Alguns israelenses querem transformar o hebraico em uma língua mais inclusiva


Uma revolução linguística está em andamento na busca por uma linguagem mais inclusiva de gênero para o hebraico, cuja forma moderna adotou normas gramaticais de 3.000 anos atrás

Por Isabel Kershner
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O hebraico, com suas raízes no patriarcado bíblico e reinventado 3.000 anos depois para se tornar a língua franca de Israel de hoje, tornou-se o foco dos esforços para torná-lo mais inclusivo na era moderna.

Dificilmente uma frase pode ser pronunciada em hebraico sem que o gênero apareça; cada objeto tem um gênero atribuído - mesa é masculino e porta é feminino, por exemplo - e a linguagem carece de termos de gênero neutro para pessoas e grupos de pessoas.

Mas nos últimos anos, muitos israelenses têm feito pressão para modificar o hebraico e até mesmo seu alfabeto para lidar com o que eles veem como preconceitos inerentes a uma língua cuja forma moderna manteve as normas gramaticais dos tempos bíblicos.

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Michal Shomer com seu livro 'Multi-Gender Hebrew'. Shomer é uma ativista que vem pressionando para tornar o hebraico menos específico de gênero e que criou um conjunto de caracteres do alfabeto hebraico.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“Quando eu quero enviar uma mensagem para um grupo que inclui homens, mulheres e pessoas não binárias, como eu me dirijo a esse grupo de uma forma que inclua todos?” perguntou Michal Shomer, uma ativista que vem fazendo pressão para tornar o hebraico menos específico no gênero e que criou um conjunto de caracteres abrangentes para o alfabeto hebraico.

“Pesquisas mostraram que usar a forma masculina ‘padrão’ tem um impacto negativo em meninas e mulheres e em sua chance de sucesso na sociedade moderna”, ela acrescentou.

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A falta de pronomes e construções de gênero neutro em hebraico significa que a forma plural masculina de verbos e pronomes tem sido usada há muito tempo como a forma padrão quando se refere ou se dirige a uma multidão mista, por exemplo.

Agora, quando se dirigem ou se referem a um grupo misto ou geral de pessoas, os israelenses estão cada vez mais usando as formas masculinas e femininas de cada verbo e pronome, junto com os adjetivos correspondentes, ou estão misturando-os em um esforço para criar um hebraico mais inclusivo.

Tais esforços, no entanto, foram criticados por alguns israelenses como incômodos e desnecessários ao mexerem com a estimada língua oficial do estado judeu que é uma marca de identidade. Também resultou em uma reação dos conservadores religiosos.

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Os críticos reclamam que a constante duplicação de gêneros transforma cada frase em um trava-língua em potencial e dificulta o fluxo natural da fala e da prosa.

“Repetir isso mais de uma vez é horrível; o texto se torna um grande aborrecimento; você não quer mais ouvir!” disse Ruvik Rosenthal, um especialista em idiomas que em seu último livro, My Life, My Language, intitulou um capítulo sobre gênero e a língua franca de Israel “Em louvor ao hebraico maníaco sexual”, emprestando uma frase de Yona Wallach, uma poetisa feminista.

Referindo-se ao que ele chamou de escrita “construída”, o uso de barras e pontos em um esforço elaborado para incorporar ambas as terminações de gênero que se tornaram mais comuns em Israel nos últimos anos, Rosenthal acrescentou: “Não é gramatical. É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso.”

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Alguns ultraconservadores e judeus ortodoxos estritos se opõem ao novo foco na igualdade linguística, uma vez que rejeitam o princípio da igualdade em geral. Avi Maoz, legislador de um partido que se opõe aos direitos LGBTQ, protestou contra o uso em formulários governamentais de uma fórmula neutra em termos de gênero para verificar informações parentais: “Pai/Mãe1″ e “Pai/Mãe 2″, que inclui casais do mesmo sexo.

Para se ter uma medida de quão seriamente muitos israelenses se relacionam com seu idioma, as plataformas de mídia social da venerável Academia da Língua Hebraica, a autoridade do estado em estudos de hebraico, estão entre as mais populares do país, com mais de 1 milhão de visualizações por mês.

A academia, encarregada de cunhar palavras hebraicas para acompanhar os tempos e manter os padrões gramaticais, encontra-se arbitrando entre a anarquia linguística e a mudança social.

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Convocada para opinar sobre o debate de gênero, ela recomendou o uso moderado e criterioso das formas masculina e feminina em determinados ambientes, sem exagerar.

Mas seus acadêmicos também são céticos em relação às novas campanhas linguísticas.

O autor israelense Ruvik Rosenthal, um crítico do hebraico de gênero neutro, disse: “É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso”.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times
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“As pessoas sentem que, se falarem dessa maneira e não daquela, as coisas funcionarão como elas querem”, disse Ronit Gadish, chefe do Secretariado Científico da Academia, encarregado de estabelecer normas para o hebraico moderno. “A igualdade de gênero está nessa plataforma. As pessoas se iludem que, se mudarem a linguagem para se adequar à sua agenda, vencerão suas batalhas por uma causa ou outra.”

O hebraico não é de forma alguma a única língua que tem sido alvo de pedidos de mudança. Muitas línguas do mundo, como o francês, tornam cada substantivo masculino ou feminino. E as Nações Unidas emitiram diretrizes para comunicações não discriminatórias nos seis idiomas oficiais da organização: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.

A inclusão de gênero não é a única questão existencial que o hebraico enfrenta. Muitos israelenses apimentam seu discurso com termos em inglês, e entre os empreendedores de tecnologia em particular, os termos profissionais em inglês são frequentemente usados no original ou em alguma forma canibalizada e hebraicizada.

Chaim Levinson, jornalista e apresentador de rádio de língua hebraica, disse que teve problemas com a nova campanha de linguagem “multigênero”. “Isso não vem naturalmente para as pessoas; é preciso muito esforço”, ele disse. “Os religiosos são contra a linguagem multigênero por causa da igualdade”, acrescentou. “Sou contra a falta de jeito. De minha parte, que seja tudo na forma feminina.”

No início deste ano acadêmico, Levinson, que também ensina novas mídias em uma faculdade em Jerusalém, recebeu uma carta da faculdade em sua caixa de entrada com um link para um manual de 24 páginas de diretrizes de linguagem inclusivas de gênero.

O subtítulo era A linguagem cria a realidade. Mas alguns especialistas dizem que deveria ser o contrário.

“A angústia do público é clara”, disse Vicky Teplitsky Ben-Saadon, coordenadora de terminologia da Secretaria Científica da academia de língua hebraica, referindo-se ao número de consultas que o instituto recebe sobre o assunto. “Linguisticamente, nós da academia não somos os donos do hebraico. Nós não o inventamos”, ela disse. “Nós determinamos um padrão com base no que se provou. Uma linguagem viva está sempre se desenvolvendo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O hebraico, com suas raízes no patriarcado bíblico e reinventado 3.000 anos depois para se tornar a língua franca de Israel de hoje, tornou-se o foco dos esforços para torná-lo mais inclusivo na era moderna.

Dificilmente uma frase pode ser pronunciada em hebraico sem que o gênero apareça; cada objeto tem um gênero atribuído - mesa é masculino e porta é feminino, por exemplo - e a linguagem carece de termos de gênero neutro para pessoas e grupos de pessoas.

Mas nos últimos anos, muitos israelenses têm feito pressão para modificar o hebraico e até mesmo seu alfabeto para lidar com o que eles veem como preconceitos inerentes a uma língua cuja forma moderna manteve as normas gramaticais dos tempos bíblicos.

Michal Shomer com seu livro 'Multi-Gender Hebrew'. Shomer é uma ativista que vem pressionando para tornar o hebraico menos específico de gênero e que criou um conjunto de caracteres do alfabeto hebraico.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“Quando eu quero enviar uma mensagem para um grupo que inclui homens, mulheres e pessoas não binárias, como eu me dirijo a esse grupo de uma forma que inclua todos?” perguntou Michal Shomer, uma ativista que vem fazendo pressão para tornar o hebraico menos específico no gênero e que criou um conjunto de caracteres abrangentes para o alfabeto hebraico.

“Pesquisas mostraram que usar a forma masculina ‘padrão’ tem um impacto negativo em meninas e mulheres e em sua chance de sucesso na sociedade moderna”, ela acrescentou.

A falta de pronomes e construções de gênero neutro em hebraico significa que a forma plural masculina de verbos e pronomes tem sido usada há muito tempo como a forma padrão quando se refere ou se dirige a uma multidão mista, por exemplo.

Agora, quando se dirigem ou se referem a um grupo misto ou geral de pessoas, os israelenses estão cada vez mais usando as formas masculinas e femininas de cada verbo e pronome, junto com os adjetivos correspondentes, ou estão misturando-os em um esforço para criar um hebraico mais inclusivo.

Tais esforços, no entanto, foram criticados por alguns israelenses como incômodos e desnecessários ao mexerem com a estimada língua oficial do estado judeu que é uma marca de identidade. Também resultou em uma reação dos conservadores religiosos.

Os críticos reclamam que a constante duplicação de gêneros transforma cada frase em um trava-língua em potencial e dificulta o fluxo natural da fala e da prosa.

“Repetir isso mais de uma vez é horrível; o texto se torna um grande aborrecimento; você não quer mais ouvir!” disse Ruvik Rosenthal, um especialista em idiomas que em seu último livro, My Life, My Language, intitulou um capítulo sobre gênero e a língua franca de Israel “Em louvor ao hebraico maníaco sexual”, emprestando uma frase de Yona Wallach, uma poetisa feminista.

Referindo-se ao que ele chamou de escrita “construída”, o uso de barras e pontos em um esforço elaborado para incorporar ambas as terminações de gênero que se tornaram mais comuns em Israel nos últimos anos, Rosenthal acrescentou: “Não é gramatical. É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso.”

Alguns ultraconservadores e judeus ortodoxos estritos se opõem ao novo foco na igualdade linguística, uma vez que rejeitam o princípio da igualdade em geral. Avi Maoz, legislador de um partido que se opõe aos direitos LGBTQ, protestou contra o uso em formulários governamentais de uma fórmula neutra em termos de gênero para verificar informações parentais: “Pai/Mãe1″ e “Pai/Mãe 2″, que inclui casais do mesmo sexo.

Para se ter uma medida de quão seriamente muitos israelenses se relacionam com seu idioma, as plataformas de mídia social da venerável Academia da Língua Hebraica, a autoridade do estado em estudos de hebraico, estão entre as mais populares do país, com mais de 1 milhão de visualizações por mês.

A academia, encarregada de cunhar palavras hebraicas para acompanhar os tempos e manter os padrões gramaticais, encontra-se arbitrando entre a anarquia linguística e a mudança social.

Convocada para opinar sobre o debate de gênero, ela recomendou o uso moderado e criterioso das formas masculina e feminina em determinados ambientes, sem exagerar.

Mas seus acadêmicos também são céticos em relação às novas campanhas linguísticas.

O autor israelense Ruvik Rosenthal, um crítico do hebraico de gênero neutro, disse: “É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso”.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“As pessoas sentem que, se falarem dessa maneira e não daquela, as coisas funcionarão como elas querem”, disse Ronit Gadish, chefe do Secretariado Científico da Academia, encarregado de estabelecer normas para o hebraico moderno. “A igualdade de gênero está nessa plataforma. As pessoas se iludem que, se mudarem a linguagem para se adequar à sua agenda, vencerão suas batalhas por uma causa ou outra.”

O hebraico não é de forma alguma a única língua que tem sido alvo de pedidos de mudança. Muitas línguas do mundo, como o francês, tornam cada substantivo masculino ou feminino. E as Nações Unidas emitiram diretrizes para comunicações não discriminatórias nos seis idiomas oficiais da organização: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.

A inclusão de gênero não é a única questão existencial que o hebraico enfrenta. Muitos israelenses apimentam seu discurso com termos em inglês, e entre os empreendedores de tecnologia em particular, os termos profissionais em inglês são frequentemente usados no original ou em alguma forma canibalizada e hebraicizada.

Chaim Levinson, jornalista e apresentador de rádio de língua hebraica, disse que teve problemas com a nova campanha de linguagem “multigênero”. “Isso não vem naturalmente para as pessoas; é preciso muito esforço”, ele disse. “Os religiosos são contra a linguagem multigênero por causa da igualdade”, acrescentou. “Sou contra a falta de jeito. De minha parte, que seja tudo na forma feminina.”

No início deste ano acadêmico, Levinson, que também ensina novas mídias em uma faculdade em Jerusalém, recebeu uma carta da faculdade em sua caixa de entrada com um link para um manual de 24 páginas de diretrizes de linguagem inclusivas de gênero.

O subtítulo era A linguagem cria a realidade. Mas alguns especialistas dizem que deveria ser o contrário.

“A angústia do público é clara”, disse Vicky Teplitsky Ben-Saadon, coordenadora de terminologia da Secretaria Científica da academia de língua hebraica, referindo-se ao número de consultas que o instituto recebe sobre o assunto. “Linguisticamente, nós da academia não somos os donos do hebraico. Nós não o inventamos”, ela disse. “Nós determinamos um padrão com base no que se provou. Uma linguagem viva está sempre se desenvolvendo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O hebraico, com suas raízes no patriarcado bíblico e reinventado 3.000 anos depois para se tornar a língua franca de Israel de hoje, tornou-se o foco dos esforços para torná-lo mais inclusivo na era moderna.

Dificilmente uma frase pode ser pronunciada em hebraico sem que o gênero apareça; cada objeto tem um gênero atribuído - mesa é masculino e porta é feminino, por exemplo - e a linguagem carece de termos de gênero neutro para pessoas e grupos de pessoas.

Mas nos últimos anos, muitos israelenses têm feito pressão para modificar o hebraico e até mesmo seu alfabeto para lidar com o que eles veem como preconceitos inerentes a uma língua cuja forma moderna manteve as normas gramaticais dos tempos bíblicos.

Michal Shomer com seu livro 'Multi-Gender Hebrew'. Shomer é uma ativista que vem pressionando para tornar o hebraico menos específico de gênero e que criou um conjunto de caracteres do alfabeto hebraico.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“Quando eu quero enviar uma mensagem para um grupo que inclui homens, mulheres e pessoas não binárias, como eu me dirijo a esse grupo de uma forma que inclua todos?” perguntou Michal Shomer, uma ativista que vem fazendo pressão para tornar o hebraico menos específico no gênero e que criou um conjunto de caracteres abrangentes para o alfabeto hebraico.

“Pesquisas mostraram que usar a forma masculina ‘padrão’ tem um impacto negativo em meninas e mulheres e em sua chance de sucesso na sociedade moderna”, ela acrescentou.

A falta de pronomes e construções de gênero neutro em hebraico significa que a forma plural masculina de verbos e pronomes tem sido usada há muito tempo como a forma padrão quando se refere ou se dirige a uma multidão mista, por exemplo.

Agora, quando se dirigem ou se referem a um grupo misto ou geral de pessoas, os israelenses estão cada vez mais usando as formas masculinas e femininas de cada verbo e pronome, junto com os adjetivos correspondentes, ou estão misturando-os em um esforço para criar um hebraico mais inclusivo.

Tais esforços, no entanto, foram criticados por alguns israelenses como incômodos e desnecessários ao mexerem com a estimada língua oficial do estado judeu que é uma marca de identidade. Também resultou em uma reação dos conservadores religiosos.

Os críticos reclamam que a constante duplicação de gêneros transforma cada frase em um trava-língua em potencial e dificulta o fluxo natural da fala e da prosa.

“Repetir isso mais de uma vez é horrível; o texto se torna um grande aborrecimento; você não quer mais ouvir!” disse Ruvik Rosenthal, um especialista em idiomas que em seu último livro, My Life, My Language, intitulou um capítulo sobre gênero e a língua franca de Israel “Em louvor ao hebraico maníaco sexual”, emprestando uma frase de Yona Wallach, uma poetisa feminista.

Referindo-se ao que ele chamou de escrita “construída”, o uso de barras e pontos em um esforço elaborado para incorporar ambas as terminações de gênero que se tornaram mais comuns em Israel nos últimos anos, Rosenthal acrescentou: “Não é gramatical. É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso.”

Alguns ultraconservadores e judeus ortodoxos estritos se opõem ao novo foco na igualdade linguística, uma vez que rejeitam o princípio da igualdade em geral. Avi Maoz, legislador de um partido que se opõe aos direitos LGBTQ, protestou contra o uso em formulários governamentais de uma fórmula neutra em termos de gênero para verificar informações parentais: “Pai/Mãe1″ e “Pai/Mãe 2″, que inclui casais do mesmo sexo.

Para se ter uma medida de quão seriamente muitos israelenses se relacionam com seu idioma, as plataformas de mídia social da venerável Academia da Língua Hebraica, a autoridade do estado em estudos de hebraico, estão entre as mais populares do país, com mais de 1 milhão de visualizações por mês.

A academia, encarregada de cunhar palavras hebraicas para acompanhar os tempos e manter os padrões gramaticais, encontra-se arbitrando entre a anarquia linguística e a mudança social.

Convocada para opinar sobre o debate de gênero, ela recomendou o uso moderado e criterioso das formas masculina e feminina em determinados ambientes, sem exagerar.

Mas seus acadêmicos também são céticos em relação às novas campanhas linguísticas.

O autor israelense Ruvik Rosenthal, um crítico do hebraico de gênero neutro, disse: “É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso”.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“As pessoas sentem que, se falarem dessa maneira e não daquela, as coisas funcionarão como elas querem”, disse Ronit Gadish, chefe do Secretariado Científico da Academia, encarregado de estabelecer normas para o hebraico moderno. “A igualdade de gênero está nessa plataforma. As pessoas se iludem que, se mudarem a linguagem para se adequar à sua agenda, vencerão suas batalhas por uma causa ou outra.”

O hebraico não é de forma alguma a única língua que tem sido alvo de pedidos de mudança. Muitas línguas do mundo, como o francês, tornam cada substantivo masculino ou feminino. E as Nações Unidas emitiram diretrizes para comunicações não discriminatórias nos seis idiomas oficiais da organização: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.

A inclusão de gênero não é a única questão existencial que o hebraico enfrenta. Muitos israelenses apimentam seu discurso com termos em inglês, e entre os empreendedores de tecnologia em particular, os termos profissionais em inglês são frequentemente usados no original ou em alguma forma canibalizada e hebraicizada.

Chaim Levinson, jornalista e apresentador de rádio de língua hebraica, disse que teve problemas com a nova campanha de linguagem “multigênero”. “Isso não vem naturalmente para as pessoas; é preciso muito esforço”, ele disse. “Os religiosos são contra a linguagem multigênero por causa da igualdade”, acrescentou. “Sou contra a falta de jeito. De minha parte, que seja tudo na forma feminina.”

No início deste ano acadêmico, Levinson, que também ensina novas mídias em uma faculdade em Jerusalém, recebeu uma carta da faculdade em sua caixa de entrada com um link para um manual de 24 páginas de diretrizes de linguagem inclusivas de gênero.

O subtítulo era A linguagem cria a realidade. Mas alguns especialistas dizem que deveria ser o contrário.

“A angústia do público é clara”, disse Vicky Teplitsky Ben-Saadon, coordenadora de terminologia da Secretaria Científica da academia de língua hebraica, referindo-se ao número de consultas que o instituto recebe sobre o assunto. “Linguisticamente, nós da academia não somos os donos do hebraico. Nós não o inventamos”, ela disse. “Nós determinamos um padrão com base no que se provou. Uma linguagem viva está sempre se desenvolvendo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O hebraico, com suas raízes no patriarcado bíblico e reinventado 3.000 anos depois para se tornar a língua franca de Israel de hoje, tornou-se o foco dos esforços para torná-lo mais inclusivo na era moderna.

Dificilmente uma frase pode ser pronunciada em hebraico sem que o gênero apareça; cada objeto tem um gênero atribuído - mesa é masculino e porta é feminino, por exemplo - e a linguagem carece de termos de gênero neutro para pessoas e grupos de pessoas.

Mas nos últimos anos, muitos israelenses têm feito pressão para modificar o hebraico e até mesmo seu alfabeto para lidar com o que eles veem como preconceitos inerentes a uma língua cuja forma moderna manteve as normas gramaticais dos tempos bíblicos.

Michal Shomer com seu livro 'Multi-Gender Hebrew'. Shomer é uma ativista que vem pressionando para tornar o hebraico menos específico de gênero e que criou um conjunto de caracteres do alfabeto hebraico.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“Quando eu quero enviar uma mensagem para um grupo que inclui homens, mulheres e pessoas não binárias, como eu me dirijo a esse grupo de uma forma que inclua todos?” perguntou Michal Shomer, uma ativista que vem fazendo pressão para tornar o hebraico menos específico no gênero e que criou um conjunto de caracteres abrangentes para o alfabeto hebraico.

“Pesquisas mostraram que usar a forma masculina ‘padrão’ tem um impacto negativo em meninas e mulheres e em sua chance de sucesso na sociedade moderna”, ela acrescentou.

A falta de pronomes e construções de gênero neutro em hebraico significa que a forma plural masculina de verbos e pronomes tem sido usada há muito tempo como a forma padrão quando se refere ou se dirige a uma multidão mista, por exemplo.

Agora, quando se dirigem ou se referem a um grupo misto ou geral de pessoas, os israelenses estão cada vez mais usando as formas masculinas e femininas de cada verbo e pronome, junto com os adjetivos correspondentes, ou estão misturando-os em um esforço para criar um hebraico mais inclusivo.

Tais esforços, no entanto, foram criticados por alguns israelenses como incômodos e desnecessários ao mexerem com a estimada língua oficial do estado judeu que é uma marca de identidade. Também resultou em uma reação dos conservadores religiosos.

Os críticos reclamam que a constante duplicação de gêneros transforma cada frase em um trava-língua em potencial e dificulta o fluxo natural da fala e da prosa.

“Repetir isso mais de uma vez é horrível; o texto se torna um grande aborrecimento; você não quer mais ouvir!” disse Ruvik Rosenthal, um especialista em idiomas que em seu último livro, My Life, My Language, intitulou um capítulo sobre gênero e a língua franca de Israel “Em louvor ao hebraico maníaco sexual”, emprestando uma frase de Yona Wallach, uma poetisa feminista.

Referindo-se ao que ele chamou de escrita “construída”, o uso de barras e pontos em um esforço elaborado para incorporar ambas as terminações de gênero que se tornaram mais comuns em Israel nos últimos anos, Rosenthal acrescentou: “Não é gramatical. É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso.”

Alguns ultraconservadores e judeus ortodoxos estritos se opõem ao novo foco na igualdade linguística, uma vez que rejeitam o princípio da igualdade em geral. Avi Maoz, legislador de um partido que se opõe aos direitos LGBTQ, protestou contra o uso em formulários governamentais de uma fórmula neutra em termos de gênero para verificar informações parentais: “Pai/Mãe1″ e “Pai/Mãe 2″, que inclui casais do mesmo sexo.

Para se ter uma medida de quão seriamente muitos israelenses se relacionam com seu idioma, as plataformas de mídia social da venerável Academia da Língua Hebraica, a autoridade do estado em estudos de hebraico, estão entre as mais populares do país, com mais de 1 milhão de visualizações por mês.

A academia, encarregada de cunhar palavras hebraicas para acompanhar os tempos e manter os padrões gramaticais, encontra-se arbitrando entre a anarquia linguística e a mudança social.

Convocada para opinar sobre o debate de gênero, ela recomendou o uso moderado e criterioso das formas masculina e feminina em determinados ambientes, sem exagerar.

Mas seus acadêmicos também são céticos em relação às novas campanhas linguísticas.

O autor israelense Ruvik Rosenthal, um crítico do hebraico de gênero neutro, disse: “É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso”.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“As pessoas sentem que, se falarem dessa maneira e não daquela, as coisas funcionarão como elas querem”, disse Ronit Gadish, chefe do Secretariado Científico da Academia, encarregado de estabelecer normas para o hebraico moderno. “A igualdade de gênero está nessa plataforma. As pessoas se iludem que, se mudarem a linguagem para se adequar à sua agenda, vencerão suas batalhas por uma causa ou outra.”

O hebraico não é de forma alguma a única língua que tem sido alvo de pedidos de mudança. Muitas línguas do mundo, como o francês, tornam cada substantivo masculino ou feminino. E as Nações Unidas emitiram diretrizes para comunicações não discriminatórias nos seis idiomas oficiais da organização: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.

A inclusão de gênero não é a única questão existencial que o hebraico enfrenta. Muitos israelenses apimentam seu discurso com termos em inglês, e entre os empreendedores de tecnologia em particular, os termos profissionais em inglês são frequentemente usados no original ou em alguma forma canibalizada e hebraicizada.

Chaim Levinson, jornalista e apresentador de rádio de língua hebraica, disse que teve problemas com a nova campanha de linguagem “multigênero”. “Isso não vem naturalmente para as pessoas; é preciso muito esforço”, ele disse. “Os religiosos são contra a linguagem multigênero por causa da igualdade”, acrescentou. “Sou contra a falta de jeito. De minha parte, que seja tudo na forma feminina.”

No início deste ano acadêmico, Levinson, que também ensina novas mídias em uma faculdade em Jerusalém, recebeu uma carta da faculdade em sua caixa de entrada com um link para um manual de 24 páginas de diretrizes de linguagem inclusivas de gênero.

O subtítulo era A linguagem cria a realidade. Mas alguns especialistas dizem que deveria ser o contrário.

“A angústia do público é clara”, disse Vicky Teplitsky Ben-Saadon, coordenadora de terminologia da Secretaria Científica da academia de língua hebraica, referindo-se ao número de consultas que o instituto recebe sobre o assunto. “Linguisticamente, nós da academia não somos os donos do hebraico. Nós não o inventamos”, ela disse. “Nós determinamos um padrão com base no que se provou. Uma linguagem viva está sempre se desenvolvendo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O hebraico, com suas raízes no patriarcado bíblico e reinventado 3.000 anos depois para se tornar a língua franca de Israel de hoje, tornou-se o foco dos esforços para torná-lo mais inclusivo na era moderna.

Dificilmente uma frase pode ser pronunciada em hebraico sem que o gênero apareça; cada objeto tem um gênero atribuído - mesa é masculino e porta é feminino, por exemplo - e a linguagem carece de termos de gênero neutro para pessoas e grupos de pessoas.

Mas nos últimos anos, muitos israelenses têm feito pressão para modificar o hebraico e até mesmo seu alfabeto para lidar com o que eles veem como preconceitos inerentes a uma língua cuja forma moderna manteve as normas gramaticais dos tempos bíblicos.

Michal Shomer com seu livro 'Multi-Gender Hebrew'. Shomer é uma ativista que vem pressionando para tornar o hebraico menos específico de gênero e que criou um conjunto de caracteres do alfabeto hebraico.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“Quando eu quero enviar uma mensagem para um grupo que inclui homens, mulheres e pessoas não binárias, como eu me dirijo a esse grupo de uma forma que inclua todos?” perguntou Michal Shomer, uma ativista que vem fazendo pressão para tornar o hebraico menos específico no gênero e que criou um conjunto de caracteres abrangentes para o alfabeto hebraico.

“Pesquisas mostraram que usar a forma masculina ‘padrão’ tem um impacto negativo em meninas e mulheres e em sua chance de sucesso na sociedade moderna”, ela acrescentou.

A falta de pronomes e construções de gênero neutro em hebraico significa que a forma plural masculina de verbos e pronomes tem sido usada há muito tempo como a forma padrão quando se refere ou se dirige a uma multidão mista, por exemplo.

Agora, quando se dirigem ou se referem a um grupo misto ou geral de pessoas, os israelenses estão cada vez mais usando as formas masculinas e femininas de cada verbo e pronome, junto com os adjetivos correspondentes, ou estão misturando-os em um esforço para criar um hebraico mais inclusivo.

Tais esforços, no entanto, foram criticados por alguns israelenses como incômodos e desnecessários ao mexerem com a estimada língua oficial do estado judeu que é uma marca de identidade. Também resultou em uma reação dos conservadores religiosos.

Os críticos reclamam que a constante duplicação de gêneros transforma cada frase em um trava-língua em potencial e dificulta o fluxo natural da fala e da prosa.

“Repetir isso mais de uma vez é horrível; o texto se torna um grande aborrecimento; você não quer mais ouvir!” disse Ruvik Rosenthal, um especialista em idiomas que em seu último livro, My Life, My Language, intitulou um capítulo sobre gênero e a língua franca de Israel “Em louvor ao hebraico maníaco sexual”, emprestando uma frase de Yona Wallach, uma poetisa feminista.

Referindo-se ao que ele chamou de escrita “construída”, o uso de barras e pontos em um esforço elaborado para incorporar ambas as terminações de gênero que se tornaram mais comuns em Israel nos últimos anos, Rosenthal acrescentou: “Não é gramatical. É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso.”

Alguns ultraconservadores e judeus ortodoxos estritos se opõem ao novo foco na igualdade linguística, uma vez que rejeitam o princípio da igualdade em geral. Avi Maoz, legislador de um partido que se opõe aos direitos LGBTQ, protestou contra o uso em formulários governamentais de uma fórmula neutra em termos de gênero para verificar informações parentais: “Pai/Mãe1″ e “Pai/Mãe 2″, que inclui casais do mesmo sexo.

Para se ter uma medida de quão seriamente muitos israelenses se relacionam com seu idioma, as plataformas de mídia social da venerável Academia da Língua Hebraica, a autoridade do estado em estudos de hebraico, estão entre as mais populares do país, com mais de 1 milhão de visualizações por mês.

A academia, encarregada de cunhar palavras hebraicas para acompanhar os tempos e manter os padrões gramaticais, encontra-se arbitrando entre a anarquia linguística e a mudança social.

Convocada para opinar sobre o debate de gênero, ela recomendou o uso moderado e criterioso das formas masculina e feminina em determinados ambientes, sem exagerar.

Mas seus acadêmicos também são céticos em relação às novas campanhas linguísticas.

O autor israelense Ruvik Rosenthal, um crítico do hebraico de gênero neutro, disse: “É feio, é complicado e, em termos práticos, não é adequado para o discurso”.  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

“As pessoas sentem que, se falarem dessa maneira e não daquela, as coisas funcionarão como elas querem”, disse Ronit Gadish, chefe do Secretariado Científico da Academia, encarregado de estabelecer normas para o hebraico moderno. “A igualdade de gênero está nessa plataforma. As pessoas se iludem que, se mudarem a linguagem para se adequar à sua agenda, vencerão suas batalhas por uma causa ou outra.”

O hebraico não é de forma alguma a única língua que tem sido alvo de pedidos de mudança. Muitas línguas do mundo, como o francês, tornam cada substantivo masculino ou feminino. E as Nações Unidas emitiram diretrizes para comunicações não discriminatórias nos seis idiomas oficiais da organização: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.

A inclusão de gênero não é a única questão existencial que o hebraico enfrenta. Muitos israelenses apimentam seu discurso com termos em inglês, e entre os empreendedores de tecnologia em particular, os termos profissionais em inglês são frequentemente usados no original ou em alguma forma canibalizada e hebraicizada.

Chaim Levinson, jornalista e apresentador de rádio de língua hebraica, disse que teve problemas com a nova campanha de linguagem “multigênero”. “Isso não vem naturalmente para as pessoas; é preciso muito esforço”, ele disse. “Os religiosos são contra a linguagem multigênero por causa da igualdade”, acrescentou. “Sou contra a falta de jeito. De minha parte, que seja tudo na forma feminina.”

No início deste ano acadêmico, Levinson, que também ensina novas mídias em uma faculdade em Jerusalém, recebeu uma carta da faculdade em sua caixa de entrada com um link para um manual de 24 páginas de diretrizes de linguagem inclusivas de gênero.

O subtítulo era A linguagem cria a realidade. Mas alguns especialistas dizem que deveria ser o contrário.

“A angústia do público é clara”, disse Vicky Teplitsky Ben-Saadon, coordenadora de terminologia da Secretaria Científica da academia de língua hebraica, referindo-se ao número de consultas que o instituto recebe sobre o assunto. “Linguisticamente, nós da academia não somos os donos do hebraico. Nós não o inventamos”, ela disse. “Nós determinamos um padrão com base no que se provou. Uma linguagem viva está sempre se desenvolvendo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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