Bastidores: xingamento de Janja prejudica tentativa de Lula estabelecer elo com Trump


Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio; assessoria da primeira-dama afirmou que não comentará o caso

Por Felipe Frazão
Atualização:

RIO - O xingamento proferido pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao bilionário Elon Musk prejudica a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um elo com o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração se choca com a tentativa do Palácio do Planalto de minimizar divergências e abrir canais com o futuro ocupante da Casa Branca, agindo de forma menos ideológica e mais “pragmática”.

Sem razão aparente, Janja ofendeu não apenas um apoiador e financiador de Trump, empresário com negócios no Brasil, mas um futuro integrante do governo norte-americano, indicado por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, órgão que o republicano pretende criar.

O Estadão procurou a assessoria da primeira-dama para ouvi-la sobre o caso. A resposta chegou na manhã deste domingo, dia 17. Não haverá qualquer comentário.

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A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, durante evento no sábado, 16 Foto: Luis Robayo/AFP

Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio. Por receio de serem retaliados no governo, eles jamais aceitam falar publicamente e mesmo assim são muito cautelosos. “É a nova diplomacia”, ironizou um deles, que acompanha os preparativos do G-20 no Rio. “Com essas palavras?”, reagiu outro espantado. A definição de um terceiro diplomata foi: “Contraproducente”.

Um secretário do Itamaraty disse que a eleição de Trump “mudou o mundo como a gente conhece”. “Será inacreditável”, afirmou ele, chocado com as escolhas de Trump para a montagem de governo e com o impacto que a eleição já tem nas discussões do G-20 e nos fóruns multilaterais. Para ele, todas as reações são compreensíveis, embora não devessem ser verbalizadas.

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A ofensa de Janja e a resposta de Musk

Neste sábado, dia 16, Janja participava de uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação no Cria G-20, um dos eventos paralelos à Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

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Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas.

Então, sem razão aparente, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse Janja.

O bilionário reagiu em seu perfil no X momentos depois, indicando por meio da sigla “lol” que estava dando risadas do ocorrido. Ao comentar outro post na plataforma, Musk afirmou que “eles”, em indicação ao governo atual, vão perder as próximas eleições.

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Lula: “não temos que xingar ninguém”

Como o Estadão antecipou, a diplomacia brasileira trabalhava em prol de um telefonema entre Trump e Lula. O Palácio do Planalto não tinha canais de diálogo com Trump e seu entorno, muito ligados ao bolsonarismo. A tarefa coube à embaixada brasileira em Washington, que nos últimos meses cultivou laços com integrantes do Partido Republicano, como congressistas, e assistiu a eventos da campanha de Trump.

A esperança do governo brasileiro era que Lula e Trump pudessem conversar por telefone dentro de semanas após a eleição. O próprio Lula reconheceu rapidamente a vitória de Trump e, numa mensagem pública nas redes sociais, indicou estar aberto ao “diálogo” com o republicano. A intenção era deixar para trás declarações de campanha em que ambos apoiaram candidatos adversários - Jair Bolsonaro e Kamala Harris - e fizeram comentários pejorativos um sobre o outro.

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A chave era a montagem do próximo governo trumpista. A partir das indicações, figuras-chave, como o senador Marco Rubio, próximo secretário de Estado dos EUA, deveriam ser buscadas pelo governo Lula. Embora prenunciem um embate duro de políticas e prioridades, com reforço de linhas anti-imigração e negacionistas na equipe de Trump, figuras centrais no governo Lula passaram a pregar a necessidade de dialogar e não pré-julgar.

“Temos que respeitar os processos (democráticos) de todos os países. Vamos ver como as coisas evoluem. Outro dia alguém me perguntou o que eu acho dos nomes. Eu não julgo nomes, julgo atos, julgo ações. Depois de ver como evoluem essas ações é que a gente vai dizer”, afirmou na sexta-feira, dia 16, o assessor especial Celso Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro internacional de Lula. “Na política, o que interessa é o resultado. Vamos esperar que mesmo na busca do seu interesse, da America Great, o presidente Trump também ajude. Fiquei contente de ver Elon Musk conversar com o embaixador do Irã. A conversa e o diálogo podem trazer paz ao mundo, não as reafirmações de princípios individuais.”

O maior sinal de reprovação a Janja veio do próprio Lula. Horas depois da fala de sua mulher, ele a desautorizou em público, embora sem fazer uma menção direta a ela. “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, afirmou o presidente, no encerramento do festival de música para promover a Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, na zona portuária do Rio.

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A série de shows havia sido elaborada pelo governo sob medida para a própria Janja. A primeira-dama irritou-se com o apelido “Janjapalooza” dado ao festival. Ela teve grande exposição, apresentando atrações no palco e participando de debates paralelos à Cúpula de Líderes do G-20.

O presidente Lula participa do encerramento do G-20 Social, no Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Críticas à Argentina

Em um discurso prévio, Janja também jogou contra esforços diplomáticos ao criticar abertamente as atitudes da Argentina, sob o comando do libertário Javier Milei, também aliado de Trump. O presidente ultraliberal - rival do petista e com quem também não há diálogo - converteu-se em um obstáculo ao sucesso do G-20 por ter ordenado oposição ampla à agenda de debates. Em socorro à diplomacia brasileira, o presidente francês Emmanuel Macron se dispôs a viajar a Buenos Aires para tentar fazer Milei ceder, enquanto Janja reclamava da diplomacia argentina por vetar a agenda de gênero.

O caso do xingamento a Musk pode gerar ainda danos políticos internos. A oposição já agiu no Congresso e pretende levar o chanceler Mauro Vieira para dar explicações sobre as consequências da ofensa na Câmara dos Deputados. Um pedido de convocação foi protocolado pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS). O ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e Musk, disse que o governo contratou “mais um problema diplomático”.

RIO - O xingamento proferido pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao bilionário Elon Musk prejudica a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um elo com o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração se choca com a tentativa do Palácio do Planalto de minimizar divergências e abrir canais com o futuro ocupante da Casa Branca, agindo de forma menos ideológica e mais “pragmática”.

Sem razão aparente, Janja ofendeu não apenas um apoiador e financiador de Trump, empresário com negócios no Brasil, mas um futuro integrante do governo norte-americano, indicado por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, órgão que o republicano pretende criar.

O Estadão procurou a assessoria da primeira-dama para ouvi-la sobre o caso. A resposta chegou na manhã deste domingo, dia 17. Não haverá qualquer comentário.

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, durante evento no sábado, 16 Foto: Luis Robayo/AFP

Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio. Por receio de serem retaliados no governo, eles jamais aceitam falar publicamente e mesmo assim são muito cautelosos. “É a nova diplomacia”, ironizou um deles, que acompanha os preparativos do G-20 no Rio. “Com essas palavras?”, reagiu outro espantado. A definição de um terceiro diplomata foi: “Contraproducente”.

Um secretário do Itamaraty disse que a eleição de Trump “mudou o mundo como a gente conhece”. “Será inacreditável”, afirmou ele, chocado com as escolhas de Trump para a montagem de governo e com o impacto que a eleição já tem nas discussões do G-20 e nos fóruns multilaterais. Para ele, todas as reações são compreensíveis, embora não devessem ser verbalizadas.

A ofensa de Janja e a resposta de Musk

Neste sábado, dia 16, Janja participava de uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação no Cria G-20, um dos eventos paralelos à Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas.

Então, sem razão aparente, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse Janja.

O bilionário reagiu em seu perfil no X momentos depois, indicando por meio da sigla “lol” que estava dando risadas do ocorrido. Ao comentar outro post na plataforma, Musk afirmou que “eles”, em indicação ao governo atual, vão perder as próximas eleições.

Lula: “não temos que xingar ninguém”

Como o Estadão antecipou, a diplomacia brasileira trabalhava em prol de um telefonema entre Trump e Lula. O Palácio do Planalto não tinha canais de diálogo com Trump e seu entorno, muito ligados ao bolsonarismo. A tarefa coube à embaixada brasileira em Washington, que nos últimos meses cultivou laços com integrantes do Partido Republicano, como congressistas, e assistiu a eventos da campanha de Trump.

A esperança do governo brasileiro era que Lula e Trump pudessem conversar por telefone dentro de semanas após a eleição. O próprio Lula reconheceu rapidamente a vitória de Trump e, numa mensagem pública nas redes sociais, indicou estar aberto ao “diálogo” com o republicano. A intenção era deixar para trás declarações de campanha em que ambos apoiaram candidatos adversários - Jair Bolsonaro e Kamala Harris - e fizeram comentários pejorativos um sobre o outro.

A chave era a montagem do próximo governo trumpista. A partir das indicações, figuras-chave, como o senador Marco Rubio, próximo secretário de Estado dos EUA, deveriam ser buscadas pelo governo Lula. Embora prenunciem um embate duro de políticas e prioridades, com reforço de linhas anti-imigração e negacionistas na equipe de Trump, figuras centrais no governo Lula passaram a pregar a necessidade de dialogar e não pré-julgar.

“Temos que respeitar os processos (democráticos) de todos os países. Vamos ver como as coisas evoluem. Outro dia alguém me perguntou o que eu acho dos nomes. Eu não julgo nomes, julgo atos, julgo ações. Depois de ver como evoluem essas ações é que a gente vai dizer”, afirmou na sexta-feira, dia 16, o assessor especial Celso Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro internacional de Lula. “Na política, o que interessa é o resultado. Vamos esperar que mesmo na busca do seu interesse, da America Great, o presidente Trump também ajude. Fiquei contente de ver Elon Musk conversar com o embaixador do Irã. A conversa e o diálogo podem trazer paz ao mundo, não as reafirmações de princípios individuais.”

O maior sinal de reprovação a Janja veio do próprio Lula. Horas depois da fala de sua mulher, ele a desautorizou em público, embora sem fazer uma menção direta a ela. “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, afirmou o presidente, no encerramento do festival de música para promover a Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, na zona portuária do Rio.

A série de shows havia sido elaborada pelo governo sob medida para a própria Janja. A primeira-dama irritou-se com o apelido “Janjapalooza” dado ao festival. Ela teve grande exposição, apresentando atrações no palco e participando de debates paralelos à Cúpula de Líderes do G-20.

O presidente Lula participa do encerramento do G-20 Social, no Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Críticas à Argentina

Em um discurso prévio, Janja também jogou contra esforços diplomáticos ao criticar abertamente as atitudes da Argentina, sob o comando do libertário Javier Milei, também aliado de Trump. O presidente ultraliberal - rival do petista e com quem também não há diálogo - converteu-se em um obstáculo ao sucesso do G-20 por ter ordenado oposição ampla à agenda de debates. Em socorro à diplomacia brasileira, o presidente francês Emmanuel Macron se dispôs a viajar a Buenos Aires para tentar fazer Milei ceder, enquanto Janja reclamava da diplomacia argentina por vetar a agenda de gênero.

O caso do xingamento a Musk pode gerar ainda danos políticos internos. A oposição já agiu no Congresso e pretende levar o chanceler Mauro Vieira para dar explicações sobre as consequências da ofensa na Câmara dos Deputados. Um pedido de convocação foi protocolado pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS). O ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e Musk, disse que o governo contratou “mais um problema diplomático”.

RIO - O xingamento proferido pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao bilionário Elon Musk prejudica a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um elo com o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração se choca com a tentativa do Palácio do Planalto de minimizar divergências e abrir canais com o futuro ocupante da Casa Branca, agindo de forma menos ideológica e mais “pragmática”.

Sem razão aparente, Janja ofendeu não apenas um apoiador e financiador de Trump, empresário com negócios no Brasil, mas um futuro integrante do governo norte-americano, indicado por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, órgão que o republicano pretende criar.

O Estadão procurou a assessoria da primeira-dama para ouvi-la sobre o caso. A resposta chegou na manhã deste domingo, dia 17. Não haverá qualquer comentário.

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, durante evento no sábado, 16 Foto: Luis Robayo/AFP

Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio. Por receio de serem retaliados no governo, eles jamais aceitam falar publicamente e mesmo assim são muito cautelosos. “É a nova diplomacia”, ironizou um deles, que acompanha os preparativos do G-20 no Rio. “Com essas palavras?”, reagiu outro espantado. A definição de um terceiro diplomata foi: “Contraproducente”.

Um secretário do Itamaraty disse que a eleição de Trump “mudou o mundo como a gente conhece”. “Será inacreditável”, afirmou ele, chocado com as escolhas de Trump para a montagem de governo e com o impacto que a eleição já tem nas discussões do G-20 e nos fóruns multilaterais. Para ele, todas as reações são compreensíveis, embora não devessem ser verbalizadas.

A ofensa de Janja e a resposta de Musk

Neste sábado, dia 16, Janja participava de uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação no Cria G-20, um dos eventos paralelos à Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas.

Então, sem razão aparente, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse Janja.

O bilionário reagiu em seu perfil no X momentos depois, indicando por meio da sigla “lol” que estava dando risadas do ocorrido. Ao comentar outro post na plataforma, Musk afirmou que “eles”, em indicação ao governo atual, vão perder as próximas eleições.

Lula: “não temos que xingar ninguém”

Como o Estadão antecipou, a diplomacia brasileira trabalhava em prol de um telefonema entre Trump e Lula. O Palácio do Planalto não tinha canais de diálogo com Trump e seu entorno, muito ligados ao bolsonarismo. A tarefa coube à embaixada brasileira em Washington, que nos últimos meses cultivou laços com integrantes do Partido Republicano, como congressistas, e assistiu a eventos da campanha de Trump.

A esperança do governo brasileiro era que Lula e Trump pudessem conversar por telefone dentro de semanas após a eleição. O próprio Lula reconheceu rapidamente a vitória de Trump e, numa mensagem pública nas redes sociais, indicou estar aberto ao “diálogo” com o republicano. A intenção era deixar para trás declarações de campanha em que ambos apoiaram candidatos adversários - Jair Bolsonaro e Kamala Harris - e fizeram comentários pejorativos um sobre o outro.

A chave era a montagem do próximo governo trumpista. A partir das indicações, figuras-chave, como o senador Marco Rubio, próximo secretário de Estado dos EUA, deveriam ser buscadas pelo governo Lula. Embora prenunciem um embate duro de políticas e prioridades, com reforço de linhas anti-imigração e negacionistas na equipe de Trump, figuras centrais no governo Lula passaram a pregar a necessidade de dialogar e não pré-julgar.

“Temos que respeitar os processos (democráticos) de todos os países. Vamos ver como as coisas evoluem. Outro dia alguém me perguntou o que eu acho dos nomes. Eu não julgo nomes, julgo atos, julgo ações. Depois de ver como evoluem essas ações é que a gente vai dizer”, afirmou na sexta-feira, dia 16, o assessor especial Celso Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro internacional de Lula. “Na política, o que interessa é o resultado. Vamos esperar que mesmo na busca do seu interesse, da America Great, o presidente Trump também ajude. Fiquei contente de ver Elon Musk conversar com o embaixador do Irã. A conversa e o diálogo podem trazer paz ao mundo, não as reafirmações de princípios individuais.”

O maior sinal de reprovação a Janja veio do próprio Lula. Horas depois da fala de sua mulher, ele a desautorizou em público, embora sem fazer uma menção direta a ela. “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, afirmou o presidente, no encerramento do festival de música para promover a Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, na zona portuária do Rio.

A série de shows havia sido elaborada pelo governo sob medida para a própria Janja. A primeira-dama irritou-se com o apelido “Janjapalooza” dado ao festival. Ela teve grande exposição, apresentando atrações no palco e participando de debates paralelos à Cúpula de Líderes do G-20.

O presidente Lula participa do encerramento do G-20 Social, no Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Críticas à Argentina

Em um discurso prévio, Janja também jogou contra esforços diplomáticos ao criticar abertamente as atitudes da Argentina, sob o comando do libertário Javier Milei, também aliado de Trump. O presidente ultraliberal - rival do petista e com quem também não há diálogo - converteu-se em um obstáculo ao sucesso do G-20 por ter ordenado oposição ampla à agenda de debates. Em socorro à diplomacia brasileira, o presidente francês Emmanuel Macron se dispôs a viajar a Buenos Aires para tentar fazer Milei ceder, enquanto Janja reclamava da diplomacia argentina por vetar a agenda de gênero.

O caso do xingamento a Musk pode gerar ainda danos políticos internos. A oposição já agiu no Congresso e pretende levar o chanceler Mauro Vieira para dar explicações sobre as consequências da ofensa na Câmara dos Deputados. Um pedido de convocação foi protocolado pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS). O ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e Musk, disse que o governo contratou “mais um problema diplomático”.

RIO - O xingamento proferido pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao bilionário Elon Musk prejudica a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um elo com o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração se choca com a tentativa do Palácio do Planalto de minimizar divergências e abrir canais com o futuro ocupante da Casa Branca, agindo de forma menos ideológica e mais “pragmática”.

Sem razão aparente, Janja ofendeu não apenas um apoiador e financiador de Trump, empresário com negócios no Brasil, mas um futuro integrante do governo norte-americano, indicado por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, órgão que o republicano pretende criar.

O Estadão procurou a assessoria da primeira-dama para ouvi-la sobre o caso. A resposta chegou na manhã deste domingo, dia 17. Não haverá qualquer comentário.

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, durante evento no sábado, 16 Foto: Luis Robayo/AFP

Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio. Por receio de serem retaliados no governo, eles jamais aceitam falar publicamente e mesmo assim são muito cautelosos. “É a nova diplomacia”, ironizou um deles, que acompanha os preparativos do G-20 no Rio. “Com essas palavras?”, reagiu outro espantado. A definição de um terceiro diplomata foi: “Contraproducente”.

Um secretário do Itamaraty disse que a eleição de Trump “mudou o mundo como a gente conhece”. “Será inacreditável”, afirmou ele, chocado com as escolhas de Trump para a montagem de governo e com o impacto que a eleição já tem nas discussões do G-20 e nos fóruns multilaterais. Para ele, todas as reações são compreensíveis, embora não devessem ser verbalizadas.

A ofensa de Janja e a resposta de Musk

Neste sábado, dia 16, Janja participava de uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação no Cria G-20, um dos eventos paralelos à Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas.

Então, sem razão aparente, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse Janja.

O bilionário reagiu em seu perfil no X momentos depois, indicando por meio da sigla “lol” que estava dando risadas do ocorrido. Ao comentar outro post na plataforma, Musk afirmou que “eles”, em indicação ao governo atual, vão perder as próximas eleições.

Lula: “não temos que xingar ninguém”

Como o Estadão antecipou, a diplomacia brasileira trabalhava em prol de um telefonema entre Trump e Lula. O Palácio do Planalto não tinha canais de diálogo com Trump e seu entorno, muito ligados ao bolsonarismo. A tarefa coube à embaixada brasileira em Washington, que nos últimos meses cultivou laços com integrantes do Partido Republicano, como congressistas, e assistiu a eventos da campanha de Trump.

A esperança do governo brasileiro era que Lula e Trump pudessem conversar por telefone dentro de semanas após a eleição. O próprio Lula reconheceu rapidamente a vitória de Trump e, numa mensagem pública nas redes sociais, indicou estar aberto ao “diálogo” com o republicano. A intenção era deixar para trás declarações de campanha em que ambos apoiaram candidatos adversários - Jair Bolsonaro e Kamala Harris - e fizeram comentários pejorativos um sobre o outro.

A chave era a montagem do próximo governo trumpista. A partir das indicações, figuras-chave, como o senador Marco Rubio, próximo secretário de Estado dos EUA, deveriam ser buscadas pelo governo Lula. Embora prenunciem um embate duro de políticas e prioridades, com reforço de linhas anti-imigração e negacionistas na equipe de Trump, figuras centrais no governo Lula passaram a pregar a necessidade de dialogar e não pré-julgar.

“Temos que respeitar os processos (democráticos) de todos os países. Vamos ver como as coisas evoluem. Outro dia alguém me perguntou o que eu acho dos nomes. Eu não julgo nomes, julgo atos, julgo ações. Depois de ver como evoluem essas ações é que a gente vai dizer”, afirmou na sexta-feira, dia 16, o assessor especial Celso Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro internacional de Lula. “Na política, o que interessa é o resultado. Vamos esperar que mesmo na busca do seu interesse, da America Great, o presidente Trump também ajude. Fiquei contente de ver Elon Musk conversar com o embaixador do Irã. A conversa e o diálogo podem trazer paz ao mundo, não as reafirmações de princípios individuais.”

O maior sinal de reprovação a Janja veio do próprio Lula. Horas depois da fala de sua mulher, ele a desautorizou em público, embora sem fazer uma menção direta a ela. “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, afirmou o presidente, no encerramento do festival de música para promover a Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, na zona portuária do Rio.

A série de shows havia sido elaborada pelo governo sob medida para a própria Janja. A primeira-dama irritou-se com o apelido “Janjapalooza” dado ao festival. Ela teve grande exposição, apresentando atrações no palco e participando de debates paralelos à Cúpula de Líderes do G-20.

O presidente Lula participa do encerramento do G-20 Social, no Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Críticas à Argentina

Em um discurso prévio, Janja também jogou contra esforços diplomáticos ao criticar abertamente as atitudes da Argentina, sob o comando do libertário Javier Milei, também aliado de Trump. O presidente ultraliberal - rival do petista e com quem também não há diálogo - converteu-se em um obstáculo ao sucesso do G-20 por ter ordenado oposição ampla à agenda de debates. Em socorro à diplomacia brasileira, o presidente francês Emmanuel Macron se dispôs a viajar a Buenos Aires para tentar fazer Milei ceder, enquanto Janja reclamava da diplomacia argentina por vetar a agenda de gênero.

O caso do xingamento a Musk pode gerar ainda danos políticos internos. A oposição já agiu no Congresso e pretende levar o chanceler Mauro Vieira para dar explicações sobre as consequências da ofensa na Câmara dos Deputados. Um pedido de convocação foi protocolado pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS). O ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e Musk, disse que o governo contratou “mais um problema diplomático”.

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