MOSCOU - Vladimir Kara-Murza, um dos mais proeminentes opositores de Vladimir Putin, foi condenado a 25 anos de prisão por traição e divulgação de informações falsas no contexto da guerra na Ucrânia.
O tribunal russo completou o processo envolvendo o ativista anti-Kremlin cerca de 1 ano depois de ele ser detido em prisão preventiva.
Ele foi considerado culpado de traição, espalhando informações “falsas” sobre o exército russo e sendo afiliado a uma “organização indesejável”.
O ex-jornalista e político russo-britânico é o último de vários oponentes de Putin a ser preso ou forçado a fugir da Rússia. Ele negou todas as acusações.
Sua sentença de 25 anos é a pena mais longa que uma figura da oposição recebeu até agora.
Na semana passada, ele disse em um comunicado: “Sustento cada palavra que disse... Não só não me arrependo de nada, como tenho orgulho disso”.
“Eu sei que chegará o dia em que a escuridão que envolve nosso país se dissipará”, acrescentou ele em comentários publicados online. “Nossa sociedade abrirá os olhos e estremecerá quando perceber que crimes foram cometidos em seu nome.”
O juiz que anunciou a sentença disse que ela seria cumprida em uma “colônia correcional de regime estrito” e que Kara-Murza seria multado em 400.000 rublos (US$ 4.900; £ 4.000).
Quem é Kara-Murza
Kara-Murza é um ex-jornalista próximo do opositor Boris Nemtsov, que foi assassinado a tiros perto do Kremlin em 2015, e de Mikhail Khodorkovski, um ex-oligarca que se tornou crítico do presidente Vladimir Putin.
O opositor, que continua morando na Rússia, afirmou que foi envenenado duas vezes, em 2015 e 2017, devido as suas posições políticas.
Kara-Murza foi declarado “agente estrangeiro” junto com vários jornalistas, incluindo Alexei Venediktov, diretor da estação de rádio Eco de Moscou.
Kara-Murza desempenhou um papel fundamental em persuadir os governos ocidentais a sancionar autoridades russas por abusos de direitos humanos e corrupção.
Seu caso foi parcialmente baseado em um discurso que ele fez a políticos nos EUA no ano passado, quando disse que a Rússia estava cometendo crimes de guerra na Ucrânia com bombas coletivas em áreas residenciais e “o bombardeio de maternidades e escolas”.
Essas alegações foram documentadas de forma independente - mas consideradas falsas por investigadores russos que disseram que o Ministério da Defesa “não permitia o uso de meios proibidos de gravação da guerra” e insistiam que a população civil da Ucrânia não era um alvo.
“Só me culpo por uma coisa”, disse Kara-Murza. “Não consegui convencer o suficiente de meus compatriotas e políticos em países democráticos do perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e para o mundo.”
A sentença de Kara-Murza foi amplamente condenada, com o governo britânico convocando seu embaixador russo.
“A falta de compromisso da Rússia em proteger os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante”, disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, em comunicado.
O grupo de campanha Human Rights Watch descreveu o veredicto como uma “farsa da justiça”.
“As autoridades russas devem anular imediatamente o veredicto e libertá-lo incondicionalmente”, escreveu nas redes sociais. / AP e AFP