BUENOS AIRES - O presidente da Argentina, Javier Milei, foi acusado de plagiar a série americana “West Wing: nos bastidores do poder” em seu discurso de estreia na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Ele usou frases praticamente idênticas ao monólogo do presidente fictício Josiah Bartlet, interpretado por Martin Sheen.
“Acreditamos na liberdade de expressão para todos. Acreditamos na liberdade de culto para todos. Acreditamos na liberdade de comércio para todos e acreditamos em governos limitados, todos eles”, declarou Milei.
“E como em nossos tempos o que acontece em um país impacta rapidamente os outros, acreditamos que todos os povos devem viver livres da tirania e da opressão, seja na forma de opressão política, escravidão econômica ou fanatismo religioso. Essa ideia fundamental não deve permanecer em meras palavras, deve ser apoiada em ações, diplomática, econômica e materialmente”, seguiu o presidente argentino.
O trecho do discurso tem muitas semelhanças com a fala do personagem Josiah Bartlet no episódio 15 da 4ª temporada de “West Wing”, exibido duas décadas antes. Compare:
“Somos a favor da liberdade de expressão em todos os lugares. Somos a favor da liberdade de culto em todos os lugares. Somos a favor da liberdade de aprender... para todos. E como em nossa época é possível construir uma bomba em nosso país e trazê-la para o meu país, o que acontece em nosso país é problema meu. É por isso que defendemos a liberdade contra a tirania, em todos os lugares, seja sob o aspecto da opressão política, Toby, ou da escravidão econômica, Josh, ou do fanatismo religioso, C.J.”, disse o presidente fictício a assessores reunidos no Salão Oval da Casa Branca na série.
“Essa ideia fundamental não pode ser enfrentada simplesmente com nosso apoio. Ela deve ser enfrentada com nossa força. Diplomaticamente, economicamente e materialmente”, conclui o monólogo.
Dez dias depois da estreia de Javier Milei na Assembleia-Geral da ONU, a comparação entre os discursos se espalhou nas redes sociais. “Ninguém ficou impressionado com a extraordinária semelhança entre um parágrafo dessa declaração e um discurso do presidente Josiah Bartlet em um dos episódios da série The West Wing?”, questionou o jornalista argentino Carlos Pagni.
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O La Nación observou que “West Wing” é a série favorita do porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, lembrando que o assessor de Milei viu várias vezes todas as sete temporadas do drama político americano.
A série retrata o centro do poder americano, a ala Oeste da Casa Branca. Assim como Javier Milei, o presidente fictício Josiah, o “Jed” Bartlet, é um economista que decidiu se lançar na política, mas os dois estão em lados opostos no espectro ideológico: o presidente fictício é democrata e progressista.
Em meio à repercussão, Milei compartilhou um comentário que elogiava o discurso na ONU e escreveu “fenómeno barrial”, ou “fenômeno de vizinhança”. A expressão usada para designar algo de efeito limitado foi interpretada em portais argentinos como uma forma de minimizar a polêmica, ainda que o presidente não tenha falado diretamente sobre as acusações de plágio no discurso.
Essa não é a primeira vez que os ouvidos mais atentos identificam semelhanças entre declarações de Javier Milei e falas da série americana, mas nenhuma foi tão clara quanto o discurso da Assembleia-Geral da ONU. Antes do argentino, as coincidências com “West Wing” foram apontadas em discurso da ex-primeira-ministra britânica Theresa May, que negou plágio na época.
No caso do presidente argentino, as acusações não se limitam ao discurso. Javier Milei foi acusado plágio várias vezes. Até então, o caso mais recente envolvia o livro “Capitalismo, Socialismo y la Trampa Neoclásica” (Capitalismo, Socialismo e a Cilada Neoclássica), que teria trechos inteiros copiados de outros economistas, segundo a revista Noticias.
As denúncias de plágio pairam ainda sobre outro livro de Milei, o “Pandenomics”. O processo movido por pesquisadores mexicanos veio à tona no ano passado, durante as eleições, e aponta que o libertário teria copiado parágrafos e mais parágrafos, sem a devida citação. Na época, ele atribuiu as acusações ao “desespero” dos seus adversários políticos.