Viver em alerta constante: a tensa rotina de quem mora nas regiões de conflito em Israel


‘95% do tempo é uma maravilha viver aqui, mas as épocas de tensões não são épocas fáceis’, conta filho de brasileiros que vive perto da Faixa de Gaza

Por Carolina Marins

ENVIADA ESPECIAL A TEL AVIV * - A recente onda de violência que atinge Israel e os territórios palestinos desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao poder, com mais de 80 mortes entre militares, combatentes e civis dos dois lados do conflito, fez autoridades de segurança do país ligarem o alerta para o risco de novos ataques, com a proximidade de dois feriados importantes para judeus e muçulmanos: a Pessach - a páscoa judaica - e o Ramadã.

Do sul de país, alvos frequentes dos mísseis lançados por militantes palestinos que frequentam a Faixa de Gaza de tempos em tempos, à cosmopolita Tel-Aviv, o temor de uma nova onda de violência não assusta parte dos moradores locais, que busca manter a normalidade. Mas eles reconhecem que a tensão e o medo no local são latentes e lidar com eles é uma habilidade que se aprende com o tempo.

Yanai Gilboa é um israelense filho de brasileiros que mora no kibutz Bror Chail a sete quilômetros da fronteira, e diz que viver na região geralmente é bom, mas quando é ruim, é muito ruim.

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“Noventa e cinco por cento do tempo é uma maravilha viver aqui, o lugar é muito lindo, uma região de agricultura, muito verde, ar livre e puro. Porém, as épocas de tensões não são épocas fáceis”.

Família faz churrasco e dança música russa ao lado de um abrigo antiaéreo na fronteira com a Faixa de Gaza Foto: Carolina Marins/Estadão

Por enquanto, os moradores de Sderot não estão nos 5% da época de tensão. Ao mesmo tempo em que era possível ouvir disparos de armas no campo cultivado que separa a cidade da fronteira com Gaza, famílias e amigos faziam churrasco no parque a poucos metros do muro para festejar o feriado de Purim, celebrado nos dias 6 e 7 de março. Crianças brincavam na área infantil. Logo ao lado deles, é possível ver os bunkers antifoguetes onde os moradores se abrigam em dias de ataques.

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Em Gaza, a maior preocupação das forças de segurança é que grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, EUA e UE, estejam reconstruindo seu arsenal. Jonathan Conricus, ex-porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, a sigla em inglês)explica que quem está naquela área tem menos de cinco segundos para se abrigar caso haja um ataque com foguetes, a depender de quão perto mora, o intervalo cai para dois segundos.

“Há muitos kibutz ao redor, há um a aproximadamente 700 metros de distância da cerca com Gaza, o que é muito perto do confronto. Eles estão dentro da distância de tiro”, conta o oficial. O que traz alguma sensação de segurança, continua ele, é o poderoso sistema de defesa Domo de Ferro, instalado a poucos metros da fronteira para interceptar os foguetes.

Essa tensão latente tem seus impactos psicológicos, diz Gilboa, o israelense filho de brasileiros. “Já que essas tensões vêm de mais de 20 anos, as crianças e adolescentes que cresceram aqui só conhecem isso, essa realidade de ter 15 segundos para correr para um abrigo depois de ouvir a sirene”.

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Gilboa reconhece, no entanto, que seus vizinhos palestinos sentem muito mais os impactos do conflito “por não ter uma Força Aérea e um Exército”.

Campo cultivado que separa a cidade de Sderot do muro com a Faixa de Gaza (ao fundo) Foto: Carolina Marins/Estadão

Ataque em Tel-Aviv

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Numa das maiores cidades de Israel, o convívio com a violência e a tensão latente também fazem parte do cotidiano. Em 9 de março, israelenses celebravam o mesmo feriado do Purim fantasiados na rua Dizengoff, conhecida pelos bares e restaurantes, enquanto a polícia lidava com a cena de um ataque de militantes palestinos.

“Agora as pessoas estão assustadas, mas minutos depois tudo volta ao normal, porque essa é vida”, diz Lili Timber, uma filipina que mora em Israel e ainda estava em choque quando conversou com o Estadão, pois planejava jantar no local onde o ataque aconteceu. Ela contou que estava terminando uma sessão de massagem e tinha combinado de jantar com o marido e os filhos alguns minutos mais tarde.

Lili Timber planejava jantar no local onde o ataque ocorreu em 9 de março Foto: Carolina Marins/Estadão
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“Para as pessoas que vivem aqui, é um choque por algumas horas, mas elas não podem parar de viver”, diz. “Óbvio que não gostamos quando ataques acontecem, mas é como se já estivéssemos acostumados com a situação. É muito difícil, porque não é normal, mas acaba parecendo normal”.

Moradores da avenida acompanhavam a limpeza do local pela polícia com curiosidade, embora não fosse a primeira vez que viam um ataque naquele mesmo local. O morador de um prédio a poucos metros de distância da cena lembra, sem ser identificado, que um ataque semelhante havia ocorrido há quase um ano.

Em abril de 2022, dois atiradores abriram fogo em três locais diferentes da rua, matando duas pessoas. Embora sinta medo, ele conta que se prepara psicologicamente para acontecimentos semelhantes na época dos feriados da páscoa judaica e do Ramadã.

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Moshe Avitz é gerente de um bar na Dizengoff e tem a mesma memória do ataque de 2022 a poucos quarteirões de distância. “Em Israel apenas se convive com isso”, lamenta. “Coisas assim acontecem em Jerusalém quase todos os dias. Em Tel Aviv não é tão comum, mas acontece quase todos anos e espero que algo mude isso.”

Moshe Avitz trabalha em um bar próximo ao local do ataque Foto: Carolina Marins/Estadão

Em duas horas, toda a cena já havia sido limpa e a rua liberada para o tráfego. Alguns bares mais próximos à esquina do ataque continuaram fechados, mas a poucos metros de distância os jantares e festas do Purim seguiam sem nenhuma perturbação. A política, contam autoridades, é a de não dar alarde para os ataques - frustrando assim a intenção de chamar atenção - e seguir com a vida normalmente.

“Esse é o nosso segredo”, brinca Ido Zelkovitz, pesquisador na Universidade de Haifa. “É como vivemos aqui, só seguimos com a nossa vida. Nós não deixamos o terror paralisar nossos corações e mentes”.

* A repórter viajou a convite do Ministério dos Relações Exteriores de Israel

ENVIADA ESPECIAL A TEL AVIV * - A recente onda de violência que atinge Israel e os territórios palestinos desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao poder, com mais de 80 mortes entre militares, combatentes e civis dos dois lados do conflito, fez autoridades de segurança do país ligarem o alerta para o risco de novos ataques, com a proximidade de dois feriados importantes para judeus e muçulmanos: a Pessach - a páscoa judaica - e o Ramadã.

Do sul de país, alvos frequentes dos mísseis lançados por militantes palestinos que frequentam a Faixa de Gaza de tempos em tempos, à cosmopolita Tel-Aviv, o temor de uma nova onda de violência não assusta parte dos moradores locais, que busca manter a normalidade. Mas eles reconhecem que a tensão e o medo no local são latentes e lidar com eles é uma habilidade que se aprende com o tempo.

Yanai Gilboa é um israelense filho de brasileiros que mora no kibutz Bror Chail a sete quilômetros da fronteira, e diz que viver na região geralmente é bom, mas quando é ruim, é muito ruim.

“Noventa e cinco por cento do tempo é uma maravilha viver aqui, o lugar é muito lindo, uma região de agricultura, muito verde, ar livre e puro. Porém, as épocas de tensões não são épocas fáceis”.

Família faz churrasco e dança música russa ao lado de um abrigo antiaéreo na fronteira com a Faixa de Gaza Foto: Carolina Marins/Estadão

Por enquanto, os moradores de Sderot não estão nos 5% da época de tensão. Ao mesmo tempo em que era possível ouvir disparos de armas no campo cultivado que separa a cidade da fronteira com Gaza, famílias e amigos faziam churrasco no parque a poucos metros do muro para festejar o feriado de Purim, celebrado nos dias 6 e 7 de março. Crianças brincavam na área infantil. Logo ao lado deles, é possível ver os bunkers antifoguetes onde os moradores se abrigam em dias de ataques.

Em Gaza, a maior preocupação das forças de segurança é que grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, EUA e UE, estejam reconstruindo seu arsenal. Jonathan Conricus, ex-porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, a sigla em inglês)explica que quem está naquela área tem menos de cinco segundos para se abrigar caso haja um ataque com foguetes, a depender de quão perto mora, o intervalo cai para dois segundos.

“Há muitos kibutz ao redor, há um a aproximadamente 700 metros de distância da cerca com Gaza, o que é muito perto do confronto. Eles estão dentro da distância de tiro”, conta o oficial. O que traz alguma sensação de segurança, continua ele, é o poderoso sistema de defesa Domo de Ferro, instalado a poucos metros da fronteira para interceptar os foguetes.

Essa tensão latente tem seus impactos psicológicos, diz Gilboa, o israelense filho de brasileiros. “Já que essas tensões vêm de mais de 20 anos, as crianças e adolescentes que cresceram aqui só conhecem isso, essa realidade de ter 15 segundos para correr para um abrigo depois de ouvir a sirene”.

Gilboa reconhece, no entanto, que seus vizinhos palestinos sentem muito mais os impactos do conflito “por não ter uma Força Aérea e um Exército”.

Campo cultivado que separa a cidade de Sderot do muro com a Faixa de Gaza (ao fundo) Foto: Carolina Marins/Estadão

Ataque em Tel-Aviv

Numa das maiores cidades de Israel, o convívio com a violência e a tensão latente também fazem parte do cotidiano. Em 9 de março, israelenses celebravam o mesmo feriado do Purim fantasiados na rua Dizengoff, conhecida pelos bares e restaurantes, enquanto a polícia lidava com a cena de um ataque de militantes palestinos.

“Agora as pessoas estão assustadas, mas minutos depois tudo volta ao normal, porque essa é vida”, diz Lili Timber, uma filipina que mora em Israel e ainda estava em choque quando conversou com o Estadão, pois planejava jantar no local onde o ataque aconteceu. Ela contou que estava terminando uma sessão de massagem e tinha combinado de jantar com o marido e os filhos alguns minutos mais tarde.

Lili Timber planejava jantar no local onde o ataque ocorreu em 9 de março Foto: Carolina Marins/Estadão

“Para as pessoas que vivem aqui, é um choque por algumas horas, mas elas não podem parar de viver”, diz. “Óbvio que não gostamos quando ataques acontecem, mas é como se já estivéssemos acostumados com a situação. É muito difícil, porque não é normal, mas acaba parecendo normal”.

Moradores da avenida acompanhavam a limpeza do local pela polícia com curiosidade, embora não fosse a primeira vez que viam um ataque naquele mesmo local. O morador de um prédio a poucos metros de distância da cena lembra, sem ser identificado, que um ataque semelhante havia ocorrido há quase um ano.

Em abril de 2022, dois atiradores abriram fogo em três locais diferentes da rua, matando duas pessoas. Embora sinta medo, ele conta que se prepara psicologicamente para acontecimentos semelhantes na época dos feriados da páscoa judaica e do Ramadã.

Moshe Avitz é gerente de um bar na Dizengoff e tem a mesma memória do ataque de 2022 a poucos quarteirões de distância. “Em Israel apenas se convive com isso”, lamenta. “Coisas assim acontecem em Jerusalém quase todos os dias. Em Tel Aviv não é tão comum, mas acontece quase todos anos e espero que algo mude isso.”

Moshe Avitz trabalha em um bar próximo ao local do ataque Foto: Carolina Marins/Estadão

Em duas horas, toda a cena já havia sido limpa e a rua liberada para o tráfego. Alguns bares mais próximos à esquina do ataque continuaram fechados, mas a poucos metros de distância os jantares e festas do Purim seguiam sem nenhuma perturbação. A política, contam autoridades, é a de não dar alarde para os ataques - frustrando assim a intenção de chamar atenção - e seguir com a vida normalmente.

“Esse é o nosso segredo”, brinca Ido Zelkovitz, pesquisador na Universidade de Haifa. “É como vivemos aqui, só seguimos com a nossa vida. Nós não deixamos o terror paralisar nossos corações e mentes”.

* A repórter viajou a convite do Ministério dos Relações Exteriores de Israel

ENVIADA ESPECIAL A TEL AVIV * - A recente onda de violência que atinge Israel e os territórios palestinos desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao poder, com mais de 80 mortes entre militares, combatentes e civis dos dois lados do conflito, fez autoridades de segurança do país ligarem o alerta para o risco de novos ataques, com a proximidade de dois feriados importantes para judeus e muçulmanos: a Pessach - a páscoa judaica - e o Ramadã.

Do sul de país, alvos frequentes dos mísseis lançados por militantes palestinos que frequentam a Faixa de Gaza de tempos em tempos, à cosmopolita Tel-Aviv, o temor de uma nova onda de violência não assusta parte dos moradores locais, que busca manter a normalidade. Mas eles reconhecem que a tensão e o medo no local são latentes e lidar com eles é uma habilidade que se aprende com o tempo.

Yanai Gilboa é um israelense filho de brasileiros que mora no kibutz Bror Chail a sete quilômetros da fronteira, e diz que viver na região geralmente é bom, mas quando é ruim, é muito ruim.

“Noventa e cinco por cento do tempo é uma maravilha viver aqui, o lugar é muito lindo, uma região de agricultura, muito verde, ar livre e puro. Porém, as épocas de tensões não são épocas fáceis”.

Família faz churrasco e dança música russa ao lado de um abrigo antiaéreo na fronteira com a Faixa de Gaza Foto: Carolina Marins/Estadão

Por enquanto, os moradores de Sderot não estão nos 5% da época de tensão. Ao mesmo tempo em que era possível ouvir disparos de armas no campo cultivado que separa a cidade da fronteira com Gaza, famílias e amigos faziam churrasco no parque a poucos metros do muro para festejar o feriado de Purim, celebrado nos dias 6 e 7 de março. Crianças brincavam na área infantil. Logo ao lado deles, é possível ver os bunkers antifoguetes onde os moradores se abrigam em dias de ataques.

Em Gaza, a maior preocupação das forças de segurança é que grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, EUA e UE, estejam reconstruindo seu arsenal. Jonathan Conricus, ex-porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, a sigla em inglês)explica que quem está naquela área tem menos de cinco segundos para se abrigar caso haja um ataque com foguetes, a depender de quão perto mora, o intervalo cai para dois segundos.

“Há muitos kibutz ao redor, há um a aproximadamente 700 metros de distância da cerca com Gaza, o que é muito perto do confronto. Eles estão dentro da distância de tiro”, conta o oficial. O que traz alguma sensação de segurança, continua ele, é o poderoso sistema de defesa Domo de Ferro, instalado a poucos metros da fronteira para interceptar os foguetes.

Essa tensão latente tem seus impactos psicológicos, diz Gilboa, o israelense filho de brasileiros. “Já que essas tensões vêm de mais de 20 anos, as crianças e adolescentes que cresceram aqui só conhecem isso, essa realidade de ter 15 segundos para correr para um abrigo depois de ouvir a sirene”.

Gilboa reconhece, no entanto, que seus vizinhos palestinos sentem muito mais os impactos do conflito “por não ter uma Força Aérea e um Exército”.

Campo cultivado que separa a cidade de Sderot do muro com a Faixa de Gaza (ao fundo) Foto: Carolina Marins/Estadão

Ataque em Tel-Aviv

Numa das maiores cidades de Israel, o convívio com a violência e a tensão latente também fazem parte do cotidiano. Em 9 de março, israelenses celebravam o mesmo feriado do Purim fantasiados na rua Dizengoff, conhecida pelos bares e restaurantes, enquanto a polícia lidava com a cena de um ataque de militantes palestinos.

“Agora as pessoas estão assustadas, mas minutos depois tudo volta ao normal, porque essa é vida”, diz Lili Timber, uma filipina que mora em Israel e ainda estava em choque quando conversou com o Estadão, pois planejava jantar no local onde o ataque aconteceu. Ela contou que estava terminando uma sessão de massagem e tinha combinado de jantar com o marido e os filhos alguns minutos mais tarde.

Lili Timber planejava jantar no local onde o ataque ocorreu em 9 de março Foto: Carolina Marins/Estadão

“Para as pessoas que vivem aqui, é um choque por algumas horas, mas elas não podem parar de viver”, diz. “Óbvio que não gostamos quando ataques acontecem, mas é como se já estivéssemos acostumados com a situação. É muito difícil, porque não é normal, mas acaba parecendo normal”.

Moradores da avenida acompanhavam a limpeza do local pela polícia com curiosidade, embora não fosse a primeira vez que viam um ataque naquele mesmo local. O morador de um prédio a poucos metros de distância da cena lembra, sem ser identificado, que um ataque semelhante havia ocorrido há quase um ano.

Em abril de 2022, dois atiradores abriram fogo em três locais diferentes da rua, matando duas pessoas. Embora sinta medo, ele conta que se prepara psicologicamente para acontecimentos semelhantes na época dos feriados da páscoa judaica e do Ramadã.

Moshe Avitz é gerente de um bar na Dizengoff e tem a mesma memória do ataque de 2022 a poucos quarteirões de distância. “Em Israel apenas se convive com isso”, lamenta. “Coisas assim acontecem em Jerusalém quase todos os dias. Em Tel Aviv não é tão comum, mas acontece quase todos anos e espero que algo mude isso.”

Moshe Avitz trabalha em um bar próximo ao local do ataque Foto: Carolina Marins/Estadão

Em duas horas, toda a cena já havia sido limpa e a rua liberada para o tráfego. Alguns bares mais próximos à esquina do ataque continuaram fechados, mas a poucos metros de distância os jantares e festas do Purim seguiam sem nenhuma perturbação. A política, contam autoridades, é a de não dar alarde para os ataques - frustrando assim a intenção de chamar atenção - e seguir com a vida normalmente.

“Esse é o nosso segredo”, brinca Ido Zelkovitz, pesquisador na Universidade de Haifa. “É como vivemos aqui, só seguimos com a nossa vida. Nós não deixamos o terror paralisar nossos corações e mentes”.

* A repórter viajou a convite do Ministério dos Relações Exteriores de Israel

ENVIADA ESPECIAL A TEL AVIV * - A recente onda de violência que atinge Israel e os territórios palestinos desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao poder, com mais de 80 mortes entre militares, combatentes e civis dos dois lados do conflito, fez autoridades de segurança do país ligarem o alerta para o risco de novos ataques, com a proximidade de dois feriados importantes para judeus e muçulmanos: a Pessach - a páscoa judaica - e o Ramadã.

Do sul de país, alvos frequentes dos mísseis lançados por militantes palestinos que frequentam a Faixa de Gaza de tempos em tempos, à cosmopolita Tel-Aviv, o temor de uma nova onda de violência não assusta parte dos moradores locais, que busca manter a normalidade. Mas eles reconhecem que a tensão e o medo no local são latentes e lidar com eles é uma habilidade que se aprende com o tempo.

Yanai Gilboa é um israelense filho de brasileiros que mora no kibutz Bror Chail a sete quilômetros da fronteira, e diz que viver na região geralmente é bom, mas quando é ruim, é muito ruim.

“Noventa e cinco por cento do tempo é uma maravilha viver aqui, o lugar é muito lindo, uma região de agricultura, muito verde, ar livre e puro. Porém, as épocas de tensões não são épocas fáceis”.

Família faz churrasco e dança música russa ao lado de um abrigo antiaéreo na fronteira com a Faixa de Gaza Foto: Carolina Marins/Estadão

Por enquanto, os moradores de Sderot não estão nos 5% da época de tensão. Ao mesmo tempo em que era possível ouvir disparos de armas no campo cultivado que separa a cidade da fronteira com Gaza, famílias e amigos faziam churrasco no parque a poucos metros do muro para festejar o feriado de Purim, celebrado nos dias 6 e 7 de março. Crianças brincavam na área infantil. Logo ao lado deles, é possível ver os bunkers antifoguetes onde os moradores se abrigam em dias de ataques.

Em Gaza, a maior preocupação das forças de segurança é que grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, EUA e UE, estejam reconstruindo seu arsenal. Jonathan Conricus, ex-porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, a sigla em inglês)explica que quem está naquela área tem menos de cinco segundos para se abrigar caso haja um ataque com foguetes, a depender de quão perto mora, o intervalo cai para dois segundos.

“Há muitos kibutz ao redor, há um a aproximadamente 700 metros de distância da cerca com Gaza, o que é muito perto do confronto. Eles estão dentro da distância de tiro”, conta o oficial. O que traz alguma sensação de segurança, continua ele, é o poderoso sistema de defesa Domo de Ferro, instalado a poucos metros da fronteira para interceptar os foguetes.

Essa tensão latente tem seus impactos psicológicos, diz Gilboa, o israelense filho de brasileiros. “Já que essas tensões vêm de mais de 20 anos, as crianças e adolescentes que cresceram aqui só conhecem isso, essa realidade de ter 15 segundos para correr para um abrigo depois de ouvir a sirene”.

Gilboa reconhece, no entanto, que seus vizinhos palestinos sentem muito mais os impactos do conflito “por não ter uma Força Aérea e um Exército”.

Campo cultivado que separa a cidade de Sderot do muro com a Faixa de Gaza (ao fundo) Foto: Carolina Marins/Estadão

Ataque em Tel-Aviv

Numa das maiores cidades de Israel, o convívio com a violência e a tensão latente também fazem parte do cotidiano. Em 9 de março, israelenses celebravam o mesmo feriado do Purim fantasiados na rua Dizengoff, conhecida pelos bares e restaurantes, enquanto a polícia lidava com a cena de um ataque de militantes palestinos.

“Agora as pessoas estão assustadas, mas minutos depois tudo volta ao normal, porque essa é vida”, diz Lili Timber, uma filipina que mora em Israel e ainda estava em choque quando conversou com o Estadão, pois planejava jantar no local onde o ataque aconteceu. Ela contou que estava terminando uma sessão de massagem e tinha combinado de jantar com o marido e os filhos alguns minutos mais tarde.

Lili Timber planejava jantar no local onde o ataque ocorreu em 9 de março Foto: Carolina Marins/Estadão

“Para as pessoas que vivem aqui, é um choque por algumas horas, mas elas não podem parar de viver”, diz. “Óbvio que não gostamos quando ataques acontecem, mas é como se já estivéssemos acostumados com a situação. É muito difícil, porque não é normal, mas acaba parecendo normal”.

Moradores da avenida acompanhavam a limpeza do local pela polícia com curiosidade, embora não fosse a primeira vez que viam um ataque naquele mesmo local. O morador de um prédio a poucos metros de distância da cena lembra, sem ser identificado, que um ataque semelhante havia ocorrido há quase um ano.

Em abril de 2022, dois atiradores abriram fogo em três locais diferentes da rua, matando duas pessoas. Embora sinta medo, ele conta que se prepara psicologicamente para acontecimentos semelhantes na época dos feriados da páscoa judaica e do Ramadã.

Moshe Avitz é gerente de um bar na Dizengoff e tem a mesma memória do ataque de 2022 a poucos quarteirões de distância. “Em Israel apenas se convive com isso”, lamenta. “Coisas assim acontecem em Jerusalém quase todos os dias. Em Tel Aviv não é tão comum, mas acontece quase todos anos e espero que algo mude isso.”

Moshe Avitz trabalha em um bar próximo ao local do ataque Foto: Carolina Marins/Estadão

Em duas horas, toda a cena já havia sido limpa e a rua liberada para o tráfego. Alguns bares mais próximos à esquina do ataque continuaram fechados, mas a poucos metros de distância os jantares e festas do Purim seguiam sem nenhuma perturbação. A política, contam autoridades, é a de não dar alarde para os ataques - frustrando assim a intenção de chamar atenção - e seguir com a vida normalmente.

“Esse é o nosso segredo”, brinca Ido Zelkovitz, pesquisador na Universidade de Haifa. “É como vivemos aqui, só seguimos com a nossa vida. Nós não deixamos o terror paralisar nossos corações e mentes”.

* A repórter viajou a convite do Ministério dos Relações Exteriores de Israel

ENVIADA ESPECIAL A TEL AVIV * - A recente onda de violência que atinge Israel e os territórios palestinos desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao poder, com mais de 80 mortes entre militares, combatentes e civis dos dois lados do conflito, fez autoridades de segurança do país ligarem o alerta para o risco de novos ataques, com a proximidade de dois feriados importantes para judeus e muçulmanos: a Pessach - a páscoa judaica - e o Ramadã.

Do sul de país, alvos frequentes dos mísseis lançados por militantes palestinos que frequentam a Faixa de Gaza de tempos em tempos, à cosmopolita Tel-Aviv, o temor de uma nova onda de violência não assusta parte dos moradores locais, que busca manter a normalidade. Mas eles reconhecem que a tensão e o medo no local são latentes e lidar com eles é uma habilidade que se aprende com o tempo.

Yanai Gilboa é um israelense filho de brasileiros que mora no kibutz Bror Chail a sete quilômetros da fronteira, e diz que viver na região geralmente é bom, mas quando é ruim, é muito ruim.

“Noventa e cinco por cento do tempo é uma maravilha viver aqui, o lugar é muito lindo, uma região de agricultura, muito verde, ar livre e puro. Porém, as épocas de tensões não são épocas fáceis”.

Família faz churrasco e dança música russa ao lado de um abrigo antiaéreo na fronteira com a Faixa de Gaza Foto: Carolina Marins/Estadão

Por enquanto, os moradores de Sderot não estão nos 5% da época de tensão. Ao mesmo tempo em que era possível ouvir disparos de armas no campo cultivado que separa a cidade da fronteira com Gaza, famílias e amigos faziam churrasco no parque a poucos metros do muro para festejar o feriado de Purim, celebrado nos dias 6 e 7 de março. Crianças brincavam na área infantil. Logo ao lado deles, é possível ver os bunkers antifoguetes onde os moradores se abrigam em dias de ataques.

Em Gaza, a maior preocupação das forças de segurança é que grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, considerados terroristas por Israel, EUA e UE, estejam reconstruindo seu arsenal. Jonathan Conricus, ex-porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, a sigla em inglês)explica que quem está naquela área tem menos de cinco segundos para se abrigar caso haja um ataque com foguetes, a depender de quão perto mora, o intervalo cai para dois segundos.

“Há muitos kibutz ao redor, há um a aproximadamente 700 metros de distância da cerca com Gaza, o que é muito perto do confronto. Eles estão dentro da distância de tiro”, conta o oficial. O que traz alguma sensação de segurança, continua ele, é o poderoso sistema de defesa Domo de Ferro, instalado a poucos metros da fronteira para interceptar os foguetes.

Essa tensão latente tem seus impactos psicológicos, diz Gilboa, o israelense filho de brasileiros. “Já que essas tensões vêm de mais de 20 anos, as crianças e adolescentes que cresceram aqui só conhecem isso, essa realidade de ter 15 segundos para correr para um abrigo depois de ouvir a sirene”.

Gilboa reconhece, no entanto, que seus vizinhos palestinos sentem muito mais os impactos do conflito “por não ter uma Força Aérea e um Exército”.

Campo cultivado que separa a cidade de Sderot do muro com a Faixa de Gaza (ao fundo) Foto: Carolina Marins/Estadão

Ataque em Tel-Aviv

Numa das maiores cidades de Israel, o convívio com a violência e a tensão latente também fazem parte do cotidiano. Em 9 de março, israelenses celebravam o mesmo feriado do Purim fantasiados na rua Dizengoff, conhecida pelos bares e restaurantes, enquanto a polícia lidava com a cena de um ataque de militantes palestinos.

“Agora as pessoas estão assustadas, mas minutos depois tudo volta ao normal, porque essa é vida”, diz Lili Timber, uma filipina que mora em Israel e ainda estava em choque quando conversou com o Estadão, pois planejava jantar no local onde o ataque aconteceu. Ela contou que estava terminando uma sessão de massagem e tinha combinado de jantar com o marido e os filhos alguns minutos mais tarde.

Lili Timber planejava jantar no local onde o ataque ocorreu em 9 de março Foto: Carolina Marins/Estadão

“Para as pessoas que vivem aqui, é um choque por algumas horas, mas elas não podem parar de viver”, diz. “Óbvio que não gostamos quando ataques acontecem, mas é como se já estivéssemos acostumados com a situação. É muito difícil, porque não é normal, mas acaba parecendo normal”.

Moradores da avenida acompanhavam a limpeza do local pela polícia com curiosidade, embora não fosse a primeira vez que viam um ataque naquele mesmo local. O morador de um prédio a poucos metros de distância da cena lembra, sem ser identificado, que um ataque semelhante havia ocorrido há quase um ano.

Em abril de 2022, dois atiradores abriram fogo em três locais diferentes da rua, matando duas pessoas. Embora sinta medo, ele conta que se prepara psicologicamente para acontecimentos semelhantes na época dos feriados da páscoa judaica e do Ramadã.

Moshe Avitz é gerente de um bar na Dizengoff e tem a mesma memória do ataque de 2022 a poucos quarteirões de distância. “Em Israel apenas se convive com isso”, lamenta. “Coisas assim acontecem em Jerusalém quase todos os dias. Em Tel Aviv não é tão comum, mas acontece quase todos anos e espero que algo mude isso.”

Moshe Avitz trabalha em um bar próximo ao local do ataque Foto: Carolina Marins/Estadão

Em duas horas, toda a cena já havia sido limpa e a rua liberada para o tráfego. Alguns bares mais próximos à esquina do ataque continuaram fechados, mas a poucos metros de distância os jantares e festas do Purim seguiam sem nenhuma perturbação. A política, contam autoridades, é a de não dar alarde para os ataques - frustrando assim a intenção de chamar atenção - e seguir com a vida normalmente.

“Esse é o nosso segredo”, brinca Ido Zelkovitz, pesquisador na Universidade de Haifa. “É como vivemos aqui, só seguimos com a nossa vida. Nós não deixamos o terror paralisar nossos corações e mentes”.

* A repórter viajou a convite do Ministério dos Relações Exteriores de Israel

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