo cometida em seu nome e alerta as pessoas para que não caiam no golpe.

No fim do ano passado, James começou a receber mensagens desesperadas de supostos representantes afirmando que um colega deles tinha sido preso no México depois de tentar acertar o caso de James, segundo telefonemas gravados e e-mails analisados pelo Times.

“Por favor, façam tudo o que puderem para trazer meu amigo/chefe de volta para casa. Ele sente muita falta de sua família, é muito doloroso ouvi-lo. Vocês são a única esperança para isso se resolver”, dizia um e-mail recente. “A quantia pendente a ser paga é: US$ 157.786,61.”

James disse que estava considerando assumir uma segunda hipoteca para pagar essa quantia, até que suas filhas o impediram.

Apesar de fraudes que miram proprietários de cotas imobiliárias serem um crime financeiro, no México a atividade pode ser mortal.

Os oito mexicanos encontrados mortos nas imediações de Guadalajara no ano passado trabalhavam em um call center operado pelo Cartel de Jalisco Nova Geração no centro da cidade, afirmaram autoridades americanas. Promotores de Justiça mexicanos afirmaram que, ao vasculhar o local, encontraram um esfregão com manchas vermelhas, quadros negros com nomes de estrangeiros escritos e detalhes sobre adesões a propriedades compartilhadas.

Quando visitaram recentemente o call center, repórteres do New York Times encontraram o local fechado, com um carro de polícia estacionado na frente. O edifício fica em um bairro rico, diante de um parque. Pais e mães caminhavam levando suas crianças para a escola.

Héctor Flores, fundador do Coletivo Luz e Esperança, que vasculha o Estado de Jalisco em busca de corpos de pessoas desaparecidas, afirmou que tem registros a respeito do desaparecimento de aproximadamente 30 pessoas dos call centers desde 2017. Mas muito provavelmente há mais gente desaparecida, afirmou ele, pois muitas famílias não denunciam desaparecimentos por temer represálias. O escritório da Promotoria estadual não respondeu a pedidos de comentário.

Fundado há 15 anos, o Cartel Jalisco Nova Geração cresceu e se tornou uma das organizações criminosas mais poderosas no México. Em anos recentes, o grupo expandiu suas atividades para setores legais da economia, incluindo exportação de abacates para os EUA.

Em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea que serve de reduto para o cartel, funcionários de hotéis são pressionados rotineiramente pelo grupo criminoso para fornecer dados de hóspedes, de acordo com o subdiretor-assistente do FBI responsável pelo combate a crimes financeiros, James Barnacle.

O policial afirmou que hotéis e empresas de timeshares no México estão cientes dos vazamentos de dados e que o governo americano lhes pediu para começar a coibir essa atividade.

O Vidanta Group, uma das maiores empresas de cotas em resorts com base no México, preocupa particularmente as autoridades americanas. Seu proprietário, Daniel Chávez, é amigo e conselheiro do presidente mexicano. Muitos clientes do Vidanta Group tornaram-se vítimas dessa fraude, de acordo com uma autoridade americana que não foi autorizada a falar publicamente. O Vidanta Group não respondeu a pedidos de comentários.

Pete Willard afirmou que comprou uma cota imobiliária do Vidanta Group em 2015. Seis anos depois, ele recebeu um telefonema de uma suposta corretora de imóveis de Nova York, que lhe oferecia US$ 500 mil pela timeshare. Depois de fazer várias transferências de dinheiro para o México, Willard perdeu um total de US$ 100 mil sem obter nada em troca, afirmou ele.

Quando se deu conta de que nunca mais veria seu dinheiro, Willard entrou em contato com o FBI. “Disseram que não tinham muito o que fazer já que o dinheiro estava todo no México”, afirmou ele.

Willard disse que tentou registrar queixas no Escritório dos Melhores Negócios e na Procuradoria distrital de Nova York contra as empresas que o enganaram. “Nunca tive nenhuma resposta a não ser ‘Nós lamentamos, mas o sr. deveria ter sido mais cuidadoso’.”

Barnacle admite que as agências policiais americanas não têm basicamente nenhum meio de combater essas fraudes que não seja alertar o público.

“Pessoas exploram os nossos dados o tempo todo”, afirmou Barnacle. Os criminosos não “têm que investir muito em infraestrutura, só têm de fazer um telefonema ou mandar um e-mail para as pessoas e, você sabe, convencê-las a lhes entregar seu dinheiro”.

Até aqui, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções contra 40 empresas mexicanas e cerca de uma dúzia de indivíduos pelo golpe das cotas imobiliárias, mas poucas prisões ocorreram. E assim que uma empresa de fachada ou conta bancária clandestina é encerrada, outras são criadas.

Os “bancos (mexicanos) têm culpa”, afirmou o advogado americano Spencer McMullen, que trabalha em Chapala, no México, acrescentando que as instituições financeiras mexicanas frequentemente deixam de checar se as contas usadas pelos cartéis possuem endereços válidos e pertencem a empresas legítimas. “Eles poderiam congelar essas contas por atividades suspeitas.”

Durante as duas semanas que James, o dono de timeshare que perdeu cerca de US$ 900 mil, conversou com o Times, ele percebeu que nunca reaveria seu dinheiro. Sua mulher, Nicki, está furiosa, pois alertou o marido desde o início.

“Não é justo a gente trabalhar tantos anos e economizar para poder aproveitar a terceira idade e ter esse dinheiro roubado”, afirmou ela.

James e Nicki iniciam seus anos de aposentadoria numa posição econômica muito confortável, mas agora imaginam se terão de procurar emprego em meio período. Nicki está se recuperando de um câncer, e suas despesas se acumulam. “Será que terei de trabalhar no Walmart nessa altura do campeonato?” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Primeiro os cartéis inovaram traficando drogas. Depois no ramo dos abacates, em empreendimentos imobiliários e na construção civil. Agora, um grupo criminoso mexicano conhecido por sua brutalidade está mirando os idosos e suas cotas imobiliárias (timeshares).

A operação é relativamente simples. Funcionários do cartel passando-se por representantes de vendas telefonam para proprietários de cotas imobiliárias oferecendo-se para comprar os investimentos por preços generosos. Os representantes exigem taxas antecipadas para todo tipo de coisa, de listas de anúncios a pagamentos de multas para o governo. Persuadem suas vítimas a transferir grandes quantias em dinheiro para o México — às vezes centenas de milhares de dólares — e então desaparecem.

Esse esquema rendeu ao Cartel de Jalisco Nova Geração centenas de milhões de dólares ao longo da década recente, de acordo com autoridades americanas que não estão autorizadas a falar publicamente, por meio de dezenas de call centers instalados no México que miram implacavelmente americanos e canadenses proprietários de cotas imobiliárias. Eles chegam a subornar empregados de resorts mexicanos para obter dados de hóspedes, afirmam autoridades americanas.

Turistas em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea no México: nos últimos cinco anos, os proprietários americanos de casas de veraneio sofreram golpes de US$ 288 milhões, segundo o FBI  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Esse golpe representa a mais recente evolução do Cartel de Jalisco Nova Geração, que impregnou tanto o setor ilegal quanto o setor legal da economia mexicana. Com pouco mais que um telefone e um roteiro convincente, funcionários do cartel caçam vítimas em vários países.

E até esses empregados são vulneráveis à crueldade do cartel. Em maio, os corpos de oito jovens mexicanos que trabalhavam em um call center do cartel foram descobertos em dezenas de sacos plásticos em uma ravina nas imediações de Guadalajara, no Estado de Jalisco.

O cartel mira normalmente os idosos, pessoas aposentadas que querem deixar o máximo de dinheiro que puderem para suas famílias vendendo as propriedades que possuem. Várias vítimas entrevistadas pelo New York Times afirmaram que o dinheiro que perderam com os golpistas excedeu o valor inicial de cotas imobiliárias na Jamaica, na Califórnia e no México.

“Eu sou velho, como esses clientes”, afirmou Michael Finn, fundador do Finn Law Group, em St. Petersburg, na Flórida, que representa milhares de pessoas acometidas por várias formas de fraudes em cotas imobiliárias. “Nós tendemos a dar confiança quando alguém nos telefona e conversa conosco vendendo esses sonhos.”

Finn percebeu a gravidade desse tipo de fraude dois anos atrás, quando recebeu um telefonema de uma mulher desesperada, cuja mãe tinha transferido US$ 1,2 milhão, as economias de sua vida inteira, para o México para poder vender sua cota imobiliária.

A indústria de timeshares está aquecida, registrando US$ 10,5 bilhões em vendas em 2022, um salto de 30% em relação ao ano anterior, de acordo com a Associação Americana de Desenvolvimento de Resorts. Quase 10 milhões de americanos usam casas de veraneio compartilhadas, afirmou a associação, gastando uma média de US$ 22 mil em seus investimentos, além de encargos anuais na faixa de US$ 2 mil. A maioria das cotas imobiliárias é em resorts no litoral.

O crescimento do setor coincide com um aumento de 79% ao longo dos últimos quatro anos em queixas de fraudes relacionada a cotas imobiliárias registradas pelo FBI. Mas as autoridades americanas só podem investigar golpes originados no México com cooperação de seus homólogos mexicanos. E firmas de advocacia dos EUA não podem abrir processos no México, pois não têm jurisdição.

Héctor Flores, que rastreia vítimas de assassinato no estado de Jalisco e disse saber de 30 pessoas que desapareceram de call centers dos criminosos desde 2017 Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Ao longo dos últimos cinco anos, donos de cotas imobiliárias perderam US$ 288 milhões, segundo o FBI, por meio de vários tipos de fraude, incluindo as perpetradas pelo cartel. O montante real muito provavelmente ronda US$ 350 milhões, já que cerca de 20% das vítimas não prestam queixa.

“As vítimas preferem não denunciar porque ficam envergonhadas e escondem isso da família”, afirmou Finn.

Em outubro de 2022, um casal de aposentados — James, de 76 anos, e sua mulher, Nicki, de 72 — afirmou que recebeu um telefonema de um suposto corretor de imóveis da Worry Free Vacations, de Atlanta, oferecendo-se para intermediar a venda de sua cota imobiliária em Lake Tahoe, Califórnia, para um abastado empresário mexicano. Ambos pediram para que seu sobrenome não fosse publicado por estar “muito envergonhados” por ter caído no golpe.

Conforme as filhas ficaram adultas, a família parou de usar a casa de veraneio que tinha comprado nos anos 90, por cerca de US$ 8 mil, então o casal resolveu aproveitar a oportunidade de venda.

O golpe começou com taxas menores, afirmou James — uns poucos milhares de dólares aqui e acolá, destinados a cobranças do governo mexicano para o registro de “transações transfronteiriças”. As contas foram ficando cada vez mais caras após ele ser informado que estava sendo multado pelas autoridades mexicanas em razão de várias violações e que poderia ser extraditado para o México por violar a lei caso não pagasse. Em um determinado momento, afirmou James, os golpistas chegaram a convencê-lo a investir em uma nova propriedade comercial no país.

Cerca de duas dúzias de pagamentos depois, o casal tinha transferido cerca de US$ 900 mil para várias contas bancárias no México, de acordo com registros analisados pelo Times.

Golpes que lesam vítimas a esse ponto não são incomuns, segundo o FBI. A agência afirma que, normalmente, vítimas como James e Nicki transferem dinheiro para contas bancárias de integrantes do Cartel de Jalisco Nova Geração.

O casal afirmou que perdeu as economias de toda a vida e agora está endividado. James e Nicki contaram que acabaram pegando emprestado US$ 150 mil de uma de suas filhas e vendendo a casa em que James foi criado, mas que não tiveram nenhum centavo de retorno.

“Tenho certeza de que se eu lhes contasse, elas diriam, ‘Como você pôde ter sido tão burro?””, afirmou James sobre suas filhas. “E eu me fiz essa mesma pergunta. Eu achava que tinha alguma inteligência.”

Um call center em Guadalajara, México, em 19 de fevereiro de 2024, que operava dando golpes em idosos para o Cartel Jalisco Nova Geração: oito funcionários do centro foram encontrados mortos mais tarde  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Os golpistas se identificaram como representantes de vendas e uma autoridade do Banco Central mexicano, mostram e-mails analisados pelo Times, e prometiam com frequência que o casal pagaria apenas “uma última taxa” e seu dinheiro seria liberado.

Mas depois de cada pagamento uma nova taxa aparecia.

Em um comunicado, o Banco Central mexicano afirmou que está ciente da fraude das cotas imobiliárias sendo cometida em seu nome e alerta as pessoas para que não caiam no golpe.

No fim do ano passado, James começou a receber mensagens desesperadas de supostos representantes afirmando que um colega deles tinha sido preso no México depois de tentar acertar o caso de James, segundo telefonemas gravados e e-mails analisados pelo Times.

“Por favor, façam tudo o que puderem para trazer meu amigo/chefe de volta para casa. Ele sente muita falta de sua família, é muito doloroso ouvi-lo. Vocês são a única esperança para isso se resolver”, dizia um e-mail recente. “A quantia pendente a ser paga é: US$ 157.786,61.”

James disse que estava considerando assumir uma segunda hipoteca para pagar essa quantia, até que suas filhas o impediram.

Apesar de fraudes que miram proprietários de cotas imobiliárias serem um crime financeiro, no México a atividade pode ser mortal.

Os oito mexicanos encontrados mortos nas imediações de Guadalajara no ano passado trabalhavam em um call center operado pelo Cartel de Jalisco Nova Geração no centro da cidade, afirmaram autoridades americanas. Promotores de Justiça mexicanos afirmaram que, ao vasculhar o local, encontraram um esfregão com manchas vermelhas, quadros negros com nomes de estrangeiros escritos e detalhes sobre adesões a propriedades compartilhadas.

Quando visitaram recentemente o call center, repórteres do New York Times encontraram o local fechado, com um carro de polícia estacionado na frente. O edifício fica em um bairro rico, diante de um parque. Pais e mães caminhavam levando suas crianças para a escola.

Héctor Flores, fundador do Coletivo Luz e Esperança, que vasculha o Estado de Jalisco em busca de corpos de pessoas desaparecidas, afirmou que tem registros a respeito do desaparecimento de aproximadamente 30 pessoas dos call centers desde 2017. Mas muito provavelmente há mais gente desaparecida, afirmou ele, pois muitas famílias não denunciam desaparecimentos por temer represálias. O escritório da Promotoria estadual não respondeu a pedidos de comentário.

Fundado há 15 anos, o Cartel Jalisco Nova Geração cresceu e se tornou uma das organizações criminosas mais poderosas no México. Em anos recentes, o grupo expandiu suas atividades para setores legais da economia, incluindo exportação de abacates para os EUA.

Em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea que serve de reduto para o cartel, funcionários de hotéis são pressionados rotineiramente pelo grupo criminoso para fornecer dados de hóspedes, de acordo com o subdiretor-assistente do FBI responsável pelo combate a crimes financeiros, James Barnacle.

O policial afirmou que hotéis e empresas de timeshares no México estão cientes dos vazamentos de dados e que o governo americano lhes pediu para começar a coibir essa atividade.

O Vidanta Group, uma das maiores empresas de cotas em resorts com base no México, preocupa particularmente as autoridades americanas. Seu proprietário, Daniel Chávez, é amigo e conselheiro do presidente mexicano. Muitos clientes do Vidanta Group tornaram-se vítimas dessa fraude, de acordo com uma autoridade americana que não foi autorizada a falar publicamente. O Vidanta Group não respondeu a pedidos de comentários.

Pete Willard afirmou que comprou uma cota imobiliária do Vidanta Group em 2015. Seis anos depois, ele recebeu um telefonema de uma suposta corretora de imóveis de Nova York, que lhe oferecia US$ 500 mil pela timeshare. Depois de fazer várias transferências de dinheiro para o México, Willard perdeu um total de US$ 100 mil sem obter nada em troca, afirmou ele.

Quando se deu conta de que nunca mais veria seu dinheiro, Willard entrou em contato com o FBI. “Disseram que não tinham muito o que fazer já que o dinheiro estava todo no México”, afirmou ele.

Willard disse que tentou registrar queixas no Escritório dos Melhores Negócios e na Procuradoria distrital de Nova York contra as empresas que o enganaram. “Nunca tive nenhuma resposta a não ser ‘Nós lamentamos, mas o sr. deveria ter sido mais cuidadoso’.”

Barnacle admite que as agências policiais americanas não têm basicamente nenhum meio de combater essas fraudes que não seja alertar o público.

“Pessoas exploram os nossos dados o tempo todo”, afirmou Barnacle. Os criminosos não “têm que investir muito em infraestrutura, só têm de fazer um telefonema ou mandar um e-mail para as pessoas e, você sabe, convencê-las a lhes entregar seu dinheiro”.

Até aqui, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções contra 40 empresas mexicanas e cerca de uma dúzia de indivíduos pelo golpe das cotas imobiliárias, mas poucas prisões ocorreram. E assim que uma empresa de fachada ou conta bancária clandestina é encerrada, outras são criadas.

Os “bancos (mexicanos) têm culpa”, afirmou o advogado americano Spencer McMullen, que trabalha em Chapala, no México, acrescentando que as instituições financeiras mexicanas frequentemente deixam de checar se as contas usadas pelos cartéis possuem endereços válidos e pertencem a empresas legítimas. “Eles poderiam congelar essas contas por atividades suspeitas.”

Durante as duas semanas que James, o dono de timeshare que perdeu cerca de US$ 900 mil, conversou com o Times, ele percebeu que nunca reaveria seu dinheiro. Sua mulher, Nicki, está furiosa, pois alertou o marido desde o início.

“Não é justo a gente trabalhar tantos anos e economizar para poder aproveitar a terceira idade e ter esse dinheiro roubado”, afirmou ela.

James e Nicki iniciam seus anos de aposentadoria numa posição econômica muito confortável, mas agora imaginam se terão de procurar emprego em meio período. Nicki está se recuperando de um câncer, e suas despesas se acumulam. “Será que terei de trabalhar no Walmart nessa altura do campeonato?” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Primeiro os cartéis inovaram traficando drogas. Depois no ramo dos abacates, em empreendimentos imobiliários e na construção civil. Agora, um grupo criminoso mexicano conhecido por sua brutalidade está mirando os idosos e suas cotas imobiliárias (timeshares).

A operação é relativamente simples. Funcionários do cartel passando-se por representantes de vendas telefonam para proprietários de cotas imobiliárias oferecendo-se para comprar os investimentos por preços generosos. Os representantes exigem taxas antecipadas para todo tipo de coisa, de listas de anúncios a pagamentos de multas para o governo. Persuadem suas vítimas a transferir grandes quantias em dinheiro para o México — às vezes centenas de milhares de dólares — e então desaparecem.

Esse esquema rendeu ao Cartel de Jalisco Nova Geração centenas de milhões de dólares ao longo da década recente, de acordo com autoridades americanas que não estão autorizadas a falar publicamente, por meio de dezenas de call centers instalados no México que miram implacavelmente americanos e canadenses proprietários de cotas imobiliárias. Eles chegam a subornar empregados de resorts mexicanos para obter dados de hóspedes, afirmam autoridades americanas.

Turistas em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea no México: nos últimos cinco anos, os proprietários americanos de casas de veraneio sofreram golpes de US$ 288 milhões, segundo o FBI  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Esse golpe representa a mais recente evolução do Cartel de Jalisco Nova Geração, que impregnou tanto o setor ilegal quanto o setor legal da economia mexicana. Com pouco mais que um telefone e um roteiro convincente, funcionários do cartel caçam vítimas em vários países.

E até esses empregados são vulneráveis à crueldade do cartel. Em maio, os corpos de oito jovens mexicanos que trabalhavam em um call center do cartel foram descobertos em dezenas de sacos plásticos em uma ravina nas imediações de Guadalajara, no Estado de Jalisco.

O cartel mira normalmente os idosos, pessoas aposentadas que querem deixar o máximo de dinheiro que puderem para suas famílias vendendo as propriedades que possuem. Várias vítimas entrevistadas pelo New York Times afirmaram que o dinheiro que perderam com os golpistas excedeu o valor inicial de cotas imobiliárias na Jamaica, na Califórnia e no México.

“Eu sou velho, como esses clientes”, afirmou Michael Finn, fundador do Finn Law Group, em St. Petersburg, na Flórida, que representa milhares de pessoas acometidas por várias formas de fraudes em cotas imobiliárias. “Nós tendemos a dar confiança quando alguém nos telefona e conversa conosco vendendo esses sonhos.”

Finn percebeu a gravidade desse tipo de fraude dois anos atrás, quando recebeu um telefonema de uma mulher desesperada, cuja mãe tinha transferido US$ 1,2 milhão, as economias de sua vida inteira, para o México para poder vender sua cota imobiliária.

A indústria de timeshares está aquecida, registrando US$ 10,5 bilhões em vendas em 2022, um salto de 30% em relação ao ano anterior, de acordo com a Associação Americana de Desenvolvimento de Resorts. Quase 10 milhões de americanos usam casas de veraneio compartilhadas, afirmou a associação, gastando uma média de US$ 22 mil em seus investimentos, além de encargos anuais na faixa de US$ 2 mil. A maioria das cotas imobiliárias é em resorts no litoral.

O crescimento do setor coincide com um aumento de 79% ao longo dos últimos quatro anos em queixas de fraudes relacionada a cotas imobiliárias registradas pelo FBI. Mas as autoridades americanas só podem investigar golpes originados no México com cooperação de seus homólogos mexicanos. E firmas de advocacia dos EUA não podem abrir processos no México, pois não têm jurisdição.

Héctor Flores, que rastreia vítimas de assassinato no estado de Jalisco e disse saber de 30 pessoas que desapareceram de call centers dos criminosos desde 2017 Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Ao longo dos últimos cinco anos, donos de cotas imobiliárias perderam US$ 288 milhões, segundo o FBI, por meio de vários tipos de fraude, incluindo as perpetradas pelo cartel. O montante real muito provavelmente ronda US$ 350 milhões, já que cerca de 20% das vítimas não prestam queixa.

“As vítimas preferem não denunciar porque ficam envergonhadas e escondem isso da família”, afirmou Finn.

Em outubro de 2022, um casal de aposentados — James, de 76 anos, e sua mulher, Nicki, de 72 — afirmou que recebeu um telefonema de um suposto corretor de imóveis da Worry Free Vacations, de Atlanta, oferecendo-se para intermediar a venda de sua cota imobiliária em Lake Tahoe, Califórnia, para um abastado empresário mexicano. Ambos pediram para que seu sobrenome não fosse publicado por estar “muito envergonhados” por ter caído no golpe.

Conforme as filhas ficaram adultas, a família parou de usar a casa de veraneio que tinha comprado nos anos 90, por cerca de US$ 8 mil, então o casal resolveu aproveitar a oportunidade de venda.

O golpe começou com taxas menores, afirmou James — uns poucos milhares de dólares aqui e acolá, destinados a cobranças do governo mexicano para o registro de “transações transfronteiriças”. As contas foram ficando cada vez mais caras após ele ser informado que estava sendo multado pelas autoridades mexicanas em razão de várias violações e que poderia ser extraditado para o México por violar a lei caso não pagasse. Em um determinado momento, afirmou James, os golpistas chegaram a convencê-lo a investir em uma nova propriedade comercial no país.

Cerca de duas dúzias de pagamentos depois, o casal tinha transferido cerca de US$ 900 mil para várias contas bancárias no México, de acordo com registros analisados pelo Times.

Golpes que lesam vítimas a esse ponto não são incomuns, segundo o FBI. A agência afirma que, normalmente, vítimas como James e Nicki transferem dinheiro para contas bancárias de integrantes do Cartel de Jalisco Nova Geração.

O casal afirmou que perdeu as economias de toda a vida e agora está endividado. James e Nicki contaram que acabaram pegando emprestado US$ 150 mil de uma de suas filhas e vendendo a casa em que James foi criado, mas que não tiveram nenhum centavo de retorno.

“Tenho certeza de que se eu lhes contasse, elas diriam, ‘Como você pôde ter sido tão burro?””, afirmou James sobre suas filhas. “E eu me fiz essa mesma pergunta. Eu achava que tinha alguma inteligência.”

Um call center em Guadalajara, México, em 19 de fevereiro de 2024, que operava dando golpes em idosos para o Cartel Jalisco Nova Geração: oito funcionários do centro foram encontrados mortos mais tarde  Foto: Alejandro Cegarra/The New York Times

Os golpistas se identificaram como representantes de vendas e uma autoridade do Banco Central mexicano, mostram e-mails analisados pelo Times, e prometiam com frequência que o casal pagaria apenas “uma última taxa” e seu dinheiro seria liberado.

Mas depois de cada pagamento uma nova taxa aparecia.

Em um comunicado, o Banco Central mexicano afirmou que está ciente da fraude das cotas imobiliárias sendo cometida em seu nome e alerta as pessoas para que não caiam no golpe.

No fim do ano passado, James começou a receber mensagens desesperadas de supostos representantes afirmando que um colega deles tinha sido preso no México depois de tentar acertar o caso de James, segundo telefonemas gravados e e-mails analisados pelo Times.

“Por favor, façam tudo o que puderem para trazer meu amigo/chefe de volta para casa. Ele sente muita falta de sua família, é muito doloroso ouvi-lo. Vocês são a única esperança para isso se resolver”, dizia um e-mail recente. “A quantia pendente a ser paga é: US$ 157.786,61.”

James disse que estava considerando assumir uma segunda hipoteca para pagar essa quantia, até que suas filhas o impediram.

Apesar de fraudes que miram proprietários de cotas imobiliárias serem um crime financeiro, no México a atividade pode ser mortal.

Os oito mexicanos encontrados mortos nas imediações de Guadalajara no ano passado trabalhavam em um call center operado pelo Cartel de Jalisco Nova Geração no centro da cidade, afirmaram autoridades americanas. Promotores de Justiça mexicanos afirmaram que, ao vasculhar o local, encontraram um esfregão com manchas vermelhas, quadros negros com nomes de estrangeiros escritos e detalhes sobre adesões a propriedades compartilhadas.

Quando visitaram recentemente o call center, repórteres do New York Times encontraram o local fechado, com um carro de polícia estacionado na frente. O edifício fica em um bairro rico, diante de um parque. Pais e mães caminhavam levando suas crianças para a escola.

Héctor Flores, fundador do Coletivo Luz e Esperança, que vasculha o Estado de Jalisco em busca de corpos de pessoas desaparecidas, afirmou que tem registros a respeito do desaparecimento de aproximadamente 30 pessoas dos call centers desde 2017. Mas muito provavelmente há mais gente desaparecida, afirmou ele, pois muitas famílias não denunciam desaparecimentos por temer represálias. O escritório da Promotoria estadual não respondeu a pedidos de comentário.

Fundado há 15 anos, o Cartel Jalisco Nova Geração cresceu e se tornou uma das organizações criminosas mais poderosas no México. Em anos recentes, o grupo expandiu suas atividades para setores legais da economia, incluindo exportação de abacates para os EUA.

Em Puerto Vallarta, uma popular cidade litorânea que serve de reduto para o cartel, funcionários de hotéis são pressionados rotineiramente pelo grupo criminoso para fornecer dados de hóspedes, de acordo com o subdiretor-assistente do FBI responsável pelo combate a crimes financeiros, James Barnacle.

O policial afirmou que hotéis e empresas de timeshares no México estão cientes dos vazamentos de dados e que o governo americano lhes pediu para começar a coibir essa atividade.

O Vidanta Group, uma das maiores empresas de cotas em resorts com base no México, preocupa particularmente as autoridades americanas. Seu proprietário, Daniel Chávez, é amigo e conselheiro do presidente mexicano. Muitos clientes do Vidanta Group tornaram-se vítimas dessa fraude, de acordo com uma autoridade americana que não foi autorizada a falar publicamente. O Vidanta Group não respondeu a pedidos de comentários.

Pete Willard afirmou que comprou uma cota imobiliária do Vidanta Group em 2015. Seis anos depois, ele recebeu um telefonema de uma suposta corretora de imóveis de Nova York, que lhe oferecia US$ 500 mil pela timeshare. Depois de fazer várias transferências de dinheiro para o México, Willard perdeu um total de US$ 100 mil sem obter nada em troca, afirmou ele.

Quando se deu conta de que nunca mais veria seu dinheiro, Willard entrou em contato com o FBI. “Disseram que não tinham muito o que fazer já que o dinheiro estava todo no México”, afirmou ele.

Willard disse que tentou registrar queixas no Escritório dos Melhores Negócios e na Procuradoria distrital de Nova York contra as empresas que o enganaram. “Nunca tive nenhuma resposta a não ser ‘Nós lamentamos, mas o sr. deveria ter sido mais cuidadoso’.”

Barnacle admite que as agências policiais americanas não têm basicamente nenhum meio de combater essas fraudes que não seja alertar o público.

“Pessoas exploram os nossos dados o tempo todo”, afirmou Barnacle. Os criminosos não “têm que investir muito em infraestrutura, só têm de fazer um telefonema ou mandar um e-mail para as pessoas e, você sabe, convencê-las a lhes entregar seu dinheiro”.

Até aqui, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções contra 40 empresas mexicanas e cerca de uma dúzia de indivíduos pelo golpe das cotas imobiliárias, mas poucas prisões ocorreram. E assim que uma empresa de fachada ou conta bancária clandestina é encerrada, outras são criadas.

Os “bancos (mexicanos) têm culpa”, afirmou o advogado americano Spencer McMullen, que trabalha em Chapala, no México, acrescentando que as instituições financeiras mexicanas frequentemente deixam de checar se as contas usadas pelos cartéis possuem endereços válidos e pertencem a empresas legítimas. “Eles poderiam congelar essas contas por atividades suspeitas.”

Durante as duas semanas que James, o dono de timeshare que perdeu cerca de US$ 900 mil, conversou com o Times, ele percebeu que nunca reaveria seu dinheiro. Sua mulher, Nicki, está furiosa, pois alertou o marido desde o início.

“Não é justo a gente trabalhar tantos anos e economizar para poder aproveitar a terceira idade e ter esse dinheiro roubado”, afirmou ela.

James e Nicki iniciam seus anos de aposentadoria numa posição econômica muito confortável, mas agora imaginam se terão de procurar emprego em meio período. Nicki está se recuperando de um câncer, e suas despesas se acumulam. “Será que terei de trabalhar no Walmart nessa altura do campeonato?” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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