Vazamento do Pentágono mostra os perigos de espionar seus amigos; leia a análise


Domínio dos EUA no mercado global de tecnologia e comunicação digital permite a possibilidade de uma enorme quantidade de coleta de informações com o mínimo de esforço

Por Adam Taylor

Um enorme vazamento de documentos do Pentágono descoberto na semana passada revelou o quão profundamente os Estados Unidos espionaram a Rússia e outros rivais. Mas também é um lembrete de que os americanos espionam seus aliados como rotina – uma prática que traz riscos tanto para Washington quanto para seus amigos.

Não faltam revelações pouco lisonjeiras. Os documentos pintam um quadro pessimista da próxima contra-ofensiva da primavera da Ucrânia e apontam para problemas potenciais na defesa aérea e na artilharia. Outro relatório sugere que a Coreia do Sul se recusou a fornecer armas para a Ucrânia. Outro afirma que o Egito planejava secretamente fornecer foguetes para a Rússia, e outro diz que a Turquia, aliada da Otan, foi abordada pelo notório Grupo Wagner da Rússia, para ajudar a adquirir suprimentos.

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Os tópicos vão muito além da Ucrânia: uma avaliação afirmou que a famosa agência de espionagem de Israel, o Mossad, apoiou protestos antigovernamentais, apesar de suas alegações de neutralidade política.

Tomados em conjunto, os documentos sugerem que, mesmo após a controvérsia em torno dos vazamentos sobre a Agência de Segurança Nacional divulgados por Edward Snowden há uma década, os Estados Unidos ainda estão coletando secretamente informações sobre seus aliados. A bizarra disseminação dos documentos – aparentemente sendo compartilhado primeiro entre grupos obscuros de memes no aplicativo de bate-papo Discord – mostra que a interconexão que permite essa vigilância pode ser caótica demais.

Sim, algumas das revelações não são exatamente uma surpresa. Não é preciso espionagem para entender que Viktor Orban tem uma visão negativa dos Estados Unidos, por exemplo, mesmo que a Hungria seja aliada da Otan. Mas outros deixaram os governos estrangeiros cambaleando. E provavelmente muito mais está por vir.

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Jack Teixeira foi preso nesta quinta-feira, 13, em Massachusetts Foto: WCVB-TV via AP

Alianças em risco

As alegações de negociação de armas com a Rússia resultaram em um silêncio constrangedor da Turquia e negações seletivas do Egito. Enquanto isso, as autoridades ucranianas lançaram dúvidas publicamente sobre a avaliação pessimista dos documentos, com o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak escrevendo no Telegram na semana passada que os relatórios continham “informações fictícias” – embora, em particular, algumas autoridades ucranianas tenham dito que reconhecem a imagem que pintam.

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Na Coreia do Sul, o governo do presidente Yoon Suk Yeol sugeriu que as alegações nos documentos eram “falsas” e alegou que algumas das informações incluídas foram “alteradas”. Em Israel, o Mossad divulgou uma rara declaração que enfatizava sua neutralidade política, enquanto alguns analistas se perguntavam se os Estados Unidos haviam interpretado errado uma carta assinada por ex-agentes de inteligência e outros.

Mas ambos os relatórios sobre a Coreia do Sul e Israel citam especificamente “inteligência de sinais”, que se refere a informações derivadas de sinais eletrônicos, como sistemas de comunicação. Não está claro se os Estados Unidos estão vigiando as comunicações dos líderes do Mossad, mas o vazamento sugere que é uma possibilidade.

Na Coreia do Sul, a sugestão de que a comunicação do Conselho de Segurança Nacional foi interceptada provocou um escândalo político doméstico. Yoon tomou a decisão pouco ortodoxa de mudar o gabinete presidencial de sua casa histórica, a Casa Azul, no ano passado. Algumas figuras da oposição agora sugerem que ele abriu o escritório para um risco maior de vigilância.

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Por tradição, não há tabu contra a espionagem de nações amigas. Algumas nações, como a aliança Five Eyes da Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos, concordaram essencialmente em não espionar umas às outras. No entanto, em geral, não há um acordo internacional codificado sobre o assunto e poucas normas.

Sede do Pentágono na Virgínia: governo americano lida com saia justa após vazamentos  Foto: Stefani Reynolds/The New York Times

Urgência tecnológica

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A natureza mutável da comunicação global tornou a questão muito mais premente. A interceptação de comunicação costumava ser uma tarefa tão gigantesca que os recursos apontavam quase inteiramente para os principais adversários. Agora, o domínio dos EUA no mercado global de tecnologia e comunicação digital permite a possibilidade de uma enorme quantidade de coleta de informações com o mínimo de esforço.

Em 2013, dados divulgados por Edward Snowden revelaram a vigilância da NSA no celular da chanceler alemã Angela Merkel e da conta de e-mail do presidente mexicano Felipe Calderón. Mais tarde, descobriu-se que dezenas de líderes mundiais foram alvos.

As revelações provocaram raiva diplomática. A então presidente brasileira Dilma Rousseff cancelou uma viagem a Washington depois que foi revelado que seu telefone estava sendo rastreado, enquanto as revelações sobre Merkel azedaram as relações EUA-Alemanha por anos.

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O presidente Barack Obama fez o que se poderia esperar depois de irritar um amigo: se desculpou. Ele apareceu na televisão alemã e disse à nação que “como eu sou o presidente dos Estados Unidos, a chanceler da Alemanha não terá que se preocupar com isso”. Mas, no final, isso parecia ser uma promessa pessoal, e não uma política do governo.

Até agora, a reação global sobre o recente vazamento de documentos não corresponde à observada após o vazamento da NSA. Mas ainda existem muitos outros documentos que não foram relatados, com mais revelações que podem gerar raiva. E embora a escala do vazamento seja menor do que outros vazamentos recentes, a natureza detalhada das informações divulgadas pode ser altamente prejudicial.

Os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

Ajuste de contas com a Ucrânia

Para a Ucrânia, pode haver um ajuste de contas. O vazamento de muitos documentos sobre a condição das Forças Armadas da Ucrânia e suas capacidades pode forçar os comandantes a alterar os planos antes de uma contra-ofensiva já atrasada. Isso pode prejudicar ainda mais as relações entre Kiev e Washington, já testadas após um ano de luta, em um momento crucial.

Mesmo alguns dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos – aqueles do clube de compartilhamento de inteligência Five Eyes – têm motivos para preocupação, apesar de não serem espionados diretamente. Os documentos detalham numerosos exemplos de atividades britânicas na Ucrânia, incluindo um incidente em que um caça russo quase derrubou um avião de vigilância do Reino Unido no ano passado – um evento que o governo britânico descreveu em termos vagos.

A Rússia está saboreando a situação. “Os vazamentos são bastante interessantes”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a repórteres na segunda-feira, acrescentando que já se sabia que os Estados Unidos espionavam “vários chefes de Estado, especialmente nas capitais europeias”.

O fato de o vazamento parecer não ser um ato estrangeiro malicioso, mas de um homem que só queria compartilhá-los com seus amigos para se divertir, aponta para um problema mais fundamental com a coleta de informações secretas do país: os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

Um enorme vazamento de documentos do Pentágono descoberto na semana passada revelou o quão profundamente os Estados Unidos espionaram a Rússia e outros rivais. Mas também é um lembrete de que os americanos espionam seus aliados como rotina – uma prática que traz riscos tanto para Washington quanto para seus amigos.

Não faltam revelações pouco lisonjeiras. Os documentos pintam um quadro pessimista da próxima contra-ofensiva da primavera da Ucrânia e apontam para problemas potenciais na defesa aérea e na artilharia. Outro relatório sugere que a Coreia do Sul se recusou a fornecer armas para a Ucrânia. Outro afirma que o Egito planejava secretamente fornecer foguetes para a Rússia, e outro diz que a Turquia, aliada da Otan, foi abordada pelo notório Grupo Wagner da Rússia, para ajudar a adquirir suprimentos.

Os tópicos vão muito além da Ucrânia: uma avaliação afirmou que a famosa agência de espionagem de Israel, o Mossad, apoiou protestos antigovernamentais, apesar de suas alegações de neutralidade política.

Tomados em conjunto, os documentos sugerem que, mesmo após a controvérsia em torno dos vazamentos sobre a Agência de Segurança Nacional divulgados por Edward Snowden há uma década, os Estados Unidos ainda estão coletando secretamente informações sobre seus aliados. A bizarra disseminação dos documentos – aparentemente sendo compartilhado primeiro entre grupos obscuros de memes no aplicativo de bate-papo Discord – mostra que a interconexão que permite essa vigilância pode ser caótica demais.

Sim, algumas das revelações não são exatamente uma surpresa. Não é preciso espionagem para entender que Viktor Orban tem uma visão negativa dos Estados Unidos, por exemplo, mesmo que a Hungria seja aliada da Otan. Mas outros deixaram os governos estrangeiros cambaleando. E provavelmente muito mais está por vir.

Jack Teixeira foi preso nesta quinta-feira, 13, em Massachusetts Foto: WCVB-TV via AP

Alianças em risco

As alegações de negociação de armas com a Rússia resultaram em um silêncio constrangedor da Turquia e negações seletivas do Egito. Enquanto isso, as autoridades ucranianas lançaram dúvidas publicamente sobre a avaliação pessimista dos documentos, com o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak escrevendo no Telegram na semana passada que os relatórios continham “informações fictícias” – embora, em particular, algumas autoridades ucranianas tenham dito que reconhecem a imagem que pintam.

Na Coreia do Sul, o governo do presidente Yoon Suk Yeol sugeriu que as alegações nos documentos eram “falsas” e alegou que algumas das informações incluídas foram “alteradas”. Em Israel, o Mossad divulgou uma rara declaração que enfatizava sua neutralidade política, enquanto alguns analistas se perguntavam se os Estados Unidos haviam interpretado errado uma carta assinada por ex-agentes de inteligência e outros.

Mas ambos os relatórios sobre a Coreia do Sul e Israel citam especificamente “inteligência de sinais”, que se refere a informações derivadas de sinais eletrônicos, como sistemas de comunicação. Não está claro se os Estados Unidos estão vigiando as comunicações dos líderes do Mossad, mas o vazamento sugere que é uma possibilidade.

Na Coreia do Sul, a sugestão de que a comunicação do Conselho de Segurança Nacional foi interceptada provocou um escândalo político doméstico. Yoon tomou a decisão pouco ortodoxa de mudar o gabinete presidencial de sua casa histórica, a Casa Azul, no ano passado. Algumas figuras da oposição agora sugerem que ele abriu o escritório para um risco maior de vigilância.

Por tradição, não há tabu contra a espionagem de nações amigas. Algumas nações, como a aliança Five Eyes da Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos, concordaram essencialmente em não espionar umas às outras. No entanto, em geral, não há um acordo internacional codificado sobre o assunto e poucas normas.

Sede do Pentágono na Virgínia: governo americano lida com saia justa após vazamentos  Foto: Stefani Reynolds/The New York Times

Urgência tecnológica

A natureza mutável da comunicação global tornou a questão muito mais premente. A interceptação de comunicação costumava ser uma tarefa tão gigantesca que os recursos apontavam quase inteiramente para os principais adversários. Agora, o domínio dos EUA no mercado global de tecnologia e comunicação digital permite a possibilidade de uma enorme quantidade de coleta de informações com o mínimo de esforço.

Em 2013, dados divulgados por Edward Snowden revelaram a vigilância da NSA no celular da chanceler alemã Angela Merkel e da conta de e-mail do presidente mexicano Felipe Calderón. Mais tarde, descobriu-se que dezenas de líderes mundiais foram alvos.

As revelações provocaram raiva diplomática. A então presidente brasileira Dilma Rousseff cancelou uma viagem a Washington depois que foi revelado que seu telefone estava sendo rastreado, enquanto as revelações sobre Merkel azedaram as relações EUA-Alemanha por anos.

O presidente Barack Obama fez o que se poderia esperar depois de irritar um amigo: se desculpou. Ele apareceu na televisão alemã e disse à nação que “como eu sou o presidente dos Estados Unidos, a chanceler da Alemanha não terá que se preocupar com isso”. Mas, no final, isso parecia ser uma promessa pessoal, e não uma política do governo.

Até agora, a reação global sobre o recente vazamento de documentos não corresponde à observada após o vazamento da NSA. Mas ainda existem muitos outros documentos que não foram relatados, com mais revelações que podem gerar raiva. E embora a escala do vazamento seja menor do que outros vazamentos recentes, a natureza detalhada das informações divulgadas pode ser altamente prejudicial.

Os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

Ajuste de contas com a Ucrânia

Para a Ucrânia, pode haver um ajuste de contas. O vazamento de muitos documentos sobre a condição das Forças Armadas da Ucrânia e suas capacidades pode forçar os comandantes a alterar os planos antes de uma contra-ofensiva já atrasada. Isso pode prejudicar ainda mais as relações entre Kiev e Washington, já testadas após um ano de luta, em um momento crucial.

Mesmo alguns dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos – aqueles do clube de compartilhamento de inteligência Five Eyes – têm motivos para preocupação, apesar de não serem espionados diretamente. Os documentos detalham numerosos exemplos de atividades britânicas na Ucrânia, incluindo um incidente em que um caça russo quase derrubou um avião de vigilância do Reino Unido no ano passado – um evento que o governo britânico descreveu em termos vagos.

A Rússia está saboreando a situação. “Os vazamentos são bastante interessantes”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a repórteres na segunda-feira, acrescentando que já se sabia que os Estados Unidos espionavam “vários chefes de Estado, especialmente nas capitais europeias”.

O fato de o vazamento parecer não ser um ato estrangeiro malicioso, mas de um homem que só queria compartilhá-los com seus amigos para se divertir, aponta para um problema mais fundamental com a coleta de informações secretas do país: os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

Um enorme vazamento de documentos do Pentágono descoberto na semana passada revelou o quão profundamente os Estados Unidos espionaram a Rússia e outros rivais. Mas também é um lembrete de que os americanos espionam seus aliados como rotina – uma prática que traz riscos tanto para Washington quanto para seus amigos.

Não faltam revelações pouco lisonjeiras. Os documentos pintam um quadro pessimista da próxima contra-ofensiva da primavera da Ucrânia e apontam para problemas potenciais na defesa aérea e na artilharia. Outro relatório sugere que a Coreia do Sul se recusou a fornecer armas para a Ucrânia. Outro afirma que o Egito planejava secretamente fornecer foguetes para a Rússia, e outro diz que a Turquia, aliada da Otan, foi abordada pelo notório Grupo Wagner da Rússia, para ajudar a adquirir suprimentos.

Os tópicos vão muito além da Ucrânia: uma avaliação afirmou que a famosa agência de espionagem de Israel, o Mossad, apoiou protestos antigovernamentais, apesar de suas alegações de neutralidade política.

Tomados em conjunto, os documentos sugerem que, mesmo após a controvérsia em torno dos vazamentos sobre a Agência de Segurança Nacional divulgados por Edward Snowden há uma década, os Estados Unidos ainda estão coletando secretamente informações sobre seus aliados. A bizarra disseminação dos documentos – aparentemente sendo compartilhado primeiro entre grupos obscuros de memes no aplicativo de bate-papo Discord – mostra que a interconexão que permite essa vigilância pode ser caótica demais.

Sim, algumas das revelações não são exatamente uma surpresa. Não é preciso espionagem para entender que Viktor Orban tem uma visão negativa dos Estados Unidos, por exemplo, mesmo que a Hungria seja aliada da Otan. Mas outros deixaram os governos estrangeiros cambaleando. E provavelmente muito mais está por vir.

Jack Teixeira foi preso nesta quinta-feira, 13, em Massachusetts Foto: WCVB-TV via AP

Alianças em risco

As alegações de negociação de armas com a Rússia resultaram em um silêncio constrangedor da Turquia e negações seletivas do Egito. Enquanto isso, as autoridades ucranianas lançaram dúvidas publicamente sobre a avaliação pessimista dos documentos, com o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak escrevendo no Telegram na semana passada que os relatórios continham “informações fictícias” – embora, em particular, algumas autoridades ucranianas tenham dito que reconhecem a imagem que pintam.

Na Coreia do Sul, o governo do presidente Yoon Suk Yeol sugeriu que as alegações nos documentos eram “falsas” e alegou que algumas das informações incluídas foram “alteradas”. Em Israel, o Mossad divulgou uma rara declaração que enfatizava sua neutralidade política, enquanto alguns analistas se perguntavam se os Estados Unidos haviam interpretado errado uma carta assinada por ex-agentes de inteligência e outros.

Mas ambos os relatórios sobre a Coreia do Sul e Israel citam especificamente “inteligência de sinais”, que se refere a informações derivadas de sinais eletrônicos, como sistemas de comunicação. Não está claro se os Estados Unidos estão vigiando as comunicações dos líderes do Mossad, mas o vazamento sugere que é uma possibilidade.

Na Coreia do Sul, a sugestão de que a comunicação do Conselho de Segurança Nacional foi interceptada provocou um escândalo político doméstico. Yoon tomou a decisão pouco ortodoxa de mudar o gabinete presidencial de sua casa histórica, a Casa Azul, no ano passado. Algumas figuras da oposição agora sugerem que ele abriu o escritório para um risco maior de vigilância.

Por tradição, não há tabu contra a espionagem de nações amigas. Algumas nações, como a aliança Five Eyes da Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos, concordaram essencialmente em não espionar umas às outras. No entanto, em geral, não há um acordo internacional codificado sobre o assunto e poucas normas.

Sede do Pentágono na Virgínia: governo americano lida com saia justa após vazamentos  Foto: Stefani Reynolds/The New York Times

Urgência tecnológica

A natureza mutável da comunicação global tornou a questão muito mais premente. A interceptação de comunicação costumava ser uma tarefa tão gigantesca que os recursos apontavam quase inteiramente para os principais adversários. Agora, o domínio dos EUA no mercado global de tecnologia e comunicação digital permite a possibilidade de uma enorme quantidade de coleta de informações com o mínimo de esforço.

Em 2013, dados divulgados por Edward Snowden revelaram a vigilância da NSA no celular da chanceler alemã Angela Merkel e da conta de e-mail do presidente mexicano Felipe Calderón. Mais tarde, descobriu-se que dezenas de líderes mundiais foram alvos.

As revelações provocaram raiva diplomática. A então presidente brasileira Dilma Rousseff cancelou uma viagem a Washington depois que foi revelado que seu telefone estava sendo rastreado, enquanto as revelações sobre Merkel azedaram as relações EUA-Alemanha por anos.

O presidente Barack Obama fez o que se poderia esperar depois de irritar um amigo: se desculpou. Ele apareceu na televisão alemã e disse à nação que “como eu sou o presidente dos Estados Unidos, a chanceler da Alemanha não terá que se preocupar com isso”. Mas, no final, isso parecia ser uma promessa pessoal, e não uma política do governo.

Até agora, a reação global sobre o recente vazamento de documentos não corresponde à observada após o vazamento da NSA. Mas ainda existem muitos outros documentos que não foram relatados, com mais revelações que podem gerar raiva. E embora a escala do vazamento seja menor do que outros vazamentos recentes, a natureza detalhada das informações divulgadas pode ser altamente prejudicial.

Os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

Ajuste de contas com a Ucrânia

Para a Ucrânia, pode haver um ajuste de contas. O vazamento de muitos documentos sobre a condição das Forças Armadas da Ucrânia e suas capacidades pode forçar os comandantes a alterar os planos antes de uma contra-ofensiva já atrasada. Isso pode prejudicar ainda mais as relações entre Kiev e Washington, já testadas após um ano de luta, em um momento crucial.

Mesmo alguns dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos – aqueles do clube de compartilhamento de inteligência Five Eyes – têm motivos para preocupação, apesar de não serem espionados diretamente. Os documentos detalham numerosos exemplos de atividades britânicas na Ucrânia, incluindo um incidente em que um caça russo quase derrubou um avião de vigilância do Reino Unido no ano passado – um evento que o governo britânico descreveu em termos vagos.

A Rússia está saboreando a situação. “Os vazamentos são bastante interessantes”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a repórteres na segunda-feira, acrescentando que já se sabia que os Estados Unidos espionavam “vários chefes de Estado, especialmente nas capitais europeias”.

O fato de o vazamento parecer não ser um ato estrangeiro malicioso, mas de um homem que só queria compartilhá-los com seus amigos para se divertir, aponta para um problema mais fundamental com a coleta de informações secretas do país: os Estados Unidos estão simplesmente coletando informação demais, e compartilhando com pessoas demais, o que dificulta que tudo permaneça em segredo.

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