Vazamentos de segredos do Pentágono partiu de grupo de memes no Discord


Plataforma geralmente utilizada por gamers abriga servidor que divulgou imagens de materiais sigilosos do Pentágono

Por Kellen Browning e Stuart A. Thompson
Atualização:

Durante anos, uma comunidade online de alguns poucos milhares de assinantes que seguiam uma celebridade no YouTube chamada wow_mao ocupou um pequeno canto da internet voltado sobretudo a homens. Ficava hospedada na plataforma de mensagens Discord, na qual jovens que eram fãs de wow_mao trocavam imagens engraçadas e contavam piadas maliciosas e às vezes de mau gosto.

A comunidade de wow_mao, no entanto, virou foco de atenção internacional quando veio à tona que um moderador voluntário de seu grupo no Discord havia publicado imagens de documentos vazados detalhando informações secretas do Pentágono.

Foi tudo um pouco demais para wow_mao, que disse em entrevista na terça-feira, 11, ser um estudante universitário de 20 anos e morador do Reino Unido. Num vídeo publicado no YouTube no dia anterior, ele disse que é “uma microcelebridade da internet” e queria continuar assim.

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A colisão entre cultura jovem na internet e segurança nacional pode ter parecido espantosa, mas é algo que vem ocorrendo com frequência crescente nos últimos anos. E o fato de documentos sigilosos terem aparecido no Discord reforçou o fato de que também com frequência crescente o mundo digital vem afetando a vida real de maneiras às vezes assustadoras.

Suspeito de vazar documentos confidenciais dos Estados Unidos na internet, Jack Teixeira foi preso na quinta-feira, 13  Foto: WCVB-TV / AP

O governo de Joe Biden está se esforçando para limitar os danos causados pelo vazamento das informações, que parecem detalhar segredos de segurança nacional ligados a vários adversários dos EUA, incluindo Rússia e China, além de aliados como Ucrânia e Coreia do Sul. O FBI abriu um inquérito na sexta para apurar o vazamento, mas altos funcionários dos EUA disseram pouco sobre o assunto nesta semana.

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Discord atraiu público mais abrangente na pandemia

O Discord começou como um refúgio de jogadores de videogame e passou a atrair um público mais amplo na pandemia. Boa parte do que acontece nos servidores da plataforma é inofensivo, como fãs de música discutindo seus artistas favoritos e jogadores de Minecraft trocando memes.

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Mas a troca de ideias ousada e sem filtros que acontece no servidor wow_mao e em muitos outros semelhantes às vezes adentra território mais sombrio. Esses servidores em geral são descritos como “primos” menos tóxicos do 4chan, o fórum anônimo de extrema direita conhecido por compartilhar teorias conspiratórias e popularizar o QAnon.

Pesquisadores dizem que o humor controverso sobre raça ou ideologia pode moldar as ideias de jovens vulneráveis, e memes inofensivos podem ser cooptados para se converterem em símbolos de ódio.

“Se você é um homem jovem sem perspectivas na vida e que frequenta o 4chan, com certeza frequenta alguns servidores do Discord e provavelmente alguns bem tenebrosos”, afirma Dale Beran, professor na Morgan State University e autor de um livro sobre como os trolls da internet ajudaram, com memes, Donald Trump a chegar à Presidência quase por acidente.

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Plataforma se tornou de refugio para ideias racistas

No ano passado, um atirador de 18 anos usou o Discord para registrar suas ideias, bater papo com amigos e compartilhar memes racistas que estava colecionando do 4chan, antes de sair para matar dez pessoas a tiros e ferir outras três num mercado em Buffalo. Em fevereiro, foi condenado a prisão perpétua.

Racistas usaram o Discord para planejar o ato público “Unite the Right” (unir a direita) em Charlottesville, na Virgínia, em 2017. Desde então a plataforma vem adotando medidas para aprimorar sua moderação de conteúdo, sob “a responsabilidade de garantir que o Discord não seja usado para ódio, violência ou mal”.

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Documentos confidenciais dos Estados Unidos foram vazados na plataforma Discord Foto: Dado Ruvic / REUTERS

Mas o site ainda depende em grande medida de denúncias de seus usuários para flagrar problemas, especialmente em seus servidores privados, acessados apenas por convidados. O Discord é dividido em seções que são essencialmente salas de bate-papo, com grandes grupos públicos que podem ter moderação rígida de conteúdo e grupos fechados menores com pouca ou nenhuma moderação. O Discord disse cooperar com uma investigação policial sobre o vazamento, mas se negou a dar outras declarações.

Numa sala de áudio no servidor de wow_mao, na segunda, os usuários passaram boa parte do tempo falando de filmes e reclamando de seus pais. Mas às vezes usavam linguagem abertamente racista.

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Essas salas de chat irreverentes podem representar uma atração especial para jovens. “Nesse espaço, suas perguntas podem ser respondidas na linguagem que eles entendem”, explica Beran. “Eles cresceram em meio a memes e comportamentos irônicos e maliciosos.” Para o professor, comunidades como essas podem à primeira vista parecer benignas, “mas quando isso é levado ao extremo tornam-se um problema criminal muito difícil e até um problema de terrorismo”.

O New York Times entrou em contato com wow_mao por meio de seu canal no YouTube e em seu servidor Discord, e, numa ligação de áudio feita na terça-feira na plataforma, ele falou longamente com um repórter do jornal. Disse que passa pouco tempo no Discord e que se dedica mais a seu canal no YouTube, no qual tem 250 mil seguidores. Para proteger sua segurança e privacidade, wow_mao se negou a informar seu nome verdadeiro, mas disse que é britânico e filipino.

Ele não é uma celebridade no sentido tradicional nem sequer faz parte do time de influenciadores na internet. Apesar do anonimato, seu canal acumulou seguidores ao longo dos anos porque seus vídeos encontraram eco entre pessoas que compartilham de seu senso de humor. Ele diz que seu conteúdo vem de seu interesse por geopolítica e história e do desejo de criar vídeos excêntricos que sejam engraçados.

Ilustração que mostra o suspeito de vazar os documentos confidenciais dos Estados Unidos, Jack Teixeira, na plataforma Discord Foto: STEFANI REYNOLDS / AFP

Mas wow_mao afirma que está preocupado com os conteúdos que vêm aparecendo em seu servidor. Ele diz que alguns adolescentes “muito de direita” provavelmente curtem seus conteúdos irreverentes, ainda que afirme de forma alguma compartilhar a visão de mundo deles. “Deixei um bando de crianças correrem soltas”, afirma. “Me arrependo um pouco de não ter moderado meu servidor um pouquinho mais.”

Para ele, o incidente representou mais uma oportunidade de criar conteúdo. Ele disse que seu servidor no Discord, que tinha 4.000 membros antes de sair a notícia dos documentos vazados, agora tem cerca de 7.000. “Acho que qualquer publicidade é boa, desde que eu não acabe na prisão.”

wow_mao encerrou seu vídeo no YouTube incentivando os espectadores a apoiá-lo, assinando seu Patreon, uma plataforma de financiamento coletivo para criadores de conteúdo. E depois compartilhou o vídeo no Twitter, com uma mensagem: “A CIA pode ter me incluído em sua lista de gente que precisa ser monitorada. Mas eu preciso entrar para a sua lista também!”.

Durante anos, uma comunidade online de alguns poucos milhares de assinantes que seguiam uma celebridade no YouTube chamada wow_mao ocupou um pequeno canto da internet voltado sobretudo a homens. Ficava hospedada na plataforma de mensagens Discord, na qual jovens que eram fãs de wow_mao trocavam imagens engraçadas e contavam piadas maliciosas e às vezes de mau gosto.

A comunidade de wow_mao, no entanto, virou foco de atenção internacional quando veio à tona que um moderador voluntário de seu grupo no Discord havia publicado imagens de documentos vazados detalhando informações secretas do Pentágono.

Foi tudo um pouco demais para wow_mao, que disse em entrevista na terça-feira, 11, ser um estudante universitário de 20 anos e morador do Reino Unido. Num vídeo publicado no YouTube no dia anterior, ele disse que é “uma microcelebridade da internet” e queria continuar assim.

A colisão entre cultura jovem na internet e segurança nacional pode ter parecido espantosa, mas é algo que vem ocorrendo com frequência crescente nos últimos anos. E o fato de documentos sigilosos terem aparecido no Discord reforçou o fato de que também com frequência crescente o mundo digital vem afetando a vida real de maneiras às vezes assustadoras.

Suspeito de vazar documentos confidenciais dos Estados Unidos na internet, Jack Teixeira foi preso na quinta-feira, 13  Foto: WCVB-TV / AP

O governo de Joe Biden está se esforçando para limitar os danos causados pelo vazamento das informações, que parecem detalhar segredos de segurança nacional ligados a vários adversários dos EUA, incluindo Rússia e China, além de aliados como Ucrânia e Coreia do Sul. O FBI abriu um inquérito na sexta para apurar o vazamento, mas altos funcionários dos EUA disseram pouco sobre o assunto nesta semana.

Discord atraiu público mais abrangente na pandemia

O Discord começou como um refúgio de jogadores de videogame e passou a atrair um público mais amplo na pandemia. Boa parte do que acontece nos servidores da plataforma é inofensivo, como fãs de música discutindo seus artistas favoritos e jogadores de Minecraft trocando memes.

Mas a troca de ideias ousada e sem filtros que acontece no servidor wow_mao e em muitos outros semelhantes às vezes adentra território mais sombrio. Esses servidores em geral são descritos como “primos” menos tóxicos do 4chan, o fórum anônimo de extrema direita conhecido por compartilhar teorias conspiratórias e popularizar o QAnon.

Pesquisadores dizem que o humor controverso sobre raça ou ideologia pode moldar as ideias de jovens vulneráveis, e memes inofensivos podem ser cooptados para se converterem em símbolos de ódio.

“Se você é um homem jovem sem perspectivas na vida e que frequenta o 4chan, com certeza frequenta alguns servidores do Discord e provavelmente alguns bem tenebrosos”, afirma Dale Beran, professor na Morgan State University e autor de um livro sobre como os trolls da internet ajudaram, com memes, Donald Trump a chegar à Presidência quase por acidente.

Plataforma se tornou de refugio para ideias racistas

No ano passado, um atirador de 18 anos usou o Discord para registrar suas ideias, bater papo com amigos e compartilhar memes racistas que estava colecionando do 4chan, antes de sair para matar dez pessoas a tiros e ferir outras três num mercado em Buffalo. Em fevereiro, foi condenado a prisão perpétua.

Racistas usaram o Discord para planejar o ato público “Unite the Right” (unir a direita) em Charlottesville, na Virgínia, em 2017. Desde então a plataforma vem adotando medidas para aprimorar sua moderação de conteúdo, sob “a responsabilidade de garantir que o Discord não seja usado para ódio, violência ou mal”.

Documentos confidenciais dos Estados Unidos foram vazados na plataforma Discord Foto: Dado Ruvic / REUTERS

Mas o site ainda depende em grande medida de denúncias de seus usuários para flagrar problemas, especialmente em seus servidores privados, acessados apenas por convidados. O Discord é dividido em seções que são essencialmente salas de bate-papo, com grandes grupos públicos que podem ter moderação rígida de conteúdo e grupos fechados menores com pouca ou nenhuma moderação. O Discord disse cooperar com uma investigação policial sobre o vazamento, mas se negou a dar outras declarações.

Numa sala de áudio no servidor de wow_mao, na segunda, os usuários passaram boa parte do tempo falando de filmes e reclamando de seus pais. Mas às vezes usavam linguagem abertamente racista.

Essas salas de chat irreverentes podem representar uma atração especial para jovens. “Nesse espaço, suas perguntas podem ser respondidas na linguagem que eles entendem”, explica Beran. “Eles cresceram em meio a memes e comportamentos irônicos e maliciosos.” Para o professor, comunidades como essas podem à primeira vista parecer benignas, “mas quando isso é levado ao extremo tornam-se um problema criminal muito difícil e até um problema de terrorismo”.

O New York Times entrou em contato com wow_mao por meio de seu canal no YouTube e em seu servidor Discord, e, numa ligação de áudio feita na terça-feira na plataforma, ele falou longamente com um repórter do jornal. Disse que passa pouco tempo no Discord e que se dedica mais a seu canal no YouTube, no qual tem 250 mil seguidores. Para proteger sua segurança e privacidade, wow_mao se negou a informar seu nome verdadeiro, mas disse que é britânico e filipino.

Ele não é uma celebridade no sentido tradicional nem sequer faz parte do time de influenciadores na internet. Apesar do anonimato, seu canal acumulou seguidores ao longo dos anos porque seus vídeos encontraram eco entre pessoas que compartilham de seu senso de humor. Ele diz que seu conteúdo vem de seu interesse por geopolítica e história e do desejo de criar vídeos excêntricos que sejam engraçados.

Ilustração que mostra o suspeito de vazar os documentos confidenciais dos Estados Unidos, Jack Teixeira, na plataforma Discord Foto: STEFANI REYNOLDS / AFP

Mas wow_mao afirma que está preocupado com os conteúdos que vêm aparecendo em seu servidor. Ele diz que alguns adolescentes “muito de direita” provavelmente curtem seus conteúdos irreverentes, ainda que afirme de forma alguma compartilhar a visão de mundo deles. “Deixei um bando de crianças correrem soltas”, afirma. “Me arrependo um pouco de não ter moderado meu servidor um pouquinho mais.”

Para ele, o incidente representou mais uma oportunidade de criar conteúdo. Ele disse que seu servidor no Discord, que tinha 4.000 membros antes de sair a notícia dos documentos vazados, agora tem cerca de 7.000. “Acho que qualquer publicidade é boa, desde que eu não acabe na prisão.”

wow_mao encerrou seu vídeo no YouTube incentivando os espectadores a apoiá-lo, assinando seu Patreon, uma plataforma de financiamento coletivo para criadores de conteúdo. E depois compartilhou o vídeo no Twitter, com uma mensagem: “A CIA pode ter me incluído em sua lista de gente que precisa ser monitorada. Mas eu preciso entrar para a sua lista também!”.

Durante anos, uma comunidade online de alguns poucos milhares de assinantes que seguiam uma celebridade no YouTube chamada wow_mao ocupou um pequeno canto da internet voltado sobretudo a homens. Ficava hospedada na plataforma de mensagens Discord, na qual jovens que eram fãs de wow_mao trocavam imagens engraçadas e contavam piadas maliciosas e às vezes de mau gosto.

A comunidade de wow_mao, no entanto, virou foco de atenção internacional quando veio à tona que um moderador voluntário de seu grupo no Discord havia publicado imagens de documentos vazados detalhando informações secretas do Pentágono.

Foi tudo um pouco demais para wow_mao, que disse em entrevista na terça-feira, 11, ser um estudante universitário de 20 anos e morador do Reino Unido. Num vídeo publicado no YouTube no dia anterior, ele disse que é “uma microcelebridade da internet” e queria continuar assim.

A colisão entre cultura jovem na internet e segurança nacional pode ter parecido espantosa, mas é algo que vem ocorrendo com frequência crescente nos últimos anos. E o fato de documentos sigilosos terem aparecido no Discord reforçou o fato de que também com frequência crescente o mundo digital vem afetando a vida real de maneiras às vezes assustadoras.

Suspeito de vazar documentos confidenciais dos Estados Unidos na internet, Jack Teixeira foi preso na quinta-feira, 13  Foto: WCVB-TV / AP

O governo de Joe Biden está se esforçando para limitar os danos causados pelo vazamento das informações, que parecem detalhar segredos de segurança nacional ligados a vários adversários dos EUA, incluindo Rússia e China, além de aliados como Ucrânia e Coreia do Sul. O FBI abriu um inquérito na sexta para apurar o vazamento, mas altos funcionários dos EUA disseram pouco sobre o assunto nesta semana.

Discord atraiu público mais abrangente na pandemia

O Discord começou como um refúgio de jogadores de videogame e passou a atrair um público mais amplo na pandemia. Boa parte do que acontece nos servidores da plataforma é inofensivo, como fãs de música discutindo seus artistas favoritos e jogadores de Minecraft trocando memes.

Mas a troca de ideias ousada e sem filtros que acontece no servidor wow_mao e em muitos outros semelhantes às vezes adentra território mais sombrio. Esses servidores em geral são descritos como “primos” menos tóxicos do 4chan, o fórum anônimo de extrema direita conhecido por compartilhar teorias conspiratórias e popularizar o QAnon.

Pesquisadores dizem que o humor controverso sobre raça ou ideologia pode moldar as ideias de jovens vulneráveis, e memes inofensivos podem ser cooptados para se converterem em símbolos de ódio.

“Se você é um homem jovem sem perspectivas na vida e que frequenta o 4chan, com certeza frequenta alguns servidores do Discord e provavelmente alguns bem tenebrosos”, afirma Dale Beran, professor na Morgan State University e autor de um livro sobre como os trolls da internet ajudaram, com memes, Donald Trump a chegar à Presidência quase por acidente.

Plataforma se tornou de refugio para ideias racistas

No ano passado, um atirador de 18 anos usou o Discord para registrar suas ideias, bater papo com amigos e compartilhar memes racistas que estava colecionando do 4chan, antes de sair para matar dez pessoas a tiros e ferir outras três num mercado em Buffalo. Em fevereiro, foi condenado a prisão perpétua.

Racistas usaram o Discord para planejar o ato público “Unite the Right” (unir a direita) em Charlottesville, na Virgínia, em 2017. Desde então a plataforma vem adotando medidas para aprimorar sua moderação de conteúdo, sob “a responsabilidade de garantir que o Discord não seja usado para ódio, violência ou mal”.

Documentos confidenciais dos Estados Unidos foram vazados na plataforma Discord Foto: Dado Ruvic / REUTERS

Mas o site ainda depende em grande medida de denúncias de seus usuários para flagrar problemas, especialmente em seus servidores privados, acessados apenas por convidados. O Discord é dividido em seções que são essencialmente salas de bate-papo, com grandes grupos públicos que podem ter moderação rígida de conteúdo e grupos fechados menores com pouca ou nenhuma moderação. O Discord disse cooperar com uma investigação policial sobre o vazamento, mas se negou a dar outras declarações.

Numa sala de áudio no servidor de wow_mao, na segunda, os usuários passaram boa parte do tempo falando de filmes e reclamando de seus pais. Mas às vezes usavam linguagem abertamente racista.

Essas salas de chat irreverentes podem representar uma atração especial para jovens. “Nesse espaço, suas perguntas podem ser respondidas na linguagem que eles entendem”, explica Beran. “Eles cresceram em meio a memes e comportamentos irônicos e maliciosos.” Para o professor, comunidades como essas podem à primeira vista parecer benignas, “mas quando isso é levado ao extremo tornam-se um problema criminal muito difícil e até um problema de terrorismo”.

O New York Times entrou em contato com wow_mao por meio de seu canal no YouTube e em seu servidor Discord, e, numa ligação de áudio feita na terça-feira na plataforma, ele falou longamente com um repórter do jornal. Disse que passa pouco tempo no Discord e que se dedica mais a seu canal no YouTube, no qual tem 250 mil seguidores. Para proteger sua segurança e privacidade, wow_mao se negou a informar seu nome verdadeiro, mas disse que é britânico e filipino.

Ele não é uma celebridade no sentido tradicional nem sequer faz parte do time de influenciadores na internet. Apesar do anonimato, seu canal acumulou seguidores ao longo dos anos porque seus vídeos encontraram eco entre pessoas que compartilham de seu senso de humor. Ele diz que seu conteúdo vem de seu interesse por geopolítica e história e do desejo de criar vídeos excêntricos que sejam engraçados.

Ilustração que mostra o suspeito de vazar os documentos confidenciais dos Estados Unidos, Jack Teixeira, na plataforma Discord Foto: STEFANI REYNOLDS / AFP

Mas wow_mao afirma que está preocupado com os conteúdos que vêm aparecendo em seu servidor. Ele diz que alguns adolescentes “muito de direita” provavelmente curtem seus conteúdos irreverentes, ainda que afirme de forma alguma compartilhar a visão de mundo deles. “Deixei um bando de crianças correrem soltas”, afirma. “Me arrependo um pouco de não ter moderado meu servidor um pouquinho mais.”

Para ele, o incidente representou mais uma oportunidade de criar conteúdo. Ele disse que seu servidor no Discord, que tinha 4.000 membros antes de sair a notícia dos documentos vazados, agora tem cerca de 7.000. “Acho que qualquer publicidade é boa, desde que eu não acabe na prisão.”

wow_mao encerrou seu vídeo no YouTube incentivando os espectadores a apoiá-lo, assinando seu Patreon, uma plataforma de financiamento coletivo para criadores de conteúdo. E depois compartilhou o vídeo no Twitter, com uma mensagem: “A CIA pode ter me incluído em sua lista de gente que precisa ser monitorada. Mas eu preciso entrar para a sua lista também!”.

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