HANDORF-LANGENBERG, ALEMANHA - No ano passado, quando Hubert Frilling morreu pacificamente enquanto dormia, aos 87 anos, a cervejaria do bairro, Zum Schanko, que ele administrava e da qual era proprietário, parecia fadada a morrer com ele.
Durante gerações, os salões da Schanko - também o apelido de Frilling - atenderam à população de Handorf-Langenberg, vilarejo de 1.500 habitantes no noroeste da Alemanha, funcionando como centro comunitário e extensão da sala de estar para incontáveis aniversários, batismos e outras reuniões com amigos e família.
"O coração de Handorf-Langenberg parou de bater", disse o pastor aos enlutados na Igreja de Santa Bárbara, a dois quarteirões do pub, reunidos para o velório de Frilling em novembro.
Mas Maik Escherhaus, diretor do clube esportivo local, e alguns amigos tiveram a ideia de salvar o Schanko com a venda de uma participação no negócio aos moradores e àqueles que cresceram no vilarejo antes de se mudarem, e para quem mais tiver interesse.
Até setembro eles já tinham vendido mais de mil ações. O participante mais velho tinha mais de 80 anos; a mais jovem, Anna, se tornou acionista no dia em que nasceu.
Num momento em que os alemães voltaram ao debate a respeito de sua identidade, depois de terem recebido mais de um milhão de solicitantes de asilo desde 2015, em sua maioria de países muçulmanos, o destino das tradicionais cervejarias se tornou até uma questão política.
Escherhaus procurou o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, na esperança de embarcar no espírito que levou o chefe de estado a destacar a divisão entre as populações urbana e rural em seu mais recente discurso anual de natal.
A resposta foi uma carta assinada pelo presidente, elogiando os esforços para salvar o Schanko como "notável exemplo daquilo que podemos alcançar nas regiões rurais quando tomamos a iniciativa com projetos de autoajuda".
No segundo semestre desse ano, depois de captar os € 200 mil necessários para comprar o estabelecimento, os novos proprietários do Schanko deram início a reformas e estão aceitando reservas para a grande reinauguração prevista para o primeiro semestre do ano que vem.
"Corremos o risco de perder não apenas nosso último bar, mas um verdadeiro bem cultural", disse Escherhaus.
Ainda que o Schanko tenha sobrevivido, o mesmo não vale para um crescente número de restaurantes e cervejarias tradicionais alemãs, vítimas de uma população cada vez mais velha que esvaziou os vilarejos; uma urbanização que afastou os jovens desses estabelecimentos; um número cada vez maior de pessoas que procuram as redes sociais para trocar histórias; e a expansão da diversidade na cultura alemã.
Entre 2010 e 2016, a Alemanha observou uma queda de 20% no número de pubs tradicionais, de acordo com a Organização Alemã de Hotéis e Restaurantes.
"Recebemos muitas propostas para transformar o lugar numa pizzaria ou num restaurante de fast food oriental", destacou Escherhaus, referindo-se aos outros empreendimentos interessados no espaço do Schanko. Mas, segundo ele, não era disso que o vilarejo precisava para manter sua coesão social.
Numa noite de sexta-feira no final do verão, dezenas de pessoas foram ao Schanko para uma última festa nos salões da versão original, antes do fechamento para reformas.
"O Schanko é um patrimônio de Langenberg, assim como a catedral é patrimônio de Colônia", disse Hubert Beckmann, 61 anos, erguendo uma cerveja para brindar com os amigos. "É o coração da vida num vilarejo".