A União Europeia recomendou aos 27 Estados-membros a exigirem testes negativos de covid-19 com menos de 48 horas aos viajantes procedentes da China, segundo um acordo do bloco anunciado nesta quarta-feira, 4. O acordo segue decisões de alguns países do bloco para evitar uma nova onda de coronavírus ante a explosão de casos no território chinês.
Outras recomendações da UE aos países são o uso de máscaras, a realização de testes aleatórios no desembarque e o controle das águas residuais dos aviões. As medidas foram debatidas por especialistas em saúde em uma reunião do IPCR, dispositivo europeu para uma reação política em situações de crise.
Na terça-feira, 3, a “esmagadora maioria” dos países da UE se declarou favorável a realizar sistematicamente testes de covid em passageiros da China antes do embarque no avião. As autoridades também reiteraram que estão dispostas a enviar vacinas contra a covid-19 ao país. O bloco tem um excedente de vacinas de mRNA, especialmente a produzida pela BioNTech/Pfizer. Segundo vários estudos científicos, estas são mais eficazes contra formas graves da doença do que as desenvolvidas e usadas pela China.
Com as recomendações, os Estados-membros devem implementá-las após definirem o tipo de testes que será exigido aos passageiros e outros detalhes. Até então, os países têm reagido de maneira diferenciada. Espanha e Itália anunciaram na semana passada que voltaram a exigir o teste negativo aos viajantes da China. A França vai começar a exigência nesta quinta-feira, 5.
A China condenou as restrições na terça-feira, 4, e advertiu que poderia tomar medidas em represália. “Alguns países estabeleceram restrições de entrada visando apenas viajantes chineses. Isso não tem base científica e algumas práticas são inaceitáveis”, denunciou Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Outros países
Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Japão, Malásia, Índia, Coreia do Sul e Taiwan também estabeleceram regras recentemente para conter a explosão de casos de covid na China.
Nos EUA, o governo de Joe Biden anunciou que todos os viajantes da China acima de dois anos de idade terão que apresentar um teste de covid negativo antes de embarcar no voo a partir desta quinta-feira, 5. A medida, segundo o governo, é para frear a disseminação do vírus e evitar novas variantes. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) disse que a exigência de testes se aplicará aos passageiros aéreos, independentemente da nacionalidade e status de vacinação. Também se aplicará testes a viajantes da China que entram nos EUA através de um terceiro país e àqueles que fazem conexão para outros destinos.
Na Ásia, o Japão exigirá um teste negativo de Covid-19 na chegada para viajantes da China, e a Malásia anunciou novas medidas de rastreamento e vigilância. Índia, Coreia do Sul e Taiwan já estão exigindo testes de vírus para visitantes da China.
Falta de transparência
As medidas foram anunciadas com a justificativa de contenção de novos casos de covid após a China sofrer um aumento exponencial com o fim da política covid zero. Além disso, as autoridades também alegam falta de transparência por parte do governo de Xi Jinping.
No dia 21 de dezembro, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu à China que compartilhasse dados e conduzisse estudos relevantes para ajudar o mundo a entender quais variantes da covid estão circulando. “Para fazer uma avaliação de risco abrangente da situação no país, a OMS precisa de informações mais detalhadas sobre a gravidade da doença, internações hospitalares e requisitos para suporte à UTI.”
O surto de covid na China piorou nos últimos dias, com os governos locais relatando centenas de milhares de infecções por dia. Vídeos obtidos pelo The New York Times mostram pacientes doentes lotando corredores de hospitais, mas o quadro atual do surto é difícil de acompanhar porque a China não divulga dados confiáveis. Com o fim da política covid zero, por exemplo, o governo chinês retirou as exigências de testes em massa e tornou voluntária a divulgação dos resultados dos testes feitos em casa.
O resultado dessas mudanças é uma queda nas notificações recentes. No dia 13 de dezembro, o país relatou 2.291 novos casos, uma fração das cerca de 30 mil novas infecções diárias que o país registrava antes de suspender as exigências de testes em massa. A Comissão Nacional de Saúde da China disse no dia 14 deste mês que deixaria de relatar infecções assintomáticas, que representaram a grande maioria dos resultados positivos no passado. /AFP, NYT