A arte de criar violinos: da paixão de infância à busca pela tradição


Quando era adolescente na Coreia do Sul, Ayoung An decidiu que seria luthier de violinos. Sua jornada a levou até Cremona, na Itália, famoso centro de mestres como Antonio Stradivari

Por Valeriya Safronova

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ayoung An tinha 8 anos, seus pais lhe compraram um violino. Toda noite ela dormia com o instrumento no travesseiro.

A luthier sul-coreana Ayoung An, uma estrela em ascensão no mundo da fabricação de violinos, trabalha em seu estúdio em Cremona, na Itália. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Dois anos depois, uma loja de instrumentos musicais foi aberta em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, sua cidade natal, e Ayoung se tornou uma presença constante, cobrindo o dono de perguntas. “Acho que eu enchia muito a paciência dele”, disse An, hoje com 32 anos.

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Quando adolescente, ela decidiu que se tornaria luthier de violinos. Com o tempo, uma jornada cheia de reviravoltas a levou até Cremona, no norte da Itália – desde o século 16 um famoso centro de fabricantes de violinos, entre eles mestres como Antonio Stradivari. Hoje An tem oficina própria na cidade e é uma estrela em ascensão no mundo da luteria, com prêmios internacionais no currículo.

Situado numa rua tranquila de paralelepípedos, o estúdio de An é banhado por luz natural e está repleto de livros e pilhas de madeira que precisam secar ao ar livre por cinco a dez anos antes de se tornarem instrumentos – para não correrem o risco de empenar. Ela divide o estúdio de dois cômodos com seu marido, Wangsoo Han, que também é luthier.

Ayoung An em Cremona, lar de mestres famosos como Antonio Stradivari. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times
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Semanas atrás, An estava debruçada sobre um pedaço de madeira de 50 centímetros, preso no lugar por dois grampos de metal. Curvando o corpo para fazer mais força, ela raspava a madeira com uma goiva, removendo camadas em movimentos firmes e constantes. Ela estava formando um braço curvo chamado “voluta”, uma das etapas posteriores da produção de violinos e violoncelos. Naquele dia, estava imersa na encomenda de um violoncelo, que tem um processo de fabricação semelhante.

Violinos como o de An, feitos segundo a tradição de Stradivari e Giuseppe Guarneri, exigem cerca de dois meses de trabalho e são vendidos por cerca de US$ 18.000. “Consigo fazer um violino em três semanas, mas não gosto”, disse An. “É um objeto muito precioso para a pessoa que o compra”.

An tinha 17 anos quando bolou seu plano para aprender o ofício: ela se mudaria para a casa de uma família americana num subúrbio de Chicago para poder frequentar uma escola de ensino médio local, dominar o inglês e, por fim, estudar na Escola de Fabricação de Violinos de Chicago. Naquela época, não havia escolas desse tipo na Coreia. Seus pais, com receio de ela se mudar para tão longe para seguir uma carreira incerta, tentaram impedi-la.

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A estante de An contém potes de pigmento para polimento e potes de pó para envernizamento. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

“Fiquei dias sem comer”, disse An. No fim, eles cederam. “Quando me despedi dos meus pais no aeroporto, eles ficaram chorando”, disse ela. “Mas eu não. Eu estava muito animada”.

Dois anos depois de se mudar para Illinois, ela descobriu que uma das escolas mais conhecidas, a Escola Internacional de Fabricação de Violinos, ficava em Cremona. Então, em 2011, aos 20 anos, ela se mudou mais uma vez para um novo país.

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Cremona foi o lar de alguns dos luthiers mais famosos da história: Stradivari; Andrea Amati, considerado “o pai do violino”; e a família Guarneri. Para os atuais 160 a 200 fabricantes de violinos em Cremona, a qualidade sonora dos mestres continua sendo o objetivo final. “O método tradicional não passa por experimentos”, disse An.

Estúdio de Ayoung An, onde ela constrói os instrumentos. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Em mesas e prateleiras por todo o estúdio, potinhos de pigmento para envernizar e de vidro e minerais moído para polir. Numa das paredes, dezenas de lâminas, cinzéis e serras – além de ferramentas de dentista para arranhar o instrumento e criar uma aparência mais antiga.

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An é a integrante mais jovem de um consórcio dedicado a manter as tradições da fabricação de violinos em Cremona. Ela está tão imersa no método de fabricação que, por sugestão de um mentor, criou um nome de artista, Anna Arietti, para se adequar melhor à cultura italiana.

Um momento importante é quando os luthiers colocam sua etiqueta dentro do instrumento, ritual chamado de “batismo”. Para fazer sua etiqueta, An carimba sua assinatura a tinta em um pequeno pedaço de papel – uma página amarelada de um livro usado, para dar a impressão de coisa antiga. Em seguida, usando uma tradicional mistura caseira de pele bovina derretida com pele de coelho, ela cola a etiqueta dentro de uma das metades do instrumento. Ela também queima a assinatura de seu nome coreano com um pequeno ferrete aquecido.

Em seguida, as duas metades são seladas, completando o corpo do instrumento. Seu nome artístico italiano fica do lado de dentro, intacto por toda a vida do violino.

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“É por isso que eu queria fazer violinos”, disse An. “Se uma única pessoa tocar meu violino daqui a cem ou duzentos anos, serei lembrada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ayoung An tinha 8 anos, seus pais lhe compraram um violino. Toda noite ela dormia com o instrumento no travesseiro.

A luthier sul-coreana Ayoung An, uma estrela em ascensão no mundo da fabricação de violinos, trabalha em seu estúdio em Cremona, na Itália. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Dois anos depois, uma loja de instrumentos musicais foi aberta em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, sua cidade natal, e Ayoung se tornou uma presença constante, cobrindo o dono de perguntas. “Acho que eu enchia muito a paciência dele”, disse An, hoje com 32 anos.

Quando adolescente, ela decidiu que se tornaria luthier de violinos. Com o tempo, uma jornada cheia de reviravoltas a levou até Cremona, no norte da Itália – desde o século 16 um famoso centro de fabricantes de violinos, entre eles mestres como Antonio Stradivari. Hoje An tem oficina própria na cidade e é uma estrela em ascensão no mundo da luteria, com prêmios internacionais no currículo.

Situado numa rua tranquila de paralelepípedos, o estúdio de An é banhado por luz natural e está repleto de livros e pilhas de madeira que precisam secar ao ar livre por cinco a dez anos antes de se tornarem instrumentos – para não correrem o risco de empenar. Ela divide o estúdio de dois cômodos com seu marido, Wangsoo Han, que também é luthier.

Ayoung An em Cremona, lar de mestres famosos como Antonio Stradivari. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Semanas atrás, An estava debruçada sobre um pedaço de madeira de 50 centímetros, preso no lugar por dois grampos de metal. Curvando o corpo para fazer mais força, ela raspava a madeira com uma goiva, removendo camadas em movimentos firmes e constantes. Ela estava formando um braço curvo chamado “voluta”, uma das etapas posteriores da produção de violinos e violoncelos. Naquele dia, estava imersa na encomenda de um violoncelo, que tem um processo de fabricação semelhante.

Violinos como o de An, feitos segundo a tradição de Stradivari e Giuseppe Guarneri, exigem cerca de dois meses de trabalho e são vendidos por cerca de US$ 18.000. “Consigo fazer um violino em três semanas, mas não gosto”, disse An. “É um objeto muito precioso para a pessoa que o compra”.

An tinha 17 anos quando bolou seu plano para aprender o ofício: ela se mudaria para a casa de uma família americana num subúrbio de Chicago para poder frequentar uma escola de ensino médio local, dominar o inglês e, por fim, estudar na Escola de Fabricação de Violinos de Chicago. Naquela época, não havia escolas desse tipo na Coreia. Seus pais, com receio de ela se mudar para tão longe para seguir uma carreira incerta, tentaram impedi-la.

A estante de An contém potes de pigmento para polimento e potes de pó para envernizamento. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

“Fiquei dias sem comer”, disse An. No fim, eles cederam. “Quando me despedi dos meus pais no aeroporto, eles ficaram chorando”, disse ela. “Mas eu não. Eu estava muito animada”.

Dois anos depois de se mudar para Illinois, ela descobriu que uma das escolas mais conhecidas, a Escola Internacional de Fabricação de Violinos, ficava em Cremona. Então, em 2011, aos 20 anos, ela se mudou mais uma vez para um novo país.

Cremona foi o lar de alguns dos luthiers mais famosos da história: Stradivari; Andrea Amati, considerado “o pai do violino”; e a família Guarneri. Para os atuais 160 a 200 fabricantes de violinos em Cremona, a qualidade sonora dos mestres continua sendo o objetivo final. “O método tradicional não passa por experimentos”, disse An.

Estúdio de Ayoung An, onde ela constrói os instrumentos. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Em mesas e prateleiras por todo o estúdio, potinhos de pigmento para envernizar e de vidro e minerais moído para polir. Numa das paredes, dezenas de lâminas, cinzéis e serras – além de ferramentas de dentista para arranhar o instrumento e criar uma aparência mais antiga.

An é a integrante mais jovem de um consórcio dedicado a manter as tradições da fabricação de violinos em Cremona. Ela está tão imersa no método de fabricação que, por sugestão de um mentor, criou um nome de artista, Anna Arietti, para se adequar melhor à cultura italiana.

Um momento importante é quando os luthiers colocam sua etiqueta dentro do instrumento, ritual chamado de “batismo”. Para fazer sua etiqueta, An carimba sua assinatura a tinta em um pequeno pedaço de papel – uma página amarelada de um livro usado, para dar a impressão de coisa antiga. Em seguida, usando uma tradicional mistura caseira de pele bovina derretida com pele de coelho, ela cola a etiqueta dentro de uma das metades do instrumento. Ela também queima a assinatura de seu nome coreano com um pequeno ferrete aquecido.

Em seguida, as duas metades são seladas, completando o corpo do instrumento. Seu nome artístico italiano fica do lado de dentro, intacto por toda a vida do violino.

“É por isso que eu queria fazer violinos”, disse An. “Se uma única pessoa tocar meu violino daqui a cem ou duzentos anos, serei lembrada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ayoung An tinha 8 anos, seus pais lhe compraram um violino. Toda noite ela dormia com o instrumento no travesseiro.

A luthier sul-coreana Ayoung An, uma estrela em ascensão no mundo da fabricação de violinos, trabalha em seu estúdio em Cremona, na Itália. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Dois anos depois, uma loja de instrumentos musicais foi aberta em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, sua cidade natal, e Ayoung se tornou uma presença constante, cobrindo o dono de perguntas. “Acho que eu enchia muito a paciência dele”, disse An, hoje com 32 anos.

Quando adolescente, ela decidiu que se tornaria luthier de violinos. Com o tempo, uma jornada cheia de reviravoltas a levou até Cremona, no norte da Itália – desde o século 16 um famoso centro de fabricantes de violinos, entre eles mestres como Antonio Stradivari. Hoje An tem oficina própria na cidade e é uma estrela em ascensão no mundo da luteria, com prêmios internacionais no currículo.

Situado numa rua tranquila de paralelepípedos, o estúdio de An é banhado por luz natural e está repleto de livros e pilhas de madeira que precisam secar ao ar livre por cinco a dez anos antes de se tornarem instrumentos – para não correrem o risco de empenar. Ela divide o estúdio de dois cômodos com seu marido, Wangsoo Han, que também é luthier.

Ayoung An em Cremona, lar de mestres famosos como Antonio Stradivari. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Semanas atrás, An estava debruçada sobre um pedaço de madeira de 50 centímetros, preso no lugar por dois grampos de metal. Curvando o corpo para fazer mais força, ela raspava a madeira com uma goiva, removendo camadas em movimentos firmes e constantes. Ela estava formando um braço curvo chamado “voluta”, uma das etapas posteriores da produção de violinos e violoncelos. Naquele dia, estava imersa na encomenda de um violoncelo, que tem um processo de fabricação semelhante.

Violinos como o de An, feitos segundo a tradição de Stradivari e Giuseppe Guarneri, exigem cerca de dois meses de trabalho e são vendidos por cerca de US$ 18.000. “Consigo fazer um violino em três semanas, mas não gosto”, disse An. “É um objeto muito precioso para a pessoa que o compra”.

An tinha 17 anos quando bolou seu plano para aprender o ofício: ela se mudaria para a casa de uma família americana num subúrbio de Chicago para poder frequentar uma escola de ensino médio local, dominar o inglês e, por fim, estudar na Escola de Fabricação de Violinos de Chicago. Naquela época, não havia escolas desse tipo na Coreia. Seus pais, com receio de ela se mudar para tão longe para seguir uma carreira incerta, tentaram impedi-la.

A estante de An contém potes de pigmento para polimento e potes de pó para envernizamento. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

“Fiquei dias sem comer”, disse An. No fim, eles cederam. “Quando me despedi dos meus pais no aeroporto, eles ficaram chorando”, disse ela. “Mas eu não. Eu estava muito animada”.

Dois anos depois de se mudar para Illinois, ela descobriu que uma das escolas mais conhecidas, a Escola Internacional de Fabricação de Violinos, ficava em Cremona. Então, em 2011, aos 20 anos, ela se mudou mais uma vez para um novo país.

Cremona foi o lar de alguns dos luthiers mais famosos da história: Stradivari; Andrea Amati, considerado “o pai do violino”; e a família Guarneri. Para os atuais 160 a 200 fabricantes de violinos em Cremona, a qualidade sonora dos mestres continua sendo o objetivo final. “O método tradicional não passa por experimentos”, disse An.

Estúdio de Ayoung An, onde ela constrói os instrumentos. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Em mesas e prateleiras por todo o estúdio, potinhos de pigmento para envernizar e de vidro e minerais moído para polir. Numa das paredes, dezenas de lâminas, cinzéis e serras – além de ferramentas de dentista para arranhar o instrumento e criar uma aparência mais antiga.

An é a integrante mais jovem de um consórcio dedicado a manter as tradições da fabricação de violinos em Cremona. Ela está tão imersa no método de fabricação que, por sugestão de um mentor, criou um nome de artista, Anna Arietti, para se adequar melhor à cultura italiana.

Um momento importante é quando os luthiers colocam sua etiqueta dentro do instrumento, ritual chamado de “batismo”. Para fazer sua etiqueta, An carimba sua assinatura a tinta em um pequeno pedaço de papel – uma página amarelada de um livro usado, para dar a impressão de coisa antiga. Em seguida, usando uma tradicional mistura caseira de pele bovina derretida com pele de coelho, ela cola a etiqueta dentro de uma das metades do instrumento. Ela também queima a assinatura de seu nome coreano com um pequeno ferrete aquecido.

Em seguida, as duas metades são seladas, completando o corpo do instrumento. Seu nome artístico italiano fica do lado de dentro, intacto por toda a vida do violino.

“É por isso que eu queria fazer violinos”, disse An. “Se uma única pessoa tocar meu violino daqui a cem ou duzentos anos, serei lembrada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ayoung An tinha 8 anos, seus pais lhe compraram um violino. Toda noite ela dormia com o instrumento no travesseiro.

A luthier sul-coreana Ayoung An, uma estrela em ascensão no mundo da fabricação de violinos, trabalha em seu estúdio em Cremona, na Itália. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Dois anos depois, uma loja de instrumentos musicais foi aberta em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, sua cidade natal, e Ayoung se tornou uma presença constante, cobrindo o dono de perguntas. “Acho que eu enchia muito a paciência dele”, disse An, hoje com 32 anos.

Quando adolescente, ela decidiu que se tornaria luthier de violinos. Com o tempo, uma jornada cheia de reviravoltas a levou até Cremona, no norte da Itália – desde o século 16 um famoso centro de fabricantes de violinos, entre eles mestres como Antonio Stradivari. Hoje An tem oficina própria na cidade e é uma estrela em ascensão no mundo da luteria, com prêmios internacionais no currículo.

Situado numa rua tranquila de paralelepípedos, o estúdio de An é banhado por luz natural e está repleto de livros e pilhas de madeira que precisam secar ao ar livre por cinco a dez anos antes de se tornarem instrumentos – para não correrem o risco de empenar. Ela divide o estúdio de dois cômodos com seu marido, Wangsoo Han, que também é luthier.

Ayoung An em Cremona, lar de mestres famosos como Antonio Stradivari. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Semanas atrás, An estava debruçada sobre um pedaço de madeira de 50 centímetros, preso no lugar por dois grampos de metal. Curvando o corpo para fazer mais força, ela raspava a madeira com uma goiva, removendo camadas em movimentos firmes e constantes. Ela estava formando um braço curvo chamado “voluta”, uma das etapas posteriores da produção de violinos e violoncelos. Naquele dia, estava imersa na encomenda de um violoncelo, que tem um processo de fabricação semelhante.

Violinos como o de An, feitos segundo a tradição de Stradivari e Giuseppe Guarneri, exigem cerca de dois meses de trabalho e são vendidos por cerca de US$ 18.000. “Consigo fazer um violino em três semanas, mas não gosto”, disse An. “É um objeto muito precioso para a pessoa que o compra”.

An tinha 17 anos quando bolou seu plano para aprender o ofício: ela se mudaria para a casa de uma família americana num subúrbio de Chicago para poder frequentar uma escola de ensino médio local, dominar o inglês e, por fim, estudar na Escola de Fabricação de Violinos de Chicago. Naquela época, não havia escolas desse tipo na Coreia. Seus pais, com receio de ela se mudar para tão longe para seguir uma carreira incerta, tentaram impedi-la.

A estante de An contém potes de pigmento para polimento e potes de pó para envernizamento. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

“Fiquei dias sem comer”, disse An. No fim, eles cederam. “Quando me despedi dos meus pais no aeroporto, eles ficaram chorando”, disse ela. “Mas eu não. Eu estava muito animada”.

Dois anos depois de se mudar para Illinois, ela descobriu que uma das escolas mais conhecidas, a Escola Internacional de Fabricação de Violinos, ficava em Cremona. Então, em 2011, aos 20 anos, ela se mudou mais uma vez para um novo país.

Cremona foi o lar de alguns dos luthiers mais famosos da história: Stradivari; Andrea Amati, considerado “o pai do violino”; e a família Guarneri. Para os atuais 160 a 200 fabricantes de violinos em Cremona, a qualidade sonora dos mestres continua sendo o objetivo final. “O método tradicional não passa por experimentos”, disse An.

Estúdio de Ayoung An, onde ela constrói os instrumentos. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Em mesas e prateleiras por todo o estúdio, potinhos de pigmento para envernizar e de vidro e minerais moído para polir. Numa das paredes, dezenas de lâminas, cinzéis e serras – além de ferramentas de dentista para arranhar o instrumento e criar uma aparência mais antiga.

An é a integrante mais jovem de um consórcio dedicado a manter as tradições da fabricação de violinos em Cremona. Ela está tão imersa no método de fabricação que, por sugestão de um mentor, criou um nome de artista, Anna Arietti, para se adequar melhor à cultura italiana.

Um momento importante é quando os luthiers colocam sua etiqueta dentro do instrumento, ritual chamado de “batismo”. Para fazer sua etiqueta, An carimba sua assinatura a tinta em um pequeno pedaço de papel – uma página amarelada de um livro usado, para dar a impressão de coisa antiga. Em seguida, usando uma tradicional mistura caseira de pele bovina derretida com pele de coelho, ela cola a etiqueta dentro de uma das metades do instrumento. Ela também queima a assinatura de seu nome coreano com um pequeno ferrete aquecido.

Em seguida, as duas metades são seladas, completando o corpo do instrumento. Seu nome artístico italiano fica do lado de dentro, intacto por toda a vida do violino.

“É por isso que eu queria fazer violinos”, disse An. “Se uma única pessoa tocar meu violino daqui a cem ou duzentos anos, serei lembrada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ayoung An tinha 8 anos, seus pais lhe compraram um violino. Toda noite ela dormia com o instrumento no travesseiro.

A luthier sul-coreana Ayoung An, uma estrela em ascensão no mundo da fabricação de violinos, trabalha em seu estúdio em Cremona, na Itália. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Dois anos depois, uma loja de instrumentos musicais foi aberta em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, sua cidade natal, e Ayoung se tornou uma presença constante, cobrindo o dono de perguntas. “Acho que eu enchia muito a paciência dele”, disse An, hoje com 32 anos.

Quando adolescente, ela decidiu que se tornaria luthier de violinos. Com o tempo, uma jornada cheia de reviravoltas a levou até Cremona, no norte da Itália – desde o século 16 um famoso centro de fabricantes de violinos, entre eles mestres como Antonio Stradivari. Hoje An tem oficina própria na cidade e é uma estrela em ascensão no mundo da luteria, com prêmios internacionais no currículo.

Situado numa rua tranquila de paralelepípedos, o estúdio de An é banhado por luz natural e está repleto de livros e pilhas de madeira que precisam secar ao ar livre por cinco a dez anos antes de se tornarem instrumentos – para não correrem o risco de empenar. Ela divide o estúdio de dois cômodos com seu marido, Wangsoo Han, que também é luthier.

Ayoung An em Cremona, lar de mestres famosos como Antonio Stradivari. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Semanas atrás, An estava debruçada sobre um pedaço de madeira de 50 centímetros, preso no lugar por dois grampos de metal. Curvando o corpo para fazer mais força, ela raspava a madeira com uma goiva, removendo camadas em movimentos firmes e constantes. Ela estava formando um braço curvo chamado “voluta”, uma das etapas posteriores da produção de violinos e violoncelos. Naquele dia, estava imersa na encomenda de um violoncelo, que tem um processo de fabricação semelhante.

Violinos como o de An, feitos segundo a tradição de Stradivari e Giuseppe Guarneri, exigem cerca de dois meses de trabalho e são vendidos por cerca de US$ 18.000. “Consigo fazer um violino em três semanas, mas não gosto”, disse An. “É um objeto muito precioso para a pessoa que o compra”.

An tinha 17 anos quando bolou seu plano para aprender o ofício: ela se mudaria para a casa de uma família americana num subúrbio de Chicago para poder frequentar uma escola de ensino médio local, dominar o inglês e, por fim, estudar na Escola de Fabricação de Violinos de Chicago. Naquela época, não havia escolas desse tipo na Coreia. Seus pais, com receio de ela se mudar para tão longe para seguir uma carreira incerta, tentaram impedi-la.

A estante de An contém potes de pigmento para polimento e potes de pó para envernizamento. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

“Fiquei dias sem comer”, disse An. No fim, eles cederam. “Quando me despedi dos meus pais no aeroporto, eles ficaram chorando”, disse ela. “Mas eu não. Eu estava muito animada”.

Dois anos depois de se mudar para Illinois, ela descobriu que uma das escolas mais conhecidas, a Escola Internacional de Fabricação de Violinos, ficava em Cremona. Então, em 2011, aos 20 anos, ela se mudou mais uma vez para um novo país.

Cremona foi o lar de alguns dos luthiers mais famosos da história: Stradivari; Andrea Amati, considerado “o pai do violino”; e a família Guarneri. Para os atuais 160 a 200 fabricantes de violinos em Cremona, a qualidade sonora dos mestres continua sendo o objetivo final. “O método tradicional não passa por experimentos”, disse An.

Estúdio de Ayoung An, onde ela constrói os instrumentos. Foto: Sasha Arutyunova/The New York Times

Em mesas e prateleiras por todo o estúdio, potinhos de pigmento para envernizar e de vidro e minerais moído para polir. Numa das paredes, dezenas de lâminas, cinzéis e serras – além de ferramentas de dentista para arranhar o instrumento e criar uma aparência mais antiga.

An é a integrante mais jovem de um consórcio dedicado a manter as tradições da fabricação de violinos em Cremona. Ela está tão imersa no método de fabricação que, por sugestão de um mentor, criou um nome de artista, Anna Arietti, para se adequar melhor à cultura italiana.

Um momento importante é quando os luthiers colocam sua etiqueta dentro do instrumento, ritual chamado de “batismo”. Para fazer sua etiqueta, An carimba sua assinatura a tinta em um pequeno pedaço de papel – uma página amarelada de um livro usado, para dar a impressão de coisa antiga. Em seguida, usando uma tradicional mistura caseira de pele bovina derretida com pele de coelho, ela cola a etiqueta dentro de uma das metades do instrumento. Ela também queima a assinatura de seu nome coreano com um pequeno ferrete aquecido.

Em seguida, as duas metades são seladas, completando o corpo do instrumento. Seu nome artístico italiano fica do lado de dentro, intacto por toda a vida do violino.

“É por isso que eu queria fazer violinos”, disse An. “Se uma única pessoa tocar meu violino daqui a cem ou duzentos anos, serei lembrada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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