Afogamento é principal causa de morte de crianças até 4 anos; é preciso evitar isso


Trinta anos de progresso na redução das mortes por afogamento nos Estados Unidos parecem ter estagnado, disparidades entre alguns grupos raciais pioraram

Por Emily Baumgaertner
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Yadira Salcedo, que nasceu no México e cujos pais não sabiam nadar, quase se afogou quando criança ao entrar na parte funda de uma piscina.

As irmãs Adalynn e Sinclaire Wallace, 9 e 7, fizeram uma pausa durante uma aula de natação no Salgado Community Center em Santa Ana, na Califórnia. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Agora, mãe de dois filhos em Santa Ana, ela disse que está “quebrando o ciclo”, garantindo que Ezra, de três anos, e Ian, de um, nunca passem por esse terror. A família se qualificou para receber bolsas de estudo da Cruz Vermelha, parte de um novo programa que dá aulas de natação a crianças que talvez não tenham outras oportunidades para isso.

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Em um dia recente, Salcedo e seus filhos entraram juntos na piscina do Centro Comunitário Salgado, usando pranchas e soprando bolhas com a ajuda do instrutor, Josue, que fala uma mistura de inglês e espanhol.

O afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a quatro anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático mostram que esta foi a 1.ª causa óbito entre crianças de 1 a 4 anos no Brasil]. É provável que as mortes aumentem neste mês, como sempre acontece em julho, com crianças se afogando a poucos metros dos pais, sem gritar, debater-se ou respingar água. [É verão no hemisfério norte, o que aumenta o uso de piscinas e visitas a praias, rios e lagos.] Uma criança de quatro anos na piscina de hotel no Texas, uma de cinco anos em um rio na Califórnia, uma de seis anos em um lago no Missouri e uma de dez anos em uma piscina pública em Indiana morreram afogadas no final de junho.

A partir da esquerda, Berenice Gonzalez, com sua filha Luna Romero, 1, e Yadira Salcedo com seu filho Ian, 1, na piscina do Salgado Community Center durante uma aula para pais e eu. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times
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E, no entanto, apesar dos apelos da ONU, os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos sem um plano federal para lidar com essa crise. Trinta anos de progresso na redução do número de mortes por afogamento no país parecem ter estagnado, e as disparidades de mortes entre alguns grupos raciais pioraram. “É difícil imaginar uma causa de morte mais evitável. Ninguém diria: ‘Ah, bom, algumas pessoas simplesmente se afogam.’ É hora de irmos além das tristes estatísticas e responder ao ‘porquê’ e ao ‘como’”, disse William Ramos, professor associado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana-Bloomington e diretor do Instituto de Esportes Aquáticos da instituição.

O Instituto Nacional de Saúde solicitou recentemente propostas de pesquisa para examinar a prevenção de afogamentos, afirmando que “pouco se sabe” sobre as estratégias de intervenção que funcionam. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) anunciou que planeja fazer uma análise aprofundada dos afogamentos infantis em vários estados para uma melhor compreensão dos fatores contribuintes.

Mas os pesquisadores de saúde pública destacam uma série de fatores que podem dificultar cada vez mais a redução da disparidade, incluindo a redução do investimento nos departamentos recreativos, a escassez nacional de salva-vidas e a época de distração nos deques das piscinas, já que os pais fazem malabarismos para supervisionar as crianças com laptops e celulares quando trabalham em casa.

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Em longo prazo, é provável que os números sejam exacerbados pelas mudanças climáticas, segundo Deborah Girasek, pesquisadora de afogamentos da Universidade de Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde. É provável que mais crianças se afoguem nas águas de enchentes decorrentes de furacões na Flórida, caiam no gelo fino no Wisconsin ou subam em reservatórios restritos em Yosemite para escapar do calor crescente. (Pesquisas mostram que os afogamentos aumentam com a elevação da temperatura.)

Kendra aprendeu a nadar no quintal do diretor de sua escola em Phoenix, onde ela cresceu. Santa Ana pagou por seu treinamento para se tornar salva-vidas neste verão. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Também é uma questão racial

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Embora as mortes por afogamento em geral tenham diminuído em um terço desde 1990, só em 2020 houve um aumento de 16,8 por cento, de acordo com o CDC. Ainda há mais de quatro mil mortes nos Estados Unidos anualmente, e cerca de um quarto delas são de crianças. Uma análise do CDC mostra que as crianças negras de cinco a nove anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar em piscinas do que as crianças brancas, e as crianças de dez a 14 anos têm 3,6 vezes mais chances de se afogar. As disparidades também estão presentes na maioria das faixas etárias para crianças asiáticas e das ilhas do Pacífico, hispânicas e nativas americanas e alasquianas.

A principal teoria para explicar essas desigualdades remonta a meio século, com a proliferação de piscinas municipais depois da Segunda Guerra Mundial. Quando estas foram substituídas por clubes de natação em áreas residenciais e piscinas particulares em casas de classe média, as crianças brancas começaram a aprender a nadar em aulas particulares, enquanto as crianças de famílias minoritárias foram vítimas da dilapidação das piscinas públicas e do corte nos orçamentos de programas educacionais aquáticos, escreveu o historiador Jeff Wiltse em seu livro sobre a história da piscina. Muitas das instalações e muitos dos programas nunca se recuperaram.

Os adultos negros, em particular, relatam experiências negativas com a água, como o fato de terem sido banidos das praias durante a era de segregação racial conhecida como Jim Crow e brutalizados durante a integração das piscinas públicas.

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Embora as mortes por afogamento tenham diminuído em um terço desde 1990, permanecem mais de 4.000 nos Estados Unidos anualmente. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Uma resolução da ONU emitida em 2021 e uma decisão da Assembleia Mundial da Saúde deste ano apelaram a todos os países membros para que priorizassem a luta contra os afogamentos infantis. A Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria imploraram ao governo dos EUA que tomasse medidas para se atualizar.

“O Canadá, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul - todos têm um plano. Nós, não. A mensagem para o Congresso é: precisamos e podemos corrigir isso. Basta ver o caso do cinto de segurança, da segurança contra incêndios, da luta contra o tabagismo - a legislação é o que faz com que as coisas mudem”, afirmou Ramos.

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O Plano de Ação Nacional de Segurança Aquática dos EUA, lançado por um coletivo de organizações sem fins lucrativos, é a primeira tentativa do país de estabelecer um roteiro para enfrentar essa crise. Suas 99 recomendações para a próxima década, compiladas por grupos de defesa sérios com orçamento limitado que não estão equipados para resolver o problema sozinhos, mapeiam de forma objetiva as diversas lacunas do país em pesquisa, financiamento, vigilância e educação dos pais.

Connie Harvey, diretora da Campanha Aquática do Centenário da Cruz Vermelha Americana, visitou recentemente o Capitólio em companhia de outros especialistas para informar os representantes da Câmara sobre a existência do plano.

Kendra Lubin, 16, instrutora do programa de natação Splash Camp, ajudou a guiar Daymian Espinoza, 9, até a parede da piscina. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Debbie Wasserman Schultz, deputada democrata da Flórida, defensora de longa data da prevenção de afogamentos, foi o único membro do Congresso a comparecer.

Enquanto isso, alguns governos locais adotaram intervenções próprias. Neste verão, Seattle está testando uma nova iniciativa com base na organização sem fins lucrativos No More Under, que oferece aulas de natação a centenas de crianças de baixa renda sob a tutela do Estado. O condado de Broward, na Flórida, que tem alguns dos maiores índices de afogamento do estado, está oferecendo cupons para aulas gratuitas. E Santa Ana planeja usar mais de US$ 800 mil de seu Fundo de Benefício Público da Cannabis este ano para revitalizar seu programa aquático.

Com o novo programa de Santa Ana, Salcedo, que é servidora pública, e seu marido, funcionário dos correios, cujo lar abriga três gerações, conseguiram bolsas de estudo que reduziram o custo das aulas de natação para US$ 15 por criança, a cada duas semanas. Eles planejam participar durante todo o verão.

Ezra, que tem três anos, chorou no primeiro dia de aula. Agora, compartilha fatos sobre tubarões-martelo entre as braçadas, enquanto canta Baby Shark com a turma. Ian, o bebê de um ano, ainda está aprendendo a andar. Mesmo assim, remou atrás de um pato de borracha laranja, com sua mãe - agora uma nadadora competente - mantendo-o à tona.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Yadira Salcedo, que nasceu no México e cujos pais não sabiam nadar, quase se afogou quando criança ao entrar na parte funda de uma piscina.

As irmãs Adalynn e Sinclaire Wallace, 9 e 7, fizeram uma pausa durante uma aula de natação no Salgado Community Center em Santa Ana, na Califórnia. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Agora, mãe de dois filhos em Santa Ana, ela disse que está “quebrando o ciclo”, garantindo que Ezra, de três anos, e Ian, de um, nunca passem por esse terror. A família se qualificou para receber bolsas de estudo da Cruz Vermelha, parte de um novo programa que dá aulas de natação a crianças que talvez não tenham outras oportunidades para isso.

Em um dia recente, Salcedo e seus filhos entraram juntos na piscina do Centro Comunitário Salgado, usando pranchas e soprando bolhas com a ajuda do instrutor, Josue, que fala uma mistura de inglês e espanhol.

O afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a quatro anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático mostram que esta foi a 1.ª causa óbito entre crianças de 1 a 4 anos no Brasil]. É provável que as mortes aumentem neste mês, como sempre acontece em julho, com crianças se afogando a poucos metros dos pais, sem gritar, debater-se ou respingar água. [É verão no hemisfério norte, o que aumenta o uso de piscinas e visitas a praias, rios e lagos.] Uma criança de quatro anos na piscina de hotel no Texas, uma de cinco anos em um rio na Califórnia, uma de seis anos em um lago no Missouri e uma de dez anos em uma piscina pública em Indiana morreram afogadas no final de junho.

A partir da esquerda, Berenice Gonzalez, com sua filha Luna Romero, 1, e Yadira Salcedo com seu filho Ian, 1, na piscina do Salgado Community Center durante uma aula para pais e eu. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

E, no entanto, apesar dos apelos da ONU, os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos sem um plano federal para lidar com essa crise. Trinta anos de progresso na redução do número de mortes por afogamento no país parecem ter estagnado, e as disparidades de mortes entre alguns grupos raciais pioraram. “É difícil imaginar uma causa de morte mais evitável. Ninguém diria: ‘Ah, bom, algumas pessoas simplesmente se afogam.’ É hora de irmos além das tristes estatísticas e responder ao ‘porquê’ e ao ‘como’”, disse William Ramos, professor associado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana-Bloomington e diretor do Instituto de Esportes Aquáticos da instituição.

O Instituto Nacional de Saúde solicitou recentemente propostas de pesquisa para examinar a prevenção de afogamentos, afirmando que “pouco se sabe” sobre as estratégias de intervenção que funcionam. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) anunciou que planeja fazer uma análise aprofundada dos afogamentos infantis em vários estados para uma melhor compreensão dos fatores contribuintes.

Mas os pesquisadores de saúde pública destacam uma série de fatores que podem dificultar cada vez mais a redução da disparidade, incluindo a redução do investimento nos departamentos recreativos, a escassez nacional de salva-vidas e a época de distração nos deques das piscinas, já que os pais fazem malabarismos para supervisionar as crianças com laptops e celulares quando trabalham em casa.

Em longo prazo, é provável que os números sejam exacerbados pelas mudanças climáticas, segundo Deborah Girasek, pesquisadora de afogamentos da Universidade de Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde. É provável que mais crianças se afoguem nas águas de enchentes decorrentes de furacões na Flórida, caiam no gelo fino no Wisconsin ou subam em reservatórios restritos em Yosemite para escapar do calor crescente. (Pesquisas mostram que os afogamentos aumentam com a elevação da temperatura.)

Kendra aprendeu a nadar no quintal do diretor de sua escola em Phoenix, onde ela cresceu. Santa Ana pagou por seu treinamento para se tornar salva-vidas neste verão. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Também é uma questão racial

Embora as mortes por afogamento em geral tenham diminuído em um terço desde 1990, só em 2020 houve um aumento de 16,8 por cento, de acordo com o CDC. Ainda há mais de quatro mil mortes nos Estados Unidos anualmente, e cerca de um quarto delas são de crianças. Uma análise do CDC mostra que as crianças negras de cinco a nove anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar em piscinas do que as crianças brancas, e as crianças de dez a 14 anos têm 3,6 vezes mais chances de se afogar. As disparidades também estão presentes na maioria das faixas etárias para crianças asiáticas e das ilhas do Pacífico, hispânicas e nativas americanas e alasquianas.

A principal teoria para explicar essas desigualdades remonta a meio século, com a proliferação de piscinas municipais depois da Segunda Guerra Mundial. Quando estas foram substituídas por clubes de natação em áreas residenciais e piscinas particulares em casas de classe média, as crianças brancas começaram a aprender a nadar em aulas particulares, enquanto as crianças de famílias minoritárias foram vítimas da dilapidação das piscinas públicas e do corte nos orçamentos de programas educacionais aquáticos, escreveu o historiador Jeff Wiltse em seu livro sobre a história da piscina. Muitas das instalações e muitos dos programas nunca se recuperaram.

Os adultos negros, em particular, relatam experiências negativas com a água, como o fato de terem sido banidos das praias durante a era de segregação racial conhecida como Jim Crow e brutalizados durante a integração das piscinas públicas.

Embora as mortes por afogamento tenham diminuído em um terço desde 1990, permanecem mais de 4.000 nos Estados Unidos anualmente. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Uma resolução da ONU emitida em 2021 e uma decisão da Assembleia Mundial da Saúde deste ano apelaram a todos os países membros para que priorizassem a luta contra os afogamentos infantis. A Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria imploraram ao governo dos EUA que tomasse medidas para se atualizar.

“O Canadá, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul - todos têm um plano. Nós, não. A mensagem para o Congresso é: precisamos e podemos corrigir isso. Basta ver o caso do cinto de segurança, da segurança contra incêndios, da luta contra o tabagismo - a legislação é o que faz com que as coisas mudem”, afirmou Ramos.

O Plano de Ação Nacional de Segurança Aquática dos EUA, lançado por um coletivo de organizações sem fins lucrativos, é a primeira tentativa do país de estabelecer um roteiro para enfrentar essa crise. Suas 99 recomendações para a próxima década, compiladas por grupos de defesa sérios com orçamento limitado que não estão equipados para resolver o problema sozinhos, mapeiam de forma objetiva as diversas lacunas do país em pesquisa, financiamento, vigilância e educação dos pais.

Connie Harvey, diretora da Campanha Aquática do Centenário da Cruz Vermelha Americana, visitou recentemente o Capitólio em companhia de outros especialistas para informar os representantes da Câmara sobre a existência do plano.

Kendra Lubin, 16, instrutora do programa de natação Splash Camp, ajudou a guiar Daymian Espinoza, 9, até a parede da piscina. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Debbie Wasserman Schultz, deputada democrata da Flórida, defensora de longa data da prevenção de afogamentos, foi o único membro do Congresso a comparecer.

Enquanto isso, alguns governos locais adotaram intervenções próprias. Neste verão, Seattle está testando uma nova iniciativa com base na organização sem fins lucrativos No More Under, que oferece aulas de natação a centenas de crianças de baixa renda sob a tutela do Estado. O condado de Broward, na Flórida, que tem alguns dos maiores índices de afogamento do estado, está oferecendo cupons para aulas gratuitas. E Santa Ana planeja usar mais de US$ 800 mil de seu Fundo de Benefício Público da Cannabis este ano para revitalizar seu programa aquático.

Com o novo programa de Santa Ana, Salcedo, que é servidora pública, e seu marido, funcionário dos correios, cujo lar abriga três gerações, conseguiram bolsas de estudo que reduziram o custo das aulas de natação para US$ 15 por criança, a cada duas semanas. Eles planejam participar durante todo o verão.

Ezra, que tem três anos, chorou no primeiro dia de aula. Agora, compartilha fatos sobre tubarões-martelo entre as braçadas, enquanto canta Baby Shark com a turma. Ian, o bebê de um ano, ainda está aprendendo a andar. Mesmo assim, remou atrás de um pato de borracha laranja, com sua mãe - agora uma nadadora competente - mantendo-o à tona.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Yadira Salcedo, que nasceu no México e cujos pais não sabiam nadar, quase se afogou quando criança ao entrar na parte funda de uma piscina.

As irmãs Adalynn e Sinclaire Wallace, 9 e 7, fizeram uma pausa durante uma aula de natação no Salgado Community Center em Santa Ana, na Califórnia. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Agora, mãe de dois filhos em Santa Ana, ela disse que está “quebrando o ciclo”, garantindo que Ezra, de três anos, e Ian, de um, nunca passem por esse terror. A família se qualificou para receber bolsas de estudo da Cruz Vermelha, parte de um novo programa que dá aulas de natação a crianças que talvez não tenham outras oportunidades para isso.

Em um dia recente, Salcedo e seus filhos entraram juntos na piscina do Centro Comunitário Salgado, usando pranchas e soprando bolhas com a ajuda do instrutor, Josue, que fala uma mistura de inglês e espanhol.

O afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a quatro anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático mostram que esta foi a 1.ª causa óbito entre crianças de 1 a 4 anos no Brasil]. É provável que as mortes aumentem neste mês, como sempre acontece em julho, com crianças se afogando a poucos metros dos pais, sem gritar, debater-se ou respingar água. [É verão no hemisfério norte, o que aumenta o uso de piscinas e visitas a praias, rios e lagos.] Uma criança de quatro anos na piscina de hotel no Texas, uma de cinco anos em um rio na Califórnia, uma de seis anos em um lago no Missouri e uma de dez anos em uma piscina pública em Indiana morreram afogadas no final de junho.

A partir da esquerda, Berenice Gonzalez, com sua filha Luna Romero, 1, e Yadira Salcedo com seu filho Ian, 1, na piscina do Salgado Community Center durante uma aula para pais e eu. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

E, no entanto, apesar dos apelos da ONU, os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos sem um plano federal para lidar com essa crise. Trinta anos de progresso na redução do número de mortes por afogamento no país parecem ter estagnado, e as disparidades de mortes entre alguns grupos raciais pioraram. “É difícil imaginar uma causa de morte mais evitável. Ninguém diria: ‘Ah, bom, algumas pessoas simplesmente se afogam.’ É hora de irmos além das tristes estatísticas e responder ao ‘porquê’ e ao ‘como’”, disse William Ramos, professor associado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana-Bloomington e diretor do Instituto de Esportes Aquáticos da instituição.

O Instituto Nacional de Saúde solicitou recentemente propostas de pesquisa para examinar a prevenção de afogamentos, afirmando que “pouco se sabe” sobre as estratégias de intervenção que funcionam. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) anunciou que planeja fazer uma análise aprofundada dos afogamentos infantis em vários estados para uma melhor compreensão dos fatores contribuintes.

Mas os pesquisadores de saúde pública destacam uma série de fatores que podem dificultar cada vez mais a redução da disparidade, incluindo a redução do investimento nos departamentos recreativos, a escassez nacional de salva-vidas e a época de distração nos deques das piscinas, já que os pais fazem malabarismos para supervisionar as crianças com laptops e celulares quando trabalham em casa.

Em longo prazo, é provável que os números sejam exacerbados pelas mudanças climáticas, segundo Deborah Girasek, pesquisadora de afogamentos da Universidade de Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde. É provável que mais crianças se afoguem nas águas de enchentes decorrentes de furacões na Flórida, caiam no gelo fino no Wisconsin ou subam em reservatórios restritos em Yosemite para escapar do calor crescente. (Pesquisas mostram que os afogamentos aumentam com a elevação da temperatura.)

Kendra aprendeu a nadar no quintal do diretor de sua escola em Phoenix, onde ela cresceu. Santa Ana pagou por seu treinamento para se tornar salva-vidas neste verão. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Também é uma questão racial

Embora as mortes por afogamento em geral tenham diminuído em um terço desde 1990, só em 2020 houve um aumento de 16,8 por cento, de acordo com o CDC. Ainda há mais de quatro mil mortes nos Estados Unidos anualmente, e cerca de um quarto delas são de crianças. Uma análise do CDC mostra que as crianças negras de cinco a nove anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar em piscinas do que as crianças brancas, e as crianças de dez a 14 anos têm 3,6 vezes mais chances de se afogar. As disparidades também estão presentes na maioria das faixas etárias para crianças asiáticas e das ilhas do Pacífico, hispânicas e nativas americanas e alasquianas.

A principal teoria para explicar essas desigualdades remonta a meio século, com a proliferação de piscinas municipais depois da Segunda Guerra Mundial. Quando estas foram substituídas por clubes de natação em áreas residenciais e piscinas particulares em casas de classe média, as crianças brancas começaram a aprender a nadar em aulas particulares, enquanto as crianças de famílias minoritárias foram vítimas da dilapidação das piscinas públicas e do corte nos orçamentos de programas educacionais aquáticos, escreveu o historiador Jeff Wiltse em seu livro sobre a história da piscina. Muitas das instalações e muitos dos programas nunca se recuperaram.

Os adultos negros, em particular, relatam experiências negativas com a água, como o fato de terem sido banidos das praias durante a era de segregação racial conhecida como Jim Crow e brutalizados durante a integração das piscinas públicas.

Embora as mortes por afogamento tenham diminuído em um terço desde 1990, permanecem mais de 4.000 nos Estados Unidos anualmente. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Uma resolução da ONU emitida em 2021 e uma decisão da Assembleia Mundial da Saúde deste ano apelaram a todos os países membros para que priorizassem a luta contra os afogamentos infantis. A Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria imploraram ao governo dos EUA que tomasse medidas para se atualizar.

“O Canadá, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul - todos têm um plano. Nós, não. A mensagem para o Congresso é: precisamos e podemos corrigir isso. Basta ver o caso do cinto de segurança, da segurança contra incêndios, da luta contra o tabagismo - a legislação é o que faz com que as coisas mudem”, afirmou Ramos.

O Plano de Ação Nacional de Segurança Aquática dos EUA, lançado por um coletivo de organizações sem fins lucrativos, é a primeira tentativa do país de estabelecer um roteiro para enfrentar essa crise. Suas 99 recomendações para a próxima década, compiladas por grupos de defesa sérios com orçamento limitado que não estão equipados para resolver o problema sozinhos, mapeiam de forma objetiva as diversas lacunas do país em pesquisa, financiamento, vigilância e educação dos pais.

Connie Harvey, diretora da Campanha Aquática do Centenário da Cruz Vermelha Americana, visitou recentemente o Capitólio em companhia de outros especialistas para informar os representantes da Câmara sobre a existência do plano.

Kendra Lubin, 16, instrutora do programa de natação Splash Camp, ajudou a guiar Daymian Espinoza, 9, até a parede da piscina. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Debbie Wasserman Schultz, deputada democrata da Flórida, defensora de longa data da prevenção de afogamentos, foi o único membro do Congresso a comparecer.

Enquanto isso, alguns governos locais adotaram intervenções próprias. Neste verão, Seattle está testando uma nova iniciativa com base na organização sem fins lucrativos No More Under, que oferece aulas de natação a centenas de crianças de baixa renda sob a tutela do Estado. O condado de Broward, na Flórida, que tem alguns dos maiores índices de afogamento do estado, está oferecendo cupons para aulas gratuitas. E Santa Ana planeja usar mais de US$ 800 mil de seu Fundo de Benefício Público da Cannabis este ano para revitalizar seu programa aquático.

Com o novo programa de Santa Ana, Salcedo, que é servidora pública, e seu marido, funcionário dos correios, cujo lar abriga três gerações, conseguiram bolsas de estudo que reduziram o custo das aulas de natação para US$ 15 por criança, a cada duas semanas. Eles planejam participar durante todo o verão.

Ezra, que tem três anos, chorou no primeiro dia de aula. Agora, compartilha fatos sobre tubarões-martelo entre as braçadas, enquanto canta Baby Shark com a turma. Ian, o bebê de um ano, ainda está aprendendo a andar. Mesmo assim, remou atrás de um pato de borracha laranja, com sua mãe - agora uma nadadora competente - mantendo-o à tona.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Yadira Salcedo, que nasceu no México e cujos pais não sabiam nadar, quase se afogou quando criança ao entrar na parte funda de uma piscina.

As irmãs Adalynn e Sinclaire Wallace, 9 e 7, fizeram uma pausa durante uma aula de natação no Salgado Community Center em Santa Ana, na Califórnia. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Agora, mãe de dois filhos em Santa Ana, ela disse que está “quebrando o ciclo”, garantindo que Ezra, de três anos, e Ian, de um, nunca passem por esse terror. A família se qualificou para receber bolsas de estudo da Cruz Vermelha, parte de um novo programa que dá aulas de natação a crianças que talvez não tenham outras oportunidades para isso.

Em um dia recente, Salcedo e seus filhos entraram juntos na piscina do Centro Comunitário Salgado, usando pranchas e soprando bolhas com a ajuda do instrutor, Josue, que fala uma mistura de inglês e espanhol.

O afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a quatro anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático mostram que esta foi a 1.ª causa óbito entre crianças de 1 a 4 anos no Brasil]. É provável que as mortes aumentem neste mês, como sempre acontece em julho, com crianças se afogando a poucos metros dos pais, sem gritar, debater-se ou respingar água. [É verão no hemisfério norte, o que aumenta o uso de piscinas e visitas a praias, rios e lagos.] Uma criança de quatro anos na piscina de hotel no Texas, uma de cinco anos em um rio na Califórnia, uma de seis anos em um lago no Missouri e uma de dez anos em uma piscina pública em Indiana morreram afogadas no final de junho.

A partir da esquerda, Berenice Gonzalez, com sua filha Luna Romero, 1, e Yadira Salcedo com seu filho Ian, 1, na piscina do Salgado Community Center durante uma aula para pais e eu. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

E, no entanto, apesar dos apelos da ONU, os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos sem um plano federal para lidar com essa crise. Trinta anos de progresso na redução do número de mortes por afogamento no país parecem ter estagnado, e as disparidades de mortes entre alguns grupos raciais pioraram. “É difícil imaginar uma causa de morte mais evitável. Ninguém diria: ‘Ah, bom, algumas pessoas simplesmente se afogam.’ É hora de irmos além das tristes estatísticas e responder ao ‘porquê’ e ao ‘como’”, disse William Ramos, professor associado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana-Bloomington e diretor do Instituto de Esportes Aquáticos da instituição.

O Instituto Nacional de Saúde solicitou recentemente propostas de pesquisa para examinar a prevenção de afogamentos, afirmando que “pouco se sabe” sobre as estratégias de intervenção que funcionam. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) anunciou que planeja fazer uma análise aprofundada dos afogamentos infantis em vários estados para uma melhor compreensão dos fatores contribuintes.

Mas os pesquisadores de saúde pública destacam uma série de fatores que podem dificultar cada vez mais a redução da disparidade, incluindo a redução do investimento nos departamentos recreativos, a escassez nacional de salva-vidas e a época de distração nos deques das piscinas, já que os pais fazem malabarismos para supervisionar as crianças com laptops e celulares quando trabalham em casa.

Em longo prazo, é provável que os números sejam exacerbados pelas mudanças climáticas, segundo Deborah Girasek, pesquisadora de afogamentos da Universidade de Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde. É provável que mais crianças se afoguem nas águas de enchentes decorrentes de furacões na Flórida, caiam no gelo fino no Wisconsin ou subam em reservatórios restritos em Yosemite para escapar do calor crescente. (Pesquisas mostram que os afogamentos aumentam com a elevação da temperatura.)

Kendra aprendeu a nadar no quintal do diretor de sua escola em Phoenix, onde ela cresceu. Santa Ana pagou por seu treinamento para se tornar salva-vidas neste verão. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Também é uma questão racial

Embora as mortes por afogamento em geral tenham diminuído em um terço desde 1990, só em 2020 houve um aumento de 16,8 por cento, de acordo com o CDC. Ainda há mais de quatro mil mortes nos Estados Unidos anualmente, e cerca de um quarto delas são de crianças. Uma análise do CDC mostra que as crianças negras de cinco a nove anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar em piscinas do que as crianças brancas, e as crianças de dez a 14 anos têm 3,6 vezes mais chances de se afogar. As disparidades também estão presentes na maioria das faixas etárias para crianças asiáticas e das ilhas do Pacífico, hispânicas e nativas americanas e alasquianas.

A principal teoria para explicar essas desigualdades remonta a meio século, com a proliferação de piscinas municipais depois da Segunda Guerra Mundial. Quando estas foram substituídas por clubes de natação em áreas residenciais e piscinas particulares em casas de classe média, as crianças brancas começaram a aprender a nadar em aulas particulares, enquanto as crianças de famílias minoritárias foram vítimas da dilapidação das piscinas públicas e do corte nos orçamentos de programas educacionais aquáticos, escreveu o historiador Jeff Wiltse em seu livro sobre a história da piscina. Muitas das instalações e muitos dos programas nunca se recuperaram.

Os adultos negros, em particular, relatam experiências negativas com a água, como o fato de terem sido banidos das praias durante a era de segregação racial conhecida como Jim Crow e brutalizados durante a integração das piscinas públicas.

Embora as mortes por afogamento tenham diminuído em um terço desde 1990, permanecem mais de 4.000 nos Estados Unidos anualmente. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Uma resolução da ONU emitida em 2021 e uma decisão da Assembleia Mundial da Saúde deste ano apelaram a todos os países membros para que priorizassem a luta contra os afogamentos infantis. A Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria imploraram ao governo dos EUA que tomasse medidas para se atualizar.

“O Canadá, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul - todos têm um plano. Nós, não. A mensagem para o Congresso é: precisamos e podemos corrigir isso. Basta ver o caso do cinto de segurança, da segurança contra incêndios, da luta contra o tabagismo - a legislação é o que faz com que as coisas mudem”, afirmou Ramos.

O Plano de Ação Nacional de Segurança Aquática dos EUA, lançado por um coletivo de organizações sem fins lucrativos, é a primeira tentativa do país de estabelecer um roteiro para enfrentar essa crise. Suas 99 recomendações para a próxima década, compiladas por grupos de defesa sérios com orçamento limitado que não estão equipados para resolver o problema sozinhos, mapeiam de forma objetiva as diversas lacunas do país em pesquisa, financiamento, vigilância e educação dos pais.

Connie Harvey, diretora da Campanha Aquática do Centenário da Cruz Vermelha Americana, visitou recentemente o Capitólio em companhia de outros especialistas para informar os representantes da Câmara sobre a existência do plano.

Kendra Lubin, 16, instrutora do programa de natação Splash Camp, ajudou a guiar Daymian Espinoza, 9, até a parede da piscina. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Debbie Wasserman Schultz, deputada democrata da Flórida, defensora de longa data da prevenção de afogamentos, foi o único membro do Congresso a comparecer.

Enquanto isso, alguns governos locais adotaram intervenções próprias. Neste verão, Seattle está testando uma nova iniciativa com base na organização sem fins lucrativos No More Under, que oferece aulas de natação a centenas de crianças de baixa renda sob a tutela do Estado. O condado de Broward, na Flórida, que tem alguns dos maiores índices de afogamento do estado, está oferecendo cupons para aulas gratuitas. E Santa Ana planeja usar mais de US$ 800 mil de seu Fundo de Benefício Público da Cannabis este ano para revitalizar seu programa aquático.

Com o novo programa de Santa Ana, Salcedo, que é servidora pública, e seu marido, funcionário dos correios, cujo lar abriga três gerações, conseguiram bolsas de estudo que reduziram o custo das aulas de natação para US$ 15 por criança, a cada duas semanas. Eles planejam participar durante todo o verão.

Ezra, que tem três anos, chorou no primeiro dia de aula. Agora, compartilha fatos sobre tubarões-martelo entre as braçadas, enquanto canta Baby Shark com a turma. Ian, o bebê de um ano, ainda está aprendendo a andar. Mesmo assim, remou atrás de um pato de borracha laranja, com sua mãe - agora uma nadadora competente - mantendo-o à tona.

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Yadira Salcedo, que nasceu no México e cujos pais não sabiam nadar, quase se afogou quando criança ao entrar na parte funda de uma piscina.

As irmãs Adalynn e Sinclaire Wallace, 9 e 7, fizeram uma pausa durante uma aula de natação no Salgado Community Center em Santa Ana, na Califórnia. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Agora, mãe de dois filhos em Santa Ana, ela disse que está “quebrando o ciclo”, garantindo que Ezra, de três anos, e Ian, de um, nunca passem por esse terror. A família se qualificou para receber bolsas de estudo da Cruz Vermelha, parte de um novo programa que dá aulas de natação a crianças que talvez não tenham outras oportunidades para isso.

Em um dia recente, Salcedo e seus filhos entraram juntos na piscina do Centro Comunitário Salgado, usando pranchas e soprando bolhas com a ajuda do instrutor, Josue, que fala uma mistura de inglês e espanhol.

O afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a quatro anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático mostram que esta foi a 1.ª causa óbito entre crianças de 1 a 4 anos no Brasil]. É provável que as mortes aumentem neste mês, como sempre acontece em julho, com crianças se afogando a poucos metros dos pais, sem gritar, debater-se ou respingar água. [É verão no hemisfério norte, o que aumenta o uso de piscinas e visitas a praias, rios e lagos.] Uma criança de quatro anos na piscina de hotel no Texas, uma de cinco anos em um rio na Califórnia, uma de seis anos em um lago no Missouri e uma de dez anos em uma piscina pública em Indiana morreram afogadas no final de junho.

A partir da esquerda, Berenice Gonzalez, com sua filha Luna Romero, 1, e Yadira Salcedo com seu filho Ian, 1, na piscina do Salgado Community Center durante uma aula para pais e eu. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

E, no entanto, apesar dos apelos da ONU, os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos sem um plano federal para lidar com essa crise. Trinta anos de progresso na redução do número de mortes por afogamento no país parecem ter estagnado, e as disparidades de mortes entre alguns grupos raciais pioraram. “É difícil imaginar uma causa de morte mais evitável. Ninguém diria: ‘Ah, bom, algumas pessoas simplesmente se afogam.’ É hora de irmos além das tristes estatísticas e responder ao ‘porquê’ e ao ‘como’”, disse William Ramos, professor associado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana-Bloomington e diretor do Instituto de Esportes Aquáticos da instituição.

O Instituto Nacional de Saúde solicitou recentemente propostas de pesquisa para examinar a prevenção de afogamentos, afirmando que “pouco se sabe” sobre as estratégias de intervenção que funcionam. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) anunciou que planeja fazer uma análise aprofundada dos afogamentos infantis em vários estados para uma melhor compreensão dos fatores contribuintes.

Mas os pesquisadores de saúde pública destacam uma série de fatores que podem dificultar cada vez mais a redução da disparidade, incluindo a redução do investimento nos departamentos recreativos, a escassez nacional de salva-vidas e a época de distração nos deques das piscinas, já que os pais fazem malabarismos para supervisionar as crianças com laptops e celulares quando trabalham em casa.

Em longo prazo, é provável que os números sejam exacerbados pelas mudanças climáticas, segundo Deborah Girasek, pesquisadora de afogamentos da Universidade de Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde. É provável que mais crianças se afoguem nas águas de enchentes decorrentes de furacões na Flórida, caiam no gelo fino no Wisconsin ou subam em reservatórios restritos em Yosemite para escapar do calor crescente. (Pesquisas mostram que os afogamentos aumentam com a elevação da temperatura.)

Kendra aprendeu a nadar no quintal do diretor de sua escola em Phoenix, onde ela cresceu. Santa Ana pagou por seu treinamento para se tornar salva-vidas neste verão. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Também é uma questão racial

Embora as mortes por afogamento em geral tenham diminuído em um terço desde 1990, só em 2020 houve um aumento de 16,8 por cento, de acordo com o CDC. Ainda há mais de quatro mil mortes nos Estados Unidos anualmente, e cerca de um quarto delas são de crianças. Uma análise do CDC mostra que as crianças negras de cinco a nove anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar em piscinas do que as crianças brancas, e as crianças de dez a 14 anos têm 3,6 vezes mais chances de se afogar. As disparidades também estão presentes na maioria das faixas etárias para crianças asiáticas e das ilhas do Pacífico, hispânicas e nativas americanas e alasquianas.

A principal teoria para explicar essas desigualdades remonta a meio século, com a proliferação de piscinas municipais depois da Segunda Guerra Mundial. Quando estas foram substituídas por clubes de natação em áreas residenciais e piscinas particulares em casas de classe média, as crianças brancas começaram a aprender a nadar em aulas particulares, enquanto as crianças de famílias minoritárias foram vítimas da dilapidação das piscinas públicas e do corte nos orçamentos de programas educacionais aquáticos, escreveu o historiador Jeff Wiltse em seu livro sobre a história da piscina. Muitas das instalações e muitos dos programas nunca se recuperaram.

Os adultos negros, em particular, relatam experiências negativas com a água, como o fato de terem sido banidos das praias durante a era de segregação racial conhecida como Jim Crow e brutalizados durante a integração das piscinas públicas.

Embora as mortes por afogamento tenham diminuído em um terço desde 1990, permanecem mais de 4.000 nos Estados Unidos anualmente. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Uma resolução da ONU emitida em 2021 e uma decisão da Assembleia Mundial da Saúde deste ano apelaram a todos os países membros para que priorizassem a luta contra os afogamentos infantis. A Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria imploraram ao governo dos EUA que tomasse medidas para se atualizar.

“O Canadá, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul - todos têm um plano. Nós, não. A mensagem para o Congresso é: precisamos e podemos corrigir isso. Basta ver o caso do cinto de segurança, da segurança contra incêndios, da luta contra o tabagismo - a legislação é o que faz com que as coisas mudem”, afirmou Ramos.

O Plano de Ação Nacional de Segurança Aquática dos EUA, lançado por um coletivo de organizações sem fins lucrativos, é a primeira tentativa do país de estabelecer um roteiro para enfrentar essa crise. Suas 99 recomendações para a próxima década, compiladas por grupos de defesa sérios com orçamento limitado que não estão equipados para resolver o problema sozinhos, mapeiam de forma objetiva as diversas lacunas do país em pesquisa, financiamento, vigilância e educação dos pais.

Connie Harvey, diretora da Campanha Aquática do Centenário da Cruz Vermelha Americana, visitou recentemente o Capitólio em companhia de outros especialistas para informar os representantes da Câmara sobre a existência do plano.

Kendra Lubin, 16, instrutora do programa de natação Splash Camp, ajudou a guiar Daymian Espinoza, 9, até a parede da piscina. Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Debbie Wasserman Schultz, deputada democrata da Flórida, defensora de longa data da prevenção de afogamentos, foi o único membro do Congresso a comparecer.

Enquanto isso, alguns governos locais adotaram intervenções próprias. Neste verão, Seattle está testando uma nova iniciativa com base na organização sem fins lucrativos No More Under, que oferece aulas de natação a centenas de crianças de baixa renda sob a tutela do Estado. O condado de Broward, na Flórida, que tem alguns dos maiores índices de afogamento do estado, está oferecendo cupons para aulas gratuitas. E Santa Ana planeja usar mais de US$ 800 mil de seu Fundo de Benefício Público da Cannabis este ano para revitalizar seu programa aquático.

Com o novo programa de Santa Ana, Salcedo, que é servidora pública, e seu marido, funcionário dos correios, cujo lar abriga três gerações, conseguiram bolsas de estudo que reduziram o custo das aulas de natação para US$ 15 por criança, a cada duas semanas. Eles planejam participar durante todo o verão.

Ezra, que tem três anos, chorou no primeiro dia de aula. Agora, compartilha fatos sobre tubarões-martelo entre as braçadas, enquanto canta Baby Shark com a turma. Ian, o bebê de um ano, ainda está aprendendo a andar. Mesmo assim, remou atrás de um pato de borracha laranja, com sua mãe - agora uma nadadora competente - mantendo-o à tona.

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