Análise|Uma guerra total contra o Hezbollah seria outro atoleiro para Israel


Como muitas nações aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar

Por Max Boot
Atualização:

Se você quiser ver como as nações podem tropeçar em guerras sem fim, o conflito em andamento (e em rápida escalada) entre Israel e o Hezbollah é um exemplo clássico.

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Hezbollah, a milícia xiita extremista apoiada pelo Irã e sediada no Líbano, tem demonstrado apoio aos seus parceiros do “eixo de resistência” com implacáveis disparos de foguetes e drones contra o norte de Israel. Cerca de 60.000 israelenses foram forçados a deixar suas casas e ainda não puderam voltar, mesmo com o início de um novo ano letivo. Um ataque de foguete do Hezbollah particularmente terrível matou 12 crianças nas Colinas de Golan.

No entanto, nem o Hezbollah nem Israel estavam ansiosos por uma guerra total: Israel queria se concentrar na luta contra o Hamas, enquanto o Hezbollah temia ser atacado pelas poderosas Forças de Defesa de Israel. Há quase um ano, houve trocas de tiros na fronteira norte de Israel, mas os dois lados pareciam satisfeitos em manter as hostilidades relativamente contidas.

continua após a publicidade
Fumaça sobe enquanto um prédio desaba nos subúrbios ao sul de Beirute, neste sábado, 28. Foto: AP/Hussein Malla

Ataque secreto

Essa contenção começou a cair na semana passada, quando Israel desencadeou uma sofisticada operação secreta, acionando milhares de pagers e walkie-talkies do Hezbollah secretamente carregados de explosivos. Um funcionário do Hezbollah disse à Reuters que 1.500 de seus combatentes foram colocados fora de serviço com vários ferimentos.

continua após a publicidade

Não está claro por que Israel desencadeou o ataque, há muito tempo preparado, quando o fez. A imprensa israelense informou que o motivo mais provável foi o medo de que o Hezbollah estivesse prestes a descobrir a operação, colocando Israel em um dilema de “usar ou perder”.

Depois de desencadear o ataque secreto, Israel seguiu com ataques aéreos que mataram Ibrahim Aqil, o comandante da unidade de operações especiais do Hezbollah, a Força Radwan; Ibrahim Qubaisi, o comandante das forças de foguetes do Hezbollah; e outros líderes seniores do Hezbollah.

Esta semana, a IDF expandiu sua campanha de bombardeio para atingir não apenas os comandantes do Hezbollah no sul de Beirute, mas também as instalações de mísseis do Hezbollah no sul do Líbano. A operação parece ter culminado com o ataque histórico que matou o clérigo líder do grupo terrorista, Hasan Nasrallah, que há 32 anos comandava o Hezbollah.

continua após a publicidade
Ataques aéreos israelenses atingiram os subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, neste sábado, 28 Foto: Hassan Ammar/AP

Não há dúvida de que as IDF infligiram danos substanciais ao Hezbollah, mas também há poucas evidências de que isso será suficiente para interromper os ataques da milícia ao norte de Israel.

O Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, escreveu que “o Hezbollah libanês provavelmente continuará realizando ataques com foguetes ao norte de Israel, apesar da campanha aérea israelense em andamento”. De fato, o Hezbollah disparou um míssil balístico em direção a Tel Aviv na quarta-feira. Ele foi interceptado, mas a defesa aérea israelense teria problemas para lidar com o Hezbollah se ele soltasse todo o seu arsenal, estimado em 150.000 a 200.000 foguetes e mísseis.

continua após a publicidade

Incursão por terra

Do ponto de vista de Israel, o melhor cenário seria se sua campanha aérea persuadisse o Hezbollah a declarar um cessar-fogo, permitindo assim que os residentes do norte de Israel voltassem para suas casas. Mas as campanhas aéreas sozinhas raramente, ou nunca, atingiram os objetivos militares de qualquer nação. Normalmente, é necessária uma ação terrestre para derrotar um inimigo de forma decisiva.

Na quarta-feira, o tenente-general Herzi Halevi, chefe de gabinete da IDF, sinalizou que uma incursão terrestre poderia ser iminente. Surpreendentemente, a maioria dos israelenses agora apoia uma incursão terrestre no Líbano, se necessário, apesar de saberem como essas ofensivas foram ruins no passado.

continua após a publicidade

Em 1982, em resposta aos ataques terroristas da Organização para a Libertação da Palestina originados no sul do Líbano, Israel montou uma grande invasão que levou as forças da IDF para a periferia de Beirute. Mas as esperanças israelenses de instalar um regime amigável e dominado pelos cristãos no Líbano logo foram frustradas.

A invasão israelense levou, em vez disso, ao nascimento do Hezbollah, um dos grupos terroristas mais letais do mundo. As forças israelenses, juntamente com as forças de paz dos EUA e da França, tornaram-se alvos dos homens-bomba e guerrilheiros do Hezbollah.

continua após a publicidade

De fato, o bombardeio suicida foi uma tática pioneira do Hezbollah, adotada posteriormente pela al-Qaeda e outras organizações. As IDF passaram cerca de duas décadas ocupando uma zona de segurança no sul do Líbano antes de finalmente desistirem e se retirarem para Israel em 2000.

Seis anos após, um ataque transfronteiriço do Hezbollah trouxe de volta o IDF ao Líbano. A Segunda Guerra do Líbano durou 34 dias, custou a Israel 119 soldados e 43 civis (aproximadamente 1.200 libaneses foram mortos) e resultou em um impasse. Combatentes do Hezbollah altamente motivados mostraram-se surpreendentemente adeptos a emboscar tanques e infantaria israelenses nas vilas do sul do Líbano. Uma comissão de inquérito israelense subsequentemente criticou fortemente o governo de Ehud Olmert e o IDF por graves falhas de “julgamento, responsabilidade e prudência.”

Drones do Hezbollah

O IDF provavelmente encontraria no Hezbollah um adversário ainda mais formidável hoje do que em 2006. O Hezbollah tem uma estimativa de 40.000 a 50.000 combatentes, muitos com extensa experiência de combate na Síria, onde o Hezbollah lutou em nome do odioso regime de Assad. O Hezbollah agora está armado com drones e mísseis antitanque Almas, que foram dissecado e construídos às avessas pelo Irã a partir de um míssil israelense capturado em 2006.

O Hezbollah é muito mais poderoso que o Hamas e, ao contrário do Hamas, não pode ser facilmente isolado de apoio externo. O Líbano tem uma longa fronteira com a Síria, um extenso litoral e um importante aeroporto internacional, todos os quais o Irã pode usar para reabastecer o Hezbollah. E, como o Hamas, o Hezbollah construiu uma extensa rede de túneis que será extremamente difícil para o IDF mapear ou destruir. Os mísseis do Hezbollah estão escondidos sob casas civis. Qualquer tentativa de erradicá-los inevitavelmente levará a baixas civis e aumentará o clamor internacional contra Israel.

Manifestante iraniano segura um cartaz do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma reunião de apoio ao Hezbollah na Praça Felestin, em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP

O Hezbollah terá dificuldade em exercer comando e controle de suas forças após o ataque israelense aos seus pagers e walkie-talkies, mas construiu uma rede telefônica de linha terrestre dedicada para tal contingência, e seus combatentes são treinados em operações autônomas de pequenas unidades.

Como mostraram em 2006, guerrilheiros do Hezbollah, ao contrário dos exércitos árabes convencionais, podem tomar iniciativa e manobrar sem ordens superiores. E, embora Israel possa eliminar comandantes seniores do Hezbollah, eles sempre podem ser substituídos.

Se Israel atacar por terra, pode facilmente ficar preso em outro atoleiro. Mas se não o fizer, pode não ser capaz de parar os ataques insuportáveis ao norte. Não está claro se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, tem uma estratégia para abordar esse dilema estratégico vexatório.

Também não está claro se o Hezbollah tem uma estratégia - ainda mais depois do assassinato de Hasan Nasrallah. Em seu desejo de mostrar apoio ao Hamas, Nasrallah causou sérios danos à sua própria organização e à sociedade libanesa mais amplamente.

A maioria dos libaneses não deseja ser arrastada para uma guerra iniciada pelo Hezbollah (em uma pesquisa recente, apenas 3 em 10 pessoas expressaram bastante ou uma grande confiança na organização), mas eles não têm escolha no assunto. Os dois inimigos estão caminhando para o desastre como sonâmbulos.

Sem saída no curto prazo

Ainda pode ser possível uma saída se Netanyahu pressionar por um cessar-fogo em Gaza, como os comandantes do IDF têm instado, o que permitiria ao Hezbollah um recuo que ajudaria o grupo a wslavar a própria pele. Mas Netanyahu não mostra nenhum desejo de terminar a guerra em Gaza tão cedo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, por sua parte, também não mostra urgência em terminar esse conflito devastador.

Enquanto isso, Netanyahu está se beneficiando politicamente da guerra em escalada contra o Hezbollah, popular com o público israelense. Mas, como muitas nações, incluindo Israel, aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar. Se as operações militares se transformarem em atoleiros, sua popularidade logo se dissipará.

Israel agora enfrenta a perspectiva de não apenas um atoleiro, mas dois — tanto em Gaza quanto no Líbano. A probabilidade é que, eventualmente, o status quo pré-guerra será restaurado ao longo da fronteira Israel-Líbano — mas apenas a um grande custo em sofrimento humano de todos os lados.

Se você quiser ver como as nações podem tropeçar em guerras sem fim, o conflito em andamento (e em rápida escalada) entre Israel e o Hezbollah é um exemplo clássico.

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Hezbollah, a milícia xiita extremista apoiada pelo Irã e sediada no Líbano, tem demonstrado apoio aos seus parceiros do “eixo de resistência” com implacáveis disparos de foguetes e drones contra o norte de Israel. Cerca de 60.000 israelenses foram forçados a deixar suas casas e ainda não puderam voltar, mesmo com o início de um novo ano letivo. Um ataque de foguete do Hezbollah particularmente terrível matou 12 crianças nas Colinas de Golan.

No entanto, nem o Hezbollah nem Israel estavam ansiosos por uma guerra total: Israel queria se concentrar na luta contra o Hamas, enquanto o Hezbollah temia ser atacado pelas poderosas Forças de Defesa de Israel. Há quase um ano, houve trocas de tiros na fronteira norte de Israel, mas os dois lados pareciam satisfeitos em manter as hostilidades relativamente contidas.

Fumaça sobe enquanto um prédio desaba nos subúrbios ao sul de Beirute, neste sábado, 28. Foto: AP/Hussein Malla

Ataque secreto

Essa contenção começou a cair na semana passada, quando Israel desencadeou uma sofisticada operação secreta, acionando milhares de pagers e walkie-talkies do Hezbollah secretamente carregados de explosivos. Um funcionário do Hezbollah disse à Reuters que 1.500 de seus combatentes foram colocados fora de serviço com vários ferimentos.

Não está claro por que Israel desencadeou o ataque, há muito tempo preparado, quando o fez. A imprensa israelense informou que o motivo mais provável foi o medo de que o Hezbollah estivesse prestes a descobrir a operação, colocando Israel em um dilema de “usar ou perder”.

Depois de desencadear o ataque secreto, Israel seguiu com ataques aéreos que mataram Ibrahim Aqil, o comandante da unidade de operações especiais do Hezbollah, a Força Radwan; Ibrahim Qubaisi, o comandante das forças de foguetes do Hezbollah; e outros líderes seniores do Hezbollah.

Esta semana, a IDF expandiu sua campanha de bombardeio para atingir não apenas os comandantes do Hezbollah no sul de Beirute, mas também as instalações de mísseis do Hezbollah no sul do Líbano. A operação parece ter culminado com o ataque histórico que matou o clérigo líder do grupo terrorista, Hasan Nasrallah, que há 32 anos comandava o Hezbollah.

Ataques aéreos israelenses atingiram os subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, neste sábado, 28 Foto: Hassan Ammar/AP

Não há dúvida de que as IDF infligiram danos substanciais ao Hezbollah, mas também há poucas evidências de que isso será suficiente para interromper os ataques da milícia ao norte de Israel.

O Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, escreveu que “o Hezbollah libanês provavelmente continuará realizando ataques com foguetes ao norte de Israel, apesar da campanha aérea israelense em andamento”. De fato, o Hezbollah disparou um míssil balístico em direção a Tel Aviv na quarta-feira. Ele foi interceptado, mas a defesa aérea israelense teria problemas para lidar com o Hezbollah se ele soltasse todo o seu arsenal, estimado em 150.000 a 200.000 foguetes e mísseis.

Incursão por terra

Do ponto de vista de Israel, o melhor cenário seria se sua campanha aérea persuadisse o Hezbollah a declarar um cessar-fogo, permitindo assim que os residentes do norte de Israel voltassem para suas casas. Mas as campanhas aéreas sozinhas raramente, ou nunca, atingiram os objetivos militares de qualquer nação. Normalmente, é necessária uma ação terrestre para derrotar um inimigo de forma decisiva.

Na quarta-feira, o tenente-general Herzi Halevi, chefe de gabinete da IDF, sinalizou que uma incursão terrestre poderia ser iminente. Surpreendentemente, a maioria dos israelenses agora apoia uma incursão terrestre no Líbano, se necessário, apesar de saberem como essas ofensivas foram ruins no passado.

Em 1982, em resposta aos ataques terroristas da Organização para a Libertação da Palestina originados no sul do Líbano, Israel montou uma grande invasão que levou as forças da IDF para a periferia de Beirute. Mas as esperanças israelenses de instalar um regime amigável e dominado pelos cristãos no Líbano logo foram frustradas.

A invasão israelense levou, em vez disso, ao nascimento do Hezbollah, um dos grupos terroristas mais letais do mundo. As forças israelenses, juntamente com as forças de paz dos EUA e da França, tornaram-se alvos dos homens-bomba e guerrilheiros do Hezbollah.

De fato, o bombardeio suicida foi uma tática pioneira do Hezbollah, adotada posteriormente pela al-Qaeda e outras organizações. As IDF passaram cerca de duas décadas ocupando uma zona de segurança no sul do Líbano antes de finalmente desistirem e se retirarem para Israel em 2000.

Seis anos após, um ataque transfronteiriço do Hezbollah trouxe de volta o IDF ao Líbano. A Segunda Guerra do Líbano durou 34 dias, custou a Israel 119 soldados e 43 civis (aproximadamente 1.200 libaneses foram mortos) e resultou em um impasse. Combatentes do Hezbollah altamente motivados mostraram-se surpreendentemente adeptos a emboscar tanques e infantaria israelenses nas vilas do sul do Líbano. Uma comissão de inquérito israelense subsequentemente criticou fortemente o governo de Ehud Olmert e o IDF por graves falhas de “julgamento, responsabilidade e prudência.”

Drones do Hezbollah

O IDF provavelmente encontraria no Hezbollah um adversário ainda mais formidável hoje do que em 2006. O Hezbollah tem uma estimativa de 40.000 a 50.000 combatentes, muitos com extensa experiência de combate na Síria, onde o Hezbollah lutou em nome do odioso regime de Assad. O Hezbollah agora está armado com drones e mísseis antitanque Almas, que foram dissecado e construídos às avessas pelo Irã a partir de um míssil israelense capturado em 2006.

O Hezbollah é muito mais poderoso que o Hamas e, ao contrário do Hamas, não pode ser facilmente isolado de apoio externo. O Líbano tem uma longa fronteira com a Síria, um extenso litoral e um importante aeroporto internacional, todos os quais o Irã pode usar para reabastecer o Hezbollah. E, como o Hamas, o Hezbollah construiu uma extensa rede de túneis que será extremamente difícil para o IDF mapear ou destruir. Os mísseis do Hezbollah estão escondidos sob casas civis. Qualquer tentativa de erradicá-los inevitavelmente levará a baixas civis e aumentará o clamor internacional contra Israel.

Manifestante iraniano segura um cartaz do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma reunião de apoio ao Hezbollah na Praça Felestin, em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP

O Hezbollah terá dificuldade em exercer comando e controle de suas forças após o ataque israelense aos seus pagers e walkie-talkies, mas construiu uma rede telefônica de linha terrestre dedicada para tal contingência, e seus combatentes são treinados em operações autônomas de pequenas unidades.

Como mostraram em 2006, guerrilheiros do Hezbollah, ao contrário dos exércitos árabes convencionais, podem tomar iniciativa e manobrar sem ordens superiores. E, embora Israel possa eliminar comandantes seniores do Hezbollah, eles sempre podem ser substituídos.

Se Israel atacar por terra, pode facilmente ficar preso em outro atoleiro. Mas se não o fizer, pode não ser capaz de parar os ataques insuportáveis ao norte. Não está claro se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, tem uma estratégia para abordar esse dilema estratégico vexatório.

Também não está claro se o Hezbollah tem uma estratégia - ainda mais depois do assassinato de Hasan Nasrallah. Em seu desejo de mostrar apoio ao Hamas, Nasrallah causou sérios danos à sua própria organização e à sociedade libanesa mais amplamente.

A maioria dos libaneses não deseja ser arrastada para uma guerra iniciada pelo Hezbollah (em uma pesquisa recente, apenas 3 em 10 pessoas expressaram bastante ou uma grande confiança na organização), mas eles não têm escolha no assunto. Os dois inimigos estão caminhando para o desastre como sonâmbulos.

Sem saída no curto prazo

Ainda pode ser possível uma saída se Netanyahu pressionar por um cessar-fogo em Gaza, como os comandantes do IDF têm instado, o que permitiria ao Hezbollah um recuo que ajudaria o grupo a wslavar a própria pele. Mas Netanyahu não mostra nenhum desejo de terminar a guerra em Gaza tão cedo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, por sua parte, também não mostra urgência em terminar esse conflito devastador.

Enquanto isso, Netanyahu está se beneficiando politicamente da guerra em escalada contra o Hezbollah, popular com o público israelense. Mas, como muitas nações, incluindo Israel, aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar. Se as operações militares se transformarem em atoleiros, sua popularidade logo se dissipará.

Israel agora enfrenta a perspectiva de não apenas um atoleiro, mas dois — tanto em Gaza quanto no Líbano. A probabilidade é que, eventualmente, o status quo pré-guerra será restaurado ao longo da fronteira Israel-Líbano — mas apenas a um grande custo em sofrimento humano de todos os lados.

Se você quiser ver como as nações podem tropeçar em guerras sem fim, o conflito em andamento (e em rápida escalada) entre Israel e o Hezbollah é um exemplo clássico.

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Hezbollah, a milícia xiita extremista apoiada pelo Irã e sediada no Líbano, tem demonstrado apoio aos seus parceiros do “eixo de resistência” com implacáveis disparos de foguetes e drones contra o norte de Israel. Cerca de 60.000 israelenses foram forçados a deixar suas casas e ainda não puderam voltar, mesmo com o início de um novo ano letivo. Um ataque de foguete do Hezbollah particularmente terrível matou 12 crianças nas Colinas de Golan.

No entanto, nem o Hezbollah nem Israel estavam ansiosos por uma guerra total: Israel queria se concentrar na luta contra o Hamas, enquanto o Hezbollah temia ser atacado pelas poderosas Forças de Defesa de Israel. Há quase um ano, houve trocas de tiros na fronteira norte de Israel, mas os dois lados pareciam satisfeitos em manter as hostilidades relativamente contidas.

Fumaça sobe enquanto um prédio desaba nos subúrbios ao sul de Beirute, neste sábado, 28. Foto: AP/Hussein Malla

Ataque secreto

Essa contenção começou a cair na semana passada, quando Israel desencadeou uma sofisticada operação secreta, acionando milhares de pagers e walkie-talkies do Hezbollah secretamente carregados de explosivos. Um funcionário do Hezbollah disse à Reuters que 1.500 de seus combatentes foram colocados fora de serviço com vários ferimentos.

Não está claro por que Israel desencadeou o ataque, há muito tempo preparado, quando o fez. A imprensa israelense informou que o motivo mais provável foi o medo de que o Hezbollah estivesse prestes a descobrir a operação, colocando Israel em um dilema de “usar ou perder”.

Depois de desencadear o ataque secreto, Israel seguiu com ataques aéreos que mataram Ibrahim Aqil, o comandante da unidade de operações especiais do Hezbollah, a Força Radwan; Ibrahim Qubaisi, o comandante das forças de foguetes do Hezbollah; e outros líderes seniores do Hezbollah.

Esta semana, a IDF expandiu sua campanha de bombardeio para atingir não apenas os comandantes do Hezbollah no sul de Beirute, mas também as instalações de mísseis do Hezbollah no sul do Líbano. A operação parece ter culminado com o ataque histórico que matou o clérigo líder do grupo terrorista, Hasan Nasrallah, que há 32 anos comandava o Hezbollah.

Ataques aéreos israelenses atingiram os subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, neste sábado, 28 Foto: Hassan Ammar/AP

Não há dúvida de que as IDF infligiram danos substanciais ao Hezbollah, mas também há poucas evidências de que isso será suficiente para interromper os ataques da milícia ao norte de Israel.

O Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, escreveu que “o Hezbollah libanês provavelmente continuará realizando ataques com foguetes ao norte de Israel, apesar da campanha aérea israelense em andamento”. De fato, o Hezbollah disparou um míssil balístico em direção a Tel Aviv na quarta-feira. Ele foi interceptado, mas a defesa aérea israelense teria problemas para lidar com o Hezbollah se ele soltasse todo o seu arsenal, estimado em 150.000 a 200.000 foguetes e mísseis.

Incursão por terra

Do ponto de vista de Israel, o melhor cenário seria se sua campanha aérea persuadisse o Hezbollah a declarar um cessar-fogo, permitindo assim que os residentes do norte de Israel voltassem para suas casas. Mas as campanhas aéreas sozinhas raramente, ou nunca, atingiram os objetivos militares de qualquer nação. Normalmente, é necessária uma ação terrestre para derrotar um inimigo de forma decisiva.

Na quarta-feira, o tenente-general Herzi Halevi, chefe de gabinete da IDF, sinalizou que uma incursão terrestre poderia ser iminente. Surpreendentemente, a maioria dos israelenses agora apoia uma incursão terrestre no Líbano, se necessário, apesar de saberem como essas ofensivas foram ruins no passado.

Em 1982, em resposta aos ataques terroristas da Organização para a Libertação da Palestina originados no sul do Líbano, Israel montou uma grande invasão que levou as forças da IDF para a periferia de Beirute. Mas as esperanças israelenses de instalar um regime amigável e dominado pelos cristãos no Líbano logo foram frustradas.

A invasão israelense levou, em vez disso, ao nascimento do Hezbollah, um dos grupos terroristas mais letais do mundo. As forças israelenses, juntamente com as forças de paz dos EUA e da França, tornaram-se alvos dos homens-bomba e guerrilheiros do Hezbollah.

De fato, o bombardeio suicida foi uma tática pioneira do Hezbollah, adotada posteriormente pela al-Qaeda e outras organizações. As IDF passaram cerca de duas décadas ocupando uma zona de segurança no sul do Líbano antes de finalmente desistirem e se retirarem para Israel em 2000.

Seis anos após, um ataque transfronteiriço do Hezbollah trouxe de volta o IDF ao Líbano. A Segunda Guerra do Líbano durou 34 dias, custou a Israel 119 soldados e 43 civis (aproximadamente 1.200 libaneses foram mortos) e resultou em um impasse. Combatentes do Hezbollah altamente motivados mostraram-se surpreendentemente adeptos a emboscar tanques e infantaria israelenses nas vilas do sul do Líbano. Uma comissão de inquérito israelense subsequentemente criticou fortemente o governo de Ehud Olmert e o IDF por graves falhas de “julgamento, responsabilidade e prudência.”

Drones do Hezbollah

O IDF provavelmente encontraria no Hezbollah um adversário ainda mais formidável hoje do que em 2006. O Hezbollah tem uma estimativa de 40.000 a 50.000 combatentes, muitos com extensa experiência de combate na Síria, onde o Hezbollah lutou em nome do odioso regime de Assad. O Hezbollah agora está armado com drones e mísseis antitanque Almas, que foram dissecado e construídos às avessas pelo Irã a partir de um míssil israelense capturado em 2006.

O Hezbollah é muito mais poderoso que o Hamas e, ao contrário do Hamas, não pode ser facilmente isolado de apoio externo. O Líbano tem uma longa fronteira com a Síria, um extenso litoral e um importante aeroporto internacional, todos os quais o Irã pode usar para reabastecer o Hezbollah. E, como o Hamas, o Hezbollah construiu uma extensa rede de túneis que será extremamente difícil para o IDF mapear ou destruir. Os mísseis do Hezbollah estão escondidos sob casas civis. Qualquer tentativa de erradicá-los inevitavelmente levará a baixas civis e aumentará o clamor internacional contra Israel.

Manifestante iraniano segura um cartaz do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma reunião de apoio ao Hezbollah na Praça Felestin, em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP

O Hezbollah terá dificuldade em exercer comando e controle de suas forças após o ataque israelense aos seus pagers e walkie-talkies, mas construiu uma rede telefônica de linha terrestre dedicada para tal contingência, e seus combatentes são treinados em operações autônomas de pequenas unidades.

Como mostraram em 2006, guerrilheiros do Hezbollah, ao contrário dos exércitos árabes convencionais, podem tomar iniciativa e manobrar sem ordens superiores. E, embora Israel possa eliminar comandantes seniores do Hezbollah, eles sempre podem ser substituídos.

Se Israel atacar por terra, pode facilmente ficar preso em outro atoleiro. Mas se não o fizer, pode não ser capaz de parar os ataques insuportáveis ao norte. Não está claro se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, tem uma estratégia para abordar esse dilema estratégico vexatório.

Também não está claro se o Hezbollah tem uma estratégia - ainda mais depois do assassinato de Hasan Nasrallah. Em seu desejo de mostrar apoio ao Hamas, Nasrallah causou sérios danos à sua própria organização e à sociedade libanesa mais amplamente.

A maioria dos libaneses não deseja ser arrastada para uma guerra iniciada pelo Hezbollah (em uma pesquisa recente, apenas 3 em 10 pessoas expressaram bastante ou uma grande confiança na organização), mas eles não têm escolha no assunto. Os dois inimigos estão caminhando para o desastre como sonâmbulos.

Sem saída no curto prazo

Ainda pode ser possível uma saída se Netanyahu pressionar por um cessar-fogo em Gaza, como os comandantes do IDF têm instado, o que permitiria ao Hezbollah um recuo que ajudaria o grupo a wslavar a própria pele. Mas Netanyahu não mostra nenhum desejo de terminar a guerra em Gaza tão cedo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, por sua parte, também não mostra urgência em terminar esse conflito devastador.

Enquanto isso, Netanyahu está se beneficiando politicamente da guerra em escalada contra o Hezbollah, popular com o público israelense. Mas, como muitas nações, incluindo Israel, aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar. Se as operações militares se transformarem em atoleiros, sua popularidade logo se dissipará.

Israel agora enfrenta a perspectiva de não apenas um atoleiro, mas dois — tanto em Gaza quanto no Líbano. A probabilidade é que, eventualmente, o status quo pré-guerra será restaurado ao longo da fronteira Israel-Líbano — mas apenas a um grande custo em sofrimento humano de todos os lados.

Se você quiser ver como as nações podem tropeçar em guerras sem fim, o conflito em andamento (e em rápida escalada) entre Israel e o Hezbollah é um exemplo clássico.

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Hezbollah, a milícia xiita extremista apoiada pelo Irã e sediada no Líbano, tem demonstrado apoio aos seus parceiros do “eixo de resistência” com implacáveis disparos de foguetes e drones contra o norte de Israel. Cerca de 60.000 israelenses foram forçados a deixar suas casas e ainda não puderam voltar, mesmo com o início de um novo ano letivo. Um ataque de foguete do Hezbollah particularmente terrível matou 12 crianças nas Colinas de Golan.

No entanto, nem o Hezbollah nem Israel estavam ansiosos por uma guerra total: Israel queria se concentrar na luta contra o Hamas, enquanto o Hezbollah temia ser atacado pelas poderosas Forças de Defesa de Israel. Há quase um ano, houve trocas de tiros na fronteira norte de Israel, mas os dois lados pareciam satisfeitos em manter as hostilidades relativamente contidas.

Fumaça sobe enquanto um prédio desaba nos subúrbios ao sul de Beirute, neste sábado, 28. Foto: AP/Hussein Malla

Ataque secreto

Essa contenção começou a cair na semana passada, quando Israel desencadeou uma sofisticada operação secreta, acionando milhares de pagers e walkie-talkies do Hezbollah secretamente carregados de explosivos. Um funcionário do Hezbollah disse à Reuters que 1.500 de seus combatentes foram colocados fora de serviço com vários ferimentos.

Não está claro por que Israel desencadeou o ataque, há muito tempo preparado, quando o fez. A imprensa israelense informou que o motivo mais provável foi o medo de que o Hezbollah estivesse prestes a descobrir a operação, colocando Israel em um dilema de “usar ou perder”.

Depois de desencadear o ataque secreto, Israel seguiu com ataques aéreos que mataram Ibrahim Aqil, o comandante da unidade de operações especiais do Hezbollah, a Força Radwan; Ibrahim Qubaisi, o comandante das forças de foguetes do Hezbollah; e outros líderes seniores do Hezbollah.

Esta semana, a IDF expandiu sua campanha de bombardeio para atingir não apenas os comandantes do Hezbollah no sul de Beirute, mas também as instalações de mísseis do Hezbollah no sul do Líbano. A operação parece ter culminado com o ataque histórico que matou o clérigo líder do grupo terrorista, Hasan Nasrallah, que há 32 anos comandava o Hezbollah.

Ataques aéreos israelenses atingiram os subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, neste sábado, 28 Foto: Hassan Ammar/AP

Não há dúvida de que as IDF infligiram danos substanciais ao Hezbollah, mas também há poucas evidências de que isso será suficiente para interromper os ataques da milícia ao norte de Israel.

O Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, escreveu que “o Hezbollah libanês provavelmente continuará realizando ataques com foguetes ao norte de Israel, apesar da campanha aérea israelense em andamento”. De fato, o Hezbollah disparou um míssil balístico em direção a Tel Aviv na quarta-feira. Ele foi interceptado, mas a defesa aérea israelense teria problemas para lidar com o Hezbollah se ele soltasse todo o seu arsenal, estimado em 150.000 a 200.000 foguetes e mísseis.

Incursão por terra

Do ponto de vista de Israel, o melhor cenário seria se sua campanha aérea persuadisse o Hezbollah a declarar um cessar-fogo, permitindo assim que os residentes do norte de Israel voltassem para suas casas. Mas as campanhas aéreas sozinhas raramente, ou nunca, atingiram os objetivos militares de qualquer nação. Normalmente, é necessária uma ação terrestre para derrotar um inimigo de forma decisiva.

Na quarta-feira, o tenente-general Herzi Halevi, chefe de gabinete da IDF, sinalizou que uma incursão terrestre poderia ser iminente. Surpreendentemente, a maioria dos israelenses agora apoia uma incursão terrestre no Líbano, se necessário, apesar de saberem como essas ofensivas foram ruins no passado.

Em 1982, em resposta aos ataques terroristas da Organização para a Libertação da Palestina originados no sul do Líbano, Israel montou uma grande invasão que levou as forças da IDF para a periferia de Beirute. Mas as esperanças israelenses de instalar um regime amigável e dominado pelos cristãos no Líbano logo foram frustradas.

A invasão israelense levou, em vez disso, ao nascimento do Hezbollah, um dos grupos terroristas mais letais do mundo. As forças israelenses, juntamente com as forças de paz dos EUA e da França, tornaram-se alvos dos homens-bomba e guerrilheiros do Hezbollah.

De fato, o bombardeio suicida foi uma tática pioneira do Hezbollah, adotada posteriormente pela al-Qaeda e outras organizações. As IDF passaram cerca de duas décadas ocupando uma zona de segurança no sul do Líbano antes de finalmente desistirem e se retirarem para Israel em 2000.

Seis anos após, um ataque transfronteiriço do Hezbollah trouxe de volta o IDF ao Líbano. A Segunda Guerra do Líbano durou 34 dias, custou a Israel 119 soldados e 43 civis (aproximadamente 1.200 libaneses foram mortos) e resultou em um impasse. Combatentes do Hezbollah altamente motivados mostraram-se surpreendentemente adeptos a emboscar tanques e infantaria israelenses nas vilas do sul do Líbano. Uma comissão de inquérito israelense subsequentemente criticou fortemente o governo de Ehud Olmert e o IDF por graves falhas de “julgamento, responsabilidade e prudência.”

Drones do Hezbollah

O IDF provavelmente encontraria no Hezbollah um adversário ainda mais formidável hoje do que em 2006. O Hezbollah tem uma estimativa de 40.000 a 50.000 combatentes, muitos com extensa experiência de combate na Síria, onde o Hezbollah lutou em nome do odioso regime de Assad. O Hezbollah agora está armado com drones e mísseis antitanque Almas, que foram dissecado e construídos às avessas pelo Irã a partir de um míssil israelense capturado em 2006.

O Hezbollah é muito mais poderoso que o Hamas e, ao contrário do Hamas, não pode ser facilmente isolado de apoio externo. O Líbano tem uma longa fronteira com a Síria, um extenso litoral e um importante aeroporto internacional, todos os quais o Irã pode usar para reabastecer o Hezbollah. E, como o Hamas, o Hezbollah construiu uma extensa rede de túneis que será extremamente difícil para o IDF mapear ou destruir. Os mísseis do Hezbollah estão escondidos sob casas civis. Qualquer tentativa de erradicá-los inevitavelmente levará a baixas civis e aumentará o clamor internacional contra Israel.

Manifestante iraniano segura um cartaz do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma reunião de apoio ao Hezbollah na Praça Felestin, em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP

O Hezbollah terá dificuldade em exercer comando e controle de suas forças após o ataque israelense aos seus pagers e walkie-talkies, mas construiu uma rede telefônica de linha terrestre dedicada para tal contingência, e seus combatentes são treinados em operações autônomas de pequenas unidades.

Como mostraram em 2006, guerrilheiros do Hezbollah, ao contrário dos exércitos árabes convencionais, podem tomar iniciativa e manobrar sem ordens superiores. E, embora Israel possa eliminar comandantes seniores do Hezbollah, eles sempre podem ser substituídos.

Se Israel atacar por terra, pode facilmente ficar preso em outro atoleiro. Mas se não o fizer, pode não ser capaz de parar os ataques insuportáveis ao norte. Não está claro se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, tem uma estratégia para abordar esse dilema estratégico vexatório.

Também não está claro se o Hezbollah tem uma estratégia - ainda mais depois do assassinato de Hasan Nasrallah. Em seu desejo de mostrar apoio ao Hamas, Nasrallah causou sérios danos à sua própria organização e à sociedade libanesa mais amplamente.

A maioria dos libaneses não deseja ser arrastada para uma guerra iniciada pelo Hezbollah (em uma pesquisa recente, apenas 3 em 10 pessoas expressaram bastante ou uma grande confiança na organização), mas eles não têm escolha no assunto. Os dois inimigos estão caminhando para o desastre como sonâmbulos.

Sem saída no curto prazo

Ainda pode ser possível uma saída se Netanyahu pressionar por um cessar-fogo em Gaza, como os comandantes do IDF têm instado, o que permitiria ao Hezbollah um recuo que ajudaria o grupo a wslavar a própria pele. Mas Netanyahu não mostra nenhum desejo de terminar a guerra em Gaza tão cedo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, por sua parte, também não mostra urgência em terminar esse conflito devastador.

Enquanto isso, Netanyahu está se beneficiando politicamente da guerra em escalada contra o Hezbollah, popular com o público israelense. Mas, como muitas nações, incluindo Israel, aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar. Se as operações militares se transformarem em atoleiros, sua popularidade logo se dissipará.

Israel agora enfrenta a perspectiva de não apenas um atoleiro, mas dois — tanto em Gaza quanto no Líbano. A probabilidade é que, eventualmente, o status quo pré-guerra será restaurado ao longo da fronteira Israel-Líbano — mas apenas a um grande custo em sofrimento humano de todos os lados.

Se você quiser ver como as nações podem tropeçar em guerras sem fim, o conflito em andamento (e em rápida escalada) entre Israel e o Hezbollah é um exemplo clássico.

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Hezbollah, a milícia xiita extremista apoiada pelo Irã e sediada no Líbano, tem demonstrado apoio aos seus parceiros do “eixo de resistência” com implacáveis disparos de foguetes e drones contra o norte de Israel. Cerca de 60.000 israelenses foram forçados a deixar suas casas e ainda não puderam voltar, mesmo com o início de um novo ano letivo. Um ataque de foguete do Hezbollah particularmente terrível matou 12 crianças nas Colinas de Golan.

No entanto, nem o Hezbollah nem Israel estavam ansiosos por uma guerra total: Israel queria se concentrar na luta contra o Hamas, enquanto o Hezbollah temia ser atacado pelas poderosas Forças de Defesa de Israel. Há quase um ano, houve trocas de tiros na fronteira norte de Israel, mas os dois lados pareciam satisfeitos em manter as hostilidades relativamente contidas.

Fumaça sobe enquanto um prédio desaba nos subúrbios ao sul de Beirute, neste sábado, 28. Foto: AP/Hussein Malla

Ataque secreto

Essa contenção começou a cair na semana passada, quando Israel desencadeou uma sofisticada operação secreta, acionando milhares de pagers e walkie-talkies do Hezbollah secretamente carregados de explosivos. Um funcionário do Hezbollah disse à Reuters que 1.500 de seus combatentes foram colocados fora de serviço com vários ferimentos.

Não está claro por que Israel desencadeou o ataque, há muito tempo preparado, quando o fez. A imprensa israelense informou que o motivo mais provável foi o medo de que o Hezbollah estivesse prestes a descobrir a operação, colocando Israel em um dilema de “usar ou perder”.

Depois de desencadear o ataque secreto, Israel seguiu com ataques aéreos que mataram Ibrahim Aqil, o comandante da unidade de operações especiais do Hezbollah, a Força Radwan; Ibrahim Qubaisi, o comandante das forças de foguetes do Hezbollah; e outros líderes seniores do Hezbollah.

Esta semana, a IDF expandiu sua campanha de bombardeio para atingir não apenas os comandantes do Hezbollah no sul de Beirute, mas também as instalações de mísseis do Hezbollah no sul do Líbano. A operação parece ter culminado com o ataque histórico que matou o clérigo líder do grupo terrorista, Hasan Nasrallah, que há 32 anos comandava o Hezbollah.

Ataques aéreos israelenses atingiram os subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, neste sábado, 28 Foto: Hassan Ammar/AP

Não há dúvida de que as IDF infligiram danos substanciais ao Hezbollah, mas também há poucas evidências de que isso será suficiente para interromper os ataques da milícia ao norte de Israel.

O Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra), um think tank com sede em Washington, escreveu que “o Hezbollah libanês provavelmente continuará realizando ataques com foguetes ao norte de Israel, apesar da campanha aérea israelense em andamento”. De fato, o Hezbollah disparou um míssil balístico em direção a Tel Aviv na quarta-feira. Ele foi interceptado, mas a defesa aérea israelense teria problemas para lidar com o Hezbollah se ele soltasse todo o seu arsenal, estimado em 150.000 a 200.000 foguetes e mísseis.

Incursão por terra

Do ponto de vista de Israel, o melhor cenário seria se sua campanha aérea persuadisse o Hezbollah a declarar um cessar-fogo, permitindo assim que os residentes do norte de Israel voltassem para suas casas. Mas as campanhas aéreas sozinhas raramente, ou nunca, atingiram os objetivos militares de qualquer nação. Normalmente, é necessária uma ação terrestre para derrotar um inimigo de forma decisiva.

Na quarta-feira, o tenente-general Herzi Halevi, chefe de gabinete da IDF, sinalizou que uma incursão terrestre poderia ser iminente. Surpreendentemente, a maioria dos israelenses agora apoia uma incursão terrestre no Líbano, se necessário, apesar de saberem como essas ofensivas foram ruins no passado.

Em 1982, em resposta aos ataques terroristas da Organização para a Libertação da Palestina originados no sul do Líbano, Israel montou uma grande invasão que levou as forças da IDF para a periferia de Beirute. Mas as esperanças israelenses de instalar um regime amigável e dominado pelos cristãos no Líbano logo foram frustradas.

A invasão israelense levou, em vez disso, ao nascimento do Hezbollah, um dos grupos terroristas mais letais do mundo. As forças israelenses, juntamente com as forças de paz dos EUA e da França, tornaram-se alvos dos homens-bomba e guerrilheiros do Hezbollah.

De fato, o bombardeio suicida foi uma tática pioneira do Hezbollah, adotada posteriormente pela al-Qaeda e outras organizações. As IDF passaram cerca de duas décadas ocupando uma zona de segurança no sul do Líbano antes de finalmente desistirem e se retirarem para Israel em 2000.

Seis anos após, um ataque transfronteiriço do Hezbollah trouxe de volta o IDF ao Líbano. A Segunda Guerra do Líbano durou 34 dias, custou a Israel 119 soldados e 43 civis (aproximadamente 1.200 libaneses foram mortos) e resultou em um impasse. Combatentes do Hezbollah altamente motivados mostraram-se surpreendentemente adeptos a emboscar tanques e infantaria israelenses nas vilas do sul do Líbano. Uma comissão de inquérito israelense subsequentemente criticou fortemente o governo de Ehud Olmert e o IDF por graves falhas de “julgamento, responsabilidade e prudência.”

Drones do Hezbollah

O IDF provavelmente encontraria no Hezbollah um adversário ainda mais formidável hoje do que em 2006. O Hezbollah tem uma estimativa de 40.000 a 50.000 combatentes, muitos com extensa experiência de combate na Síria, onde o Hezbollah lutou em nome do odioso regime de Assad. O Hezbollah agora está armado com drones e mísseis antitanque Almas, que foram dissecado e construídos às avessas pelo Irã a partir de um míssil israelense capturado em 2006.

O Hezbollah é muito mais poderoso que o Hamas e, ao contrário do Hamas, não pode ser facilmente isolado de apoio externo. O Líbano tem uma longa fronteira com a Síria, um extenso litoral e um importante aeroporto internacional, todos os quais o Irã pode usar para reabastecer o Hezbollah. E, como o Hamas, o Hezbollah construiu uma extensa rede de túneis que será extremamente difícil para o IDF mapear ou destruir. Os mísseis do Hezbollah estão escondidos sob casas civis. Qualquer tentativa de erradicá-los inevitavelmente levará a baixas civis e aumentará o clamor internacional contra Israel.

Manifestante iraniano segura um cartaz do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em uma reunião de apoio ao Hezbollah na Praça Felestin, em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP

O Hezbollah terá dificuldade em exercer comando e controle de suas forças após o ataque israelense aos seus pagers e walkie-talkies, mas construiu uma rede telefônica de linha terrestre dedicada para tal contingência, e seus combatentes são treinados em operações autônomas de pequenas unidades.

Como mostraram em 2006, guerrilheiros do Hezbollah, ao contrário dos exércitos árabes convencionais, podem tomar iniciativa e manobrar sem ordens superiores. E, embora Israel possa eliminar comandantes seniores do Hezbollah, eles sempre podem ser substituídos.

Se Israel atacar por terra, pode facilmente ficar preso em outro atoleiro. Mas se não o fizer, pode não ser capaz de parar os ataques insuportáveis ao norte. Não está claro se o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, tem uma estratégia para abordar esse dilema estratégico vexatório.

Também não está claro se o Hezbollah tem uma estratégia - ainda mais depois do assassinato de Hasan Nasrallah. Em seu desejo de mostrar apoio ao Hamas, Nasrallah causou sérios danos à sua própria organização e à sociedade libanesa mais amplamente.

A maioria dos libaneses não deseja ser arrastada para uma guerra iniciada pelo Hezbollah (em uma pesquisa recente, apenas 3 em 10 pessoas expressaram bastante ou uma grande confiança na organização), mas eles não têm escolha no assunto. Os dois inimigos estão caminhando para o desastre como sonâmbulos.

Sem saída no curto prazo

Ainda pode ser possível uma saída se Netanyahu pressionar por um cessar-fogo em Gaza, como os comandantes do IDF têm instado, o que permitiria ao Hezbollah um recuo que ajudaria o grupo a wslavar a própria pele. Mas Netanyahu não mostra nenhum desejo de terminar a guerra em Gaza tão cedo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, por sua parte, também não mostra urgência em terminar esse conflito devastador.

Enquanto isso, Netanyahu está se beneficiando politicamente da guerra em escalada contra o Hezbollah, popular com o público israelense. Mas, como muitas nações, incluindo Israel, aprenderam com desgosto, guerras são fáceis de começar e difíceis de terminar. Se as operações militares se transformarem em atoleiros, sua popularidade logo se dissipará.

Israel agora enfrenta a perspectiva de não apenas um atoleiro, mas dois — tanto em Gaza quanto no Líbano. A probabilidade é que, eventualmente, o status quo pré-guerra será restaurado ao longo da fronteira Israel-Líbano — mas apenas a um grande custo em sofrimento humano de todos os lados.

Análise por Max Boot

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.