LONDRES - Apagar as marcas deixadas por mais de um ano de guerra entre Rússia e Ucrânia vai custar caro ao governo de Volodmir Zelenski. Para traçar estratégias de ajuda, a União Europeia e os Estados Unidos se reuniram na Conferência de Recuperação do país nesta quarta-feira, 21, em Londres. No encontro, chefes de Estado e empresas privadas se comprometeram a desembolsar US$ 61, 3 bilhões (cerca de R$ 300 bi) entre empréstimos e doações ao país. O valor é uma parte pequena dos US$ 411 bilhões (quase R$2 trilhões) que custará a reparação, segundo estimativa do Banco Mundial.
Presente no encontro, o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, disse que o país daria US$ 1,3 bilhão (aproximadamente R$6,2 bilhão) em nova ajuda. Ele também confirmou que o governo deve destinar US$ 500 milhões (R$2,3 milhões) para restaurar a rede de energia danificada da Ucrânia. O americano destacou que o valor seria usado também na modernização dos portos ucranianos e na infraestrutura das fronteiras.
Somado com ajudas anteriores, o valor que os Estados Unidos desembolsou no auxílio à Ucrânia desde a invasão russa chega a US$ 64,3 bilhões (aproximadamente R$307,2 bilhões). Ele ainda declarou que os esforços durarão o tempo que for necessário e cobrou a responsabilização do país comandado por Vladimir Putin. “A Rússia está causando a destruição da Ucrânia e deve arcar com o custo da reconstrução do país”, afirmou.
A União Europeia também anunciou uma ajuda para a reparação do território ucraniano. Até 2027, o bloco econômico vai arcar com US$ 55 bilhões (aproximadamente R$262 bilhões) no plano em favor da Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no entanto, não explicou se o valor se trataria de doação ou apenas de empréstimos.
Entre os países-membros, a Alemanha anunciou US$ 416 milhões (aproximadamente R$1,9 bilhão) em ajuda. Já a Grã-Bretanha prometeu ao governo ucraniano doar cerca de US$ 305 milhões (R$1,4 bilhão) e emprestar US$ 3,8 bilhões (aproximadamente R$18,1 bilhões).
Porém, os esforços não parecem suficientes para a Ucrânia. Um assessor sênior de Zelenski foi categórico ao afirmar que os britânicos deveriam confiscar mansões e propriedades rurais para levantar verba para a reconstrução. No ano passado, o Reino Unido congelou cerca de US$ 22 bilhões (aproximadamente R$105,1 bilhões) em ativos russos como parte da política de sanções ao país em consequência da invasão.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou o investimento de empresas do setor privado para a reconstrução. Segundo ele, BT, Virgin, Philips e Hyundai são algumas das mais de 400 corporações que se comprometeram com a causa. Apesar da destruição causada pela guerra, Sunak afirmou acreditar que a Ucrânia é uma boa oportunidade para investir, citando o desempenho positivo do setor tecnológico do país em 2022.
O presidente ucraniano não compareceu ao evento, mas cobrou, em vídeo, menos promessas e mais ações. Zelenski também aproveitou para agradecer os esforços das outras nações em ajudar a Ucrânia e contou que as forças armadas do país já estão começando, aos poucos, a traçar a retomada do território capturado pela Rússia. “Algumas pessoas acreditam que este é um filme de Hollywood e esperam resultados agora, mas não é”, disse ele.
O chefe de Estado também pediu para que os países empenhados em reconstruir a Ucrânia ajudem a estruturar o exército para que ele “seja forte o suficiente para proteger a soberania, integridade territorial e independência do território ucraniano”. Em entrevista à BBC nesta semana, Zelenski ainda chegou a reconhecer que o sucesso no campo de batalha foi “mais lento do que o desejado”.
Pressão de Zelenski por alianças econômicas
A possível adesão do país na União Europeia e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também foram levantadas na Conferência de Reparação da Ucrânia em Londres. Como mais uma forma de pressionar os blocos econômicos, o presidente ucraniano pediu aos líderes que tenham a “coragem” de reconhecer que seu país já faz parte de suas alianças econômicas e de defesa.
Durante o encontro, o Reino Unido não mostrou resistência ao pedido. Pelo contrário, anunciou a exclusão da necessidade da Ucrânia de apresentar “plano de ação para adesão” na Otan, caso deseje. O pedido, que estabelece as reformas que os países candidatos devem fazer antes de entrarem na aliança, seria um obstáculo no ingresso do país à cúpula.
Com a movimentação, o esperado é que os membros da Otan apoiem a entrada da Ucrânia em uma reunião no próximo mês. No entanto, a organização estaria preocupada em incluir o país enquanto a guerra contra a Rússia está acontecendo.
Sobre a entrada da Ucrânia na União Europeia, Ursula von der Leyen afirmou não ter dúvidas quanto à inclusão do país, mas com ressalvas. A presidente da Comissão Europeia considerou que o governo ucraniano precisa fazer alguns ajustes antes da entrada, como a garantia da redução da corrupção e a reforma do Judiciário.
O posicionamento é o mesmo da ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, que chegou a afirmar que o objetivo dos países-membros é reconstruir uma Ucrânia adequada para a União Europeia. /AP