A cultura dominicana do som automotivo está crescendo nos Estados Unidos


Similares aos paredões no Brasil, eles transformam as ruas em festas ao som da bachata, do dembow e do merengue

Por Isabella Herrera

Em uma noite abafada de agosto na Ilha Randalls, um conjunto de Honda Odysseys e CR-Vs foram equipados com fileiras altas de tweeters e subwoofers. Alto-falantes estavam afixados nos tetos ou nos porta-malas dos veículos, pintados em amarelo canário, vermelho sangue e azul índigo.

Essa é a cultura dominicana do som automotivo, notória em Nova York. É o som da bachata, do dembow e do merengue típico infiltrando-se em todas as brechas da cidade nos fins de semana até que a polícia tente interromper a música.

Equipes de som estacionam seus carros em um círculo e cantam canções para tentar afogar uns aos outros enquanto zombam de seus rivais. Foto: Josefina Santos para o The New York Times
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Carlos Cruz, 57, o líder do Time Viruz, e sua esposa, Karina, 44, usavam camisetas que combinavam, estampadas com um texto verde neon.

O Sr. Cruz é um musicólogo, entusiastas que possuem carros com sistemas de som customizados. Eles são como DJs e engenheiros de som ao vivo, selecionando músicas e fazendo mixagens com grandes efeitos.

Os instaladores colocam equipamentos e baterias auxiliares nos carros, que são conhecidos como construções ou projetos. Geralmente são donos de oficinas, que também abrigam equipes de som, grupos que se reúnem em encontros informais em estacionamentos ou participam de competições julgadas em todo o país.

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As equipes da Ilha Randalls gastaram dezenas de milhares de dólares em seus projetos.

Josue Manzueta, do Time La Movie, é o mais novo na cena. Ele chegou a um estacionamento perto do Flushing Meadows Corona Park, no Queens, em um Honda branco Accord Sport 2020. Ele montou seu rádio e um pequeno chuchero, um gabinete com alto-falantes, tweeters e às vezes uma buzina, e reuniu tudo em cima do carro.

O Sr. Manzueta, 20, foi apresentado à cultura do som automotivo por seu pai. “Na República Dominicana, ele tinha uma minivan enorme com 10 alto-falantes e 18 bass”, ele disse. Seus pais imigraram para os Estados Unidos, onde ele nasceu. “Ele me levou a um evento exatamente onde estamos agora, há seis anos. E eu me apaixonei”, o sr. Manzueta disse.

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Os musicólogos e a polícia quase nunca se entendem. Se a situação piora, o confisco é comum. Se a polícia não consegue remover facilmente os alto-falantes, apreende o veículo e emite uma intimação judicial que pode levar a multas. Eddie Peña, instalador meio-período de 21 anos, disse que os musicólogos podem esperar meses para recuperarem seu veículo e, se não tiverem o documento de propriedade do carro, ele vai a um leilão da polícia.

“Sinto que a maioria de nós é realmente mal interpretada como criminosos”, Manzueta disse. “E não somos. A maioria de nós tem empregos das 9 às 17hs”.

Essa é uma cultura nascida do amor ao som, à comunidade, de um sentimento de pertencimento a um país que é difícil chamar de seu.

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Em uma tarde nublada de agosto, em sua oficina em Long Island, Adrian Abreu Bonifacio estava dormindo em pé. Ele havia passado os últimos dois dias trabalhando sem parar com um cliente para construir seu sistema do zero.

As equipes de som gastarão dezenas de milhares de dólares customizando veículos com fileiras de alto-falantes. Foto: Josefina Santos para o The New York Times

O Sr. Abreu Bonifacio, 36, cresceu na República Dominicana brincando com rádios de carros. Hoje ele é instalador em tempo integral.

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Ele disse que, embora a cultura do som automotivo seja popular em diferentes comunidades diaspóricas afro-caribenhas e latino-americanas, na região de Nova York os dominicanos ofuscam o resto. “É muito raro ver alguém com um projeto de magnitude que não seja dominicano”, ele disse.

“Os dominicanos, neste país, causam um desorden”, ele disse.

Um desorden é um alvoroço, uma perturbação, uma comoção. No último fim de semana de agosto, outro desorden ocorreu em uma feira de carros no Wall Stadium Speedway em Wall Township, Nova Jersey.

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Vans pintadas em magenta neon e rosa pastel estavam reunidas em círculos. Para-brisas, camisetas e bonés estavam enfeitados com os nomes dos times e dos projetos.

Os musicólogos tocaram músicas sobre seus rivais em todo o círculo, na esperança de abafar o som deles.

Os adversários ficaram frente a frente nos tetos dos carros. Seus dedos se curvaram em forma de bocas para zombar da conversa fiada de seus oponentes. Eles faziam sinais no pescoço, simulando uma garganta cortada. Um outro escreveu uma mensagem em seu celular em maiúsculas e desfilou: "NO SON DE NA '." O significado aproximado é"VOCÊ NÃO É NADA."

Essa conversa fiada era inofensiva. Ao contrário, uma sensação de intimidade pairava no ar, o tipo de intimidade que fundamenta a vida diaspórica caribenha. Aqui você pode sentir o conforto e a irmandade que vive no barulho. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Em uma noite abafada de agosto na Ilha Randalls, um conjunto de Honda Odysseys e CR-Vs foram equipados com fileiras altas de tweeters e subwoofers. Alto-falantes estavam afixados nos tetos ou nos porta-malas dos veículos, pintados em amarelo canário, vermelho sangue e azul índigo.

Essa é a cultura dominicana do som automotivo, notória em Nova York. É o som da bachata, do dembow e do merengue típico infiltrando-se em todas as brechas da cidade nos fins de semana até que a polícia tente interromper a música.

Equipes de som estacionam seus carros em um círculo e cantam canções para tentar afogar uns aos outros enquanto zombam de seus rivais. Foto: Josefina Santos para o The New York Times

Carlos Cruz, 57, o líder do Time Viruz, e sua esposa, Karina, 44, usavam camisetas que combinavam, estampadas com um texto verde neon.

O Sr. Cruz é um musicólogo, entusiastas que possuem carros com sistemas de som customizados. Eles são como DJs e engenheiros de som ao vivo, selecionando músicas e fazendo mixagens com grandes efeitos.

Os instaladores colocam equipamentos e baterias auxiliares nos carros, que são conhecidos como construções ou projetos. Geralmente são donos de oficinas, que também abrigam equipes de som, grupos que se reúnem em encontros informais em estacionamentos ou participam de competições julgadas em todo o país.

As equipes da Ilha Randalls gastaram dezenas de milhares de dólares em seus projetos.

Josue Manzueta, do Time La Movie, é o mais novo na cena. Ele chegou a um estacionamento perto do Flushing Meadows Corona Park, no Queens, em um Honda branco Accord Sport 2020. Ele montou seu rádio e um pequeno chuchero, um gabinete com alto-falantes, tweeters e às vezes uma buzina, e reuniu tudo em cima do carro.

O Sr. Manzueta, 20, foi apresentado à cultura do som automotivo por seu pai. “Na República Dominicana, ele tinha uma minivan enorme com 10 alto-falantes e 18 bass”, ele disse. Seus pais imigraram para os Estados Unidos, onde ele nasceu. “Ele me levou a um evento exatamente onde estamos agora, há seis anos. E eu me apaixonei”, o sr. Manzueta disse.

Os musicólogos e a polícia quase nunca se entendem. Se a situação piora, o confisco é comum. Se a polícia não consegue remover facilmente os alto-falantes, apreende o veículo e emite uma intimação judicial que pode levar a multas. Eddie Peña, instalador meio-período de 21 anos, disse que os musicólogos podem esperar meses para recuperarem seu veículo e, se não tiverem o documento de propriedade do carro, ele vai a um leilão da polícia.

“Sinto que a maioria de nós é realmente mal interpretada como criminosos”, Manzueta disse. “E não somos. A maioria de nós tem empregos das 9 às 17hs”.

Essa é uma cultura nascida do amor ao som, à comunidade, de um sentimento de pertencimento a um país que é difícil chamar de seu.

Em uma tarde nublada de agosto, em sua oficina em Long Island, Adrian Abreu Bonifacio estava dormindo em pé. Ele havia passado os últimos dois dias trabalhando sem parar com um cliente para construir seu sistema do zero.

As equipes de som gastarão dezenas de milhares de dólares customizando veículos com fileiras de alto-falantes. Foto: Josefina Santos para o The New York Times

O Sr. Abreu Bonifacio, 36, cresceu na República Dominicana brincando com rádios de carros. Hoje ele é instalador em tempo integral.

Ele disse que, embora a cultura do som automotivo seja popular em diferentes comunidades diaspóricas afro-caribenhas e latino-americanas, na região de Nova York os dominicanos ofuscam o resto. “É muito raro ver alguém com um projeto de magnitude que não seja dominicano”, ele disse.

“Os dominicanos, neste país, causam um desorden”, ele disse.

Um desorden é um alvoroço, uma perturbação, uma comoção. No último fim de semana de agosto, outro desorden ocorreu em uma feira de carros no Wall Stadium Speedway em Wall Township, Nova Jersey.

Vans pintadas em magenta neon e rosa pastel estavam reunidas em círculos. Para-brisas, camisetas e bonés estavam enfeitados com os nomes dos times e dos projetos.

Os musicólogos tocaram músicas sobre seus rivais em todo o círculo, na esperança de abafar o som deles.

Os adversários ficaram frente a frente nos tetos dos carros. Seus dedos se curvaram em forma de bocas para zombar da conversa fiada de seus oponentes. Eles faziam sinais no pescoço, simulando uma garganta cortada. Um outro escreveu uma mensagem em seu celular em maiúsculas e desfilou: "NO SON DE NA '." O significado aproximado é"VOCÊ NÃO É NADA."

Essa conversa fiada era inofensiva. Ao contrário, uma sensação de intimidade pairava no ar, o tipo de intimidade que fundamenta a vida diaspórica caribenha. Aqui você pode sentir o conforto e a irmandade que vive no barulho. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Em uma noite abafada de agosto na Ilha Randalls, um conjunto de Honda Odysseys e CR-Vs foram equipados com fileiras altas de tweeters e subwoofers. Alto-falantes estavam afixados nos tetos ou nos porta-malas dos veículos, pintados em amarelo canário, vermelho sangue e azul índigo.

Essa é a cultura dominicana do som automotivo, notória em Nova York. É o som da bachata, do dembow e do merengue típico infiltrando-se em todas as brechas da cidade nos fins de semana até que a polícia tente interromper a música.

Equipes de som estacionam seus carros em um círculo e cantam canções para tentar afogar uns aos outros enquanto zombam de seus rivais. Foto: Josefina Santos para o The New York Times

Carlos Cruz, 57, o líder do Time Viruz, e sua esposa, Karina, 44, usavam camisetas que combinavam, estampadas com um texto verde neon.

O Sr. Cruz é um musicólogo, entusiastas que possuem carros com sistemas de som customizados. Eles são como DJs e engenheiros de som ao vivo, selecionando músicas e fazendo mixagens com grandes efeitos.

Os instaladores colocam equipamentos e baterias auxiliares nos carros, que são conhecidos como construções ou projetos. Geralmente são donos de oficinas, que também abrigam equipes de som, grupos que se reúnem em encontros informais em estacionamentos ou participam de competições julgadas em todo o país.

As equipes da Ilha Randalls gastaram dezenas de milhares de dólares em seus projetos.

Josue Manzueta, do Time La Movie, é o mais novo na cena. Ele chegou a um estacionamento perto do Flushing Meadows Corona Park, no Queens, em um Honda branco Accord Sport 2020. Ele montou seu rádio e um pequeno chuchero, um gabinete com alto-falantes, tweeters e às vezes uma buzina, e reuniu tudo em cima do carro.

O Sr. Manzueta, 20, foi apresentado à cultura do som automotivo por seu pai. “Na República Dominicana, ele tinha uma minivan enorme com 10 alto-falantes e 18 bass”, ele disse. Seus pais imigraram para os Estados Unidos, onde ele nasceu. “Ele me levou a um evento exatamente onde estamos agora, há seis anos. E eu me apaixonei”, o sr. Manzueta disse.

Os musicólogos e a polícia quase nunca se entendem. Se a situação piora, o confisco é comum. Se a polícia não consegue remover facilmente os alto-falantes, apreende o veículo e emite uma intimação judicial que pode levar a multas. Eddie Peña, instalador meio-período de 21 anos, disse que os musicólogos podem esperar meses para recuperarem seu veículo e, se não tiverem o documento de propriedade do carro, ele vai a um leilão da polícia.

“Sinto que a maioria de nós é realmente mal interpretada como criminosos”, Manzueta disse. “E não somos. A maioria de nós tem empregos das 9 às 17hs”.

Essa é uma cultura nascida do amor ao som, à comunidade, de um sentimento de pertencimento a um país que é difícil chamar de seu.

Em uma tarde nublada de agosto, em sua oficina em Long Island, Adrian Abreu Bonifacio estava dormindo em pé. Ele havia passado os últimos dois dias trabalhando sem parar com um cliente para construir seu sistema do zero.

As equipes de som gastarão dezenas de milhares de dólares customizando veículos com fileiras de alto-falantes. Foto: Josefina Santos para o The New York Times

O Sr. Abreu Bonifacio, 36, cresceu na República Dominicana brincando com rádios de carros. Hoje ele é instalador em tempo integral.

Ele disse que, embora a cultura do som automotivo seja popular em diferentes comunidades diaspóricas afro-caribenhas e latino-americanas, na região de Nova York os dominicanos ofuscam o resto. “É muito raro ver alguém com um projeto de magnitude que não seja dominicano”, ele disse.

“Os dominicanos, neste país, causam um desorden”, ele disse.

Um desorden é um alvoroço, uma perturbação, uma comoção. No último fim de semana de agosto, outro desorden ocorreu em uma feira de carros no Wall Stadium Speedway em Wall Township, Nova Jersey.

Vans pintadas em magenta neon e rosa pastel estavam reunidas em círculos. Para-brisas, camisetas e bonés estavam enfeitados com os nomes dos times e dos projetos.

Os musicólogos tocaram músicas sobre seus rivais em todo o círculo, na esperança de abafar o som deles.

Os adversários ficaram frente a frente nos tetos dos carros. Seus dedos se curvaram em forma de bocas para zombar da conversa fiada de seus oponentes. Eles faziam sinais no pescoço, simulando uma garganta cortada. Um outro escreveu uma mensagem em seu celular em maiúsculas e desfilou: "NO SON DE NA '." O significado aproximado é"VOCÊ NÃO É NADA."

Essa conversa fiada era inofensiva. Ao contrário, uma sensação de intimidade pairava no ar, o tipo de intimidade que fundamenta a vida diaspórica caribenha. Aqui você pode sentir o conforto e a irmandade que vive no barulho. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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