Quando ela acordou na manhã de domingo, Màiri Robertson Carrey não tinha certeza o que ela queria fazer no seu 12º aniversário de casamento. Mas no momento em que seu marido a perguntou como ela queria passar o dia, ela já sabia a resposta “Eu acho que nós vamos tratar um encalhamento em massa de baleias na praia”.
Màiri, uma médica voluntária de animais marinhos que trabalha em tempo integral no Bumblebee Conservation Trust, tinha acabado de receber uma mensagem de texto angustiante pedindo por voluntários para ajudar com as 55 baleias-pilotos em uma praia no noroeste da Escócia.
Imediatamente, seu marido concordou em passar o dia derramando água nas baleias encalhadas para ter certeza de que seus respiradores estavam limpos de água e areia. Fazer tudo que eles podiam para deixá-las preparadas para voltar a flutuar na água era o jeito certo de comemorar o aniversário deles, diz.
O casal pegou um saco de lanches enquanto corriam para a jornada de mais de duas horas de sua cidade natal Scarista, na Ilha de Harris, para a praia de North Tolsta, na Ilha de Lewis. A ilha fica em torno de 7 horas de carro de Edimburgo, na Escócia.
Quando chegaram, apenas 12 baleias estavam respirando - oito adultas e quatro filhotes. O encalhamento das 55 baleias-pilotos foi primeiramente reportada para o British Divers Marine Life Rescue mais cedo no sábado. Dan Jarvis, o diretor de bem-estar e conservação da organização, disse que a maioria do grupo morreu logo após encalharem na praia.
É sempre difícil fazer com que baleias sobreviventes voltem para a água por causa do seu tamanho e peso, mas nesse caso foi especialmente difícil porque a maré estava trabalhando contra eles, Jarvis relata. Mesmo assim, o grupo de voluntários, trabalhadores de caridade marinha, oficiais da guarda costeira e outras pessoas foram capazes de reflutuar uma baleia com sucesso.
Uma investigação está sendo feita para determinar como as baleias foram parar na praia e a sua causa da morte. Oficiais já têm uma hipótese em mente. Uma das baleias mortas apareceu com um prolapso vaginal, sugerindo que ela poderia estar tendo dificuldade para dar a luz. Especialistas acreditam que esse pode ser o porquê de todo o grupo ter encalhado.
“Baleias-pilotos têm forte senso social e emocional uma com as outras”, Jarvis explicou. “Se uma das baleias está em meio a dificuldades e ficar encalhada, outras a seguirão e também acabarão encalhadas.” Segundo o especialista, baleias-pilotos são relativamente conhecidas por encalhamentos em massa.
Entretanto, ele acrescentou que todas essas evidências devem ser analisadas antes de chegar a uma conclusão consolidada. O Esquema de Encalhamento de Animais Marinhos Escocês está liderando a investigação. Também é possível que o grupo estava doente por interferência humana. Apenas os laudos da autópsia, que levarão algumas semanas, poderão concluir a causa da morte.
Esse pode ser o “maior encalhamento fatal em massa que já tivemos na Escócia em décadas”, o Esquema de Encalhamento de Animais Marinhos Escocês disse no Twitter. Jarvis disse que encalhamento de baleias estão crescendo no Reino Unido. Especialistas estão investigando os motivos para isso.
Baleias podem encalhar na areia por várias razões, incluindo doenças ou ferimentos, filhotes separados das mães, ou idosos que se separam do grupo. Uma vez encalhadas, as baleias não conseguem voltar para a água e - pesando aproximadamente duas toneladas cada uma - não conseguem suportar seu próprio peso, disse Jarvis. A estrutura óssea delas começa a esmagar e lesões começam a se desenvolver pela areia.
Voluntários e as baleias devem esperar que a maré volte ao normal para que, então, o mamífero consiga entrar novamente no mar. Quando a maré mudou, duas baleias foram reflutuadas, mas uma delas retornou à praia. Apenas a outra sobreviveu.
Foi enquanto esperavam que a maré mudasse, que Màiri, de 54 anos, e outros voluntários fizeram sua parte. Ela foi informada de que vozes humanas podem ser confortantes para mamíferos. Quando ela ficou sem palavras para as três baleias que ela estava cuidando, ela começou a cantarolar. Màiri ficou com as baleias durante cinco horas na praia, apesar dos ventos intensos e do mar agitado.
Apenas antes das 16h foi decidido que as baleias restantes não poderiam voltar para a água por conta da praia rasa e das ondas fortes, e elas teriam que passar por eutanásia. “Eu estava cantando canções gaélicas escocesas para elas, e então, quando foi decidido que ficaríamos parados, eu fui me despedir de cada uma delas.”
Para a voluntária, o dia “intensamente emocional” foi uma “experiência angustiante “que ela espera não viver novamente. “Eu não tenho dormido muito bem desde então”, desabafa. Ela disse que toda a ilha está melancólica. “As pessoas são muito próximas da natureza aqui. Essas baleias nadam nas águas e nós as vemos todos os dias.”
Essa não foi o primeiro encalhamento em massa que Màiri testemunhou perto de sua cidade natal, mas essa foi a primeira vez que ela se voluntariou para ajudar. No ano passado, ela fez um curso de treinamento médico para vida marinha na Ilha de Harris, em que ela aprendeu como ajudar em um resgate de mamíferos.
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Sem esses ensinamentos básicos ensinados pelo British Divers Marine Life Rescue, ela não conseguiria ajudar as baleias em suas horas finais. “Eu treinei exatamente para essa situação. Eu tinha minha mala pronta no porta-malas do meu carro”, ela conta. “Mas eu nunca pensei que eu de fato iria ajudar em um resgate de 55 baleias-pilotos.”
O marido de Carrey não havia passado por treinamento, então ele não poderia se envolver com as baleias, mas ele fez sua parte ajudando a fotografar e medir os animais no final do dia, quando as autoridades iniciaram a investigação.
Para Carrey, é um aniversário de casamento que ela nunca esquecerá, disse ela./Washington Post.