Xi Jinping e Vladimir Putin se encontram para fortalecer aliança contra o Ocidente


Na primeira viagem ao exterior do presidente chinês desde a pandemia, os dois líderes se reunirão no Usbequistão em meio aos reveses russos na Ucrânia e à desaceleração econômica de Pequim

Por Redação
Atualização:

PEQUIM - O líder da China, Xi Jinping, chegou nesta quarta-feira, 14, ao Usbequistão, onde se reunirá com presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro bilateral entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia.

Os dois líderes enfrentam desafios domésticos, com o chinês tentando fortalecer sua imagem na busca por um terceiro mandato em meio à desaceleração econômica por causa dos rigorosos fechamentos para conter a covid-19, e com o russo lidando com significativos reveses em sua ofensiva no país vizinho.

Esta é a primeira viagem de Xi Jinping desde o recrudescimento da pandemia em 2020, e meio à críticas pela manutenção da política de “covid zero” no país, com severos lockdowns ao menor sinal de contágio. Putin, por sua vez, também faz uma rara viagem ao exterior desde a invasão à Ucrânia há quase sete meses.

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Ambos buscam aprofundar seus laços em meio à piora das relações com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, mas um apoio ainda maior da China à Rússia parece improvável frente a um cenário de sanções econômicas, segundo analistas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim em 4 de fevereiro de 2022 Foto: Aleksey Druzhinin/Kremlin/Sputnik via Reuters

Antes de chegar ao Usbequistão, Xi fez uma parada no Casaquistão, onde foi recebido na pista do aeroporto pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev e uma guarda de honra, todos usando máscaras. Já o encontro com Putin se dará no âmbito de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma organização fundada por Pequim em 2001 que conta com Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e visa se contrapor às alianças ocidentais na Ásia.

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O último encontro entre Putin e Xi ocorreu em fevereiro deste ano, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno e pouco antes da invasão russa à Ucrânia, quando declararam uma parceria “sem limites”. Desde então, Pequim nunca apoiou explicitamente a invasão russa da Ucrânia, mas também nunca a condenou, e criticou o Ocidente por enviar armas ao governo de Kiev e sancionar a Rússia.

Limites da parceria

No entanto, frente ao seu próprio cenário doméstico e internacional, a China tenta se esquivar de um apoio mais profundo à Moscou neste momento. A cúpula de agora testará o quão sem limites de fato essas relações serão, avaliam analistas.

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“A China de Xi vem realizando uma excelente caminhada na corda bamba em relação à Rússia”, disse Rana Mitter, professora de história e política da Universidade de Oxford. “Ele está ansioso para mostrar apoio à Rússia em geral, mas considera o apoio ativo a uma invasão politicamente embaraçosa demais para ser contemplada e quer que Moscou resolva as questões de uma forma ou de outra”.

Moscou precisa de Pequim. As recentes derrotas da Rússia nos campos de batalha da Ucrânia, juntamente com os amplos danos infligidos pelas sanções ocidentais, tornaram o apoio chinês ainda mais importante. A China emergiu como um grande comprador de commodities russas, compras que ajudaram a reabastecer os cofres de Moscou.

Pequim, no entanto, continua cautelosa. Quer projetar força na competição cada vez mais acirrada com os Estados Unidos e não pode permitir que seu principal parceiro em uma aliança enfrente uma derrota. Mas fornecer ajuda substancial e adicional à Rússia, seja econômica ou militarmente, corre o risco de entrar em conflito com as sanções ocidentais e pôr em perigo a economia da China.

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Exército russo anunciou que enviou reforços à região ucraniana de Kharkiv, em resposta a um aparentemente bem-sucedido avanço das forças de Kiev na fronteira

Segundo o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a guerra na Ucrânia será um dos principais tópicos de discussão entre os dois líderes, junto com “tópicos internacionais e regionais”, informou o Kremlin.

“Quer a Rússia vença ou não, a China continuará a se alinhar de perto com a Rússia, o que é uma estratégia que decorre do atual estado das relações China-EUA”, disse Yun Sun, diretor do programa China no Centro Stimson, um think tank de Washington. Além disso, para a China, Moscou é um parceiro fundamental quando se trata de neutralizar a influência de Washington no cenário internacional. E se a Rússia “está enfraquecida pela guerra, também não é uma má notícia para a China, que nesse caso será mais dominante na relação bilateral”, acredita Yun Sun.

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“À medida que a posição russa se deteriora, Putin buscará um apoio mais forte da China”, concorda Hal Brands, professor de relações internacionais do Instituto John Hopkins, em Washington.

Caminho intermediário

A imagem importa para Xi enquanto ele se prepara para garantir um terceiro mandato em um importante congresso do Partido Comunista em Pequim no próximo mês. Sua viagem nesta semana, por ser a primeira desde a pandemia, sinaliza o quanto ele valoriza o relacionamento com os países da aliança regional. O encontro com Putin dará ao líder chinês a chance de se parecer com um estadista global, jogando bem para um público doméstico.

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A Rússia também fornece o apoio necessário para a agenda da China. Quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan no mês passado, desafiando as alegações da China à democracia autogovernada, o Kremlin foi rápido em apoiar a posição de Pequim, descrevendo a viagem como “provocativa” e prometendo “solidariedade absoluta com a China”.

A questão que a China enfrenta é se deve dobrar ou deixar a Rússia navegar pelos reveses da guerra por conta própria. Ambas as estratégias trazem riscos, e a maioria dos especialistas espera que a China escolha um caminho intermediário de apoio econômico contínuo sem contornar abertamente as sanções ou fornecer assistência militar direta.

Putin, no entanto, parece achar irritante o meio-termo da China, algo que sugeriu na semana passada ao descrever as negociações de longa data para um novo gasoduto que poderia permitir à Rússia exportar mais gás natural para a China do que para a Europa – uma questão de importância crítica para Moscou, enquanto a Europa se apressa para reduzir as importações de energia da Rússia.

Putin entrará na reunião com Xi olhando para a China como uma tábua de salvação talvez no momento mais tênue da Rússia desde o início da invasão. As forças russas perderam recentemente mais de 2500 km² de território na Ucrânia, criando novos ventos políticos contrários a Putin - até mesmo de alguns de seus apoiadores de longa data, agora frustrados pelo esforço de guerra.

Na reunião desta semana, Putin espera fechar um acordo para o gasoduto. A Rússia também precisa de acesso às exportações de alta tecnologia da China e à moeda chinesa para pagar por esses bens, já que o acesso da Rússia a dólares é severamente restrito.

Nesta foto divulgada pela agência de notícias Xinhua, o presidente chinês Xi Jinping, ao centro, é recebido pelo presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, ao chegar ao Aeroporto Internacional Nur-sultã Nazarbayev para uma visita de Estado  Foto: Yao Dawei/Xinhua via AP

Passagem pelo Casaquistão

Nur-Sultã, capital do Casaquistão, foi a primeira parada de Xi Jinping durante sua viagem de três dias pelos aliados da Organização de Cooperação de Xangai. Tokayev agradeceu a Xi por sua visita, que ele disse ter “significado histórico” e ocorreu em um momento “sem precedentes, após o fim da Guerra Fria, escalada de tensões internacionais”. Ele também elogiou o apoio da China ao “desenvolvimento econômico do Casaquistão e nossas iniciativas internacionais”.

Durante sua reunião, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Casaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”. A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Casaquistão pelas ambições russas, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.

O presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, concede ao presidente chinês Xi Jinping o mais alto prêmio estatal durante sua reunião em Nur-Sultã, Casaquistão Foto: Serviço de imprensa do presidente do Casaquistão via AP

Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Casaquistão, referindo-se aos distúrbios mortais que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados.

O Casaquistão faz parte da multibilionária Iniciativa da Nova Rota da Seda da China para expandir o comércio construindo portos, ferrovias e outras infraestruturas em um arco de dezenas de países do Pacífico Sul, passando pela Ásia, Oriente Médio, Europa e África.

A iniciativa e as incursões econômicas da China na Ásia Central alimentaram um certo mal-estar na Rússia, que vê a região como sua esfera de influência. O Casaquistão e seus vizinhos estão tentando atrair investimentos chineses sem perturbar Moscou. “Esta visita é extremamente importante”, disse o vice-chanceler do Casaquistão Roman Vassilenko nesta semana antes da chegada de Xi. “Certamente esperamos que isso avance nas relações políticas, econômicas e comerciais com a China.”/AFP, AP e NYT

PEQUIM - O líder da China, Xi Jinping, chegou nesta quarta-feira, 14, ao Usbequistão, onde se reunirá com presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro bilateral entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia.

Os dois líderes enfrentam desafios domésticos, com o chinês tentando fortalecer sua imagem na busca por um terceiro mandato em meio à desaceleração econômica por causa dos rigorosos fechamentos para conter a covid-19, e com o russo lidando com significativos reveses em sua ofensiva no país vizinho.

Esta é a primeira viagem de Xi Jinping desde o recrudescimento da pandemia em 2020, e meio à críticas pela manutenção da política de “covid zero” no país, com severos lockdowns ao menor sinal de contágio. Putin, por sua vez, também faz uma rara viagem ao exterior desde a invasão à Ucrânia há quase sete meses.

Ambos buscam aprofundar seus laços em meio à piora das relações com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, mas um apoio ainda maior da China à Rússia parece improvável frente a um cenário de sanções econômicas, segundo analistas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim em 4 de fevereiro de 2022 Foto: Aleksey Druzhinin/Kremlin/Sputnik via Reuters

Antes de chegar ao Usbequistão, Xi fez uma parada no Casaquistão, onde foi recebido na pista do aeroporto pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev e uma guarda de honra, todos usando máscaras. Já o encontro com Putin se dará no âmbito de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma organização fundada por Pequim em 2001 que conta com Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e visa se contrapor às alianças ocidentais na Ásia.

O último encontro entre Putin e Xi ocorreu em fevereiro deste ano, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno e pouco antes da invasão russa à Ucrânia, quando declararam uma parceria “sem limites”. Desde então, Pequim nunca apoiou explicitamente a invasão russa da Ucrânia, mas também nunca a condenou, e criticou o Ocidente por enviar armas ao governo de Kiev e sancionar a Rússia.

Limites da parceria

No entanto, frente ao seu próprio cenário doméstico e internacional, a China tenta se esquivar de um apoio mais profundo à Moscou neste momento. A cúpula de agora testará o quão sem limites de fato essas relações serão, avaliam analistas.

“A China de Xi vem realizando uma excelente caminhada na corda bamba em relação à Rússia”, disse Rana Mitter, professora de história e política da Universidade de Oxford. “Ele está ansioso para mostrar apoio à Rússia em geral, mas considera o apoio ativo a uma invasão politicamente embaraçosa demais para ser contemplada e quer que Moscou resolva as questões de uma forma ou de outra”.

Moscou precisa de Pequim. As recentes derrotas da Rússia nos campos de batalha da Ucrânia, juntamente com os amplos danos infligidos pelas sanções ocidentais, tornaram o apoio chinês ainda mais importante. A China emergiu como um grande comprador de commodities russas, compras que ajudaram a reabastecer os cofres de Moscou.

Pequim, no entanto, continua cautelosa. Quer projetar força na competição cada vez mais acirrada com os Estados Unidos e não pode permitir que seu principal parceiro em uma aliança enfrente uma derrota. Mas fornecer ajuda substancial e adicional à Rússia, seja econômica ou militarmente, corre o risco de entrar em conflito com as sanções ocidentais e pôr em perigo a economia da China.

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Exército russo anunciou que enviou reforços à região ucraniana de Kharkiv, em resposta a um aparentemente bem-sucedido avanço das forças de Kiev na fronteira

Segundo o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a guerra na Ucrânia será um dos principais tópicos de discussão entre os dois líderes, junto com “tópicos internacionais e regionais”, informou o Kremlin.

“Quer a Rússia vença ou não, a China continuará a se alinhar de perto com a Rússia, o que é uma estratégia que decorre do atual estado das relações China-EUA”, disse Yun Sun, diretor do programa China no Centro Stimson, um think tank de Washington. Além disso, para a China, Moscou é um parceiro fundamental quando se trata de neutralizar a influência de Washington no cenário internacional. E se a Rússia “está enfraquecida pela guerra, também não é uma má notícia para a China, que nesse caso será mais dominante na relação bilateral”, acredita Yun Sun.

“À medida que a posição russa se deteriora, Putin buscará um apoio mais forte da China”, concorda Hal Brands, professor de relações internacionais do Instituto John Hopkins, em Washington.

Caminho intermediário

A imagem importa para Xi enquanto ele se prepara para garantir um terceiro mandato em um importante congresso do Partido Comunista em Pequim no próximo mês. Sua viagem nesta semana, por ser a primeira desde a pandemia, sinaliza o quanto ele valoriza o relacionamento com os países da aliança regional. O encontro com Putin dará ao líder chinês a chance de se parecer com um estadista global, jogando bem para um público doméstico.

A Rússia também fornece o apoio necessário para a agenda da China. Quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan no mês passado, desafiando as alegações da China à democracia autogovernada, o Kremlin foi rápido em apoiar a posição de Pequim, descrevendo a viagem como “provocativa” e prometendo “solidariedade absoluta com a China”.

A questão que a China enfrenta é se deve dobrar ou deixar a Rússia navegar pelos reveses da guerra por conta própria. Ambas as estratégias trazem riscos, e a maioria dos especialistas espera que a China escolha um caminho intermediário de apoio econômico contínuo sem contornar abertamente as sanções ou fornecer assistência militar direta.

Putin, no entanto, parece achar irritante o meio-termo da China, algo que sugeriu na semana passada ao descrever as negociações de longa data para um novo gasoduto que poderia permitir à Rússia exportar mais gás natural para a China do que para a Europa – uma questão de importância crítica para Moscou, enquanto a Europa se apressa para reduzir as importações de energia da Rússia.

Putin entrará na reunião com Xi olhando para a China como uma tábua de salvação talvez no momento mais tênue da Rússia desde o início da invasão. As forças russas perderam recentemente mais de 2500 km² de território na Ucrânia, criando novos ventos políticos contrários a Putin - até mesmo de alguns de seus apoiadores de longa data, agora frustrados pelo esforço de guerra.

Na reunião desta semana, Putin espera fechar um acordo para o gasoduto. A Rússia também precisa de acesso às exportações de alta tecnologia da China e à moeda chinesa para pagar por esses bens, já que o acesso da Rússia a dólares é severamente restrito.

Nesta foto divulgada pela agência de notícias Xinhua, o presidente chinês Xi Jinping, ao centro, é recebido pelo presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, ao chegar ao Aeroporto Internacional Nur-sultã Nazarbayev para uma visita de Estado  Foto: Yao Dawei/Xinhua via AP

Passagem pelo Casaquistão

Nur-Sultã, capital do Casaquistão, foi a primeira parada de Xi Jinping durante sua viagem de três dias pelos aliados da Organização de Cooperação de Xangai. Tokayev agradeceu a Xi por sua visita, que ele disse ter “significado histórico” e ocorreu em um momento “sem precedentes, após o fim da Guerra Fria, escalada de tensões internacionais”. Ele também elogiou o apoio da China ao “desenvolvimento econômico do Casaquistão e nossas iniciativas internacionais”.

Durante sua reunião, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Casaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”. A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Casaquistão pelas ambições russas, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.

O presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, concede ao presidente chinês Xi Jinping o mais alto prêmio estatal durante sua reunião em Nur-Sultã, Casaquistão Foto: Serviço de imprensa do presidente do Casaquistão via AP

Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Casaquistão, referindo-se aos distúrbios mortais que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados.

O Casaquistão faz parte da multibilionária Iniciativa da Nova Rota da Seda da China para expandir o comércio construindo portos, ferrovias e outras infraestruturas em um arco de dezenas de países do Pacífico Sul, passando pela Ásia, Oriente Médio, Europa e África.

A iniciativa e as incursões econômicas da China na Ásia Central alimentaram um certo mal-estar na Rússia, que vê a região como sua esfera de influência. O Casaquistão e seus vizinhos estão tentando atrair investimentos chineses sem perturbar Moscou. “Esta visita é extremamente importante”, disse o vice-chanceler do Casaquistão Roman Vassilenko nesta semana antes da chegada de Xi. “Certamente esperamos que isso avance nas relações políticas, econômicas e comerciais com a China.”/AFP, AP e NYT

PEQUIM - O líder da China, Xi Jinping, chegou nesta quarta-feira, 14, ao Usbequistão, onde se reunirá com presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro bilateral entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia.

Os dois líderes enfrentam desafios domésticos, com o chinês tentando fortalecer sua imagem na busca por um terceiro mandato em meio à desaceleração econômica por causa dos rigorosos fechamentos para conter a covid-19, e com o russo lidando com significativos reveses em sua ofensiva no país vizinho.

Esta é a primeira viagem de Xi Jinping desde o recrudescimento da pandemia em 2020, e meio à críticas pela manutenção da política de “covid zero” no país, com severos lockdowns ao menor sinal de contágio. Putin, por sua vez, também faz uma rara viagem ao exterior desde a invasão à Ucrânia há quase sete meses.

Ambos buscam aprofundar seus laços em meio à piora das relações com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, mas um apoio ainda maior da China à Rússia parece improvável frente a um cenário de sanções econômicas, segundo analistas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim em 4 de fevereiro de 2022 Foto: Aleksey Druzhinin/Kremlin/Sputnik via Reuters

Antes de chegar ao Usbequistão, Xi fez uma parada no Casaquistão, onde foi recebido na pista do aeroporto pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev e uma guarda de honra, todos usando máscaras. Já o encontro com Putin se dará no âmbito de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma organização fundada por Pequim em 2001 que conta com Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e visa se contrapor às alianças ocidentais na Ásia.

O último encontro entre Putin e Xi ocorreu em fevereiro deste ano, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno e pouco antes da invasão russa à Ucrânia, quando declararam uma parceria “sem limites”. Desde então, Pequim nunca apoiou explicitamente a invasão russa da Ucrânia, mas também nunca a condenou, e criticou o Ocidente por enviar armas ao governo de Kiev e sancionar a Rússia.

Limites da parceria

No entanto, frente ao seu próprio cenário doméstico e internacional, a China tenta se esquivar de um apoio mais profundo à Moscou neste momento. A cúpula de agora testará o quão sem limites de fato essas relações serão, avaliam analistas.

“A China de Xi vem realizando uma excelente caminhada na corda bamba em relação à Rússia”, disse Rana Mitter, professora de história e política da Universidade de Oxford. “Ele está ansioso para mostrar apoio à Rússia em geral, mas considera o apoio ativo a uma invasão politicamente embaraçosa demais para ser contemplada e quer que Moscou resolva as questões de uma forma ou de outra”.

Moscou precisa de Pequim. As recentes derrotas da Rússia nos campos de batalha da Ucrânia, juntamente com os amplos danos infligidos pelas sanções ocidentais, tornaram o apoio chinês ainda mais importante. A China emergiu como um grande comprador de commodities russas, compras que ajudaram a reabastecer os cofres de Moscou.

Pequim, no entanto, continua cautelosa. Quer projetar força na competição cada vez mais acirrada com os Estados Unidos e não pode permitir que seu principal parceiro em uma aliança enfrente uma derrota. Mas fornecer ajuda substancial e adicional à Rússia, seja econômica ou militarmente, corre o risco de entrar em conflito com as sanções ocidentais e pôr em perigo a economia da China.

Seu navegador não suporta esse video.

Exército russo anunciou que enviou reforços à região ucraniana de Kharkiv, em resposta a um aparentemente bem-sucedido avanço das forças de Kiev na fronteira

Segundo o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a guerra na Ucrânia será um dos principais tópicos de discussão entre os dois líderes, junto com “tópicos internacionais e regionais”, informou o Kremlin.

“Quer a Rússia vença ou não, a China continuará a se alinhar de perto com a Rússia, o que é uma estratégia que decorre do atual estado das relações China-EUA”, disse Yun Sun, diretor do programa China no Centro Stimson, um think tank de Washington. Além disso, para a China, Moscou é um parceiro fundamental quando se trata de neutralizar a influência de Washington no cenário internacional. E se a Rússia “está enfraquecida pela guerra, também não é uma má notícia para a China, que nesse caso será mais dominante na relação bilateral”, acredita Yun Sun.

“À medida que a posição russa se deteriora, Putin buscará um apoio mais forte da China”, concorda Hal Brands, professor de relações internacionais do Instituto John Hopkins, em Washington.

Caminho intermediário

A imagem importa para Xi enquanto ele se prepara para garantir um terceiro mandato em um importante congresso do Partido Comunista em Pequim no próximo mês. Sua viagem nesta semana, por ser a primeira desde a pandemia, sinaliza o quanto ele valoriza o relacionamento com os países da aliança regional. O encontro com Putin dará ao líder chinês a chance de se parecer com um estadista global, jogando bem para um público doméstico.

A Rússia também fornece o apoio necessário para a agenda da China. Quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan no mês passado, desafiando as alegações da China à democracia autogovernada, o Kremlin foi rápido em apoiar a posição de Pequim, descrevendo a viagem como “provocativa” e prometendo “solidariedade absoluta com a China”.

A questão que a China enfrenta é se deve dobrar ou deixar a Rússia navegar pelos reveses da guerra por conta própria. Ambas as estratégias trazem riscos, e a maioria dos especialistas espera que a China escolha um caminho intermediário de apoio econômico contínuo sem contornar abertamente as sanções ou fornecer assistência militar direta.

Putin, no entanto, parece achar irritante o meio-termo da China, algo que sugeriu na semana passada ao descrever as negociações de longa data para um novo gasoduto que poderia permitir à Rússia exportar mais gás natural para a China do que para a Europa – uma questão de importância crítica para Moscou, enquanto a Europa se apressa para reduzir as importações de energia da Rússia.

Putin entrará na reunião com Xi olhando para a China como uma tábua de salvação talvez no momento mais tênue da Rússia desde o início da invasão. As forças russas perderam recentemente mais de 2500 km² de território na Ucrânia, criando novos ventos políticos contrários a Putin - até mesmo de alguns de seus apoiadores de longa data, agora frustrados pelo esforço de guerra.

Na reunião desta semana, Putin espera fechar um acordo para o gasoduto. A Rússia também precisa de acesso às exportações de alta tecnologia da China e à moeda chinesa para pagar por esses bens, já que o acesso da Rússia a dólares é severamente restrito.

Nesta foto divulgada pela agência de notícias Xinhua, o presidente chinês Xi Jinping, ao centro, é recebido pelo presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, ao chegar ao Aeroporto Internacional Nur-sultã Nazarbayev para uma visita de Estado  Foto: Yao Dawei/Xinhua via AP

Passagem pelo Casaquistão

Nur-Sultã, capital do Casaquistão, foi a primeira parada de Xi Jinping durante sua viagem de três dias pelos aliados da Organização de Cooperação de Xangai. Tokayev agradeceu a Xi por sua visita, que ele disse ter “significado histórico” e ocorreu em um momento “sem precedentes, após o fim da Guerra Fria, escalada de tensões internacionais”. Ele também elogiou o apoio da China ao “desenvolvimento econômico do Casaquistão e nossas iniciativas internacionais”.

Durante sua reunião, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Casaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”. A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Casaquistão pelas ambições russas, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.

O presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, concede ao presidente chinês Xi Jinping o mais alto prêmio estatal durante sua reunião em Nur-Sultã, Casaquistão Foto: Serviço de imprensa do presidente do Casaquistão via AP

Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Casaquistão, referindo-se aos distúrbios mortais que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados.

O Casaquistão faz parte da multibilionária Iniciativa da Nova Rota da Seda da China para expandir o comércio construindo portos, ferrovias e outras infraestruturas em um arco de dezenas de países do Pacífico Sul, passando pela Ásia, Oriente Médio, Europa e África.

A iniciativa e as incursões econômicas da China na Ásia Central alimentaram um certo mal-estar na Rússia, que vê a região como sua esfera de influência. O Casaquistão e seus vizinhos estão tentando atrair investimentos chineses sem perturbar Moscou. “Esta visita é extremamente importante”, disse o vice-chanceler do Casaquistão Roman Vassilenko nesta semana antes da chegada de Xi. “Certamente esperamos que isso avance nas relações políticas, econômicas e comerciais com a China.”/AFP, AP e NYT

PEQUIM - O líder da China, Xi Jinping, chegou nesta quarta-feira, 14, ao Usbequistão, onde se reunirá com presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro bilateral entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia.

Os dois líderes enfrentam desafios domésticos, com o chinês tentando fortalecer sua imagem na busca por um terceiro mandato em meio à desaceleração econômica por causa dos rigorosos fechamentos para conter a covid-19, e com o russo lidando com significativos reveses em sua ofensiva no país vizinho.

Esta é a primeira viagem de Xi Jinping desde o recrudescimento da pandemia em 2020, e meio à críticas pela manutenção da política de “covid zero” no país, com severos lockdowns ao menor sinal de contágio. Putin, por sua vez, também faz uma rara viagem ao exterior desde a invasão à Ucrânia há quase sete meses.

Ambos buscam aprofundar seus laços em meio à piora das relações com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, mas um apoio ainda maior da China à Rússia parece improvável frente a um cenário de sanções econômicas, segundo analistas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim em 4 de fevereiro de 2022 Foto: Aleksey Druzhinin/Kremlin/Sputnik via Reuters

Antes de chegar ao Usbequistão, Xi fez uma parada no Casaquistão, onde foi recebido na pista do aeroporto pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev e uma guarda de honra, todos usando máscaras. Já o encontro com Putin se dará no âmbito de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma organização fundada por Pequim em 2001 que conta com Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e visa se contrapor às alianças ocidentais na Ásia.

O último encontro entre Putin e Xi ocorreu em fevereiro deste ano, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno e pouco antes da invasão russa à Ucrânia, quando declararam uma parceria “sem limites”. Desde então, Pequim nunca apoiou explicitamente a invasão russa da Ucrânia, mas também nunca a condenou, e criticou o Ocidente por enviar armas ao governo de Kiev e sancionar a Rússia.

Limites da parceria

No entanto, frente ao seu próprio cenário doméstico e internacional, a China tenta se esquivar de um apoio mais profundo à Moscou neste momento. A cúpula de agora testará o quão sem limites de fato essas relações serão, avaliam analistas.

“A China de Xi vem realizando uma excelente caminhada na corda bamba em relação à Rússia”, disse Rana Mitter, professora de história e política da Universidade de Oxford. “Ele está ansioso para mostrar apoio à Rússia em geral, mas considera o apoio ativo a uma invasão politicamente embaraçosa demais para ser contemplada e quer que Moscou resolva as questões de uma forma ou de outra”.

Moscou precisa de Pequim. As recentes derrotas da Rússia nos campos de batalha da Ucrânia, juntamente com os amplos danos infligidos pelas sanções ocidentais, tornaram o apoio chinês ainda mais importante. A China emergiu como um grande comprador de commodities russas, compras que ajudaram a reabastecer os cofres de Moscou.

Pequim, no entanto, continua cautelosa. Quer projetar força na competição cada vez mais acirrada com os Estados Unidos e não pode permitir que seu principal parceiro em uma aliança enfrente uma derrota. Mas fornecer ajuda substancial e adicional à Rússia, seja econômica ou militarmente, corre o risco de entrar em conflito com as sanções ocidentais e pôr em perigo a economia da China.

Seu navegador não suporta esse video.

Exército russo anunciou que enviou reforços à região ucraniana de Kharkiv, em resposta a um aparentemente bem-sucedido avanço das forças de Kiev na fronteira

Segundo o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a guerra na Ucrânia será um dos principais tópicos de discussão entre os dois líderes, junto com “tópicos internacionais e regionais”, informou o Kremlin.

“Quer a Rússia vença ou não, a China continuará a se alinhar de perto com a Rússia, o que é uma estratégia que decorre do atual estado das relações China-EUA”, disse Yun Sun, diretor do programa China no Centro Stimson, um think tank de Washington. Além disso, para a China, Moscou é um parceiro fundamental quando se trata de neutralizar a influência de Washington no cenário internacional. E se a Rússia “está enfraquecida pela guerra, também não é uma má notícia para a China, que nesse caso será mais dominante na relação bilateral”, acredita Yun Sun.

“À medida que a posição russa se deteriora, Putin buscará um apoio mais forte da China”, concorda Hal Brands, professor de relações internacionais do Instituto John Hopkins, em Washington.

Caminho intermediário

A imagem importa para Xi enquanto ele se prepara para garantir um terceiro mandato em um importante congresso do Partido Comunista em Pequim no próximo mês. Sua viagem nesta semana, por ser a primeira desde a pandemia, sinaliza o quanto ele valoriza o relacionamento com os países da aliança regional. O encontro com Putin dará ao líder chinês a chance de se parecer com um estadista global, jogando bem para um público doméstico.

A Rússia também fornece o apoio necessário para a agenda da China. Quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan no mês passado, desafiando as alegações da China à democracia autogovernada, o Kremlin foi rápido em apoiar a posição de Pequim, descrevendo a viagem como “provocativa” e prometendo “solidariedade absoluta com a China”.

A questão que a China enfrenta é se deve dobrar ou deixar a Rússia navegar pelos reveses da guerra por conta própria. Ambas as estratégias trazem riscos, e a maioria dos especialistas espera que a China escolha um caminho intermediário de apoio econômico contínuo sem contornar abertamente as sanções ou fornecer assistência militar direta.

Putin, no entanto, parece achar irritante o meio-termo da China, algo que sugeriu na semana passada ao descrever as negociações de longa data para um novo gasoduto que poderia permitir à Rússia exportar mais gás natural para a China do que para a Europa – uma questão de importância crítica para Moscou, enquanto a Europa se apressa para reduzir as importações de energia da Rússia.

Putin entrará na reunião com Xi olhando para a China como uma tábua de salvação talvez no momento mais tênue da Rússia desde o início da invasão. As forças russas perderam recentemente mais de 2500 km² de território na Ucrânia, criando novos ventos políticos contrários a Putin - até mesmo de alguns de seus apoiadores de longa data, agora frustrados pelo esforço de guerra.

Na reunião desta semana, Putin espera fechar um acordo para o gasoduto. A Rússia também precisa de acesso às exportações de alta tecnologia da China e à moeda chinesa para pagar por esses bens, já que o acesso da Rússia a dólares é severamente restrito.

Nesta foto divulgada pela agência de notícias Xinhua, o presidente chinês Xi Jinping, ao centro, é recebido pelo presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, ao chegar ao Aeroporto Internacional Nur-sultã Nazarbayev para uma visita de Estado  Foto: Yao Dawei/Xinhua via AP

Passagem pelo Casaquistão

Nur-Sultã, capital do Casaquistão, foi a primeira parada de Xi Jinping durante sua viagem de três dias pelos aliados da Organização de Cooperação de Xangai. Tokayev agradeceu a Xi por sua visita, que ele disse ter “significado histórico” e ocorreu em um momento “sem precedentes, após o fim da Guerra Fria, escalada de tensões internacionais”. Ele também elogiou o apoio da China ao “desenvolvimento econômico do Casaquistão e nossas iniciativas internacionais”.

Durante sua reunião, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Casaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”. A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Casaquistão pelas ambições russas, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.

O presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, concede ao presidente chinês Xi Jinping o mais alto prêmio estatal durante sua reunião em Nur-Sultã, Casaquistão Foto: Serviço de imprensa do presidente do Casaquistão via AP

Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Casaquistão, referindo-se aos distúrbios mortais que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados.

O Casaquistão faz parte da multibilionária Iniciativa da Nova Rota da Seda da China para expandir o comércio construindo portos, ferrovias e outras infraestruturas em um arco de dezenas de países do Pacífico Sul, passando pela Ásia, Oriente Médio, Europa e África.

A iniciativa e as incursões econômicas da China na Ásia Central alimentaram um certo mal-estar na Rússia, que vê a região como sua esfera de influência. O Casaquistão e seus vizinhos estão tentando atrair investimentos chineses sem perturbar Moscou. “Esta visita é extremamente importante”, disse o vice-chanceler do Casaquistão Roman Vassilenko nesta semana antes da chegada de Xi. “Certamente esperamos que isso avance nas relações políticas, econômicas e comerciais com a China.”/AFP, AP e NYT

PEQUIM - O líder da China, Xi Jinping, chegou nesta quarta-feira, 14, ao Usbequistão, onde se reunirá com presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro bilateral entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia.

Os dois líderes enfrentam desafios domésticos, com o chinês tentando fortalecer sua imagem na busca por um terceiro mandato em meio à desaceleração econômica por causa dos rigorosos fechamentos para conter a covid-19, e com o russo lidando com significativos reveses em sua ofensiva no país vizinho.

Esta é a primeira viagem de Xi Jinping desde o recrudescimento da pandemia em 2020, e meio à críticas pela manutenção da política de “covid zero” no país, com severos lockdowns ao menor sinal de contágio. Putin, por sua vez, também faz uma rara viagem ao exterior desde a invasão à Ucrânia há quase sete meses.

Ambos buscam aprofundar seus laços em meio à piora das relações com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, mas um apoio ainda maior da China à Rússia parece improvável frente a um cenário de sanções econômicas, segundo analistas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim em 4 de fevereiro de 2022 Foto: Aleksey Druzhinin/Kremlin/Sputnik via Reuters

Antes de chegar ao Usbequistão, Xi fez uma parada no Casaquistão, onde foi recebido na pista do aeroporto pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev e uma guarda de honra, todos usando máscaras. Já o encontro com Putin se dará no âmbito de uma cúpula dos líderes dos Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma organização fundada por Pequim em 2001 que conta com Rússia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão e visa se contrapor às alianças ocidentais na Ásia.

O último encontro entre Putin e Xi ocorreu em fevereiro deste ano, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno e pouco antes da invasão russa à Ucrânia, quando declararam uma parceria “sem limites”. Desde então, Pequim nunca apoiou explicitamente a invasão russa da Ucrânia, mas também nunca a condenou, e criticou o Ocidente por enviar armas ao governo de Kiev e sancionar a Rússia.

Limites da parceria

No entanto, frente ao seu próprio cenário doméstico e internacional, a China tenta se esquivar de um apoio mais profundo à Moscou neste momento. A cúpula de agora testará o quão sem limites de fato essas relações serão, avaliam analistas.

“A China de Xi vem realizando uma excelente caminhada na corda bamba em relação à Rússia”, disse Rana Mitter, professora de história e política da Universidade de Oxford. “Ele está ansioso para mostrar apoio à Rússia em geral, mas considera o apoio ativo a uma invasão politicamente embaraçosa demais para ser contemplada e quer que Moscou resolva as questões de uma forma ou de outra”.

Moscou precisa de Pequim. As recentes derrotas da Rússia nos campos de batalha da Ucrânia, juntamente com os amplos danos infligidos pelas sanções ocidentais, tornaram o apoio chinês ainda mais importante. A China emergiu como um grande comprador de commodities russas, compras que ajudaram a reabastecer os cofres de Moscou.

Pequim, no entanto, continua cautelosa. Quer projetar força na competição cada vez mais acirrada com os Estados Unidos e não pode permitir que seu principal parceiro em uma aliança enfrente uma derrota. Mas fornecer ajuda substancial e adicional à Rússia, seja econômica ou militarmente, corre o risco de entrar em conflito com as sanções ocidentais e pôr em perigo a economia da China.

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Exército russo anunciou que enviou reforços à região ucraniana de Kharkiv, em resposta a um aparentemente bem-sucedido avanço das forças de Kiev na fronteira

Segundo o assessor de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov, a guerra na Ucrânia será um dos principais tópicos de discussão entre os dois líderes, junto com “tópicos internacionais e regionais”, informou o Kremlin.

“Quer a Rússia vença ou não, a China continuará a se alinhar de perto com a Rússia, o que é uma estratégia que decorre do atual estado das relações China-EUA”, disse Yun Sun, diretor do programa China no Centro Stimson, um think tank de Washington. Além disso, para a China, Moscou é um parceiro fundamental quando se trata de neutralizar a influência de Washington no cenário internacional. E se a Rússia “está enfraquecida pela guerra, também não é uma má notícia para a China, que nesse caso será mais dominante na relação bilateral”, acredita Yun Sun.

“À medida que a posição russa se deteriora, Putin buscará um apoio mais forte da China”, concorda Hal Brands, professor de relações internacionais do Instituto John Hopkins, em Washington.

Caminho intermediário

A imagem importa para Xi enquanto ele se prepara para garantir um terceiro mandato em um importante congresso do Partido Comunista em Pequim no próximo mês. Sua viagem nesta semana, por ser a primeira desde a pandemia, sinaliza o quanto ele valoriza o relacionamento com os países da aliança regional. O encontro com Putin dará ao líder chinês a chance de se parecer com um estadista global, jogando bem para um público doméstico.

A Rússia também fornece o apoio necessário para a agenda da China. Quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan no mês passado, desafiando as alegações da China à democracia autogovernada, o Kremlin foi rápido em apoiar a posição de Pequim, descrevendo a viagem como “provocativa” e prometendo “solidariedade absoluta com a China”.

A questão que a China enfrenta é se deve dobrar ou deixar a Rússia navegar pelos reveses da guerra por conta própria. Ambas as estratégias trazem riscos, e a maioria dos especialistas espera que a China escolha um caminho intermediário de apoio econômico contínuo sem contornar abertamente as sanções ou fornecer assistência militar direta.

Putin, no entanto, parece achar irritante o meio-termo da China, algo que sugeriu na semana passada ao descrever as negociações de longa data para um novo gasoduto que poderia permitir à Rússia exportar mais gás natural para a China do que para a Europa – uma questão de importância crítica para Moscou, enquanto a Europa se apressa para reduzir as importações de energia da Rússia.

Putin entrará na reunião com Xi olhando para a China como uma tábua de salvação talvez no momento mais tênue da Rússia desde o início da invasão. As forças russas perderam recentemente mais de 2500 km² de território na Ucrânia, criando novos ventos políticos contrários a Putin - até mesmo de alguns de seus apoiadores de longa data, agora frustrados pelo esforço de guerra.

Na reunião desta semana, Putin espera fechar um acordo para o gasoduto. A Rússia também precisa de acesso às exportações de alta tecnologia da China e à moeda chinesa para pagar por esses bens, já que o acesso da Rússia a dólares é severamente restrito.

Nesta foto divulgada pela agência de notícias Xinhua, o presidente chinês Xi Jinping, ao centro, é recebido pelo presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, ao chegar ao Aeroporto Internacional Nur-sultã Nazarbayev para uma visita de Estado  Foto: Yao Dawei/Xinhua via AP

Passagem pelo Casaquistão

Nur-Sultã, capital do Casaquistão, foi a primeira parada de Xi Jinping durante sua viagem de três dias pelos aliados da Organização de Cooperação de Xangai. Tokayev agradeceu a Xi por sua visita, que ele disse ter “significado histórico” e ocorreu em um momento “sem precedentes, após o fim da Guerra Fria, escalada de tensões internacionais”. Ele também elogiou o apoio da China ao “desenvolvimento econômico do Casaquistão e nossas iniciativas internacionais”.

Durante sua reunião, Xi afirmou, segundo a emissora de televisão estatal chinesa CCTV, que queria ajudar o Casaquistão a “preservar sua independência nacional, sua soberania e sua integridade territorial”. A invasão russa da Ucrânia, outra ex-república soviética, preocupou o Casaquistão pelas ambições russas, especialmente porque o país conta com uma grande minoria étnica russa. Desde então, este aliado tradicional de Moscou se distanciou um pouco do Kremlin.

O presidente do Casaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, à direita, concede ao presidente chinês Xi Jinping o mais alto prêmio estatal durante sua reunião em Nur-Sultã, Casaquistão Foto: Serviço de imprensa do presidente do Casaquistão via AP

Xi Jinping também prometeu se pronunciar “categoricamente contra a interferência de qualquer força nos assuntos internos” do Casaquistão, referindo-se aos distúrbios mortais que abalaram o país centro-asiático em janeiro e que as autoridades atribuem a países estrangeiros não identificados.

O Casaquistão faz parte da multibilionária Iniciativa da Nova Rota da Seda da China para expandir o comércio construindo portos, ferrovias e outras infraestruturas em um arco de dezenas de países do Pacífico Sul, passando pela Ásia, Oriente Médio, Europa e África.

A iniciativa e as incursões econômicas da China na Ásia Central alimentaram um certo mal-estar na Rússia, que vê a região como sua esfera de influência. O Casaquistão e seus vizinhos estão tentando atrair investimentos chineses sem perturbar Moscou. “Esta visita é extremamente importante”, disse o vice-chanceler do Casaquistão Roman Vassilenko nesta semana antes da chegada de Xi. “Certamente esperamos que isso avance nas relações políticas, econômicas e comerciais com a China.”/AFP, AP e NYT

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