Xi promete impedir traidores de tomar o poder em Hong Kong ao celebrar controle chinês do território


Primeira viagem do líder comunista para fora da China continental em mais de dois anos mira interesses políticos internos e reafirmação do domínio de Pequim

Por Redação
Atualização:

HONG KONG - O presidente chinês, Xi Jinping, visitou Hong Kong nesta quinta-feira, 30, em sua primeira viagem para além das fronteiras da China continental em mais de dois anos, em um movimento de reafirmação do domínio de Pequim sobre o território, após anos turbulentos na política interna da ilha.

Acompanhado da esposa, Peng Liyuan, Xi foi recebido pela agora ex-chefe do Executivo do território, Carrie Lam. A viagem ocorre durante o 25º aniversário do retorno de Hong Kong à China e para posse do novo governador, John Lee, um ex-policial que liderou a repressão a grandes protestos antigovernamentais em 2019.

“O poder político deve estar nas mãos de patriotas”, disse Xi Jinping. “Não há país ou região no mundo que permita que forças e pessoas não patrióticas ou mesmo traiçoeiras ou traidoras tomem o poder”.

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Xi Jinping é recebido por apoiadores do Partido Comunista Chinês (PCCh) em Hong Kong. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

O presidente acenou para os apoiadores, que o receberam na plataforma de trem agitando bandeiras chinesas e de Hong Kong aos gritos de “bem-vindo” e “boas vindas calorosas”.

Hong Kong é o principal ponto de tensão na política chinesa, desde que protestos massivos contestaram a soberania da China sobre o território nos últimos anos. Pequim, sob a liderança de Xi, respondeu com uma campanha intensa de repressão a dissidências que ainda deixa marcas no país.

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A reformulação da abordagem da China sobre Hong Kong passou por um sufocamento de qualquer contestação ao Partido Comunista Chinês (PCCh). Uma nova lei de segurança nacional aprovada em 2020 serviu como aparato legal para a repressão de protestos por liberdade que começaram pacíficos, o cerceamento da liberdade de expressão - com o fechamento de jornais e emissoras - e com o controle do currículo escolar, que adotou um viés “mais patriótico”.

A ampla repressão ficou marcada por episódios de violência policial e violações de direitos civis, resultando na prisão de milhares de dissidentes, incluindo legisladores, acadêmicos, editores de jornais e até um bispo católico aposentado. A cidade, anteriormente conhecida por sua cultura de ativismo político e liberdade de expressão, mudou e um sentimento de medo se espalhou entre muitos de seus habitantes.

Em um breve discurso em sua chegada, Xi se disse “muito feliz” por estar em Hong Kong e disse ter “prestado atenção e pensado” na ilha nos últimos cinco anos, tentando tratar com otimismo o futuro. “Hong Kong resistiu a um desafio severo após o outro e superou um perigo após o outro”, disse ele. “Depois da tempestade, Hong Kong renasceu das cinzas, mostrando uma vitalidade florescente.”

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Xi Jinping participa de reunião com a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, e outras lideranças políticas locais. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

Além das pressões internas, o território também motivou tensões nos últimos anos entre China e Estados Unidos - que intensificou sua abordagem geopolítica no Pacífico.

A última visita do líder chinês a Hong Kong foi em 2017, para a posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, antes do início dos principais protestos.

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Visita em momento tenso

De acordo com especialistas, a nova viagem de Xi tem uma representação simbólica em um ano chave para sua continuidade política, uma vez que ele tentará renovar sua posição no partido pela terceira vez seguida no 2° semestre.

“Mesmo não estando longe da China continental desde o início de 2020, Xi acha que, em termos de prestígio e popularidade, seria bom que ele visitasse [Hong Kong] mesmo que apenas por algumas horas”, disse Willy Wo-Lap Lam, professor adjunto da Universidade Chinesa de Hong Kong. “Hong Kong vem passando por mudanças drásticas nos últimos três anos, então ele quer tranquilizar o público”.

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A visita também coincide com um dos momentos geopolíticos mais tensos que a China enfrentou na história recente. Suas relações com as democracias ocidentais tornaram-se bastante desgastadas, inclusive em relação ao tratamento de Hong Kong e ao relacionamento amigável com a Rússia. E as tensões sobre Taiwan, que a China reivindica como seu território, estão aumentando.

Xi está a apenas alguns meses de um importante congresso do Partido Comunista, quando deve reivindicar um terceiro mandato sem precedentes e consolidar seu status como o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.

Nesse sentido, a visita de Xi foi ao mesmo tempo uma declaração de vitória sobre a oposição em Hong Kong, uma afirmação de poder para os telespectadores em casa e uma advertência para seus críticos no exterior.

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Uma mulher passa de bicicleta por uma grande tela de televisão em um shopping center exibindo a cobertura da televisão estatal chinesa da visita do presidente chinês Xi Jinping a Hong Kong Foto: Mark Schiefelbein/AP

“O caso de Hong Kong deixa claro que os desafios e subversões dos principais interesses nacionais da China inevitavelmente se depararão com sérios contra-ataques e, finalmente, falharão”, Tian Feilong, professor assistente de direito da Universidade Beihang em Pequim.

Xi assumiu uma linha muito mais dura em relação a Hong Kong do que seus antecessores. Há muito tempo Hong Kong é o lar de uma vibrante sociedade civil e de protestos – muitos diretamente críticos ao governo chinês – mas durante a última visita de Xi, no 20º aniversário da transferência em 2017, ele pela primeira vez estabeleceu uma “linha vermelha”. Qualquer ameaça percebida à soberania do governo central “nunca seria permitida”, disse ele.

O discurso de 2017 alarmou alguns acadêmicos locais e ativistas pró-democracia, que temiam que Xi estivesse telegrafando o fim do acordo “um país, dois sistemas” negociado pelo Reino Unido e a China para garantir liberdades a Hong Kong do resto do país. Mas na época, essas liberdades ainda pareciam praticamente intactas. Imediatamente após o discurso de Xi, milhares de manifestantes se reuniram para uma marcha anual exigindo mais democracia.

Hoje, essa Hong Kong desapareceu quase inteiramente – em grande parte porque Xi seguiu seu aviso. Após os protestos de 2019, que representaram o maior desafio ao governo do Partido Comunista Chinês em décadas, Pequim respondeu promulgando a lei de segurança nacional. Isso fez com que praticamente todos os líderes da oposição fossem presos ou exilados. Os protestos são inexistentes. Livros reescritos enfatizam o patriotismo.

A importância e o sucesso dessa campanha foi um tema central do discurso de Xi nesta sexta. Xi não precisava mais dissuadir os habitantes de Hong Kong da dissidência, que havia sido tão completamente reprimida. Em vez disso, ele apresentou uma visão para um futuro melhor, no qual o povo de Hong Kong enriqueceu, acendeu seu amor pela identidade chinesa e alimentou a ascensão global da China.

Desafio logístico

Atender aos interesses estratégicos do presidente chinês e organizar a primeira viagem oficial para além da China continental em mais de dois anos exigiu um esforço logístico por parte da comitiva presidencial.

Xi Jinping e a esposa desembarcam em estação de trem em Hong Kong. Foto: Xie Huanchi/Xinhua via AP

Xi e a primeira-dama desembarcaram na estação de Hong Kong West Kowloo, de onde seguiram para compromissos com políticos e empresários simpáticos ao Partido Comunista em Hong Kong, após um breve discurso ao público. A agenda do casal previa um retorno ainda na noite de quinta a Shenzhen – cidade chinesa distante 15 minutos de Hong Kong em um trem de alta velocidade - antes de uma nova ida à ilha na sexta-feira para às comemorações do aniversário de incorporação de Hong Kong ao domínio chinês e a posse do novo governador, John Lee.

Além da agenda apertada, a cúpula dos governos de Pequim e Hong Kong determinaram uma série de medidas sanitárias na tentativa de criar um “circuito fechado” para a passagem do presidente, em razão do surto de covid-19 na região.

Milhares de funcionários do governo, dezenas de representantes estrangeiros e um grupo cuidadosamente selecionado de jornalistas foram convidados a passar por uma semana de testes rápidos diários de antígeno e a se confinarem em um hotel durante a semana.

Visita do presidente chinês a Hong Kong contou com segurança reforçada e esquema de isolamento sanitário.  Foto: Jerome Favre / EFE

Funcionários de escritório em um bairro que Xi supostamente planejava visitar foram instruídos a ficar em casa. Uma escola chegou a colocar dezenas de alunos em quarentena por vários dias para que pudessem cumprimentar Xi quando ele chegasse.

Os rigorosos protocolos epidêmicos coincidem com um aumento de casos de covid-19 em Hong Kong, onde mais de 2.000 casos diários foram registrados na quarta-feira pela primeira vez desde abril./ NYT e AP

HONG KONG - O presidente chinês, Xi Jinping, visitou Hong Kong nesta quinta-feira, 30, em sua primeira viagem para além das fronteiras da China continental em mais de dois anos, em um movimento de reafirmação do domínio de Pequim sobre o território, após anos turbulentos na política interna da ilha.

Acompanhado da esposa, Peng Liyuan, Xi foi recebido pela agora ex-chefe do Executivo do território, Carrie Lam. A viagem ocorre durante o 25º aniversário do retorno de Hong Kong à China e para posse do novo governador, John Lee, um ex-policial que liderou a repressão a grandes protestos antigovernamentais em 2019.

“O poder político deve estar nas mãos de patriotas”, disse Xi Jinping. “Não há país ou região no mundo que permita que forças e pessoas não patrióticas ou mesmo traiçoeiras ou traidoras tomem o poder”.

Xi Jinping é recebido por apoiadores do Partido Comunista Chinês (PCCh) em Hong Kong. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

O presidente acenou para os apoiadores, que o receberam na plataforma de trem agitando bandeiras chinesas e de Hong Kong aos gritos de “bem-vindo” e “boas vindas calorosas”.

Hong Kong é o principal ponto de tensão na política chinesa, desde que protestos massivos contestaram a soberania da China sobre o território nos últimos anos. Pequim, sob a liderança de Xi, respondeu com uma campanha intensa de repressão a dissidências que ainda deixa marcas no país.

A reformulação da abordagem da China sobre Hong Kong passou por um sufocamento de qualquer contestação ao Partido Comunista Chinês (PCCh). Uma nova lei de segurança nacional aprovada em 2020 serviu como aparato legal para a repressão de protestos por liberdade que começaram pacíficos, o cerceamento da liberdade de expressão - com o fechamento de jornais e emissoras - e com o controle do currículo escolar, que adotou um viés “mais patriótico”.

A ampla repressão ficou marcada por episódios de violência policial e violações de direitos civis, resultando na prisão de milhares de dissidentes, incluindo legisladores, acadêmicos, editores de jornais e até um bispo católico aposentado. A cidade, anteriormente conhecida por sua cultura de ativismo político e liberdade de expressão, mudou e um sentimento de medo se espalhou entre muitos de seus habitantes.

Em um breve discurso em sua chegada, Xi se disse “muito feliz” por estar em Hong Kong e disse ter “prestado atenção e pensado” na ilha nos últimos cinco anos, tentando tratar com otimismo o futuro. “Hong Kong resistiu a um desafio severo após o outro e superou um perigo após o outro”, disse ele. “Depois da tempestade, Hong Kong renasceu das cinzas, mostrando uma vitalidade florescente.”

Xi Jinping participa de reunião com a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, e outras lideranças políticas locais. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

Além das pressões internas, o território também motivou tensões nos últimos anos entre China e Estados Unidos - que intensificou sua abordagem geopolítica no Pacífico.

A última visita do líder chinês a Hong Kong foi em 2017, para a posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, antes do início dos principais protestos.

Visita em momento tenso

De acordo com especialistas, a nova viagem de Xi tem uma representação simbólica em um ano chave para sua continuidade política, uma vez que ele tentará renovar sua posição no partido pela terceira vez seguida no 2° semestre.

“Mesmo não estando longe da China continental desde o início de 2020, Xi acha que, em termos de prestígio e popularidade, seria bom que ele visitasse [Hong Kong] mesmo que apenas por algumas horas”, disse Willy Wo-Lap Lam, professor adjunto da Universidade Chinesa de Hong Kong. “Hong Kong vem passando por mudanças drásticas nos últimos três anos, então ele quer tranquilizar o público”.

A visita também coincide com um dos momentos geopolíticos mais tensos que a China enfrentou na história recente. Suas relações com as democracias ocidentais tornaram-se bastante desgastadas, inclusive em relação ao tratamento de Hong Kong e ao relacionamento amigável com a Rússia. E as tensões sobre Taiwan, que a China reivindica como seu território, estão aumentando.

Xi está a apenas alguns meses de um importante congresso do Partido Comunista, quando deve reivindicar um terceiro mandato sem precedentes e consolidar seu status como o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.

Nesse sentido, a visita de Xi foi ao mesmo tempo uma declaração de vitória sobre a oposição em Hong Kong, uma afirmação de poder para os telespectadores em casa e uma advertência para seus críticos no exterior.

Uma mulher passa de bicicleta por uma grande tela de televisão em um shopping center exibindo a cobertura da televisão estatal chinesa da visita do presidente chinês Xi Jinping a Hong Kong Foto: Mark Schiefelbein/AP

“O caso de Hong Kong deixa claro que os desafios e subversões dos principais interesses nacionais da China inevitavelmente se depararão com sérios contra-ataques e, finalmente, falharão”, Tian Feilong, professor assistente de direito da Universidade Beihang em Pequim.

Xi assumiu uma linha muito mais dura em relação a Hong Kong do que seus antecessores. Há muito tempo Hong Kong é o lar de uma vibrante sociedade civil e de protestos – muitos diretamente críticos ao governo chinês – mas durante a última visita de Xi, no 20º aniversário da transferência em 2017, ele pela primeira vez estabeleceu uma “linha vermelha”. Qualquer ameaça percebida à soberania do governo central “nunca seria permitida”, disse ele.

O discurso de 2017 alarmou alguns acadêmicos locais e ativistas pró-democracia, que temiam que Xi estivesse telegrafando o fim do acordo “um país, dois sistemas” negociado pelo Reino Unido e a China para garantir liberdades a Hong Kong do resto do país. Mas na época, essas liberdades ainda pareciam praticamente intactas. Imediatamente após o discurso de Xi, milhares de manifestantes se reuniram para uma marcha anual exigindo mais democracia.

Hoje, essa Hong Kong desapareceu quase inteiramente – em grande parte porque Xi seguiu seu aviso. Após os protestos de 2019, que representaram o maior desafio ao governo do Partido Comunista Chinês em décadas, Pequim respondeu promulgando a lei de segurança nacional. Isso fez com que praticamente todos os líderes da oposição fossem presos ou exilados. Os protestos são inexistentes. Livros reescritos enfatizam o patriotismo.

A importância e o sucesso dessa campanha foi um tema central do discurso de Xi nesta sexta. Xi não precisava mais dissuadir os habitantes de Hong Kong da dissidência, que havia sido tão completamente reprimida. Em vez disso, ele apresentou uma visão para um futuro melhor, no qual o povo de Hong Kong enriqueceu, acendeu seu amor pela identidade chinesa e alimentou a ascensão global da China.

Desafio logístico

Atender aos interesses estratégicos do presidente chinês e organizar a primeira viagem oficial para além da China continental em mais de dois anos exigiu um esforço logístico por parte da comitiva presidencial.

Xi Jinping e a esposa desembarcam em estação de trem em Hong Kong. Foto: Xie Huanchi/Xinhua via AP

Xi e a primeira-dama desembarcaram na estação de Hong Kong West Kowloo, de onde seguiram para compromissos com políticos e empresários simpáticos ao Partido Comunista em Hong Kong, após um breve discurso ao público. A agenda do casal previa um retorno ainda na noite de quinta a Shenzhen – cidade chinesa distante 15 minutos de Hong Kong em um trem de alta velocidade - antes de uma nova ida à ilha na sexta-feira para às comemorações do aniversário de incorporação de Hong Kong ao domínio chinês e a posse do novo governador, John Lee.

Além da agenda apertada, a cúpula dos governos de Pequim e Hong Kong determinaram uma série de medidas sanitárias na tentativa de criar um “circuito fechado” para a passagem do presidente, em razão do surto de covid-19 na região.

Milhares de funcionários do governo, dezenas de representantes estrangeiros e um grupo cuidadosamente selecionado de jornalistas foram convidados a passar por uma semana de testes rápidos diários de antígeno e a se confinarem em um hotel durante a semana.

Visita do presidente chinês a Hong Kong contou com segurança reforçada e esquema de isolamento sanitário.  Foto: Jerome Favre / EFE

Funcionários de escritório em um bairro que Xi supostamente planejava visitar foram instruídos a ficar em casa. Uma escola chegou a colocar dezenas de alunos em quarentena por vários dias para que pudessem cumprimentar Xi quando ele chegasse.

Os rigorosos protocolos epidêmicos coincidem com um aumento de casos de covid-19 em Hong Kong, onde mais de 2.000 casos diários foram registrados na quarta-feira pela primeira vez desde abril./ NYT e AP

HONG KONG - O presidente chinês, Xi Jinping, visitou Hong Kong nesta quinta-feira, 30, em sua primeira viagem para além das fronteiras da China continental em mais de dois anos, em um movimento de reafirmação do domínio de Pequim sobre o território, após anos turbulentos na política interna da ilha.

Acompanhado da esposa, Peng Liyuan, Xi foi recebido pela agora ex-chefe do Executivo do território, Carrie Lam. A viagem ocorre durante o 25º aniversário do retorno de Hong Kong à China e para posse do novo governador, John Lee, um ex-policial que liderou a repressão a grandes protestos antigovernamentais em 2019.

“O poder político deve estar nas mãos de patriotas”, disse Xi Jinping. “Não há país ou região no mundo que permita que forças e pessoas não patrióticas ou mesmo traiçoeiras ou traidoras tomem o poder”.

Xi Jinping é recebido por apoiadores do Partido Comunista Chinês (PCCh) em Hong Kong. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

O presidente acenou para os apoiadores, que o receberam na plataforma de trem agitando bandeiras chinesas e de Hong Kong aos gritos de “bem-vindo” e “boas vindas calorosas”.

Hong Kong é o principal ponto de tensão na política chinesa, desde que protestos massivos contestaram a soberania da China sobre o território nos últimos anos. Pequim, sob a liderança de Xi, respondeu com uma campanha intensa de repressão a dissidências que ainda deixa marcas no país.

A reformulação da abordagem da China sobre Hong Kong passou por um sufocamento de qualquer contestação ao Partido Comunista Chinês (PCCh). Uma nova lei de segurança nacional aprovada em 2020 serviu como aparato legal para a repressão de protestos por liberdade que começaram pacíficos, o cerceamento da liberdade de expressão - com o fechamento de jornais e emissoras - e com o controle do currículo escolar, que adotou um viés “mais patriótico”.

A ampla repressão ficou marcada por episódios de violência policial e violações de direitos civis, resultando na prisão de milhares de dissidentes, incluindo legisladores, acadêmicos, editores de jornais e até um bispo católico aposentado. A cidade, anteriormente conhecida por sua cultura de ativismo político e liberdade de expressão, mudou e um sentimento de medo se espalhou entre muitos de seus habitantes.

Em um breve discurso em sua chegada, Xi se disse “muito feliz” por estar em Hong Kong e disse ter “prestado atenção e pensado” na ilha nos últimos cinco anos, tentando tratar com otimismo o futuro. “Hong Kong resistiu a um desafio severo após o outro e superou um perigo após o outro”, disse ele. “Depois da tempestade, Hong Kong renasceu das cinzas, mostrando uma vitalidade florescente.”

Xi Jinping participa de reunião com a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, e outras lideranças políticas locais. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

Além das pressões internas, o território também motivou tensões nos últimos anos entre China e Estados Unidos - que intensificou sua abordagem geopolítica no Pacífico.

A última visita do líder chinês a Hong Kong foi em 2017, para a posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, antes do início dos principais protestos.

Visita em momento tenso

De acordo com especialistas, a nova viagem de Xi tem uma representação simbólica em um ano chave para sua continuidade política, uma vez que ele tentará renovar sua posição no partido pela terceira vez seguida no 2° semestre.

“Mesmo não estando longe da China continental desde o início de 2020, Xi acha que, em termos de prestígio e popularidade, seria bom que ele visitasse [Hong Kong] mesmo que apenas por algumas horas”, disse Willy Wo-Lap Lam, professor adjunto da Universidade Chinesa de Hong Kong. “Hong Kong vem passando por mudanças drásticas nos últimos três anos, então ele quer tranquilizar o público”.

A visita também coincide com um dos momentos geopolíticos mais tensos que a China enfrentou na história recente. Suas relações com as democracias ocidentais tornaram-se bastante desgastadas, inclusive em relação ao tratamento de Hong Kong e ao relacionamento amigável com a Rússia. E as tensões sobre Taiwan, que a China reivindica como seu território, estão aumentando.

Xi está a apenas alguns meses de um importante congresso do Partido Comunista, quando deve reivindicar um terceiro mandato sem precedentes e consolidar seu status como o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.

Nesse sentido, a visita de Xi foi ao mesmo tempo uma declaração de vitória sobre a oposição em Hong Kong, uma afirmação de poder para os telespectadores em casa e uma advertência para seus críticos no exterior.

Uma mulher passa de bicicleta por uma grande tela de televisão em um shopping center exibindo a cobertura da televisão estatal chinesa da visita do presidente chinês Xi Jinping a Hong Kong Foto: Mark Schiefelbein/AP

“O caso de Hong Kong deixa claro que os desafios e subversões dos principais interesses nacionais da China inevitavelmente se depararão com sérios contra-ataques e, finalmente, falharão”, Tian Feilong, professor assistente de direito da Universidade Beihang em Pequim.

Xi assumiu uma linha muito mais dura em relação a Hong Kong do que seus antecessores. Há muito tempo Hong Kong é o lar de uma vibrante sociedade civil e de protestos – muitos diretamente críticos ao governo chinês – mas durante a última visita de Xi, no 20º aniversário da transferência em 2017, ele pela primeira vez estabeleceu uma “linha vermelha”. Qualquer ameaça percebida à soberania do governo central “nunca seria permitida”, disse ele.

O discurso de 2017 alarmou alguns acadêmicos locais e ativistas pró-democracia, que temiam que Xi estivesse telegrafando o fim do acordo “um país, dois sistemas” negociado pelo Reino Unido e a China para garantir liberdades a Hong Kong do resto do país. Mas na época, essas liberdades ainda pareciam praticamente intactas. Imediatamente após o discurso de Xi, milhares de manifestantes se reuniram para uma marcha anual exigindo mais democracia.

Hoje, essa Hong Kong desapareceu quase inteiramente – em grande parte porque Xi seguiu seu aviso. Após os protestos de 2019, que representaram o maior desafio ao governo do Partido Comunista Chinês em décadas, Pequim respondeu promulgando a lei de segurança nacional. Isso fez com que praticamente todos os líderes da oposição fossem presos ou exilados. Os protestos são inexistentes. Livros reescritos enfatizam o patriotismo.

A importância e o sucesso dessa campanha foi um tema central do discurso de Xi nesta sexta. Xi não precisava mais dissuadir os habitantes de Hong Kong da dissidência, que havia sido tão completamente reprimida. Em vez disso, ele apresentou uma visão para um futuro melhor, no qual o povo de Hong Kong enriqueceu, acendeu seu amor pela identidade chinesa e alimentou a ascensão global da China.

Desafio logístico

Atender aos interesses estratégicos do presidente chinês e organizar a primeira viagem oficial para além da China continental em mais de dois anos exigiu um esforço logístico por parte da comitiva presidencial.

Xi Jinping e a esposa desembarcam em estação de trem em Hong Kong. Foto: Xie Huanchi/Xinhua via AP

Xi e a primeira-dama desembarcaram na estação de Hong Kong West Kowloo, de onde seguiram para compromissos com políticos e empresários simpáticos ao Partido Comunista em Hong Kong, após um breve discurso ao público. A agenda do casal previa um retorno ainda na noite de quinta a Shenzhen – cidade chinesa distante 15 minutos de Hong Kong em um trem de alta velocidade - antes de uma nova ida à ilha na sexta-feira para às comemorações do aniversário de incorporação de Hong Kong ao domínio chinês e a posse do novo governador, John Lee.

Além da agenda apertada, a cúpula dos governos de Pequim e Hong Kong determinaram uma série de medidas sanitárias na tentativa de criar um “circuito fechado” para a passagem do presidente, em razão do surto de covid-19 na região.

Milhares de funcionários do governo, dezenas de representantes estrangeiros e um grupo cuidadosamente selecionado de jornalistas foram convidados a passar por uma semana de testes rápidos diários de antígeno e a se confinarem em um hotel durante a semana.

Visita do presidente chinês a Hong Kong contou com segurança reforçada e esquema de isolamento sanitário.  Foto: Jerome Favre / EFE

Funcionários de escritório em um bairro que Xi supostamente planejava visitar foram instruídos a ficar em casa. Uma escola chegou a colocar dezenas de alunos em quarentena por vários dias para que pudessem cumprimentar Xi quando ele chegasse.

Os rigorosos protocolos epidêmicos coincidem com um aumento de casos de covid-19 em Hong Kong, onde mais de 2.000 casos diários foram registrados na quarta-feira pela primeira vez desde abril./ NYT e AP

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