Venezuelanas buscam Brasil para ter filhos


Em Roraima, principal destino de quem escapa do regime de Maduro, dobrou número de partos com mães do país vizinho

Por Claudia Muller e Vanessa Vieira

BOA VISTA - Aos sete meses de uma gravidez de risco, sem remédios ou assistência médica adequados, a venezuelana Carmen enfrentou mais de mil quilômetros de ônibus e táxi. Saiu de Maturín, no norte venezuelano, com o marido e uma filha de 4 anos para dar à luz em Boa Vista, em Roraima. Carmen, hoje com 24 anos, é parte de uma leva crescente de mulheres que abandonam tudo para parir no exterior. No último ano, o número de brasileiros filhos da crise venezuelana dobrou.

Família de Carmen viajou doisdias para parto em Boa Vista Foto: FOTO NILZETE FRANCO / ESTADAO

Segundo a Secretaria de Saúde de Roraima, de janeiro a novembro deste ano, houve 500 nascimentos com mães venezuelanas. No mesmo período de 2016, foram 259 (o ano passado fechou com 288). 

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Os partos ocorreram na única maternidade pública do Estado, o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, local que concentra os partos assistidos do Estado. Os nascimentos com mães venezuelanas representam 5,8% do total do Estado, onde 8.517 mulheres deram à luz em 2017.

Na Venezuela, Carmen era assistente administrativa na Assembleia Legislativa de Monagas e estudante de educação integral, a seis meses da formatura. A família enfrentou dois dias de ônibus para chegar ao Brasil. “Por causa da tensão, tive problemas de pressão, desmaiei, meu nariz sangrou”, afirma. 

A família, que prefere não ser identificada por temer represália do governo venezuelano, foi impedida de entrar no Brasil na primeira tentativa, sob alegação de que a filha não tinha passaporte. O três buscaram outra entrada e conseguiram após pagar suborno de R$ 200 por pessoa. “Era todo o dinheiro que tínhamos. Usaríamos para pagar aluguel e comprar uma cama.” 

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Depois da travessia, os três pegaram um táxi e um carro para chegar a Boa Vista, onde pediram dinheiro emprestado. “Meu marido comprava pão, um para mim e outro para a minha filha. Foi o que comemos por duas semanas”, lembra. 

Alojaram-se num casebre em um cortiço no bairro São Vicente, na região central da cidade. Ali perto, em um semáforo, dezenas de venezuelanos lavam para-brisas, vendem artesanato, frutas e doces ou pedem dinheiro. O marido de Carmen vende pitomba, fruta típica da região amazônica, para comprar comida e tentar pagar o aluguel de R$ 350 por mês. O dinheiro é insuficiente. “Até pensamos em vender o celular, mas aí como nos comunicaremos com a família na Venezuela? É complicado.”

Carmen afirma que com 41 semanas de gestação procurou, com dores, a maternidade, onde tinha se queixado várias vezes. Após uma ecografia, com anemia e hipoglicemia, foi submetida a uma cesárea de emergência. De acordo com a Secretaria de Saúde de Roraima, as venezuelanas normalmente chegam no Brasil sem um bom pré-natal. A gravidez é considerada de risco e elas são encaminhadas para essa maternidade de Boa Vista. No Amazonas, há sete maternidades, mas só duas têm o registro detalhado. Nessas duas, em 2016, 11 mulheres venezuelanas deram à luz. Em 2017, foram 48.

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Para a diretora do Observatório Venezuelano da Saúde, Marianella Herrera, as venezuelanas viajam para o Brasil e Colômbia para ter seus filhos porque faltam recursos em seu país. “Elas não conseguem suplementos básicos, como o ácido fólico, que deve ser tomado durante o primeiro trimestre, e ferro, que ajuda a prevenir anemias”, explica. “Mais difícil ainda é conseguir medicamentos para tratar qualquer complicação.”

Dois meses após a cesariana, Carmen conseguiu trabalho de faxineira, mas o largou porque sofria com sangramentos e não ganhava hora extra. “Se um brasileiro passava o pano sete vezes, eu precisava passar cem, mil vezes”, exagera. 

Neste mês, ela conseguiu fazer uma faxina na casa de uma senhora. Pelo trabalho, das 8 horas às 21 horas, ganhou R$ 60. “A casa tinha três quartos, dois banheiros grandes, pátio na frente e atrás, garagem, sala, cozinha.” Com o dinheiro, comprou fraldas, leite e um pouco de comida. Ainda assim, ela diz que a vida em Roraima é melhor do que na Venezuela. “Aqui, um frango pode render três refeições até, dependendo do tamanho. Na Venezuela, estão todos fracos e desnutridos”, diz Carmen, entre a filha venezuelana e a brasileira, que já tem 4 meses e saúde perfeita.

BOA VISTA - Aos sete meses de uma gravidez de risco, sem remédios ou assistência médica adequados, a venezuelana Carmen enfrentou mais de mil quilômetros de ônibus e táxi. Saiu de Maturín, no norte venezuelano, com o marido e uma filha de 4 anos para dar à luz em Boa Vista, em Roraima. Carmen, hoje com 24 anos, é parte de uma leva crescente de mulheres que abandonam tudo para parir no exterior. No último ano, o número de brasileiros filhos da crise venezuelana dobrou.

Família de Carmen viajou doisdias para parto em Boa Vista Foto: FOTO NILZETE FRANCO / ESTADAO

Segundo a Secretaria de Saúde de Roraima, de janeiro a novembro deste ano, houve 500 nascimentos com mães venezuelanas. No mesmo período de 2016, foram 259 (o ano passado fechou com 288). 

Os partos ocorreram na única maternidade pública do Estado, o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, local que concentra os partos assistidos do Estado. Os nascimentos com mães venezuelanas representam 5,8% do total do Estado, onde 8.517 mulheres deram à luz em 2017.

Na Venezuela, Carmen era assistente administrativa na Assembleia Legislativa de Monagas e estudante de educação integral, a seis meses da formatura. A família enfrentou dois dias de ônibus para chegar ao Brasil. “Por causa da tensão, tive problemas de pressão, desmaiei, meu nariz sangrou”, afirma. 

A família, que prefere não ser identificada por temer represália do governo venezuelano, foi impedida de entrar no Brasil na primeira tentativa, sob alegação de que a filha não tinha passaporte. O três buscaram outra entrada e conseguiram após pagar suborno de R$ 200 por pessoa. “Era todo o dinheiro que tínhamos. Usaríamos para pagar aluguel e comprar uma cama.” 

Depois da travessia, os três pegaram um táxi e um carro para chegar a Boa Vista, onde pediram dinheiro emprestado. “Meu marido comprava pão, um para mim e outro para a minha filha. Foi o que comemos por duas semanas”, lembra. 

Alojaram-se num casebre em um cortiço no bairro São Vicente, na região central da cidade. Ali perto, em um semáforo, dezenas de venezuelanos lavam para-brisas, vendem artesanato, frutas e doces ou pedem dinheiro. O marido de Carmen vende pitomba, fruta típica da região amazônica, para comprar comida e tentar pagar o aluguel de R$ 350 por mês. O dinheiro é insuficiente. “Até pensamos em vender o celular, mas aí como nos comunicaremos com a família na Venezuela? É complicado.”

Carmen afirma que com 41 semanas de gestação procurou, com dores, a maternidade, onde tinha se queixado várias vezes. Após uma ecografia, com anemia e hipoglicemia, foi submetida a uma cesárea de emergência. De acordo com a Secretaria de Saúde de Roraima, as venezuelanas normalmente chegam no Brasil sem um bom pré-natal. A gravidez é considerada de risco e elas são encaminhadas para essa maternidade de Boa Vista. No Amazonas, há sete maternidades, mas só duas têm o registro detalhado. Nessas duas, em 2016, 11 mulheres venezuelanas deram à luz. Em 2017, foram 48.

Para a diretora do Observatório Venezuelano da Saúde, Marianella Herrera, as venezuelanas viajam para o Brasil e Colômbia para ter seus filhos porque faltam recursos em seu país. “Elas não conseguem suplementos básicos, como o ácido fólico, que deve ser tomado durante o primeiro trimestre, e ferro, que ajuda a prevenir anemias”, explica. “Mais difícil ainda é conseguir medicamentos para tratar qualquer complicação.”

Dois meses após a cesariana, Carmen conseguiu trabalho de faxineira, mas o largou porque sofria com sangramentos e não ganhava hora extra. “Se um brasileiro passava o pano sete vezes, eu precisava passar cem, mil vezes”, exagera. 

Neste mês, ela conseguiu fazer uma faxina na casa de uma senhora. Pelo trabalho, das 8 horas às 21 horas, ganhou R$ 60. “A casa tinha três quartos, dois banheiros grandes, pátio na frente e atrás, garagem, sala, cozinha.” Com o dinheiro, comprou fraldas, leite e um pouco de comida. Ainda assim, ela diz que a vida em Roraima é melhor do que na Venezuela. “Aqui, um frango pode render três refeições até, dependendo do tamanho. Na Venezuela, estão todos fracos e desnutridos”, diz Carmen, entre a filha venezuelana e a brasileira, que já tem 4 meses e saúde perfeita.

BOA VISTA - Aos sete meses de uma gravidez de risco, sem remédios ou assistência médica adequados, a venezuelana Carmen enfrentou mais de mil quilômetros de ônibus e táxi. Saiu de Maturín, no norte venezuelano, com o marido e uma filha de 4 anos para dar à luz em Boa Vista, em Roraima. Carmen, hoje com 24 anos, é parte de uma leva crescente de mulheres que abandonam tudo para parir no exterior. No último ano, o número de brasileiros filhos da crise venezuelana dobrou.

Família de Carmen viajou doisdias para parto em Boa Vista Foto: FOTO NILZETE FRANCO / ESTADAO

Segundo a Secretaria de Saúde de Roraima, de janeiro a novembro deste ano, houve 500 nascimentos com mães venezuelanas. No mesmo período de 2016, foram 259 (o ano passado fechou com 288). 

Os partos ocorreram na única maternidade pública do Estado, o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, local que concentra os partos assistidos do Estado. Os nascimentos com mães venezuelanas representam 5,8% do total do Estado, onde 8.517 mulheres deram à luz em 2017.

Na Venezuela, Carmen era assistente administrativa na Assembleia Legislativa de Monagas e estudante de educação integral, a seis meses da formatura. A família enfrentou dois dias de ônibus para chegar ao Brasil. “Por causa da tensão, tive problemas de pressão, desmaiei, meu nariz sangrou”, afirma. 

A família, que prefere não ser identificada por temer represália do governo venezuelano, foi impedida de entrar no Brasil na primeira tentativa, sob alegação de que a filha não tinha passaporte. O três buscaram outra entrada e conseguiram após pagar suborno de R$ 200 por pessoa. “Era todo o dinheiro que tínhamos. Usaríamos para pagar aluguel e comprar uma cama.” 

Depois da travessia, os três pegaram um táxi e um carro para chegar a Boa Vista, onde pediram dinheiro emprestado. “Meu marido comprava pão, um para mim e outro para a minha filha. Foi o que comemos por duas semanas”, lembra. 

Alojaram-se num casebre em um cortiço no bairro São Vicente, na região central da cidade. Ali perto, em um semáforo, dezenas de venezuelanos lavam para-brisas, vendem artesanato, frutas e doces ou pedem dinheiro. O marido de Carmen vende pitomba, fruta típica da região amazônica, para comprar comida e tentar pagar o aluguel de R$ 350 por mês. O dinheiro é insuficiente. “Até pensamos em vender o celular, mas aí como nos comunicaremos com a família na Venezuela? É complicado.”

Carmen afirma que com 41 semanas de gestação procurou, com dores, a maternidade, onde tinha se queixado várias vezes. Após uma ecografia, com anemia e hipoglicemia, foi submetida a uma cesárea de emergência. De acordo com a Secretaria de Saúde de Roraima, as venezuelanas normalmente chegam no Brasil sem um bom pré-natal. A gravidez é considerada de risco e elas são encaminhadas para essa maternidade de Boa Vista. No Amazonas, há sete maternidades, mas só duas têm o registro detalhado. Nessas duas, em 2016, 11 mulheres venezuelanas deram à luz. Em 2017, foram 48.

Para a diretora do Observatório Venezuelano da Saúde, Marianella Herrera, as venezuelanas viajam para o Brasil e Colômbia para ter seus filhos porque faltam recursos em seu país. “Elas não conseguem suplementos básicos, como o ácido fólico, que deve ser tomado durante o primeiro trimestre, e ferro, que ajuda a prevenir anemias”, explica. “Mais difícil ainda é conseguir medicamentos para tratar qualquer complicação.”

Dois meses após a cesariana, Carmen conseguiu trabalho de faxineira, mas o largou porque sofria com sangramentos e não ganhava hora extra. “Se um brasileiro passava o pano sete vezes, eu precisava passar cem, mil vezes”, exagera. 

Neste mês, ela conseguiu fazer uma faxina na casa de uma senhora. Pelo trabalho, das 8 horas às 21 horas, ganhou R$ 60. “A casa tinha três quartos, dois banheiros grandes, pátio na frente e atrás, garagem, sala, cozinha.” Com o dinheiro, comprou fraldas, leite e um pouco de comida. Ainda assim, ela diz que a vida em Roraima é melhor do que na Venezuela. “Aqui, um frango pode render três refeições até, dependendo do tamanho. Na Venezuela, estão todos fracos e desnutridos”, diz Carmen, entre a filha venezuelana e a brasileira, que já tem 4 meses e saúde perfeita.

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