Xi Jinping obteve nesta sexta-feira, 10, um inédito terceiro mandato presidencial na China após uma votação formal do órgão legislativo do país. Foram 2.952 votos a favor, zero contra e nenhuma abstenção, reforçando seu domínio como o líder mais poderoso do país desde Mao Tsé-tung, que ficou 27 anos no poder.
A vitória foi apenas a confirmação da decisão formal de outubro do ano passado, quando Xi Jinping foi nomeado para seu terceiro mandato de cinco anos à frente da China, e consolidou a ampliação do seu poder dentro do Partido Comunista Chinês (PCC). Xi apresentou uma nova cúpula repleta de partidários, um dia depois de orquestrar a remoção do ex-rival Li Keqiang dos altos escalões do partido.
Em um conjunto de movimentos colocados em prática durante a reunião partidária de outubro passado, Xi rompeu com uma tradição segundo a qual os líderes chineses entregavam o poder uma vez por década. Um limite de dois mandatos para a presidência foi eliminado da constituição chinesa, levando a sugestões de que ele poderia permanecer no poder por toda a vida.
“A China entrou em uma nova era. A era do ‘Xi máximo’”, disse Neil Thomas, analista de política chinesa do Eurasia Group. O resultado da reunião do PCC, disse Thomas, “significa mais apoio às políticas de Xi, o que se traduz em um foco mais forte no controle político, estatismo econômico e diplomacia assertiva”.
Desde que assumiu a liderança do partido no final de 2012, Xi transformou a China, expurgando potenciais rivais, esmagando a dissidência e reafirmando o papel central do PCC na sociedade. A pandemia de covid-19 junto à desaceleração econômica, que analistas apontavam como entraves ao novo mandato de Xi, foram deixadas de lado durante o congresso, com o presidente saindo aclamado e pedindo aos membros que continuassem em sintonia com ele “no pensamento, na política e na ação”.
No encontro, Xi reforçou seu status aprovando emendas à carta do partido – suas regras fundamentais – para aumentar sua autoridade. O texto da resolução final da reunião apontou que a liderança de Xi era essencial para “erradicar graves riscos que estavam presentes dentro do partido, estado e militares”, aparentemente referindo-se à corrupção e deslealdade.
A reunião do Congresso Nacional do Povo (NPC), em Pequim, também deve eleger formalmente um novo vice-presidente para substituir Wang Qishan. Os deputados se concentraram em um projeto de reforma institucional que visa fortalecer o Ministério da Ciência e Tecnologia e as capacidades da China no setor de tecnologia.
Entenda a ascensão de Xi Jiping
Xi tornou prioritário o desenvolvimento destes setores em busca da autossuficiência da China diante do que Pequim vê como uma política de “contenção” do Ocidente para dificultar seu desenvolvimento.
Internamente, a China enfrenta uma recuperação desafiadora após três anos de política de covid zero de Xi, confiança frágil entre consumidores e empresas e demanda fraca pelas exportações chinesas.
A economia cresceu apenas 3% no ano passado, um de seus piores desempenhos em décadas. Durante a sessão do parlamento, o governo estabeleceu uma modesta meta de crescimento para este ano, de apenas 5%.
“Em seu terceiro mandato, Xi precisará se concentrar no renascimento econômico”, disse Willy Lam, membro sênior da Jamestown Foundation, um think tank dos EUA. “Mas se ele continuar com o que tem feito - controle mais rígido do partido e do Estado sobre o setor privado e confronto com o Ocidente, suas perspectivas de sucesso não serão animadoras.”
Líder chinês mais poderoso em décadas
Xi preparou o terreno para outro mandato quando eliminou os limites do mandato presidencial em 2018 e se tornou o líder mais poderoso da China desde Mao Zedong, que fundou a República Popular.
A presidência é em grande parte cerimonial, e a principal posição de poder de Xi foi estendida em outubro passado, quando ele foi reconfirmado por mais cinco anos como secretário-geral do comitê central do Partido Comunista.
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Durante a votação de sexta-feira, Xi conversou com o candidato a primeiro-ministro Li Qiang, que deve ser confirmado no sábado para o segundo cargo mais alto da China, um cargo que coloca o ex-chefe do partido de Xangai e aliado de Xi no comando da economia.
Outros funcionários aprovados por Xi devem ser eleitos ou nomeados para cargos no governo durante este fim de semana, incluindo vice-primeiros-ministros, um governador do banco central e vários outros ministros e chefes de departamento.
Autor de uma biografia do presidente, o escritor e jornalista suíço Adrian Geiges acredita que Xi “tem realmente uma visão para a China”. “Ele quer que a China se torne o país mais poderoso do mundo”, disse ele à AFP.
Durante décadas, a China, fria pelo caos político e por um culto à personalidade durante o reinado de seu líder e fundador Mao Tsé-tung (1949-1976), promoveu um sistema de governança mais colegial nos mais altos escalões de poder.
Sob este modelo, os antecessores de Xi - Jiang Zemin e Hu Jintao - renunciaram após 10 anos no cargo. Mas Xi pôs um fim a esta regra, abolindo o limite constitucional de dois mandatos presidenciais em 2018, enquanto alimentava um culto incipiente à personalidade.
Xi Jinping se tornará assim o líder de maior longevidade na história recente do gigante asiático. Dentro de seus 70 anos, quando seu terceiro mandato terminar, ele poderá até mesmo aspirar a mais cinco anos como presidente se nenhum sucessor confiável surgir nesse meio tempo.
Mas a segunda maior economia do mundo enfrenta muitos desafios pela frente: crescimento lento, queda na taxa de natalidade, dificuldades no setor imobiliário e uma imagem internacional manchada.
As relações com os Estados Unidos estão em seu ponto mais baixo em décadas, com múltiplas disputas que vão desde o status de Taiwan até o tratamento da minoria muçulmana Uighur e a rivalidade tecnológica. Xi denunciou esta semana a “política de contenção, cerco e repressão contra a China” perseguida pelos “países ocidentais liderados pelos Estados Unidos”, que “trouxe desafios sem precedentes e severos ao desenvolvimento” do país. /AFP e AP