NOVA YORK - No dia 20 de janeiro, uma quinta-feira, havia uma fila de dez pessoas em frente ao Hair of the Dog, bar temático de esportes localizado em Manhattan que geralmente atrai multidões para assistir a jogos de futebol no domingo e beber durante o dia. À entrada, o segurança pediu a cada um que mostrasse o documento de identidade emitido pelo governo, o comprovante de vacinação e o perfil em um aplicativo de relacionamento, não que algum deles estivesse lá para dar match.
Pelo contrário: uma empresa chamada Thursday (Quinta-feira) estava promovendo uma noite dos solteiros - antídoto para a fadiga do namoro on-line. Os participantes expressaram todo tipo de frustração com o romance moderno: dar match raramente produz algo além de conversa fiada; perde-se muito tempo analisando perfis em busca de qualidades e bandeira vermelha; há um padrão documentado de discriminação racial em aplicativos de relacionamento; e paira uma sensação geral de falta de esperança. "Ninguém dá match comigo", disse Harrison Gottfried, de 27 anos, pouco depois de entrar no bar. Quando surge alguém no Tinder ou no Hinge, geralmente se trata de um perfil falso.
O evento busca se diferenciar por meio da escassez artificial: o aplicativo da empresa fica acessível apenas um dia por semana. (Aposto que você não consegue adivinhar qual!) Quando o relógio bate meia-noite, os usuários clicam em um ícone que indica que estão livres para se encontrar com alguém naquele dia. Então, durante 24 horas, os usuários podem analisar os perfis e conversar como em outros sites de relacionamento. Quando a quinta-feira vira sexta-feira, no entanto, os perfis aos quais você tinha dado match desaparecem e o aplicativo é bloqueado. A ideia é que não se pode perder tempo com conversa fiada; um encontro deve ser marcado agora ou nunca.
Para incentivar esses encontros na vida real, a Thursday organiza eventos em Londres e em Nova York, as duas únicas cidades em que a empresa atua; o do Hair of the Dog foi o oitavo nesta última cidade e atraiu uma multidão de cerca de 450 pessoas. Antoniy Fulmes, de 24 anos, ficou sabendo do evento por intermédio de um e-mail promocional. Perguntado sobre o que achava de relacionamentos on-line, ele respondeu: "Não quero conhecer o amor da minha vida em um aplicativo de relacionamento. Ninguém nos aplicativos quer conversar. Talvez seja algo pessoal. Talvez eu seja feio."
Mesmo os que tiveram mais sorte e conseguiram dar um match pareciam ter perdido o interesse. "Pular de perfil em perfil não vai necessariamente render um encontro. Pode fazer você se sentir bem, mas não tem substância", comentou Andrew Tchekalenkov, de 31 anos, terapeuta de reabilitação de drogas que participou de três eventos da Thursday.
O cofundador e diretor de operações da Thursday, Matthew McNeill Love, de 31 anos, queria criar um produto que pudesse ajudar as pessoas a ir além da "massagem no ego" inicial que um match gera e promover uma conexão genuína. "Receber uma curtida no Hinge é como uma curtida no Instagram. Percebemos que, ao limitar o acesso a um dia por semana, as pessoas são forçadas a tomar uma decisão", afirmou em entrevista por telefone em meados de janeiro.
Segundo Love, desde seu lançamento, em julho de 2021, o aplicativo da Thursday foi baixado 340 mil vezes antes de a empresa apresentar sua série de eventos off-line, chamada AfterParty. O primeiro encontro foi em um bar em Londres há três meses. "Tudo que fizemos foi colocá-lo no aplicativo. Não fizemos nenhum anúncio, não temos uma marca, não temos representantes de vendas com camisa cor-de-rosa, não fazemos atividades para quebrar o gelo. É apenas um bar normal."
Outros aplicativos de relacionamento também se inclinaram para o analógico. O Bumble, por exemplo, abriu um café e bar de vinhos em Manhattan neste inverno setentrional. O estabelecimento, chamado Bumble Brew, "não foi projetado apenas para criar novas conexões, mas também para que as pessoas se reúnam e interajam. Temos nos concentrado em eventos na vida real há muito tempo", escreveu Julia Smith-Caulfield, chefe de parcerias de marca da empresa, em um e-mail.
Apesar da rejeição cada vez maior à ideia do namoro digital, a maioria dos presentes parecia estar usando os mesmos aplicativos de sempre. Eles descreveram o Tinder como um aplicativo de relacionamento mais casual e o Hinge como um mercado para quem busca um relacionamento. Hanna Choi, de 28 anos, comentou que usa o Bumble "para conversar com homens bonitos". Alguns disseram que só têm usado o aplicativo Thursday, principalmente para a noite dos solteiros. Moses McFly, de 39 anos, que esteve em três dos eventos, declarou: "Todos os outros aplicativos estão disponíveis sete dias por semana e isso pode se tornar sufocante."
Afinal, esses eventos estão dando certo para os solteiros? "Ainda não fiquei impressionada, mas é uma boa ideia", observou Becky Kaploun, de 24 anos, organizadora de eventos que, quando perguntada sobre quais aplicativos de relacionamento usava, respondeu com um sorriso amarelo: "Todos." Ela se sentou a uma mesa com uma amiga, esperando ser abordada por alguém. "Isso é o mais próximo de conhecer alguém normalmente na vida real."
Esses eventos parecem estar funcionando para Fulmes, que a certa altura gritou para o colega de quarto: "Já conversei com seis garotas! Você está ficando para trás." Perto dali, um homem conduziu uma mulher no meio da multidão ao som de Beautiful Girls, de Sean Kingston, e sugeriu: "Vamos para o cantinho. Ali a gente pode se curtir."
Celeste Ortega, designer industrial de 26 anos que estava participando do evento com Choi, contou que ninguém as havia abordado e sugeriu que as pessoas estavam "desesperadas": "Estou sentindo uma mistura de desapontamento e indiferença." Quando perguntada se participaria de outro evento, Ortega não hesitou: "Meu Deus. Provavelmente, toda quinta-feira pelo resto da vida."
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