THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Enquanto Mikaela Shiffrin planeja a próxima fase de uma trajetória repleta de recordes como esquiadora, ela considera, como sempre fez, o exemplo de outra megaestrela que enfrentou altos e baixos semelhantes em sua carreira: Taylor Swift.
A americana Shiffrin é a esquiadora alpina mais bem-sucedida e precoce da história da modalidade, tendo quebrado o recorde de mais vitórias na Copa do Mundo, tanto entre as mulheres quanto entre os homens, enquanto ainda estava nos seus melhores anos no esqui. A cantora e compositora americana Swift é a maior estrela pop do mundo, superando um marco depois do outro na indústria musical.
Quando Shiffrin estreou no circuito da Copa do Mundo, estava prestes a completar 16 anos, mesma idade que Swift tinha quando começou a gravar seu álbum de estreia, cinco anos antes. Ambas foram sensações adolescentes, que ganharam muito reconhecimento e dinheiro. Enquanto Swift, nomeada pela revista Time como a Pessoa do Ano de 2023, pode ser a personalidade mais famosa do planeta no momento, Shiffrin, celebrada em seu país, é como uma estrela do rock na Europa, onde a corrida de esqui é o esporte nacional de várias nações. Cada qual está no topo de sua montanha.
Elas inovaram, fizeram história e foram figuras de destaque em sua profissão arriscada. Mas, como muita gente envolvida no turbilhão da cultura pop, foram alvo de críticas intensas depois de qualquer fracasso, real ou baseado na percepção e na interpretação das pessoas. Cada uma enfrentou abertamente a morte ou uma doença grave de um dos pais e fez pausas prolongadas na carreira.
Como muitas outras meninas e mulheres, Shiffrin, que tem 28 anos e é fã de Swift desde os 13, identifica-se com a artista e reconhece semelhanças fundamentais na carreira e na vida de ambas. Para obter uma melhor perspectiva, recorre à sua ídola. Em julho, assistiu de camarote ao show The Eras Tour de Swift, em Denver, evento que descreveu como “três horas de pulos enquanto cantava todas as músicas bem alto”. Nessa experiência, Shiffrin refletiu se existia uma lição que pudesse ajudá-la a determinar a próxima “era” de sua trajetória profissional brilhante.
Será que Swift, a adolescente-prodígio que agora tem 34 anos, ajudou a indicar o caminho de uma etapa para outra? “Claro, porque venho estudando Taylor Swift há 15 anos, e ela tem me guiado um pouco a cada passo do percurso. É por isso que, em sua maioria, os swifties se tornam swifties. A música dela fala diretamente com você. Suas experiências ressoam. Sempre tentei aprender com elas”, admitiu Shiffrin em uma entrevista recente em Vermont, onde conquistou a vitória número 90 de um total de 93 em sua carreira na Copa do Mundo.
Enquanto Mikaela Shiffrin, que nunca conheceu Swift, recordava vários capítulos de sua trajetória pública – os surpreendentes sucessos nas corridas, os fracassos inoportunos, os perigos da fama, a morte acidental de seu pai em 2020 –, identificava facilmente como Swift influenciara suas respostas diante de cada situação.
Esse longo ensinamento a distância começou quando a incrivelmente talentosa Shiffrin, criada nas montanhas do Colorado e em uma respeitável escola de esqui em Vermont, venceu três corridas da Copa do Mundo e conquistou uma medalha de ouro no campeonato mundial quando ainda era estudante do último ano do ensino médio. Um ano depois, em 2014, tornou-se a mais jovem campeã olímpica da história da modalidade slalom, aos 18 anos, e uma estrela do esporte em âmbito internacional. Desde então, a cada temporada parece chamar ainda mais atenção.
Mas ela comentou que, desde o tempo em que era uma adolescente de 13 anos ouvindo sem parar o álbum Fearless, de Swift de 2008, tem procurado pistas sobre como viver como uma celebridade. “É verdade que Taylor é um peixe grande em um lago grande, e sou mais como um peixe grande em um lago pequeno. Mas dá para perceber como ela soube lidar com a atenção, porque também era uma adolescente. Conseguiu resistir e trabalhar em sua música e, embora esteja muito confortável compartilhando grande parte de sua vida, cria uma camada de proteção quando precisa. Ela é capaz de desaparecer, e isso parece lhe dar energia. Observei tudo isso e assimilei, embora tenha sido complicado para mim, porque eu era extremamente tímida e tive de passar a me sentir confortável mesmo cercada por várias câmeras e microfones. É um pouco curioso ter passado a vida me considerando uma pessoa introvertida, mas tendo de viver de forma extrovertida”, disse Shiffrin.
Depois de ganhar as medalhas de ouro e prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, em 2018, Shiffrin conquistou um histórico de 17 vitórias na temporada seguinte – na época, cinco ou seis vitórias já seriam suficientes para ser considerada bem-sucedida. Mas, no início da temporada seguinte, não alcançou um ritmo surpreendente, como no ano anterior. “As pessoas começaram a dizer que eu tinha perdido o jeito, que talvez já tivesse atingido meu auge e que minha carreira estava em declínio. Eu pensava: ‘Ah, meu Deus, todo mundo está dizendo essas coisas a meu respeito, como se eu nunca mais fosse ser uma boa esquiadora’”, comentou Shiffrin com uma expressão de frustração, enquanto buscava relaxar na poltrona em que estava sentada.
Isso fez com que se lembrasse do álbum Reputation de Swift, de alguns anos atrás, e ela novamente viu paralelos: “Esse disco foi basicamente construído enquanto sua reputação estava despencando a uma velocidade incrível – ou pelo menos essa foi a percepção que ela teve com todas as rixas que havia na época. Mas ela voltou em grande estilo. Eu me identifiquei com o álbum porque me fez sentir que a vida é cheia de altos e baixos. E que provavelmente tudo ficaria bem.”
Shiffrin se recuperou em janeiro de 2020, com vitórias consecutivas. Mas, quase uma semana depois da segunda dessas conquistas reparadoras, em primeiro de fevereiro, seu irmão mais velho, Taylor, ligou para ela na Europa para dizer que o pai deles, Jeff Shiffrin, tinha se acidentado gravemente em casa, no Colorado. Ao retornar para Denver, Mikaela ficou várias horas na cama do hospital ao lado dele, vigília que terminou com seu falecimento em dois de fevereiro. A família optou por não revelar detalhes do ocorrido. Um legista determinou que a morte foi acidental e registrou a causa como uma lesão na cabeça.
Shiffrin não competiu nos nove meses seguintes.
Na entrevista do mês passado, sem que o assunto tivesse sido mencionado, ela lembrou que o álbum Folklore de Swift, de 2020, foi lançado cinco meses depois da morte de seu pai, e que continha a faixa Epiphany. Swift disse que a música explora a angústia emocional dos profissionais de saúde no auge da pandemia de covid e dos soldados em guerra, correlação que homenageia um dos avôs de Swift, que foi um fuzileiro naval experiente da Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Shiffrin ouviu a música repetidamente.
Seu retorno às competições, na temporada 2021-2022, incluiu uma série de resultados triunfais, mas também uma eliminação impactante e desmoralizadora nos Jogos Olímpicos de Pequim, nos quais não conquistou nenhuma medalha. Desde então, ganhou 20 competições, ritmo que pode levá-la a alcançar 130 vitórias em sua carreira se continuar competindo por mais cinco anos. O recorde anterior de vitórias na Copa do Mundo, que perdurou durante 34 anos, era de 86. Shiffrin conquistou 14 medalhas em campeonatos mundiais – uma a menos que o recorde em uma carreira profissional.
Mas, seja qual for o futuro de Shiffrin, ela tem duas certezas. A primeira é que, em razão do seu nível de fama no esporte, é provável que ela possa se encontrar com Swift, mesmo temendo esse momento: “Com certeza, eu tropeçaria em mim mesma e ficaria tão nervosa que nem conseguiria falar. Seria memorável para ela, porque se trataria da primeira vez que ela conheceria uma pessoa tão desajeitada”, disse Shiffrin rindo.
A segunda certeza é que ela usará Swift como modelo para ajudá-la a definir a próxima era de sua carreira, independentemente de quantos recordes de esqui alpino acumule. “Taylor Swift quebrou muitos marcos e deteve tantos títulos na indústria musical que tiveram de criar novas maneiras de medir seu sucesso. E percebi que ela simplesmente não para”, afirmou a esquiadora.
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