Violência entre palestinos e israelenses se espalha na Cisjordânia, com 4 mortes e depredação


Confrontos ocorrem em meio a um aumento das operações militares de Israel contra militantes palestinos e à crise política do país

Por Redação
Atualização:

HAWARA, CISJORDÂNIA - A Cisjordânia tem vivido uma nova onda de violência nos últimos dias entre palestinos e colonos israelenses que já deixou quatro mortos. Os confrontos ocorrem em meio a um aumento das operações militares de Israel contra militantes palestinos e à crise política detonada pela reforma judicial do premiê Binyamin Netanyahu, que ameaça tirar poderes da Suprema Corte no País.

Os confrontos começaram no fim de semana, depois que dois israelenses foram mortos por um atirador palestino no norte da Cisjordânia. Em retaliação, colonos israelenses depredaram carros e casas em uma cidade palestina, matando uma pessoa. Nesta segunda-feira, um novo ataque palestino matou um motorista israelense.

As depredações em bairros palestina foram atribuídas por autoridades israelenses a colonos radicais que se autointitulam “tabeladores de preço”, que alegam extrair um “preço” para quaisquer ataques palestinos ou decisões israelenses de limitar a expansão dos assentamentos por meio de ações violentas.

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Palestino passa por colunas de carros incendiados na cidade de Hawara, em nova onda de violência na região Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023

O Exército israelense disse que, no ataque desta segunda-feira, o homem abriu fogo contra um carro israelense perto da cidade palestina de Jericó. Ele continuou dirigindo e atirou em um segundo carro, atingindo o motorista, que morreu no hospital. O Exército disse que bloqueou as estradas e estava procurando o agressor, que escapou de carro.

Mensagens contraditórias

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O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, o mais direitista da história de Israel, foi criticado por não ter conseguido deter o aumento da violência e por enviar o que alguns viram como mensagens contraditórias. Enquanto Netanyahu pedia calma, um membro de sua coalizão de governo elogiou a reação israelense como dissuasão contra os ataques palestinos.

O Exército israelense também foi criticado por não agir rapidamente para impedir os tumultos.

“O governo precisa decidir o que é”, escreveu o colunista veterano Nahum Barnea no jornal Yediot Ahronot. “Está decidido a impor a lei e a ordem tanto aos árabes quanto aos judeus? Ou é uma folha de figueira para os jovens do topo da colina, que fazem o que bem entendem nos territórios? Essa mesma questão também se aplica ao Exército, que até agora falhou em lidar efetivamente com o terrorismo palestino ou o terrorismo judeu.”

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Disputas centrais

Os eventos também ressaltaram as limitações da abordagem tradicional dos EUA para o conflito de longa duração entre israelenses e palestinos: Washington tem tentado evitar a escalada enquanto se mantém afastado da tarefa politicamente custosa de pressionar pela resolução das disputas centrais.

Enquanto a violência aumentava na Cisjordânia, uma tentativa de gerenciamento de conflito estava ocorrendo no domingo na Jordânia, com os EUA reunindo autoridades israelenses e palestinas para elaborar um “plano de desescalada”.

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Os eventos de domingo começaram quando um atirador palestino atirou e matou os irmãos Hillel e Yagel Yaniv, de 21 e 19 anos, do assentamento judeu de Har Bracha, em uma emboscada na cidade palestina de Hawara, no norte da Cisjordânia. O atirador fugiu e permanecia foragido até esta segunda-feira. Os irmãos foram sepultados em Jerusalém.

Após o ataque, a Knesset avançou com uma legislação para aplicar a pena de morte para acusações de terrorismo, apesar dos argumentos do procurador-geral e de funcionários do Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, de que isso não impediria os terroristas.

Parentes e amigos dos irmãos Hillel e Yagel Yaniv, enterrados em Jerusalém após serem mortos por um atirador palestino  Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023
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Após o ataque, grupos de colonos invadiram a via principal em Hawara, que é usada tanto por palestinos quanto por colonos israelenses. Em um vídeo, uma multidão de colonos orava enquanto olhavam para um prédio em chamas.

No fim da noite de domingo, um palestino de 37 anos foi baleado e morto por tiros israelenses, dois palestinos foram baleados e feridos e outro foi espancado com uma barra de ferro, disseram autoridades de saúde palestinas. Cerca de 95 palestinos estavam sendo tratados por inalação de gás lacrimogêneo, segundo médicos.

Na manhã de segunda-feira, a Via Hawara estava repleta de filas de carros incendiados e prédios enegrecidos pela fumaça. Lojas normalmente movimentadas permaneceram fechadas. A mídia palestina disse que cerca de 30 casas e carros foram incendiados.

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O sultão Farouk Abu Sris, dono de uma loja em Hawara, disse que saiu brevemente e viu dezenas de colonos colocando fogo em contêineres e em uma casa. “É a destruição. Eles vieram trazendo ódio”, disse ele.

Palestinos inspecionam prédio incendiado durante os ataques em Hawara Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

No local do ataque a tiros, o ministro da Defesa, Yoav Galant, disse a repórteres que Israel “não pode permitir uma situação em que os cidadãos façam justiça com as próprias mãos”, mas não chegou a condenar abertamente a violência. “Peço a todos que cumpram a lei e principalmente que confiem no Exército e nas forças de segurança”, disse.

O Exército, no entanto, enfrentou questões difíceis sobre como lidou com o tumulto. Shahar Glick, um repórter da estação de rádio do Exército que estava em Hawara, disse que as forças de segurança bloquearam as estradas para a cidade, mas foram pegas desprevenidas quando 200 a 300 colonos entraram a pé.

Ele disse que apenas um punhado de policiais e soldados estavam no local, mesmo depois que ativistas divulgaram a marcha nas redes sociais. A Cisjordânia abriga vários assentamentos de linha dura – vários deles nas imediações de Hawara – cujos residentes frequentemente vandalizam terras e propriedades palestinas.

Alguns policiais, disse ele, até desejaram boa sorte aos manifestantes, dizendo-lhes para “se cuidarem”. “Para os jornalistas, ficou claro desde o início, enquanto caminhávamos atrás deles, que esse incidente estava se desenvolvendo”, disse Glick. “Demorou muito para as forças de segurança entenderem.”

Carros queimados por colonos israelenses na cidade de Nablus Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

O tenente-coronel Richard Hecht, porta-voz militar israelense, disse que o Exército enviou centenas de soldados adicionais para a área com o objetivo de reduzir a escalada. Dois batalhões foram enviados na noite de domingo e mais dois na segunda-feira, com várias centenas de soldados cada. A situação permaneceu tranquila na segunda-feira.

O porta-voz da polícia israelense, Dean Elsdunne, disse que oito israelenses foram detidos em conexão com os distúrbios de domingo e que seis já foram libertados.

Falando em um posto avançado de assentamento reocupado por colonos judeus após o ataque de domingo, o ministro da Segurança Pública, Itamar Ben-Gvir, líder do partido Poder Judaico, pediu uma “guerra real contra o terrorismo”. “Devemos esmagar nossos inimigos”, disse. Quanto à violência dos colonos, acrescentou: “Entendo os ressentimentos, mas não é assim, não podemos fazer justiça com as mãos”.

Netanyahu e o presidente Isaac Herzog pediram aos colonos que não se envolvam em ações de vigilância. Merav Michaeli, do Partido Trabalhista de oposição, condenou a violência como “um pogrom de milícias armadas” contra os colonos da Cisjordânia.

Na coalizão governista, alguns atiçaram as chamas. Tzvika Foghel, parlamentar do partido de Ben-Gvir, disse que o tumulto ajudaria a deter os ataques palestinos. “Vejo o resultado sob uma luz muito boa”, disse ele à Rádio do Exército quando questionado sobre o que o entrevistador chamou de pogrom.

Reação externa

A violência de domingo atraiu a condenação da comunidade internacional. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que o ataque a tiros e o tumulto “ressaltam o imperativo de reduzir imediatamente as tensões em palavras e ações”.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que responsabiliza o governo israelense pelo que chamou de “atos terroristas realizados por colonos sob a proteção das forças de ocupação”.

A violência eclodiu logo depois que o governo jordaniano organizou negociações entre autoridades israelenses e palestinas em seu primeiro encontro em anos no Balneário de Aqaba, no Mar Vermelho, com o objetivo de diminuir as tensões antes do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Eles emitiram uma declaração conjunta, que dizia que Israel suspenderia os planos de construção de unidades de assentamento por quatro meses e interromperia a autorização de postos avançados - assentamentos menores e tipicamente mais radicais, considerados ilegais pela lei israelense - por seis meses.

O acordo também exigia que Israel respeitasse o status quo no local de Jerusalém conhecido pelos judeus como o Monte do Templo e pelos muçulmanos como o Nobre Santuário que, por décadas, serviu como um ponto crítico no conflito israelense-palestino.

Os palestinos reivindicam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza – áreas capturadas por Israel na guerra de 1967 – para um futuro Estado. Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia e no leste de Jerusalém. A comunidade internacional considera os assentamentos de Israel como ilegais e obstáculos à paz.

Até agora, neste ano, 62 palestinos, cerca de metade deles afiliados a grupos armados, foram mortos por soldados e civis israelenses. No mesmo período, 14 israelenses, todos civis menos um, foram mortos em ataques palestinos.

O ano passado foi o mais mortal para os palestinos na Cisjordânia e no leste de Jerusalém desde 2004, segundo dados do grupo de direitos humanos israelense B’Tselem. Quase 150 palestinos foram mortos nessas áreas. Cerca de 30 pessoas do lado israelense foram mortas em ataques palestinos./AP e WP

HAWARA, CISJORDÂNIA - A Cisjordânia tem vivido uma nova onda de violência nos últimos dias entre palestinos e colonos israelenses que já deixou quatro mortos. Os confrontos ocorrem em meio a um aumento das operações militares de Israel contra militantes palestinos e à crise política detonada pela reforma judicial do premiê Binyamin Netanyahu, que ameaça tirar poderes da Suprema Corte no País.

Os confrontos começaram no fim de semana, depois que dois israelenses foram mortos por um atirador palestino no norte da Cisjordânia. Em retaliação, colonos israelenses depredaram carros e casas em uma cidade palestina, matando uma pessoa. Nesta segunda-feira, um novo ataque palestino matou um motorista israelense.

As depredações em bairros palestina foram atribuídas por autoridades israelenses a colonos radicais que se autointitulam “tabeladores de preço”, que alegam extrair um “preço” para quaisquer ataques palestinos ou decisões israelenses de limitar a expansão dos assentamentos por meio de ações violentas.

Palestino passa por colunas de carros incendiados na cidade de Hawara, em nova onda de violência na região Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023

O Exército israelense disse que, no ataque desta segunda-feira, o homem abriu fogo contra um carro israelense perto da cidade palestina de Jericó. Ele continuou dirigindo e atirou em um segundo carro, atingindo o motorista, que morreu no hospital. O Exército disse que bloqueou as estradas e estava procurando o agressor, que escapou de carro.

Mensagens contraditórias

O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, o mais direitista da história de Israel, foi criticado por não ter conseguido deter o aumento da violência e por enviar o que alguns viram como mensagens contraditórias. Enquanto Netanyahu pedia calma, um membro de sua coalizão de governo elogiou a reação israelense como dissuasão contra os ataques palestinos.

O Exército israelense também foi criticado por não agir rapidamente para impedir os tumultos.

“O governo precisa decidir o que é”, escreveu o colunista veterano Nahum Barnea no jornal Yediot Ahronot. “Está decidido a impor a lei e a ordem tanto aos árabes quanto aos judeus? Ou é uma folha de figueira para os jovens do topo da colina, que fazem o que bem entendem nos territórios? Essa mesma questão também se aplica ao Exército, que até agora falhou em lidar efetivamente com o terrorismo palestino ou o terrorismo judeu.”

Disputas centrais

Os eventos também ressaltaram as limitações da abordagem tradicional dos EUA para o conflito de longa duração entre israelenses e palestinos: Washington tem tentado evitar a escalada enquanto se mantém afastado da tarefa politicamente custosa de pressionar pela resolução das disputas centrais.

Enquanto a violência aumentava na Cisjordânia, uma tentativa de gerenciamento de conflito estava ocorrendo no domingo na Jordânia, com os EUA reunindo autoridades israelenses e palestinas para elaborar um “plano de desescalada”.

Os eventos de domingo começaram quando um atirador palestino atirou e matou os irmãos Hillel e Yagel Yaniv, de 21 e 19 anos, do assentamento judeu de Har Bracha, em uma emboscada na cidade palestina de Hawara, no norte da Cisjordânia. O atirador fugiu e permanecia foragido até esta segunda-feira. Os irmãos foram sepultados em Jerusalém.

Após o ataque, a Knesset avançou com uma legislação para aplicar a pena de morte para acusações de terrorismo, apesar dos argumentos do procurador-geral e de funcionários do Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, de que isso não impediria os terroristas.

Parentes e amigos dos irmãos Hillel e Yagel Yaniv, enterrados em Jerusalém após serem mortos por um atirador palestino  Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023

Após o ataque, grupos de colonos invadiram a via principal em Hawara, que é usada tanto por palestinos quanto por colonos israelenses. Em um vídeo, uma multidão de colonos orava enquanto olhavam para um prédio em chamas.

No fim da noite de domingo, um palestino de 37 anos foi baleado e morto por tiros israelenses, dois palestinos foram baleados e feridos e outro foi espancado com uma barra de ferro, disseram autoridades de saúde palestinas. Cerca de 95 palestinos estavam sendo tratados por inalação de gás lacrimogêneo, segundo médicos.

Na manhã de segunda-feira, a Via Hawara estava repleta de filas de carros incendiados e prédios enegrecidos pela fumaça. Lojas normalmente movimentadas permaneceram fechadas. A mídia palestina disse que cerca de 30 casas e carros foram incendiados.

O sultão Farouk Abu Sris, dono de uma loja em Hawara, disse que saiu brevemente e viu dezenas de colonos colocando fogo em contêineres e em uma casa. “É a destruição. Eles vieram trazendo ódio”, disse ele.

Palestinos inspecionam prédio incendiado durante os ataques em Hawara Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

No local do ataque a tiros, o ministro da Defesa, Yoav Galant, disse a repórteres que Israel “não pode permitir uma situação em que os cidadãos façam justiça com as próprias mãos”, mas não chegou a condenar abertamente a violência. “Peço a todos que cumpram a lei e principalmente que confiem no Exército e nas forças de segurança”, disse.

O Exército, no entanto, enfrentou questões difíceis sobre como lidou com o tumulto. Shahar Glick, um repórter da estação de rádio do Exército que estava em Hawara, disse que as forças de segurança bloquearam as estradas para a cidade, mas foram pegas desprevenidas quando 200 a 300 colonos entraram a pé.

Ele disse que apenas um punhado de policiais e soldados estavam no local, mesmo depois que ativistas divulgaram a marcha nas redes sociais. A Cisjordânia abriga vários assentamentos de linha dura – vários deles nas imediações de Hawara – cujos residentes frequentemente vandalizam terras e propriedades palestinas.

Alguns policiais, disse ele, até desejaram boa sorte aos manifestantes, dizendo-lhes para “se cuidarem”. “Para os jornalistas, ficou claro desde o início, enquanto caminhávamos atrás deles, que esse incidente estava se desenvolvendo”, disse Glick. “Demorou muito para as forças de segurança entenderem.”

Carros queimados por colonos israelenses na cidade de Nablus Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

O tenente-coronel Richard Hecht, porta-voz militar israelense, disse que o Exército enviou centenas de soldados adicionais para a área com o objetivo de reduzir a escalada. Dois batalhões foram enviados na noite de domingo e mais dois na segunda-feira, com várias centenas de soldados cada. A situação permaneceu tranquila na segunda-feira.

O porta-voz da polícia israelense, Dean Elsdunne, disse que oito israelenses foram detidos em conexão com os distúrbios de domingo e que seis já foram libertados.

Falando em um posto avançado de assentamento reocupado por colonos judeus após o ataque de domingo, o ministro da Segurança Pública, Itamar Ben-Gvir, líder do partido Poder Judaico, pediu uma “guerra real contra o terrorismo”. “Devemos esmagar nossos inimigos”, disse. Quanto à violência dos colonos, acrescentou: “Entendo os ressentimentos, mas não é assim, não podemos fazer justiça com as mãos”.

Netanyahu e o presidente Isaac Herzog pediram aos colonos que não se envolvam em ações de vigilância. Merav Michaeli, do Partido Trabalhista de oposição, condenou a violência como “um pogrom de milícias armadas” contra os colonos da Cisjordânia.

Na coalizão governista, alguns atiçaram as chamas. Tzvika Foghel, parlamentar do partido de Ben-Gvir, disse que o tumulto ajudaria a deter os ataques palestinos. “Vejo o resultado sob uma luz muito boa”, disse ele à Rádio do Exército quando questionado sobre o que o entrevistador chamou de pogrom.

Reação externa

A violência de domingo atraiu a condenação da comunidade internacional. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que o ataque a tiros e o tumulto “ressaltam o imperativo de reduzir imediatamente as tensões em palavras e ações”.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que responsabiliza o governo israelense pelo que chamou de “atos terroristas realizados por colonos sob a proteção das forças de ocupação”.

A violência eclodiu logo depois que o governo jordaniano organizou negociações entre autoridades israelenses e palestinas em seu primeiro encontro em anos no Balneário de Aqaba, no Mar Vermelho, com o objetivo de diminuir as tensões antes do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Eles emitiram uma declaração conjunta, que dizia que Israel suspenderia os planos de construção de unidades de assentamento por quatro meses e interromperia a autorização de postos avançados - assentamentos menores e tipicamente mais radicais, considerados ilegais pela lei israelense - por seis meses.

O acordo também exigia que Israel respeitasse o status quo no local de Jerusalém conhecido pelos judeus como o Monte do Templo e pelos muçulmanos como o Nobre Santuário que, por décadas, serviu como um ponto crítico no conflito israelense-palestino.

Os palestinos reivindicam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza – áreas capturadas por Israel na guerra de 1967 – para um futuro Estado. Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia e no leste de Jerusalém. A comunidade internacional considera os assentamentos de Israel como ilegais e obstáculos à paz.

Até agora, neste ano, 62 palestinos, cerca de metade deles afiliados a grupos armados, foram mortos por soldados e civis israelenses. No mesmo período, 14 israelenses, todos civis menos um, foram mortos em ataques palestinos.

O ano passado foi o mais mortal para os palestinos na Cisjordânia e no leste de Jerusalém desde 2004, segundo dados do grupo de direitos humanos israelense B’Tselem. Quase 150 palestinos foram mortos nessas áreas. Cerca de 30 pessoas do lado israelense foram mortas em ataques palestinos./AP e WP

HAWARA, CISJORDÂNIA - A Cisjordânia tem vivido uma nova onda de violência nos últimos dias entre palestinos e colonos israelenses que já deixou quatro mortos. Os confrontos ocorrem em meio a um aumento das operações militares de Israel contra militantes palestinos e à crise política detonada pela reforma judicial do premiê Binyamin Netanyahu, que ameaça tirar poderes da Suprema Corte no País.

Os confrontos começaram no fim de semana, depois que dois israelenses foram mortos por um atirador palestino no norte da Cisjordânia. Em retaliação, colonos israelenses depredaram carros e casas em uma cidade palestina, matando uma pessoa. Nesta segunda-feira, um novo ataque palestino matou um motorista israelense.

As depredações em bairros palestina foram atribuídas por autoridades israelenses a colonos radicais que se autointitulam “tabeladores de preço”, que alegam extrair um “preço” para quaisquer ataques palestinos ou decisões israelenses de limitar a expansão dos assentamentos por meio de ações violentas.

Palestino passa por colunas de carros incendiados na cidade de Hawara, em nova onda de violência na região Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023

O Exército israelense disse que, no ataque desta segunda-feira, o homem abriu fogo contra um carro israelense perto da cidade palestina de Jericó. Ele continuou dirigindo e atirou em um segundo carro, atingindo o motorista, que morreu no hospital. O Exército disse que bloqueou as estradas e estava procurando o agressor, que escapou de carro.

Mensagens contraditórias

O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, o mais direitista da história de Israel, foi criticado por não ter conseguido deter o aumento da violência e por enviar o que alguns viram como mensagens contraditórias. Enquanto Netanyahu pedia calma, um membro de sua coalizão de governo elogiou a reação israelense como dissuasão contra os ataques palestinos.

O Exército israelense também foi criticado por não agir rapidamente para impedir os tumultos.

“O governo precisa decidir o que é”, escreveu o colunista veterano Nahum Barnea no jornal Yediot Ahronot. “Está decidido a impor a lei e a ordem tanto aos árabes quanto aos judeus? Ou é uma folha de figueira para os jovens do topo da colina, que fazem o que bem entendem nos territórios? Essa mesma questão também se aplica ao Exército, que até agora falhou em lidar efetivamente com o terrorismo palestino ou o terrorismo judeu.”

Disputas centrais

Os eventos também ressaltaram as limitações da abordagem tradicional dos EUA para o conflito de longa duração entre israelenses e palestinos: Washington tem tentado evitar a escalada enquanto se mantém afastado da tarefa politicamente custosa de pressionar pela resolução das disputas centrais.

Enquanto a violência aumentava na Cisjordânia, uma tentativa de gerenciamento de conflito estava ocorrendo no domingo na Jordânia, com os EUA reunindo autoridades israelenses e palestinas para elaborar um “plano de desescalada”.

Os eventos de domingo começaram quando um atirador palestino atirou e matou os irmãos Hillel e Yagel Yaniv, de 21 e 19 anos, do assentamento judeu de Har Bracha, em uma emboscada na cidade palestina de Hawara, no norte da Cisjordânia. O atirador fugiu e permanecia foragido até esta segunda-feira. Os irmãos foram sepultados em Jerusalém.

Após o ataque, a Knesset avançou com uma legislação para aplicar a pena de morte para acusações de terrorismo, apesar dos argumentos do procurador-geral e de funcionários do Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, de que isso não impediria os terroristas.

Parentes e amigos dos irmãos Hillel e Yagel Yaniv, enterrados em Jerusalém após serem mortos por um atirador palestino  Foto: Ohad Zwigenberg/AP - 27/2/2023

Após o ataque, grupos de colonos invadiram a via principal em Hawara, que é usada tanto por palestinos quanto por colonos israelenses. Em um vídeo, uma multidão de colonos orava enquanto olhavam para um prédio em chamas.

No fim da noite de domingo, um palestino de 37 anos foi baleado e morto por tiros israelenses, dois palestinos foram baleados e feridos e outro foi espancado com uma barra de ferro, disseram autoridades de saúde palestinas. Cerca de 95 palestinos estavam sendo tratados por inalação de gás lacrimogêneo, segundo médicos.

Na manhã de segunda-feira, a Via Hawara estava repleta de filas de carros incendiados e prédios enegrecidos pela fumaça. Lojas normalmente movimentadas permaneceram fechadas. A mídia palestina disse que cerca de 30 casas e carros foram incendiados.

O sultão Farouk Abu Sris, dono de uma loja em Hawara, disse que saiu brevemente e viu dezenas de colonos colocando fogo em contêineres e em uma casa. “É a destruição. Eles vieram trazendo ódio”, disse ele.

Palestinos inspecionam prédio incendiado durante os ataques em Hawara Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

No local do ataque a tiros, o ministro da Defesa, Yoav Galant, disse a repórteres que Israel “não pode permitir uma situação em que os cidadãos façam justiça com as próprias mãos”, mas não chegou a condenar abertamente a violência. “Peço a todos que cumpram a lei e principalmente que confiem no Exército e nas forças de segurança”, disse.

O Exército, no entanto, enfrentou questões difíceis sobre como lidou com o tumulto. Shahar Glick, um repórter da estação de rádio do Exército que estava em Hawara, disse que as forças de segurança bloquearam as estradas para a cidade, mas foram pegas desprevenidas quando 200 a 300 colonos entraram a pé.

Ele disse que apenas um punhado de policiais e soldados estavam no local, mesmo depois que ativistas divulgaram a marcha nas redes sociais. A Cisjordânia abriga vários assentamentos de linha dura – vários deles nas imediações de Hawara – cujos residentes frequentemente vandalizam terras e propriedades palestinas.

Alguns policiais, disse ele, até desejaram boa sorte aos manifestantes, dizendo-lhes para “se cuidarem”. “Para os jornalistas, ficou claro desde o início, enquanto caminhávamos atrás deles, que esse incidente estava se desenvolvendo”, disse Glick. “Demorou muito para as forças de segurança entenderem.”

Carros queimados por colonos israelenses na cidade de Nablus Foto: Majdi Mohammed/AP - 27/2/2023

O tenente-coronel Richard Hecht, porta-voz militar israelense, disse que o Exército enviou centenas de soldados adicionais para a área com o objetivo de reduzir a escalada. Dois batalhões foram enviados na noite de domingo e mais dois na segunda-feira, com várias centenas de soldados cada. A situação permaneceu tranquila na segunda-feira.

O porta-voz da polícia israelense, Dean Elsdunne, disse que oito israelenses foram detidos em conexão com os distúrbios de domingo e que seis já foram libertados.

Falando em um posto avançado de assentamento reocupado por colonos judeus após o ataque de domingo, o ministro da Segurança Pública, Itamar Ben-Gvir, líder do partido Poder Judaico, pediu uma “guerra real contra o terrorismo”. “Devemos esmagar nossos inimigos”, disse. Quanto à violência dos colonos, acrescentou: “Entendo os ressentimentos, mas não é assim, não podemos fazer justiça com as mãos”.

Netanyahu e o presidente Isaac Herzog pediram aos colonos que não se envolvam em ações de vigilância. Merav Michaeli, do Partido Trabalhista de oposição, condenou a violência como “um pogrom de milícias armadas” contra os colonos da Cisjordânia.

Na coalizão governista, alguns atiçaram as chamas. Tzvika Foghel, parlamentar do partido de Ben-Gvir, disse que o tumulto ajudaria a deter os ataques palestinos. “Vejo o resultado sob uma luz muito boa”, disse ele à Rádio do Exército quando questionado sobre o que o entrevistador chamou de pogrom.

Reação externa

A violência de domingo atraiu a condenação da comunidade internacional. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que o ataque a tiros e o tumulto “ressaltam o imperativo de reduzir imediatamente as tensões em palavras e ações”.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que responsabiliza o governo israelense pelo que chamou de “atos terroristas realizados por colonos sob a proteção das forças de ocupação”.

A violência eclodiu logo depois que o governo jordaniano organizou negociações entre autoridades israelenses e palestinas em seu primeiro encontro em anos no Balneário de Aqaba, no Mar Vermelho, com o objetivo de diminuir as tensões antes do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Eles emitiram uma declaração conjunta, que dizia que Israel suspenderia os planos de construção de unidades de assentamento por quatro meses e interromperia a autorização de postos avançados - assentamentos menores e tipicamente mais radicais, considerados ilegais pela lei israelense - por seis meses.

O acordo também exigia que Israel respeitasse o status quo no local de Jerusalém conhecido pelos judeus como o Monte do Templo e pelos muçulmanos como o Nobre Santuário que, por décadas, serviu como um ponto crítico no conflito israelense-palestino.

Os palestinos reivindicam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza – áreas capturadas por Israel na guerra de 1967 – para um futuro Estado. Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia e no leste de Jerusalém. A comunidade internacional considera os assentamentos de Israel como ilegais e obstáculos à paz.

Até agora, neste ano, 62 palestinos, cerca de metade deles afiliados a grupos armados, foram mortos por soldados e civis israelenses. No mesmo período, 14 israelenses, todos civis menos um, foram mortos em ataques palestinos.

O ano passado foi o mais mortal para os palestinos na Cisjordânia e no leste de Jerusalém desde 2004, segundo dados do grupo de direitos humanos israelense B’Tselem. Quase 150 palestinos foram mortos nessas áreas. Cerca de 30 pessoas do lado israelense foram mortas em ataques palestinos./AP e WP

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