LIMA - Cinco anos depois de dizer que uma presidência de Keiko Fujimori seria um erro para o Peru, o escritor peruano e Nobel de Literatura (2010) Mario Vargas Llosa disse agora que a candidata conservadora precisa vencer o segundo turno das eleições para impedir que o país caia nas mãos do totalitarismo. A filha do ex-ditador Alberto Fujimori enfrentará o candidato de esquerda Pedro Castillo no dia 6 de junho. Segundo as últimas pesquisas, Castillo lidera as intenções de voto por 10 pontos.
Vargas Llosa, que já havia manifestado apoio à candidata nos últimos meses, conversou com Keiko no domingo, quando deu a declaração mais enfática de sua posição até agora. "Você está enfrentando um adversário que pode acabar com a liberdade no Peru. Estamos interessados que você ganhe as eleições de forma justa e que passe seus anos no poder tentando fazer coisas boas para os peruanos", disse, segundo o site de notícias Perú 21.
A candidata agradeceu o apoio do escritor. "Sem dúvida, demonstra seu grande amor por nosso país, além das diferenças que temos e poderemos seguir tendo", disse ela.
Em 2016, quando Keiko disputou a presidência com Pedro Pablo Kuczynski, o escritor disse que as consequências de um governo seu seriam politica, social e economicamente desastrosas para o país. "A ditadura seria legitimada pelo eleitorado peruado", avaliou Vargas Llosa, na época. Keiko venceu PPK no primeiro turno, mas foi derrotada no segundo. Em 1990, Alberto Fujimori - que atualmente cumpre pena de 25 anos por violação de direitos humanos - venceu Vargas Llosa nas eleições presidenciais e governou o país até 2000.
Ao mesmo tempo, Keiko enfrentam grande resistência no país a sua candidatura. No sábado, milhares se manifestaram em várias cidades do Peru para rejeitar seu nome, em uma passeata convocada por grupos de direitos humanos e anticorrpução.
Sob o lema "Pelo Peru, Keiko não vai", em Lima a marcha foi realizada pacificamente com milhares de pessoas usando máscaras e agitando faixas com slogans contra a candidata e seu pai. Parentes e vítimas de violações dos direitos humanos perpetradas durante o governo de Alberto Fujimori no âmbito da guerra contra o movimento maoísta do Sendero Luminoso, entre 1990 e 2000, lideravam a passeata.
Também compareceram centenas de jovens indignados que consideram o fujimorismo parte de uma classe política corrupta, que incendiou o país nas últimas três décadas. “Fujimori nunca mais! É por isso que venho marchar, pela dignidade, pelo meu futuro, pelo futuro dos meus filhos, pelo futuro das outras gerações, é por isso que venho marchar, porque me sinto indignado com tanta corrupção , por tantas décadas sendo roubado e saqueado", disse um manifestante que se identificou como Roberto.
Keiko, que completa 46 anos nesta terça-feira, 25, saiu das urnas com 13,4% dos votos, atrás de Castillo com 18,9%, que liderou o primeiro turno em 11 de abril em uma eleição com 18 candidatos. Ela disputa a presidência pela terceira vez em dez anos./COM AFP