Xinjiang é um vasto território desértico de 1,7 milhão de quilômetros quadrados na antiga Rota da Seda, sem o qual a China, terceiro maior país do mundo, seria menor que o Brasil, o quinto. Localizada no extremo oeste, na fronteira com Paquistão e Afeganistão, Xinjiang ocupa uma área equivalente a 17% do território chinês, mas abriga apenas 1,5% da população da China, de 1,3 bilhão. Além de ser a maior do país, a província é estratégica por concentrar 15% das reservas nacionais de petróleo e 20% das de gás.
Nessa província gigante que faz fronteira com oito países, da Rússia à Caxemira disputada com a Índia, é que se concentram as verdadeiras dores de cabeça do regime chinês. O Tibete é mais famoso, graças à mística de seus mosteiros budistas, à fama do dalai-lama e ao esplendor do Himalaia. Mas os tibetanos, em sua placidez lamaísta, não têm ambições separatistas. Os muçulmanos uigures são uma história diferente. Xinjiang é povoada por 20 milhões de habitantes de 47 etnias, dos quais 8,3 milhões são uigures - muçulmanos de língua turca.
Com língua, religião e identidade étnica mais próxima aos povos da Ásia Central do que aos chineses do leste da China, os uigures representavam um desafio ao desejo do Partido Comunista de restabelecer o território que a China tinha durante o império e havia sido desagregado durante a guerra civil que chegou ao fim em 1949. A solução foi estimular a migração dos han para província, dominada por desertos e montanhas.
Hoje, a etnia han, majoritária no país, representa 41% da população de Xinjiang. Os uigures, que antes representavam 74%, passaram para 45%. Os restantes 14% pertencem a outras minorias étnicas. Os imigrantes concentraram-se na capital, Urumqi, e tornaram-se a elite econômica, o que nutre o ressentimento dos uigures contra os han e o governo. Além dos uigures, vivem na região integrantes das etnias han, casaque, hui, mongol, quirguiz, tajique, xibe, ozbek, mandchu, daur e tártara, além de russos.
Por séculos, as principais atividades econômicas da região vinham sendo a agricultura e o comércio, com cidades como Kahshgar prosperando como entrepostos da famosa Rota da Seda. No começo do século 20, os uigures chegaram a declarar independência. Mas, em 1949, a região passou a ser controlada pela China comunista. Oficialmente, Xinjiang é uma região autônoma da China, como o Tibete, que fica mais ao sul.
As revoltas se intensificaram em 1990, logo após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão e da independência das três ex-repúblicas Soviéticas na fronteira com Xinjiang - Casaquistão, Tajiquistão e Quirguistão. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, Pequim reforçou a repressão em nome da luta antiterrorista.
Xinjiang abriga grupos militantes capazes não de desestabilizar, mas de incomodar Pequim. Os uigures são maioria na região, e o Movimento Islâmico do Turquestão do Leste (MITL) quer torná-lo em país independente. Pequim diz que militantes uigures vem realizando uma campanha violenta pela independência da região, com ataques a bomba, sabotagem e incitando a população à revolta. Desde os ataques de 9 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a China vem acusando separatistas uigures de manter ligações com a Al-Qaeda. O governo chinês diz que os uigures foram treinados e doutrinados por militantes islâmicos no Afeganistão, mas há poucas evidências que confirmem essas afirmações.
Mais de 20 uigures foram capturados por militares americanos na sua invasão ao Afeganistão em 2001. Apesar de terem sido mantidos na prisão de Guantánamo por seis anos, estes uigures nunca chegaram a ser formalmente indiciados.
(Com Cláudia Trevisan e Lourival Sant' Anna, de O Estado de S. Paulo, e BBC Brasil)
Texto atualizado em 7 de julho.