Venezuela liberta mais de cem presos políticos, mas deixa centenas em limbo


Analistas consideram ato, em parte, uma sinalização do regime de Nicolás Maduro à nova administração de Donald Trump

Por Isayen Herrera, Julie Turkewitz e Genevieve Glatsky

Na sufocante prisão de Tocorón, os detidos espiavam das pequenas janelas, no domingo, 17, seus parentes angustiados mandando beijos e gritando “Em breve!”.

Quase três meses depois de o regime da Venezuela prender cerca de 2.000 pessoas após a contestada eleição presidencial, as autoridades do país anunciaram planos para libertar mais de 200 prisioneiros.

Até domingo, pelo menos 131 pessoas tinham sido libertadas, de acordo com a ONG Foro Penal, que acompanha a situação dos presos políticos no país. Alguns analistas consideram a libertação em massa, em parte, um gesto do regime para ganhar algo da nova administração de Donald Trump.

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Venezuelanos são liberados da prisão em San Francisco de Yare, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Mas o anúncio deixou cerca de 1.800 famílias em um estado de limbo angustiante, esperando que seus filhos, filhas, irmãos, maridos e esposas também estivessem entre os libertados. Durante o fim de semana, centenas de pessoas se reuniram do lado de fora de Tocorón, uma prisão a duas horas de distância de Caracas, na esperança de ver seus entes queridos saírem.

Há algumas semanas o ditador Nicolás Maduro havia se gabado de encher Tocorón com opositores políticos, a quem chamou de “criminosos fascistas”.

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O regime acusou a maioria deles de terrorismo. Muitos dos presos negaram as acusações, e suas famílias disseram ao jornal The New York Times que eles não haviam cometido crimes.

Belkys Altuve, 59, estava entre os que esperavam sob um sol ofuscante. Dois de seus filhos e dois de seus netos, todos na casa dos 20 anos, estão presos desde 28 de julho, disse ela. Eles foram acusados de terrorismo depois de saírem de casa em busca de comida e bebidas para uma festa de aniversário.

Aquele foi o dia da eleição, e Altuve havia votado em Maduro, cujo movimento lidera o país há uma geração. Agora, “sinto que me traíram ao tirar meus filhos de mim”, afirmou ela. Até domingo, seus filhos e netos continuavam sob custódia.

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O ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, participa da cúpula dos BRICS, em Kazan, na Rússia  Foto: Alexander Zemlianichenko/AP

Negociação

Durante anos, as repressões na Venezuela foram acompanhadas de pequenas concessões, incluindo a libertação de prisioneiros, em um ciclo que desgastou corações e mentes.

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Tamara Taraciuk Broner, especialista em Venezuela para o Diálogo Interamericano, uma organização de pesquisa em Washington, disse que as libertações quase sempre estavam ligadas a um objetivo político.

Neste caso, ela acrescentou, Maduro pode estar tentando comunicar ao presidente eleito Donald Trump que está disposto a aliviar as violações dos direitos humanos em troca de um tratamento favorável.

Em seu primeiro mandato, Trump impôs medidas severas, incluindo sanções econômicas rígidas, para tentar derrubar o líder venezuelano.

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O então candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um evento no Clube Econômico de Detroit, Michigan  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

O regime liderado por Maduro está “claramente mais temeroso” da imposição de medidas punitivas sob a administração Trump do que sob o presidente Joe Biden, disse Taraciuk Broner. “Eles querem mostrar que estariam dispostos a negociar.”

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, disse ao New York Times que aqueles que permanecem detidos são acusados de crimes graves.

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Ele acrescentou, em uma mensagem de texto, que seu escritório “não recebeu nenhuma denúncia de violações dos direitos humanos durante os protestos, nem durante as prisões”.

As libertações ocorrem poucos dias após a morte de Jesús Manuel Martínez, um opositor com diabetes e problemas cardíacos que morreu sob custódia. Líderes da oposição acusaram o regime de lhe negar cuidados médicos adequados, embora Saab tenha dito que ele estava hospitalizado desde outubro.

As acusações de terrorismo acarretam uma sentença de até 30 anos, disse Martha Tineo, advogada de direitos humanos na Venezuela. Os prisioneiros libertados não foram absolvidos de suas acusações e ainda terão de lutar por seus casos no tribunal.

Familiares de detentos presos pelo regime de Nicolás Maduro protestam em Caracas, Venezuela  Foto: Federico Parra/AFP

Do lado de fora de Tocorón, muitas pessoas disseram que vieram de longe. Várias usavam camisetas com os rostos de seus entes queridos, que estão presos.

Yajaira Gutiérrez, 44, disse que também votou em Maduro em 28 de julho. Seu filho de 21 anos não votou. Mas, em 7 de agosto, ele foi levado de casa pouco depois da meia-noite e também foi acusado de terrorismo.

“Não parece justo que eu tenha dado tudo por ele”, disse Gutiérrez em referência a Maduro. “E eles me puniram assim.”

A votação de julho colocou Maduro contra Edmundo González, um diplomata que tinha o apoio da popular líder da oposição venezuelana, María Corina Machado.

Maduro, que tem um longo histórico de manipular eleições a seu favor, declarou vitória logo após o fechamento das urnas, mas não divulgou as atas eleitorais para sustentar essa afirmação.

Em resposta, o movimento González-Machado coletou atas de mais de 80% das seções eleitorais, publicando-as na internet e afirmando que os recibos mostravam que González havia vencido com quase 70% dos votos.

Reconhecimento

Os Estados Unidos e outras nações reconheceram González como o vencedor legítimo da eleição, enquanto observadores independentes disseram que a declaração de Maduro não é crível.

A repressão do regime começou assim que a votação terminou em 28 de julho, com Maduro incentivando as pessoas a denunciarem vizinhos que expressassem deslealdade, e a polícia montando postos de controle em alguns bairros e revisando telefones em busca de sinais de apoio à oposição.

Embora o regime de Maduro sempre tenha perseguido líderes da oposição, nunca havia detido tantas pessoas com tão pouca conexão com a política por tanto tempo.

Na sufocante prisão de Tocorón, os detidos espiavam das pequenas janelas, no domingo, 17, seus parentes angustiados mandando beijos e gritando “Em breve!”.

Quase três meses depois de o regime da Venezuela prender cerca de 2.000 pessoas após a contestada eleição presidencial, as autoridades do país anunciaram planos para libertar mais de 200 prisioneiros.

Até domingo, pelo menos 131 pessoas tinham sido libertadas, de acordo com a ONG Foro Penal, que acompanha a situação dos presos políticos no país. Alguns analistas consideram a libertação em massa, em parte, um gesto do regime para ganhar algo da nova administração de Donald Trump.

Venezuelanos são liberados da prisão em San Francisco de Yare, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Mas o anúncio deixou cerca de 1.800 famílias em um estado de limbo angustiante, esperando que seus filhos, filhas, irmãos, maridos e esposas também estivessem entre os libertados. Durante o fim de semana, centenas de pessoas se reuniram do lado de fora de Tocorón, uma prisão a duas horas de distância de Caracas, na esperança de ver seus entes queridos saírem.

Há algumas semanas o ditador Nicolás Maduro havia se gabado de encher Tocorón com opositores políticos, a quem chamou de “criminosos fascistas”.

O regime acusou a maioria deles de terrorismo. Muitos dos presos negaram as acusações, e suas famílias disseram ao jornal The New York Times que eles não haviam cometido crimes.

Belkys Altuve, 59, estava entre os que esperavam sob um sol ofuscante. Dois de seus filhos e dois de seus netos, todos na casa dos 20 anos, estão presos desde 28 de julho, disse ela. Eles foram acusados de terrorismo depois de saírem de casa em busca de comida e bebidas para uma festa de aniversário.

Aquele foi o dia da eleição, e Altuve havia votado em Maduro, cujo movimento lidera o país há uma geração. Agora, “sinto que me traíram ao tirar meus filhos de mim”, afirmou ela. Até domingo, seus filhos e netos continuavam sob custódia.

O ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, participa da cúpula dos BRICS, em Kazan, na Rússia  Foto: Alexander Zemlianichenko/AP

Negociação

Durante anos, as repressões na Venezuela foram acompanhadas de pequenas concessões, incluindo a libertação de prisioneiros, em um ciclo que desgastou corações e mentes.

Tamara Taraciuk Broner, especialista em Venezuela para o Diálogo Interamericano, uma organização de pesquisa em Washington, disse que as libertações quase sempre estavam ligadas a um objetivo político.

Neste caso, ela acrescentou, Maduro pode estar tentando comunicar ao presidente eleito Donald Trump que está disposto a aliviar as violações dos direitos humanos em troca de um tratamento favorável.

Em seu primeiro mandato, Trump impôs medidas severas, incluindo sanções econômicas rígidas, para tentar derrubar o líder venezuelano.

O então candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um evento no Clube Econômico de Detroit, Michigan  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

O regime liderado por Maduro está “claramente mais temeroso” da imposição de medidas punitivas sob a administração Trump do que sob o presidente Joe Biden, disse Taraciuk Broner. “Eles querem mostrar que estariam dispostos a negociar.”

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, disse ao New York Times que aqueles que permanecem detidos são acusados de crimes graves.

Ele acrescentou, em uma mensagem de texto, que seu escritório “não recebeu nenhuma denúncia de violações dos direitos humanos durante os protestos, nem durante as prisões”.

As libertações ocorrem poucos dias após a morte de Jesús Manuel Martínez, um opositor com diabetes e problemas cardíacos que morreu sob custódia. Líderes da oposição acusaram o regime de lhe negar cuidados médicos adequados, embora Saab tenha dito que ele estava hospitalizado desde outubro.

As acusações de terrorismo acarretam uma sentença de até 30 anos, disse Martha Tineo, advogada de direitos humanos na Venezuela. Os prisioneiros libertados não foram absolvidos de suas acusações e ainda terão de lutar por seus casos no tribunal.

Familiares de detentos presos pelo regime de Nicolás Maduro protestam em Caracas, Venezuela  Foto: Federico Parra/AFP

Do lado de fora de Tocorón, muitas pessoas disseram que vieram de longe. Várias usavam camisetas com os rostos de seus entes queridos, que estão presos.

Yajaira Gutiérrez, 44, disse que também votou em Maduro em 28 de julho. Seu filho de 21 anos não votou. Mas, em 7 de agosto, ele foi levado de casa pouco depois da meia-noite e também foi acusado de terrorismo.

“Não parece justo que eu tenha dado tudo por ele”, disse Gutiérrez em referência a Maduro. “E eles me puniram assim.”

A votação de julho colocou Maduro contra Edmundo González, um diplomata que tinha o apoio da popular líder da oposição venezuelana, María Corina Machado.

Maduro, que tem um longo histórico de manipular eleições a seu favor, declarou vitória logo após o fechamento das urnas, mas não divulgou as atas eleitorais para sustentar essa afirmação.

Em resposta, o movimento González-Machado coletou atas de mais de 80% das seções eleitorais, publicando-as na internet e afirmando que os recibos mostravam que González havia vencido com quase 70% dos votos.

Reconhecimento

Os Estados Unidos e outras nações reconheceram González como o vencedor legítimo da eleição, enquanto observadores independentes disseram que a declaração de Maduro não é crível.

A repressão do regime começou assim que a votação terminou em 28 de julho, com Maduro incentivando as pessoas a denunciarem vizinhos que expressassem deslealdade, e a polícia montando postos de controle em alguns bairros e revisando telefones em busca de sinais de apoio à oposição.

Embora o regime de Maduro sempre tenha perseguido líderes da oposição, nunca havia detido tantas pessoas com tão pouca conexão com a política por tanto tempo.

Na sufocante prisão de Tocorón, os detidos espiavam das pequenas janelas, no domingo, 17, seus parentes angustiados mandando beijos e gritando “Em breve!”.

Quase três meses depois de o regime da Venezuela prender cerca de 2.000 pessoas após a contestada eleição presidencial, as autoridades do país anunciaram planos para libertar mais de 200 prisioneiros.

Até domingo, pelo menos 131 pessoas tinham sido libertadas, de acordo com a ONG Foro Penal, que acompanha a situação dos presos políticos no país. Alguns analistas consideram a libertação em massa, em parte, um gesto do regime para ganhar algo da nova administração de Donald Trump.

Venezuelanos são liberados da prisão em San Francisco de Yare, Venezuela  Foto: Cristian Hernandez/AP

Mas o anúncio deixou cerca de 1.800 famílias em um estado de limbo angustiante, esperando que seus filhos, filhas, irmãos, maridos e esposas também estivessem entre os libertados. Durante o fim de semana, centenas de pessoas se reuniram do lado de fora de Tocorón, uma prisão a duas horas de distância de Caracas, na esperança de ver seus entes queridos saírem.

Há algumas semanas o ditador Nicolás Maduro havia se gabado de encher Tocorón com opositores políticos, a quem chamou de “criminosos fascistas”.

O regime acusou a maioria deles de terrorismo. Muitos dos presos negaram as acusações, e suas famílias disseram ao jornal The New York Times que eles não haviam cometido crimes.

Belkys Altuve, 59, estava entre os que esperavam sob um sol ofuscante. Dois de seus filhos e dois de seus netos, todos na casa dos 20 anos, estão presos desde 28 de julho, disse ela. Eles foram acusados de terrorismo depois de saírem de casa em busca de comida e bebidas para uma festa de aniversário.

Aquele foi o dia da eleição, e Altuve havia votado em Maduro, cujo movimento lidera o país há uma geração. Agora, “sinto que me traíram ao tirar meus filhos de mim”, afirmou ela. Até domingo, seus filhos e netos continuavam sob custódia.

O ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, participa da cúpula dos BRICS, em Kazan, na Rússia  Foto: Alexander Zemlianichenko/AP

Negociação

Durante anos, as repressões na Venezuela foram acompanhadas de pequenas concessões, incluindo a libertação de prisioneiros, em um ciclo que desgastou corações e mentes.

Tamara Taraciuk Broner, especialista em Venezuela para o Diálogo Interamericano, uma organização de pesquisa em Washington, disse que as libertações quase sempre estavam ligadas a um objetivo político.

Neste caso, ela acrescentou, Maduro pode estar tentando comunicar ao presidente eleito Donald Trump que está disposto a aliviar as violações dos direitos humanos em troca de um tratamento favorável.

Em seu primeiro mandato, Trump impôs medidas severas, incluindo sanções econômicas rígidas, para tentar derrubar o líder venezuelano.

O então candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um evento no Clube Econômico de Detroit, Michigan  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

O regime liderado por Maduro está “claramente mais temeroso” da imposição de medidas punitivas sob a administração Trump do que sob o presidente Joe Biden, disse Taraciuk Broner. “Eles querem mostrar que estariam dispostos a negociar.”

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, disse ao New York Times que aqueles que permanecem detidos são acusados de crimes graves.

Ele acrescentou, em uma mensagem de texto, que seu escritório “não recebeu nenhuma denúncia de violações dos direitos humanos durante os protestos, nem durante as prisões”.

As libertações ocorrem poucos dias após a morte de Jesús Manuel Martínez, um opositor com diabetes e problemas cardíacos que morreu sob custódia. Líderes da oposição acusaram o regime de lhe negar cuidados médicos adequados, embora Saab tenha dito que ele estava hospitalizado desde outubro.

As acusações de terrorismo acarretam uma sentença de até 30 anos, disse Martha Tineo, advogada de direitos humanos na Venezuela. Os prisioneiros libertados não foram absolvidos de suas acusações e ainda terão de lutar por seus casos no tribunal.

Familiares de detentos presos pelo regime de Nicolás Maduro protestam em Caracas, Venezuela  Foto: Federico Parra/AFP

Do lado de fora de Tocorón, muitas pessoas disseram que vieram de longe. Várias usavam camisetas com os rostos de seus entes queridos, que estão presos.

Yajaira Gutiérrez, 44, disse que também votou em Maduro em 28 de julho. Seu filho de 21 anos não votou. Mas, em 7 de agosto, ele foi levado de casa pouco depois da meia-noite e também foi acusado de terrorismo.

“Não parece justo que eu tenha dado tudo por ele”, disse Gutiérrez em referência a Maduro. “E eles me puniram assim.”

A votação de julho colocou Maduro contra Edmundo González, um diplomata que tinha o apoio da popular líder da oposição venezuelana, María Corina Machado.

Maduro, que tem um longo histórico de manipular eleições a seu favor, declarou vitória logo após o fechamento das urnas, mas não divulgou as atas eleitorais para sustentar essa afirmação.

Em resposta, o movimento González-Machado coletou atas de mais de 80% das seções eleitorais, publicando-as na internet e afirmando que os recibos mostravam que González havia vencido com quase 70% dos votos.

Reconhecimento

Os Estados Unidos e outras nações reconheceram González como o vencedor legítimo da eleição, enquanto observadores independentes disseram que a declaração de Maduro não é crível.

A repressão do regime começou assim que a votação terminou em 28 de julho, com Maduro incentivando as pessoas a denunciarem vizinhos que expressassem deslealdade, e a polícia montando postos de controle em alguns bairros e revisando telefones em busca de sinais de apoio à oposição.

Embora o regime de Maduro sempre tenha perseguido líderes da oposição, nunca havia detido tantas pessoas com tão pouca conexão com a política por tanto tempo.

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