Vitória de Milei transforma Bullrich em fiel da balança na eleição da Argentina; leia a análise


Depois de vencer a primária em sua coalizão, a veterana mutante política está agora diante de escolhas duras para se posicionar contra rivais à esquerda e à direita

Por Natalie Alcoba

BUENOS AIRES — Se Patricia Bullrich estava refazendo seu cálculo sob o foco do holofote, ela não deixava transparecer. Em cima do palanque, depois de conquistar a indicação para concorrer à presidência da Argentina pela coalizão opositora Juntos pela Mudança (JxC), de centro-direita, a veterana na política, de 67 anos, era só sorrisos e abraços, em meio à vibração de seus apoiadores.

“Nos foi dada a oportunidade de liderar uma mudança profunda na Argentina”, afirmou Bullrich, que “deixa a corrupção para trás” e “abre o caminho para a austeridade”.

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Os resultados das eleições primárias de 13 de agosto na Argentina sinalizaram nos termos mais claros que muitos argentinos, sofrendo com a inflação anual de 113% e uma moeda que perde valor a um ritmo alarmante, estão prontos para imolar o sistema. Mas eles deixaram em aberto quem preferem que realize o trabalho. Bullrich é uma das opções, a outra é Javier Milei, um libertário de extrema direita que conta com um secto que o cultua e pretende adotar o dólar americano como moeda oficial da Argentina e abolir o Banco Central do país. No domingo, ele estarreceu a nação ao receber o maior número de votos nas primárias (cerca de 30% do total), superando expectativas e se estabelecendo como o candidato a ser derrotado.

A candidata presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Gustavo Garello/AP

Com a ascensão de Milei, a Argentina, um país tradicionalmente polarizado entre facções de esquerda e de direita, tem agora três opções com apoio similar — o que transforma o ambiente político de maneiras profundas. Essa conjuntura deixa Bullrich, uma força mutante com sua própria mensagem de reforma, em situação delicada.

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“Ela tem de sinalizar ordem”, afirmou o analista político Pablo Touzon, radicado em Buenos Aires, na segunda-feira. “O sujeito que vai destruir o sistema já existe.”

Isso não será fácil: se enviesar ainda mais para a direita, Bullrich arrisca perder eleitores moderados dentro de sua própria coalizão para o centrista Sergio Massa; e se parecer conciliatória demais, ela poderia abrir a guarda para percepções de que é parte da podridão que Milei promete erradicar. Horacio Rodríguez, que também concorreu à indicação presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, tentou um posicionamento mais centrista e acabou com apenas 11% dos votos.

De fato, os apoiadores de Bullrich com frequência se referem à sua posição dura contra a criminalidade quando foi ministra da Segurança — e à narrativa genérica linha-dura que ela transmite, especialmente em meio a uma elevação na violência relacionada a guerras do narcotráfico na cidade de Rosario — como parte de seu apelo, portanto ela terá dificuldades se pretender ajustar sua mensagem.

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“O que ela tem a fazer é mais difícil”, afirmou Touzon. “Mesmo que seja muito dura na mensagem, ela tem muita experiência política”, disse ele, e um registro de navegar através da extensão do espectro político. “Provavelmente ela terá capacidade de manobrar.”

As muitas encarnações políticas de Patricia Bullrich

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Bullrich percorreu uma longa carreira política, da mulher que era apelidada como “la piba” — “a menina” — e hoje é frequentemente chamada de “buldogue” ou “dama de ferro” pelos animados meios de comunicação argentinos.

Bullrich tem pedigree aristocrata — entre seus ancestrais há um ex-ministro de governo e um ex-prefeito de Buenos Aires; seu sobrenome batiza um shopping center chique na capital. Quando era adolescente, ela se rebelou, juntando-se à juventude esquerdista do partido do líder populista exilado Juan Domingo Perón. Bullrich esteve entre as multidões que se reuniram para dar boas-vindas a Perón em seu retorno a Buenos Aires, em junho de 1973, que se dispersaram conforme facções de direita do movimento abriram fogo contra os militantes de esquerda, matando 13. Bullrich nega ter pertencido ao grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros, apesar de jornalistas investigativos terem documentado o contrário.

É verdadeiro que Bullrich fugiu da Argentina em 1977, conforme uma nova ditadura recém-instalada reprimia a dissidência, assassinando e fazendo desaparecer milhares de pessoas. Depois de sua volta e da volta da democracia à Argentina, Bullrich deixou a ala neoliberal do peronismo liderada pelo então presidente, Carlos Menem, para a coalizão Aliança, criada pelo seu sucessor, Fernando de la Rúa, onde ela forjou uma personagem agressiva, confrontando um dos maiores líderes sindicalistas ao vivo na TV. Bullrich coordenou um corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e algumas categorias de pensionistas quando foi ministra do Trabalho, um movimento que ela defendeu posteriormente qualificando como o tipo de “decisão difícil” necessária em tempos difíceis.

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O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a candidata Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Sob o governo conservador de Mauricio Macri (2015-2019), Bullrich ganhou proeminência novamente, como ministra da Segurança, saindo em defesa de policiais que puxavam o gatilho no cumprimento do dever e endurecendo a posição do governo em relação à imigração ilegal. Em 2019, ela foi criticada por um ex-aliado por emular o brasileiro Jair Bolsonaro em relação a política de segurança, uma comparação que não pareceu incomodá-la. (Bolsonaro expressou apoio a Milei na semana passada.)

O jornalista e escritor Ricardo Ragendorfer, que passou sete meses pesquisando a trajetória de Bullrich para fazer um livro, afirma que a carreira dela é definida por uma “constante peregrinação pelo espectro político”. “Não acho seja uma pessoa em mutação”, afirmou ele, “mas uma figura política sempre ao lado do vencedor”.

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Nesse sentido, a metamorfose de Bullrich pode ser interpretada como um espelho da sociedade argentina — hoje exausta e irritada. Mas resta ver como ela responderá ao maior apetite do público por mudanças. O campo de Bullrich se opôs a algumas das ideias mais radicais de Milei, como eliminar o Banco Central e substituir o peso pelo dólar americano, mas ela planeja “mudanças estruturais profundas” que incluem suspender controles monetários “assim que possível” e trocar o sistema de seguridade social que, afirma ela, “humilha” as pessoas” e está impregnado de corrupção, por políticas de seguro-desemprego com limites estritos de tempo.

Bullrich chega para votar nas eleições primárias de domingo carregando doces para autoridades eleitorais em Buenos Aires Foto: Natacha Pisarenko/AP

Mesmo antes das primárias, quando as pesquisas sugeriam que a coalizão Juntos pela Mudança estava numa posição melhor, o campo de Bullrich falava em trabalhar com Milei para cortar o gasto público.

“Eu considero que Javier Milei terá um papel crítico”, afirmou o legislador Luciano Laspina, que atua como conselheiro econômico de Bullrich, durante um debate virtual do Wilson Center, anteriormente este mês.

Cortes de gastos dramáticos podem ocasionar agitação social? Um membro do partido de Bullrich alertou que ela arrisca terminar como o governo de Fernando de la Rúa, que implodiu no fim de 2001 em meio a protestos generalizados e um calote na dívida.

Usando óculos escuros italianos vintage e segurando uma bandeira argentina enquanto esperava a “dama de ferro” chegar a um evento de campanha em Buenos Aires, este mês, a aposentada Alicia Pereyra estava otimista. A idosa de 80 anos é fã de Bullrich desde que assistiu na TV ela enfrentar grandes chefes de sindicatos mais de 20 anos atrás. Ela gosta de sua atitude calma e estilo combativo. “Espero que ela coloque as coisas em ordem”, afirmou Pereyra. “Nós não temos outra opção.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

BUENOS AIRES — Se Patricia Bullrich estava refazendo seu cálculo sob o foco do holofote, ela não deixava transparecer. Em cima do palanque, depois de conquistar a indicação para concorrer à presidência da Argentina pela coalizão opositora Juntos pela Mudança (JxC), de centro-direita, a veterana na política, de 67 anos, era só sorrisos e abraços, em meio à vibração de seus apoiadores.

“Nos foi dada a oportunidade de liderar uma mudança profunda na Argentina”, afirmou Bullrich, que “deixa a corrupção para trás” e “abre o caminho para a austeridade”.

Os resultados das eleições primárias de 13 de agosto na Argentina sinalizaram nos termos mais claros que muitos argentinos, sofrendo com a inflação anual de 113% e uma moeda que perde valor a um ritmo alarmante, estão prontos para imolar o sistema. Mas eles deixaram em aberto quem preferem que realize o trabalho. Bullrich é uma das opções, a outra é Javier Milei, um libertário de extrema direita que conta com um secto que o cultua e pretende adotar o dólar americano como moeda oficial da Argentina e abolir o Banco Central do país. No domingo, ele estarreceu a nação ao receber o maior número de votos nas primárias (cerca de 30% do total), superando expectativas e se estabelecendo como o candidato a ser derrotado.

A candidata presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Gustavo Garello/AP

Com a ascensão de Milei, a Argentina, um país tradicionalmente polarizado entre facções de esquerda e de direita, tem agora três opções com apoio similar — o que transforma o ambiente político de maneiras profundas. Essa conjuntura deixa Bullrich, uma força mutante com sua própria mensagem de reforma, em situação delicada.

“Ela tem de sinalizar ordem”, afirmou o analista político Pablo Touzon, radicado em Buenos Aires, na segunda-feira. “O sujeito que vai destruir o sistema já existe.”

Isso não será fácil: se enviesar ainda mais para a direita, Bullrich arrisca perder eleitores moderados dentro de sua própria coalizão para o centrista Sergio Massa; e se parecer conciliatória demais, ela poderia abrir a guarda para percepções de que é parte da podridão que Milei promete erradicar. Horacio Rodríguez, que também concorreu à indicação presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, tentou um posicionamento mais centrista e acabou com apenas 11% dos votos.

De fato, os apoiadores de Bullrich com frequência se referem à sua posição dura contra a criminalidade quando foi ministra da Segurança — e à narrativa genérica linha-dura que ela transmite, especialmente em meio a uma elevação na violência relacionada a guerras do narcotráfico na cidade de Rosario — como parte de seu apelo, portanto ela terá dificuldades se pretender ajustar sua mensagem.

“O que ela tem a fazer é mais difícil”, afirmou Touzon. “Mesmo que seja muito dura na mensagem, ela tem muita experiência política”, disse ele, e um registro de navegar através da extensão do espectro político. “Provavelmente ela terá capacidade de manobrar.”

As muitas encarnações políticas de Patricia Bullrich

Bullrich percorreu uma longa carreira política, da mulher que era apelidada como “la piba” — “a menina” — e hoje é frequentemente chamada de “buldogue” ou “dama de ferro” pelos animados meios de comunicação argentinos.

Bullrich tem pedigree aristocrata — entre seus ancestrais há um ex-ministro de governo e um ex-prefeito de Buenos Aires; seu sobrenome batiza um shopping center chique na capital. Quando era adolescente, ela se rebelou, juntando-se à juventude esquerdista do partido do líder populista exilado Juan Domingo Perón. Bullrich esteve entre as multidões que se reuniram para dar boas-vindas a Perón em seu retorno a Buenos Aires, em junho de 1973, que se dispersaram conforme facções de direita do movimento abriram fogo contra os militantes de esquerda, matando 13. Bullrich nega ter pertencido ao grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros, apesar de jornalistas investigativos terem documentado o contrário.

É verdadeiro que Bullrich fugiu da Argentina em 1977, conforme uma nova ditadura recém-instalada reprimia a dissidência, assassinando e fazendo desaparecer milhares de pessoas. Depois de sua volta e da volta da democracia à Argentina, Bullrich deixou a ala neoliberal do peronismo liderada pelo então presidente, Carlos Menem, para a coalizão Aliança, criada pelo seu sucessor, Fernando de la Rúa, onde ela forjou uma personagem agressiva, confrontando um dos maiores líderes sindicalistas ao vivo na TV. Bullrich coordenou um corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e algumas categorias de pensionistas quando foi ministra do Trabalho, um movimento que ela defendeu posteriormente qualificando como o tipo de “decisão difícil” necessária em tempos difíceis.

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a candidata Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Sob o governo conservador de Mauricio Macri (2015-2019), Bullrich ganhou proeminência novamente, como ministra da Segurança, saindo em defesa de policiais que puxavam o gatilho no cumprimento do dever e endurecendo a posição do governo em relação à imigração ilegal. Em 2019, ela foi criticada por um ex-aliado por emular o brasileiro Jair Bolsonaro em relação a política de segurança, uma comparação que não pareceu incomodá-la. (Bolsonaro expressou apoio a Milei na semana passada.)

O jornalista e escritor Ricardo Ragendorfer, que passou sete meses pesquisando a trajetória de Bullrich para fazer um livro, afirma que a carreira dela é definida por uma “constante peregrinação pelo espectro político”. “Não acho seja uma pessoa em mutação”, afirmou ele, “mas uma figura política sempre ao lado do vencedor”.

Nesse sentido, a metamorfose de Bullrich pode ser interpretada como um espelho da sociedade argentina — hoje exausta e irritada. Mas resta ver como ela responderá ao maior apetite do público por mudanças. O campo de Bullrich se opôs a algumas das ideias mais radicais de Milei, como eliminar o Banco Central e substituir o peso pelo dólar americano, mas ela planeja “mudanças estruturais profundas” que incluem suspender controles monetários “assim que possível” e trocar o sistema de seguridade social que, afirma ela, “humilha” as pessoas” e está impregnado de corrupção, por políticas de seguro-desemprego com limites estritos de tempo.

Bullrich chega para votar nas eleições primárias de domingo carregando doces para autoridades eleitorais em Buenos Aires Foto: Natacha Pisarenko/AP

Mesmo antes das primárias, quando as pesquisas sugeriam que a coalizão Juntos pela Mudança estava numa posição melhor, o campo de Bullrich falava em trabalhar com Milei para cortar o gasto público.

“Eu considero que Javier Milei terá um papel crítico”, afirmou o legislador Luciano Laspina, que atua como conselheiro econômico de Bullrich, durante um debate virtual do Wilson Center, anteriormente este mês.

Cortes de gastos dramáticos podem ocasionar agitação social? Um membro do partido de Bullrich alertou que ela arrisca terminar como o governo de Fernando de la Rúa, que implodiu no fim de 2001 em meio a protestos generalizados e um calote na dívida.

Usando óculos escuros italianos vintage e segurando uma bandeira argentina enquanto esperava a “dama de ferro” chegar a um evento de campanha em Buenos Aires, este mês, a aposentada Alicia Pereyra estava otimista. A idosa de 80 anos é fã de Bullrich desde que assistiu na TV ela enfrentar grandes chefes de sindicatos mais de 20 anos atrás. Ela gosta de sua atitude calma e estilo combativo. “Espero que ela coloque as coisas em ordem”, afirmou Pereyra. “Nós não temos outra opção.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

BUENOS AIRES — Se Patricia Bullrich estava refazendo seu cálculo sob o foco do holofote, ela não deixava transparecer. Em cima do palanque, depois de conquistar a indicação para concorrer à presidência da Argentina pela coalizão opositora Juntos pela Mudança (JxC), de centro-direita, a veterana na política, de 67 anos, era só sorrisos e abraços, em meio à vibração de seus apoiadores.

“Nos foi dada a oportunidade de liderar uma mudança profunda na Argentina”, afirmou Bullrich, que “deixa a corrupção para trás” e “abre o caminho para a austeridade”.

Os resultados das eleições primárias de 13 de agosto na Argentina sinalizaram nos termos mais claros que muitos argentinos, sofrendo com a inflação anual de 113% e uma moeda que perde valor a um ritmo alarmante, estão prontos para imolar o sistema. Mas eles deixaram em aberto quem preferem que realize o trabalho. Bullrich é uma das opções, a outra é Javier Milei, um libertário de extrema direita que conta com um secto que o cultua e pretende adotar o dólar americano como moeda oficial da Argentina e abolir o Banco Central do país. No domingo, ele estarreceu a nação ao receber o maior número de votos nas primárias (cerca de 30% do total), superando expectativas e se estabelecendo como o candidato a ser derrotado.

A candidata presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Gustavo Garello/AP

Com a ascensão de Milei, a Argentina, um país tradicionalmente polarizado entre facções de esquerda e de direita, tem agora três opções com apoio similar — o que transforma o ambiente político de maneiras profundas. Essa conjuntura deixa Bullrich, uma força mutante com sua própria mensagem de reforma, em situação delicada.

“Ela tem de sinalizar ordem”, afirmou o analista político Pablo Touzon, radicado em Buenos Aires, na segunda-feira. “O sujeito que vai destruir o sistema já existe.”

Isso não será fácil: se enviesar ainda mais para a direita, Bullrich arrisca perder eleitores moderados dentro de sua própria coalizão para o centrista Sergio Massa; e se parecer conciliatória demais, ela poderia abrir a guarda para percepções de que é parte da podridão que Milei promete erradicar. Horacio Rodríguez, que também concorreu à indicação presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, tentou um posicionamento mais centrista e acabou com apenas 11% dos votos.

De fato, os apoiadores de Bullrich com frequência se referem à sua posição dura contra a criminalidade quando foi ministra da Segurança — e à narrativa genérica linha-dura que ela transmite, especialmente em meio a uma elevação na violência relacionada a guerras do narcotráfico na cidade de Rosario — como parte de seu apelo, portanto ela terá dificuldades se pretender ajustar sua mensagem.

“O que ela tem a fazer é mais difícil”, afirmou Touzon. “Mesmo que seja muito dura na mensagem, ela tem muita experiência política”, disse ele, e um registro de navegar através da extensão do espectro político. “Provavelmente ela terá capacidade de manobrar.”

As muitas encarnações políticas de Patricia Bullrich

Bullrich percorreu uma longa carreira política, da mulher que era apelidada como “la piba” — “a menina” — e hoje é frequentemente chamada de “buldogue” ou “dama de ferro” pelos animados meios de comunicação argentinos.

Bullrich tem pedigree aristocrata — entre seus ancestrais há um ex-ministro de governo e um ex-prefeito de Buenos Aires; seu sobrenome batiza um shopping center chique na capital. Quando era adolescente, ela se rebelou, juntando-se à juventude esquerdista do partido do líder populista exilado Juan Domingo Perón. Bullrich esteve entre as multidões que se reuniram para dar boas-vindas a Perón em seu retorno a Buenos Aires, em junho de 1973, que se dispersaram conforme facções de direita do movimento abriram fogo contra os militantes de esquerda, matando 13. Bullrich nega ter pertencido ao grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros, apesar de jornalistas investigativos terem documentado o contrário.

É verdadeiro que Bullrich fugiu da Argentina em 1977, conforme uma nova ditadura recém-instalada reprimia a dissidência, assassinando e fazendo desaparecer milhares de pessoas. Depois de sua volta e da volta da democracia à Argentina, Bullrich deixou a ala neoliberal do peronismo liderada pelo então presidente, Carlos Menem, para a coalizão Aliança, criada pelo seu sucessor, Fernando de la Rúa, onde ela forjou uma personagem agressiva, confrontando um dos maiores líderes sindicalistas ao vivo na TV. Bullrich coordenou um corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e algumas categorias de pensionistas quando foi ministra do Trabalho, um movimento que ela defendeu posteriormente qualificando como o tipo de “decisão difícil” necessária em tempos difíceis.

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a candidata Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Sob o governo conservador de Mauricio Macri (2015-2019), Bullrich ganhou proeminência novamente, como ministra da Segurança, saindo em defesa de policiais que puxavam o gatilho no cumprimento do dever e endurecendo a posição do governo em relação à imigração ilegal. Em 2019, ela foi criticada por um ex-aliado por emular o brasileiro Jair Bolsonaro em relação a política de segurança, uma comparação que não pareceu incomodá-la. (Bolsonaro expressou apoio a Milei na semana passada.)

O jornalista e escritor Ricardo Ragendorfer, que passou sete meses pesquisando a trajetória de Bullrich para fazer um livro, afirma que a carreira dela é definida por uma “constante peregrinação pelo espectro político”. “Não acho seja uma pessoa em mutação”, afirmou ele, “mas uma figura política sempre ao lado do vencedor”.

Nesse sentido, a metamorfose de Bullrich pode ser interpretada como um espelho da sociedade argentina — hoje exausta e irritada. Mas resta ver como ela responderá ao maior apetite do público por mudanças. O campo de Bullrich se opôs a algumas das ideias mais radicais de Milei, como eliminar o Banco Central e substituir o peso pelo dólar americano, mas ela planeja “mudanças estruturais profundas” que incluem suspender controles monetários “assim que possível” e trocar o sistema de seguridade social que, afirma ela, “humilha” as pessoas” e está impregnado de corrupção, por políticas de seguro-desemprego com limites estritos de tempo.

Bullrich chega para votar nas eleições primárias de domingo carregando doces para autoridades eleitorais em Buenos Aires Foto: Natacha Pisarenko/AP

Mesmo antes das primárias, quando as pesquisas sugeriam que a coalizão Juntos pela Mudança estava numa posição melhor, o campo de Bullrich falava em trabalhar com Milei para cortar o gasto público.

“Eu considero que Javier Milei terá um papel crítico”, afirmou o legislador Luciano Laspina, que atua como conselheiro econômico de Bullrich, durante um debate virtual do Wilson Center, anteriormente este mês.

Cortes de gastos dramáticos podem ocasionar agitação social? Um membro do partido de Bullrich alertou que ela arrisca terminar como o governo de Fernando de la Rúa, que implodiu no fim de 2001 em meio a protestos generalizados e um calote na dívida.

Usando óculos escuros italianos vintage e segurando uma bandeira argentina enquanto esperava a “dama de ferro” chegar a um evento de campanha em Buenos Aires, este mês, a aposentada Alicia Pereyra estava otimista. A idosa de 80 anos é fã de Bullrich desde que assistiu na TV ela enfrentar grandes chefes de sindicatos mais de 20 anos atrás. Ela gosta de sua atitude calma e estilo combativo. “Espero que ela coloque as coisas em ordem”, afirmou Pereyra. “Nós não temos outra opção.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

BUENOS AIRES — Se Patricia Bullrich estava refazendo seu cálculo sob o foco do holofote, ela não deixava transparecer. Em cima do palanque, depois de conquistar a indicação para concorrer à presidência da Argentina pela coalizão opositora Juntos pela Mudança (JxC), de centro-direita, a veterana na política, de 67 anos, era só sorrisos e abraços, em meio à vibração de seus apoiadores.

“Nos foi dada a oportunidade de liderar uma mudança profunda na Argentina”, afirmou Bullrich, que “deixa a corrupção para trás” e “abre o caminho para a austeridade”.

Os resultados das eleições primárias de 13 de agosto na Argentina sinalizaram nos termos mais claros que muitos argentinos, sofrendo com a inflação anual de 113% e uma moeda que perde valor a um ritmo alarmante, estão prontos para imolar o sistema. Mas eles deixaram em aberto quem preferem que realize o trabalho. Bullrich é uma das opções, a outra é Javier Milei, um libertário de extrema direita que conta com um secto que o cultua e pretende adotar o dólar americano como moeda oficial da Argentina e abolir o Banco Central do país. No domingo, ele estarreceu a nação ao receber o maior número de votos nas primárias (cerca de 30% do total), superando expectativas e se estabelecendo como o candidato a ser derrotado.

A candidata presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Gustavo Garello/AP

Com a ascensão de Milei, a Argentina, um país tradicionalmente polarizado entre facções de esquerda e de direita, tem agora três opções com apoio similar — o que transforma o ambiente político de maneiras profundas. Essa conjuntura deixa Bullrich, uma força mutante com sua própria mensagem de reforma, em situação delicada.

“Ela tem de sinalizar ordem”, afirmou o analista político Pablo Touzon, radicado em Buenos Aires, na segunda-feira. “O sujeito que vai destruir o sistema já existe.”

Isso não será fácil: se enviesar ainda mais para a direita, Bullrich arrisca perder eleitores moderados dentro de sua própria coalizão para o centrista Sergio Massa; e se parecer conciliatória demais, ela poderia abrir a guarda para percepções de que é parte da podridão que Milei promete erradicar. Horacio Rodríguez, que também concorreu à indicação presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, tentou um posicionamento mais centrista e acabou com apenas 11% dos votos.

De fato, os apoiadores de Bullrich com frequência se referem à sua posição dura contra a criminalidade quando foi ministra da Segurança — e à narrativa genérica linha-dura que ela transmite, especialmente em meio a uma elevação na violência relacionada a guerras do narcotráfico na cidade de Rosario — como parte de seu apelo, portanto ela terá dificuldades se pretender ajustar sua mensagem.

“O que ela tem a fazer é mais difícil”, afirmou Touzon. “Mesmo que seja muito dura na mensagem, ela tem muita experiência política”, disse ele, e um registro de navegar através da extensão do espectro político. “Provavelmente ela terá capacidade de manobrar.”

As muitas encarnações políticas de Patricia Bullrich

Bullrich percorreu uma longa carreira política, da mulher que era apelidada como “la piba” — “a menina” — e hoje é frequentemente chamada de “buldogue” ou “dama de ferro” pelos animados meios de comunicação argentinos.

Bullrich tem pedigree aristocrata — entre seus ancestrais há um ex-ministro de governo e um ex-prefeito de Buenos Aires; seu sobrenome batiza um shopping center chique na capital. Quando era adolescente, ela se rebelou, juntando-se à juventude esquerdista do partido do líder populista exilado Juan Domingo Perón. Bullrich esteve entre as multidões que se reuniram para dar boas-vindas a Perón em seu retorno a Buenos Aires, em junho de 1973, que se dispersaram conforme facções de direita do movimento abriram fogo contra os militantes de esquerda, matando 13. Bullrich nega ter pertencido ao grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros, apesar de jornalistas investigativos terem documentado o contrário.

É verdadeiro que Bullrich fugiu da Argentina em 1977, conforme uma nova ditadura recém-instalada reprimia a dissidência, assassinando e fazendo desaparecer milhares de pessoas. Depois de sua volta e da volta da democracia à Argentina, Bullrich deixou a ala neoliberal do peronismo liderada pelo então presidente, Carlos Menem, para a coalizão Aliança, criada pelo seu sucessor, Fernando de la Rúa, onde ela forjou uma personagem agressiva, confrontando um dos maiores líderes sindicalistas ao vivo na TV. Bullrich coordenou um corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e algumas categorias de pensionistas quando foi ministra do Trabalho, um movimento que ela defendeu posteriormente qualificando como o tipo de “decisão difícil” necessária em tempos difíceis.

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a candidata Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Sob o governo conservador de Mauricio Macri (2015-2019), Bullrich ganhou proeminência novamente, como ministra da Segurança, saindo em defesa de policiais que puxavam o gatilho no cumprimento do dever e endurecendo a posição do governo em relação à imigração ilegal. Em 2019, ela foi criticada por um ex-aliado por emular o brasileiro Jair Bolsonaro em relação a política de segurança, uma comparação que não pareceu incomodá-la. (Bolsonaro expressou apoio a Milei na semana passada.)

O jornalista e escritor Ricardo Ragendorfer, que passou sete meses pesquisando a trajetória de Bullrich para fazer um livro, afirma que a carreira dela é definida por uma “constante peregrinação pelo espectro político”. “Não acho seja uma pessoa em mutação”, afirmou ele, “mas uma figura política sempre ao lado do vencedor”.

Nesse sentido, a metamorfose de Bullrich pode ser interpretada como um espelho da sociedade argentina — hoje exausta e irritada. Mas resta ver como ela responderá ao maior apetite do público por mudanças. O campo de Bullrich se opôs a algumas das ideias mais radicais de Milei, como eliminar o Banco Central e substituir o peso pelo dólar americano, mas ela planeja “mudanças estruturais profundas” que incluem suspender controles monetários “assim que possível” e trocar o sistema de seguridade social que, afirma ela, “humilha” as pessoas” e está impregnado de corrupção, por políticas de seguro-desemprego com limites estritos de tempo.

Bullrich chega para votar nas eleições primárias de domingo carregando doces para autoridades eleitorais em Buenos Aires Foto: Natacha Pisarenko/AP

Mesmo antes das primárias, quando as pesquisas sugeriam que a coalizão Juntos pela Mudança estava numa posição melhor, o campo de Bullrich falava em trabalhar com Milei para cortar o gasto público.

“Eu considero que Javier Milei terá um papel crítico”, afirmou o legislador Luciano Laspina, que atua como conselheiro econômico de Bullrich, durante um debate virtual do Wilson Center, anteriormente este mês.

Cortes de gastos dramáticos podem ocasionar agitação social? Um membro do partido de Bullrich alertou que ela arrisca terminar como o governo de Fernando de la Rúa, que implodiu no fim de 2001 em meio a protestos generalizados e um calote na dívida.

Usando óculos escuros italianos vintage e segurando uma bandeira argentina enquanto esperava a “dama de ferro” chegar a um evento de campanha em Buenos Aires, este mês, a aposentada Alicia Pereyra estava otimista. A idosa de 80 anos é fã de Bullrich desde que assistiu na TV ela enfrentar grandes chefes de sindicatos mais de 20 anos atrás. Ela gosta de sua atitude calma e estilo combativo. “Espero que ela coloque as coisas em ordem”, afirmou Pereyra. “Nós não temos outra opção.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

BUENOS AIRES — Se Patricia Bullrich estava refazendo seu cálculo sob o foco do holofote, ela não deixava transparecer. Em cima do palanque, depois de conquistar a indicação para concorrer à presidência da Argentina pela coalizão opositora Juntos pela Mudança (JxC), de centro-direita, a veterana na política, de 67 anos, era só sorrisos e abraços, em meio à vibração de seus apoiadores.

“Nos foi dada a oportunidade de liderar uma mudança profunda na Argentina”, afirmou Bullrich, que “deixa a corrupção para trás” e “abre o caminho para a austeridade”.

Os resultados das eleições primárias de 13 de agosto na Argentina sinalizaram nos termos mais claros que muitos argentinos, sofrendo com a inflação anual de 113% e uma moeda que perde valor a um ritmo alarmante, estão prontos para imolar o sistema. Mas eles deixaram em aberto quem preferem que realize o trabalho. Bullrich é uma das opções, a outra é Javier Milei, um libertário de extrema direita que conta com um secto que o cultua e pretende adotar o dólar americano como moeda oficial da Argentina e abolir o Banco Central do país. No domingo, ele estarreceu a nação ao receber o maior número de votos nas primárias (cerca de 30% do total), superando expectativas e se estabelecendo como o candidato a ser derrotado.

A candidata presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Gustavo Garello/AP

Com a ascensão de Milei, a Argentina, um país tradicionalmente polarizado entre facções de esquerda e de direita, tem agora três opções com apoio similar — o que transforma o ambiente político de maneiras profundas. Essa conjuntura deixa Bullrich, uma força mutante com sua própria mensagem de reforma, em situação delicada.

“Ela tem de sinalizar ordem”, afirmou o analista político Pablo Touzon, radicado em Buenos Aires, na segunda-feira. “O sujeito que vai destruir o sistema já existe.”

Isso não será fácil: se enviesar ainda mais para a direita, Bullrich arrisca perder eleitores moderados dentro de sua própria coalizão para o centrista Sergio Massa; e se parecer conciliatória demais, ela poderia abrir a guarda para percepções de que é parte da podridão que Milei promete erradicar. Horacio Rodríguez, que também concorreu à indicação presidencial pela coalizão Juntos pela Mudança, tentou um posicionamento mais centrista e acabou com apenas 11% dos votos.

De fato, os apoiadores de Bullrich com frequência se referem à sua posição dura contra a criminalidade quando foi ministra da Segurança — e à narrativa genérica linha-dura que ela transmite, especialmente em meio a uma elevação na violência relacionada a guerras do narcotráfico na cidade de Rosario — como parte de seu apelo, portanto ela terá dificuldades se pretender ajustar sua mensagem.

“O que ela tem a fazer é mais difícil”, afirmou Touzon. “Mesmo que seja muito dura na mensagem, ela tem muita experiência política”, disse ele, e um registro de navegar através da extensão do espectro político. “Provavelmente ela terá capacidade de manobrar.”

As muitas encarnações políticas de Patricia Bullrich

Bullrich percorreu uma longa carreira política, da mulher que era apelidada como “la piba” — “a menina” — e hoje é frequentemente chamada de “buldogue” ou “dama de ferro” pelos animados meios de comunicação argentinos.

Bullrich tem pedigree aristocrata — entre seus ancestrais há um ex-ministro de governo e um ex-prefeito de Buenos Aires; seu sobrenome batiza um shopping center chique na capital. Quando era adolescente, ela se rebelou, juntando-se à juventude esquerdista do partido do líder populista exilado Juan Domingo Perón. Bullrich esteve entre as multidões que se reuniram para dar boas-vindas a Perón em seu retorno a Buenos Aires, em junho de 1973, que se dispersaram conforme facções de direita do movimento abriram fogo contra os militantes de esquerda, matando 13. Bullrich nega ter pertencido ao grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros, apesar de jornalistas investigativos terem documentado o contrário.

É verdadeiro que Bullrich fugiu da Argentina em 1977, conforme uma nova ditadura recém-instalada reprimia a dissidência, assassinando e fazendo desaparecer milhares de pessoas. Depois de sua volta e da volta da democracia à Argentina, Bullrich deixou a ala neoliberal do peronismo liderada pelo então presidente, Carlos Menem, para a coalizão Aliança, criada pelo seu sucessor, Fernando de la Rúa, onde ela forjou uma personagem agressiva, confrontando um dos maiores líderes sindicalistas ao vivo na TV. Bullrich coordenou um corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e algumas categorias de pensionistas quando foi ministra do Trabalho, um movimento que ela defendeu posteriormente qualificando como o tipo de “decisão difícil” necessária em tempos difíceis.

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a candidata Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Sob o governo conservador de Mauricio Macri (2015-2019), Bullrich ganhou proeminência novamente, como ministra da Segurança, saindo em defesa de policiais que puxavam o gatilho no cumprimento do dever e endurecendo a posição do governo em relação à imigração ilegal. Em 2019, ela foi criticada por um ex-aliado por emular o brasileiro Jair Bolsonaro em relação a política de segurança, uma comparação que não pareceu incomodá-la. (Bolsonaro expressou apoio a Milei na semana passada.)

O jornalista e escritor Ricardo Ragendorfer, que passou sete meses pesquisando a trajetória de Bullrich para fazer um livro, afirma que a carreira dela é definida por uma “constante peregrinação pelo espectro político”. “Não acho seja uma pessoa em mutação”, afirmou ele, “mas uma figura política sempre ao lado do vencedor”.

Nesse sentido, a metamorfose de Bullrich pode ser interpretada como um espelho da sociedade argentina — hoje exausta e irritada. Mas resta ver como ela responderá ao maior apetite do público por mudanças. O campo de Bullrich se opôs a algumas das ideias mais radicais de Milei, como eliminar o Banco Central e substituir o peso pelo dólar americano, mas ela planeja “mudanças estruturais profundas” que incluem suspender controles monetários “assim que possível” e trocar o sistema de seguridade social que, afirma ela, “humilha” as pessoas” e está impregnado de corrupção, por políticas de seguro-desemprego com limites estritos de tempo.

Bullrich chega para votar nas eleições primárias de domingo carregando doces para autoridades eleitorais em Buenos Aires Foto: Natacha Pisarenko/AP

Mesmo antes das primárias, quando as pesquisas sugeriam que a coalizão Juntos pela Mudança estava numa posição melhor, o campo de Bullrich falava em trabalhar com Milei para cortar o gasto público.

“Eu considero que Javier Milei terá um papel crítico”, afirmou o legislador Luciano Laspina, que atua como conselheiro econômico de Bullrich, durante um debate virtual do Wilson Center, anteriormente este mês.

Cortes de gastos dramáticos podem ocasionar agitação social? Um membro do partido de Bullrich alertou que ela arrisca terminar como o governo de Fernando de la Rúa, que implodiu no fim de 2001 em meio a protestos generalizados e um calote na dívida.

Usando óculos escuros italianos vintage e segurando uma bandeira argentina enquanto esperava a “dama de ferro” chegar a um evento de campanha em Buenos Aires, este mês, a aposentada Alicia Pereyra estava otimista. A idosa de 80 anos é fã de Bullrich desde que assistiu na TV ela enfrentar grandes chefes de sindicatos mais de 20 anos atrás. Ela gosta de sua atitude calma e estilo combativo. “Espero que ela coloque as coisas em ordem”, afirmou Pereyra. “Nós não temos outra opção.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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