Após discurso polêmico, Kanye West pode encontrar refúgio ou dinheiro na música?


Enquanto parceiros corporativos cortam laços com o artista após semanas de declarações antissemitas, muitos se perguntam se o catálogo de músicas que era sua base resistirá à reação

Por Joe Coscarelli e Ben Sisario

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - No início de 2016, tudo estava se alinhando para Kanye West. Já uma lenda viva do hip-hop, tendo lançado seis álbuns consecutivos que mudaram um paradigma, West, que agora é conhecido como Ye, estava lucrando com seu capital cultural em vários meios.

Com milhares reunidos no Madison Square Garden e outros milhões assistindo online e nos cinemas ao redor do mundo, Ye combinou a revelação de seu sétimo álbum solo, The Life of Pablo, com o lançamento de sua terceira coleção de moda Yeezy para a Adidas, filmando tudo para o reality show de sua família Keeping Up With the Kardashians. Algumas das músicas permaneceram estranhamente inacabadas, e uma música, Famous, reacendeu uma briga com Taylor Swift que duraria anos.

Este foi Kanye por mais de uma década: ao combinar sucessos e espetáculos sem roteiro, o artista muitas vezes se safava de momentos confusos graças à clareza de sua visão criativa.

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“Esses cinco primeiros álbuns são provavelmente os cinco melhores álbuns de todos - eu quase diria de qualquer artista de todos os tempos, não apenas do hip-hop”, disse Charlamagne Tha God, o apresentador de rádio e televisão conhecido por seu programa matinal sindicalizado, The Breakfast Club.

Donald Trump e Kanye West na Trump Tower em Nova York, em dezembro de 2016. Foto: AP Photo/Seth Wenig

Agora, enquanto parceiros corporativos como Adidas, Balenciaga, Gap e Creative Artists Agency, juntamente com a gravadora de longa data de Ye, Def Jam, se distanciam dele após sua ostentação de um slogan associado a supremacistas brancos e suas repetidas declarações antissemitas nas mídias sociais e em entrevistas, muitos estão se perguntando se o catálogo de músicas que já foi sua base pode resistir à reação ou fornecer um caminho de volta.

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“É um dos momentos mais embaraçosos que já vimos no mundo dos negócios e na música, e foi tudo autoinfligido”, disse Charlamagne. “Não sabemos por que ele decidiu vestir a camiseta ‘White Lives Matter’. Não sabemos por que ele decidiu começar a fazer comentários antissemitas. Não sabemos por que ele decidiu defender Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd. Não há uma música que possa me fazer esquecer isso.

“Toda essa música”, acrescentou Charlamagne, “é apenas uma memória distante”.

Os quatro álbuns de Ye desde Pablo foram mais notáveis por seus lançamentos caóticos do que por sua qualidade, não conseguindo causar tanto impacto crítico ou comercial.

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Enquanto Ye já dominou o mundo pop com faixas inescapáveis como Jesus Walks, Gold Digger e Stronger, ele não tem um grande sucesso há anos. The Life of Pablo vendeu o equivalente a cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos; álbuns subsequentes como Ye (2018) e Donda (2021) atingiram apenas a metade, de acordo com o serviço de rastreamento Luminate, que fornece os dados para as paradas da Billboard.

Recentemente o cantor se envolveu com polêmicas por publicar mensagens antissemitas. Foto: Evan Vucci/AP

Mesmo quando um álbum como o de 2019 e que se tornou gospel, Jesus Is King, estreou no topo da parada da Billboard, desapareceu rapidamente da memória. Os projetos têm sido prejudicados por repetidos prazos estourados, gravações incompletas e estratégias de lançamento abortadas. Sua atenção nos últimos anos tem sido muito mais focada na moda. Ele não faz uma turnê desde 2016.

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Embora a presença de Ye no rádio tenha diminuído no último mês - de uma média de cerca de 2.300 reproduções de suas músicas por semana para 1.800 na semana passada, com muitas estações agora o vetando completamente - o streaming pode fornecer uma rede de segurança. Seu estoque de sucessos continua popular lá, atraindo quase 4 bilhões de reproduções até agora este ano apenas nos Estados Unidos. No Spotify, ele tem 51 milhões de ouvintes mensais em todo o mundo, tornando-se o 19º artista mais popular nessa plataforma.

No mês passado, os números de streaming de Ye caíram um pouco, diminuindo cerca de 6%, para 88 milhões de cliques sob demanda nos Estados Unidos. Mas esses números estão bem dentro de sua faixa habitual neste momento de sua carreira e aumentaram um pouco desde o início de 2022, de acordo com o Luminate. O número de playlists de usuários no Spotify com músicas de Ye também disparou nas últimas semanas para quase 1,3 milhão, de acordo com a Chartmetric, uma empresa que rastreia serviços de streaming e mídias sociais.

Esses números sugerem alguma combinação de fidelidade dos fãs e curiosidade do usuário que pode ser impulsionada pela atenção da mídia. “A maioria dos consumidores de música provavelmente só se importa se gosta ou não da música, então qualquer cobertura negativa da imprensa sobre um artista pode apenas lembrá-los de ouvir sua música”, disse Rutger Rosenborg, gerente de marketing da Chartmetric. “E talvez Kanye esteja contando com isso.”

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West causou confusão ao usar uma camiseta “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam) em seu desfile de moda em Paris.  Foto: Candance Owens/Twitter

Esse fenômeno ocorreu inúmeras vezes nos últimos anos. Muitos fãs de R. Kelly se mantiveram fiéis em seus hábitos de escuta privada, mesmo quando o cantor foi acusado - e condenado - por extorsão e tráfico sexual. No ano passado, depois que o cantor country Morgan Wallen foi flagrado em um vídeo fazendo um insulto racial, as estações de rádio removeram suas músicas por um tempo e as plataformas de streaming o tiraram temporariamente das playlists oficiais. Mas os fãs se uniram a ele, e Wallen acabou com a maior sequência de Top 10 na parada de álbuns da Billboard em quase 60 anos.

Artistas como Chris Brown, XXXTentacion e Michael Jackson, que também foram acusados de má conduta, se mantiveram firmes nos serviços de streaming. Essas plataformas geralmente relutam em remover conteúdo, vendo seu papel como protetores neutros do discurso. A música de Kelly, por exemplo, continua amplamente disponível, mesmo que não seja fortemente promovida.

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Daniel Ek, CEO do Spotify, disse à Reuters que os “comentários horríveis” de Ye justificariam a remoção do serviço apenas se estivessem incluídos em uma música ou podcast gravado. “Sua música não viola nossa política”, disse Ek. “Depende da gravadora dele se eles querem agir ou não.”

Representantes da Apple não responderam a perguntas esta semana sobre se seu serviço de streaming tomaria alguma medida sobre a música de Ye.

Futuro

Para onde a carreira musical de Ye vai a partir daqui não está claro. Embora momentaneamente rejeitado pelos principais empresários da indústria do entretenimento, ele também é essencialmente um agente livre - uma situação que ele busca há muito tempo. Seu contrato com a Def Jam terminou com seu álbum Donda. E seu contrato de composição com a Sony Music expirou no início deste ano, embora a empresa ainda atue como administradora de seu catálogo.

Nada disso descarta a possibilidade de um retorno em uma indústria que há muito tempo chama a atenção de qualquer forma e muitas vezes abraça a redenção de suas maiores e mais problemáticas estrelas. “Mesmo que não seja a Def Jam”, disse o analista da indústria Dan Runcie, que cobre o negócio de streaming e hip-hop em seu site Trapital, “acho que provavelmente há outra gravadora por aí que provavelmente vai querer fazer parceria com ele de algum modo.”

Plataformas como YouTube e SoundCloud, juntamente com a facilidade de distribuição digital para o Spotify e outros grandes serviços de streaming, mostram que Ye pode nem precisar de um parceiro corporativo, dado o tamanho de seu megafone pessoal.

“Kanye pode lançar uma música amanhã, e as pessoas vão ouvi-la”, disse Charlamagne. “Nós amamos a disfunção, então, infelizmente, Kanye West sempre terá uma voz.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - No início de 2016, tudo estava se alinhando para Kanye West. Já uma lenda viva do hip-hop, tendo lançado seis álbuns consecutivos que mudaram um paradigma, West, que agora é conhecido como Ye, estava lucrando com seu capital cultural em vários meios.

Com milhares reunidos no Madison Square Garden e outros milhões assistindo online e nos cinemas ao redor do mundo, Ye combinou a revelação de seu sétimo álbum solo, The Life of Pablo, com o lançamento de sua terceira coleção de moda Yeezy para a Adidas, filmando tudo para o reality show de sua família Keeping Up With the Kardashians. Algumas das músicas permaneceram estranhamente inacabadas, e uma música, Famous, reacendeu uma briga com Taylor Swift que duraria anos.

Este foi Kanye por mais de uma década: ao combinar sucessos e espetáculos sem roteiro, o artista muitas vezes se safava de momentos confusos graças à clareza de sua visão criativa.

“Esses cinco primeiros álbuns são provavelmente os cinco melhores álbuns de todos - eu quase diria de qualquer artista de todos os tempos, não apenas do hip-hop”, disse Charlamagne Tha God, o apresentador de rádio e televisão conhecido por seu programa matinal sindicalizado, The Breakfast Club.

Donald Trump e Kanye West na Trump Tower em Nova York, em dezembro de 2016. Foto: AP Photo/Seth Wenig

Agora, enquanto parceiros corporativos como Adidas, Balenciaga, Gap e Creative Artists Agency, juntamente com a gravadora de longa data de Ye, Def Jam, se distanciam dele após sua ostentação de um slogan associado a supremacistas brancos e suas repetidas declarações antissemitas nas mídias sociais e em entrevistas, muitos estão se perguntando se o catálogo de músicas que já foi sua base pode resistir à reação ou fornecer um caminho de volta.

“É um dos momentos mais embaraçosos que já vimos no mundo dos negócios e na música, e foi tudo autoinfligido”, disse Charlamagne. “Não sabemos por que ele decidiu vestir a camiseta ‘White Lives Matter’. Não sabemos por que ele decidiu começar a fazer comentários antissemitas. Não sabemos por que ele decidiu defender Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd. Não há uma música que possa me fazer esquecer isso.

“Toda essa música”, acrescentou Charlamagne, “é apenas uma memória distante”.

Os quatro álbuns de Ye desde Pablo foram mais notáveis por seus lançamentos caóticos do que por sua qualidade, não conseguindo causar tanto impacto crítico ou comercial.

Enquanto Ye já dominou o mundo pop com faixas inescapáveis como Jesus Walks, Gold Digger e Stronger, ele não tem um grande sucesso há anos. The Life of Pablo vendeu o equivalente a cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos; álbuns subsequentes como Ye (2018) e Donda (2021) atingiram apenas a metade, de acordo com o serviço de rastreamento Luminate, que fornece os dados para as paradas da Billboard.

Recentemente o cantor se envolveu com polêmicas por publicar mensagens antissemitas. Foto: Evan Vucci/AP

Mesmo quando um álbum como o de 2019 e que se tornou gospel, Jesus Is King, estreou no topo da parada da Billboard, desapareceu rapidamente da memória. Os projetos têm sido prejudicados por repetidos prazos estourados, gravações incompletas e estratégias de lançamento abortadas. Sua atenção nos últimos anos tem sido muito mais focada na moda. Ele não faz uma turnê desde 2016.

Embora a presença de Ye no rádio tenha diminuído no último mês - de uma média de cerca de 2.300 reproduções de suas músicas por semana para 1.800 na semana passada, com muitas estações agora o vetando completamente - o streaming pode fornecer uma rede de segurança. Seu estoque de sucessos continua popular lá, atraindo quase 4 bilhões de reproduções até agora este ano apenas nos Estados Unidos. No Spotify, ele tem 51 milhões de ouvintes mensais em todo o mundo, tornando-se o 19º artista mais popular nessa plataforma.

No mês passado, os números de streaming de Ye caíram um pouco, diminuindo cerca de 6%, para 88 milhões de cliques sob demanda nos Estados Unidos. Mas esses números estão bem dentro de sua faixa habitual neste momento de sua carreira e aumentaram um pouco desde o início de 2022, de acordo com o Luminate. O número de playlists de usuários no Spotify com músicas de Ye também disparou nas últimas semanas para quase 1,3 milhão, de acordo com a Chartmetric, uma empresa que rastreia serviços de streaming e mídias sociais.

Esses números sugerem alguma combinação de fidelidade dos fãs e curiosidade do usuário que pode ser impulsionada pela atenção da mídia. “A maioria dos consumidores de música provavelmente só se importa se gosta ou não da música, então qualquer cobertura negativa da imprensa sobre um artista pode apenas lembrá-los de ouvir sua música”, disse Rutger Rosenborg, gerente de marketing da Chartmetric. “E talvez Kanye esteja contando com isso.”

West causou confusão ao usar uma camiseta “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam) em seu desfile de moda em Paris.  Foto: Candance Owens/Twitter

Esse fenômeno ocorreu inúmeras vezes nos últimos anos. Muitos fãs de R. Kelly se mantiveram fiéis em seus hábitos de escuta privada, mesmo quando o cantor foi acusado - e condenado - por extorsão e tráfico sexual. No ano passado, depois que o cantor country Morgan Wallen foi flagrado em um vídeo fazendo um insulto racial, as estações de rádio removeram suas músicas por um tempo e as plataformas de streaming o tiraram temporariamente das playlists oficiais. Mas os fãs se uniram a ele, e Wallen acabou com a maior sequência de Top 10 na parada de álbuns da Billboard em quase 60 anos.

Artistas como Chris Brown, XXXTentacion e Michael Jackson, que também foram acusados de má conduta, se mantiveram firmes nos serviços de streaming. Essas plataformas geralmente relutam em remover conteúdo, vendo seu papel como protetores neutros do discurso. A música de Kelly, por exemplo, continua amplamente disponível, mesmo que não seja fortemente promovida.

Daniel Ek, CEO do Spotify, disse à Reuters que os “comentários horríveis” de Ye justificariam a remoção do serviço apenas se estivessem incluídos em uma música ou podcast gravado. “Sua música não viola nossa política”, disse Ek. “Depende da gravadora dele se eles querem agir ou não.”

Representantes da Apple não responderam a perguntas esta semana sobre se seu serviço de streaming tomaria alguma medida sobre a música de Ye.

Futuro

Para onde a carreira musical de Ye vai a partir daqui não está claro. Embora momentaneamente rejeitado pelos principais empresários da indústria do entretenimento, ele também é essencialmente um agente livre - uma situação que ele busca há muito tempo. Seu contrato com a Def Jam terminou com seu álbum Donda. E seu contrato de composição com a Sony Music expirou no início deste ano, embora a empresa ainda atue como administradora de seu catálogo.

Nada disso descarta a possibilidade de um retorno em uma indústria que há muito tempo chama a atenção de qualquer forma e muitas vezes abraça a redenção de suas maiores e mais problemáticas estrelas. “Mesmo que não seja a Def Jam”, disse o analista da indústria Dan Runcie, que cobre o negócio de streaming e hip-hop em seu site Trapital, “acho que provavelmente há outra gravadora por aí que provavelmente vai querer fazer parceria com ele de algum modo.”

Plataformas como YouTube e SoundCloud, juntamente com a facilidade de distribuição digital para o Spotify e outros grandes serviços de streaming, mostram que Ye pode nem precisar de um parceiro corporativo, dado o tamanho de seu megafone pessoal.

“Kanye pode lançar uma música amanhã, e as pessoas vão ouvi-la”, disse Charlamagne. “Nós amamos a disfunção, então, infelizmente, Kanye West sempre terá uma voz.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - No início de 2016, tudo estava se alinhando para Kanye West. Já uma lenda viva do hip-hop, tendo lançado seis álbuns consecutivos que mudaram um paradigma, West, que agora é conhecido como Ye, estava lucrando com seu capital cultural em vários meios.

Com milhares reunidos no Madison Square Garden e outros milhões assistindo online e nos cinemas ao redor do mundo, Ye combinou a revelação de seu sétimo álbum solo, The Life of Pablo, com o lançamento de sua terceira coleção de moda Yeezy para a Adidas, filmando tudo para o reality show de sua família Keeping Up With the Kardashians. Algumas das músicas permaneceram estranhamente inacabadas, e uma música, Famous, reacendeu uma briga com Taylor Swift que duraria anos.

Este foi Kanye por mais de uma década: ao combinar sucessos e espetáculos sem roteiro, o artista muitas vezes se safava de momentos confusos graças à clareza de sua visão criativa.

“Esses cinco primeiros álbuns são provavelmente os cinco melhores álbuns de todos - eu quase diria de qualquer artista de todos os tempos, não apenas do hip-hop”, disse Charlamagne Tha God, o apresentador de rádio e televisão conhecido por seu programa matinal sindicalizado, The Breakfast Club.

Donald Trump e Kanye West na Trump Tower em Nova York, em dezembro de 2016. Foto: AP Photo/Seth Wenig

Agora, enquanto parceiros corporativos como Adidas, Balenciaga, Gap e Creative Artists Agency, juntamente com a gravadora de longa data de Ye, Def Jam, se distanciam dele após sua ostentação de um slogan associado a supremacistas brancos e suas repetidas declarações antissemitas nas mídias sociais e em entrevistas, muitos estão se perguntando se o catálogo de músicas que já foi sua base pode resistir à reação ou fornecer um caminho de volta.

“É um dos momentos mais embaraçosos que já vimos no mundo dos negócios e na música, e foi tudo autoinfligido”, disse Charlamagne. “Não sabemos por que ele decidiu vestir a camiseta ‘White Lives Matter’. Não sabemos por que ele decidiu começar a fazer comentários antissemitas. Não sabemos por que ele decidiu defender Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd. Não há uma música que possa me fazer esquecer isso.

“Toda essa música”, acrescentou Charlamagne, “é apenas uma memória distante”.

Os quatro álbuns de Ye desde Pablo foram mais notáveis por seus lançamentos caóticos do que por sua qualidade, não conseguindo causar tanto impacto crítico ou comercial.

Enquanto Ye já dominou o mundo pop com faixas inescapáveis como Jesus Walks, Gold Digger e Stronger, ele não tem um grande sucesso há anos. The Life of Pablo vendeu o equivalente a cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos; álbuns subsequentes como Ye (2018) e Donda (2021) atingiram apenas a metade, de acordo com o serviço de rastreamento Luminate, que fornece os dados para as paradas da Billboard.

Recentemente o cantor se envolveu com polêmicas por publicar mensagens antissemitas. Foto: Evan Vucci/AP

Mesmo quando um álbum como o de 2019 e que se tornou gospel, Jesus Is King, estreou no topo da parada da Billboard, desapareceu rapidamente da memória. Os projetos têm sido prejudicados por repetidos prazos estourados, gravações incompletas e estratégias de lançamento abortadas. Sua atenção nos últimos anos tem sido muito mais focada na moda. Ele não faz uma turnê desde 2016.

Embora a presença de Ye no rádio tenha diminuído no último mês - de uma média de cerca de 2.300 reproduções de suas músicas por semana para 1.800 na semana passada, com muitas estações agora o vetando completamente - o streaming pode fornecer uma rede de segurança. Seu estoque de sucessos continua popular lá, atraindo quase 4 bilhões de reproduções até agora este ano apenas nos Estados Unidos. No Spotify, ele tem 51 milhões de ouvintes mensais em todo o mundo, tornando-se o 19º artista mais popular nessa plataforma.

No mês passado, os números de streaming de Ye caíram um pouco, diminuindo cerca de 6%, para 88 milhões de cliques sob demanda nos Estados Unidos. Mas esses números estão bem dentro de sua faixa habitual neste momento de sua carreira e aumentaram um pouco desde o início de 2022, de acordo com o Luminate. O número de playlists de usuários no Spotify com músicas de Ye também disparou nas últimas semanas para quase 1,3 milhão, de acordo com a Chartmetric, uma empresa que rastreia serviços de streaming e mídias sociais.

Esses números sugerem alguma combinação de fidelidade dos fãs e curiosidade do usuário que pode ser impulsionada pela atenção da mídia. “A maioria dos consumidores de música provavelmente só se importa se gosta ou não da música, então qualquer cobertura negativa da imprensa sobre um artista pode apenas lembrá-los de ouvir sua música”, disse Rutger Rosenborg, gerente de marketing da Chartmetric. “E talvez Kanye esteja contando com isso.”

West causou confusão ao usar uma camiseta “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam) em seu desfile de moda em Paris.  Foto: Candance Owens/Twitter

Esse fenômeno ocorreu inúmeras vezes nos últimos anos. Muitos fãs de R. Kelly se mantiveram fiéis em seus hábitos de escuta privada, mesmo quando o cantor foi acusado - e condenado - por extorsão e tráfico sexual. No ano passado, depois que o cantor country Morgan Wallen foi flagrado em um vídeo fazendo um insulto racial, as estações de rádio removeram suas músicas por um tempo e as plataformas de streaming o tiraram temporariamente das playlists oficiais. Mas os fãs se uniram a ele, e Wallen acabou com a maior sequência de Top 10 na parada de álbuns da Billboard em quase 60 anos.

Artistas como Chris Brown, XXXTentacion e Michael Jackson, que também foram acusados de má conduta, se mantiveram firmes nos serviços de streaming. Essas plataformas geralmente relutam em remover conteúdo, vendo seu papel como protetores neutros do discurso. A música de Kelly, por exemplo, continua amplamente disponível, mesmo que não seja fortemente promovida.

Daniel Ek, CEO do Spotify, disse à Reuters que os “comentários horríveis” de Ye justificariam a remoção do serviço apenas se estivessem incluídos em uma música ou podcast gravado. “Sua música não viola nossa política”, disse Ek. “Depende da gravadora dele se eles querem agir ou não.”

Representantes da Apple não responderam a perguntas esta semana sobre se seu serviço de streaming tomaria alguma medida sobre a música de Ye.

Futuro

Para onde a carreira musical de Ye vai a partir daqui não está claro. Embora momentaneamente rejeitado pelos principais empresários da indústria do entretenimento, ele também é essencialmente um agente livre - uma situação que ele busca há muito tempo. Seu contrato com a Def Jam terminou com seu álbum Donda. E seu contrato de composição com a Sony Music expirou no início deste ano, embora a empresa ainda atue como administradora de seu catálogo.

Nada disso descarta a possibilidade de um retorno em uma indústria que há muito tempo chama a atenção de qualquer forma e muitas vezes abraça a redenção de suas maiores e mais problemáticas estrelas. “Mesmo que não seja a Def Jam”, disse o analista da indústria Dan Runcie, que cobre o negócio de streaming e hip-hop em seu site Trapital, “acho que provavelmente há outra gravadora por aí que provavelmente vai querer fazer parceria com ele de algum modo.”

Plataformas como YouTube e SoundCloud, juntamente com a facilidade de distribuição digital para o Spotify e outros grandes serviços de streaming, mostram que Ye pode nem precisar de um parceiro corporativo, dado o tamanho de seu megafone pessoal.

“Kanye pode lançar uma música amanhã, e as pessoas vão ouvi-la”, disse Charlamagne. “Nós amamos a disfunção, então, infelizmente, Kanye West sempre terá uma voz.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - No início de 2016, tudo estava se alinhando para Kanye West. Já uma lenda viva do hip-hop, tendo lançado seis álbuns consecutivos que mudaram um paradigma, West, que agora é conhecido como Ye, estava lucrando com seu capital cultural em vários meios.

Com milhares reunidos no Madison Square Garden e outros milhões assistindo online e nos cinemas ao redor do mundo, Ye combinou a revelação de seu sétimo álbum solo, The Life of Pablo, com o lançamento de sua terceira coleção de moda Yeezy para a Adidas, filmando tudo para o reality show de sua família Keeping Up With the Kardashians. Algumas das músicas permaneceram estranhamente inacabadas, e uma música, Famous, reacendeu uma briga com Taylor Swift que duraria anos.

Este foi Kanye por mais de uma década: ao combinar sucessos e espetáculos sem roteiro, o artista muitas vezes se safava de momentos confusos graças à clareza de sua visão criativa.

“Esses cinco primeiros álbuns são provavelmente os cinco melhores álbuns de todos - eu quase diria de qualquer artista de todos os tempos, não apenas do hip-hop”, disse Charlamagne Tha God, o apresentador de rádio e televisão conhecido por seu programa matinal sindicalizado, The Breakfast Club.

Donald Trump e Kanye West na Trump Tower em Nova York, em dezembro de 2016. Foto: AP Photo/Seth Wenig

Agora, enquanto parceiros corporativos como Adidas, Balenciaga, Gap e Creative Artists Agency, juntamente com a gravadora de longa data de Ye, Def Jam, se distanciam dele após sua ostentação de um slogan associado a supremacistas brancos e suas repetidas declarações antissemitas nas mídias sociais e em entrevistas, muitos estão se perguntando se o catálogo de músicas que já foi sua base pode resistir à reação ou fornecer um caminho de volta.

“É um dos momentos mais embaraçosos que já vimos no mundo dos negócios e na música, e foi tudo autoinfligido”, disse Charlamagne. “Não sabemos por que ele decidiu vestir a camiseta ‘White Lives Matter’. Não sabemos por que ele decidiu começar a fazer comentários antissemitas. Não sabemos por que ele decidiu defender Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd. Não há uma música que possa me fazer esquecer isso.

“Toda essa música”, acrescentou Charlamagne, “é apenas uma memória distante”.

Os quatro álbuns de Ye desde Pablo foram mais notáveis por seus lançamentos caóticos do que por sua qualidade, não conseguindo causar tanto impacto crítico ou comercial.

Enquanto Ye já dominou o mundo pop com faixas inescapáveis como Jesus Walks, Gold Digger e Stronger, ele não tem um grande sucesso há anos. The Life of Pablo vendeu o equivalente a cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos; álbuns subsequentes como Ye (2018) e Donda (2021) atingiram apenas a metade, de acordo com o serviço de rastreamento Luminate, que fornece os dados para as paradas da Billboard.

Recentemente o cantor se envolveu com polêmicas por publicar mensagens antissemitas. Foto: Evan Vucci/AP

Mesmo quando um álbum como o de 2019 e que se tornou gospel, Jesus Is King, estreou no topo da parada da Billboard, desapareceu rapidamente da memória. Os projetos têm sido prejudicados por repetidos prazos estourados, gravações incompletas e estratégias de lançamento abortadas. Sua atenção nos últimos anos tem sido muito mais focada na moda. Ele não faz uma turnê desde 2016.

Embora a presença de Ye no rádio tenha diminuído no último mês - de uma média de cerca de 2.300 reproduções de suas músicas por semana para 1.800 na semana passada, com muitas estações agora o vetando completamente - o streaming pode fornecer uma rede de segurança. Seu estoque de sucessos continua popular lá, atraindo quase 4 bilhões de reproduções até agora este ano apenas nos Estados Unidos. No Spotify, ele tem 51 milhões de ouvintes mensais em todo o mundo, tornando-se o 19º artista mais popular nessa plataforma.

No mês passado, os números de streaming de Ye caíram um pouco, diminuindo cerca de 6%, para 88 milhões de cliques sob demanda nos Estados Unidos. Mas esses números estão bem dentro de sua faixa habitual neste momento de sua carreira e aumentaram um pouco desde o início de 2022, de acordo com o Luminate. O número de playlists de usuários no Spotify com músicas de Ye também disparou nas últimas semanas para quase 1,3 milhão, de acordo com a Chartmetric, uma empresa que rastreia serviços de streaming e mídias sociais.

Esses números sugerem alguma combinação de fidelidade dos fãs e curiosidade do usuário que pode ser impulsionada pela atenção da mídia. “A maioria dos consumidores de música provavelmente só se importa se gosta ou não da música, então qualquer cobertura negativa da imprensa sobre um artista pode apenas lembrá-los de ouvir sua música”, disse Rutger Rosenborg, gerente de marketing da Chartmetric. “E talvez Kanye esteja contando com isso.”

West causou confusão ao usar uma camiseta “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam) em seu desfile de moda em Paris.  Foto: Candance Owens/Twitter

Esse fenômeno ocorreu inúmeras vezes nos últimos anos. Muitos fãs de R. Kelly se mantiveram fiéis em seus hábitos de escuta privada, mesmo quando o cantor foi acusado - e condenado - por extorsão e tráfico sexual. No ano passado, depois que o cantor country Morgan Wallen foi flagrado em um vídeo fazendo um insulto racial, as estações de rádio removeram suas músicas por um tempo e as plataformas de streaming o tiraram temporariamente das playlists oficiais. Mas os fãs se uniram a ele, e Wallen acabou com a maior sequência de Top 10 na parada de álbuns da Billboard em quase 60 anos.

Artistas como Chris Brown, XXXTentacion e Michael Jackson, que também foram acusados de má conduta, se mantiveram firmes nos serviços de streaming. Essas plataformas geralmente relutam em remover conteúdo, vendo seu papel como protetores neutros do discurso. A música de Kelly, por exemplo, continua amplamente disponível, mesmo que não seja fortemente promovida.

Daniel Ek, CEO do Spotify, disse à Reuters que os “comentários horríveis” de Ye justificariam a remoção do serviço apenas se estivessem incluídos em uma música ou podcast gravado. “Sua música não viola nossa política”, disse Ek. “Depende da gravadora dele se eles querem agir ou não.”

Representantes da Apple não responderam a perguntas esta semana sobre se seu serviço de streaming tomaria alguma medida sobre a música de Ye.

Futuro

Para onde a carreira musical de Ye vai a partir daqui não está claro. Embora momentaneamente rejeitado pelos principais empresários da indústria do entretenimento, ele também é essencialmente um agente livre - uma situação que ele busca há muito tempo. Seu contrato com a Def Jam terminou com seu álbum Donda. E seu contrato de composição com a Sony Music expirou no início deste ano, embora a empresa ainda atue como administradora de seu catálogo.

Nada disso descarta a possibilidade de um retorno em uma indústria que há muito tempo chama a atenção de qualquer forma e muitas vezes abraça a redenção de suas maiores e mais problemáticas estrelas. “Mesmo que não seja a Def Jam”, disse o analista da indústria Dan Runcie, que cobre o negócio de streaming e hip-hop em seu site Trapital, “acho que provavelmente há outra gravadora por aí que provavelmente vai querer fazer parceria com ele de algum modo.”

Plataformas como YouTube e SoundCloud, juntamente com a facilidade de distribuição digital para o Spotify e outros grandes serviços de streaming, mostram que Ye pode nem precisar de um parceiro corporativo, dado o tamanho de seu megafone pessoal.

“Kanye pode lançar uma música amanhã, e as pessoas vão ouvi-la”, disse Charlamagne. “Nós amamos a disfunção, então, infelizmente, Kanye West sempre terá uma voz.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - No início de 2016, tudo estava se alinhando para Kanye West. Já uma lenda viva do hip-hop, tendo lançado seis álbuns consecutivos que mudaram um paradigma, West, que agora é conhecido como Ye, estava lucrando com seu capital cultural em vários meios.

Com milhares reunidos no Madison Square Garden e outros milhões assistindo online e nos cinemas ao redor do mundo, Ye combinou a revelação de seu sétimo álbum solo, The Life of Pablo, com o lançamento de sua terceira coleção de moda Yeezy para a Adidas, filmando tudo para o reality show de sua família Keeping Up With the Kardashians. Algumas das músicas permaneceram estranhamente inacabadas, e uma música, Famous, reacendeu uma briga com Taylor Swift que duraria anos.

Este foi Kanye por mais de uma década: ao combinar sucessos e espetáculos sem roteiro, o artista muitas vezes se safava de momentos confusos graças à clareza de sua visão criativa.

“Esses cinco primeiros álbuns são provavelmente os cinco melhores álbuns de todos - eu quase diria de qualquer artista de todos os tempos, não apenas do hip-hop”, disse Charlamagne Tha God, o apresentador de rádio e televisão conhecido por seu programa matinal sindicalizado, The Breakfast Club.

Donald Trump e Kanye West na Trump Tower em Nova York, em dezembro de 2016. Foto: AP Photo/Seth Wenig

Agora, enquanto parceiros corporativos como Adidas, Balenciaga, Gap e Creative Artists Agency, juntamente com a gravadora de longa data de Ye, Def Jam, se distanciam dele após sua ostentação de um slogan associado a supremacistas brancos e suas repetidas declarações antissemitas nas mídias sociais e em entrevistas, muitos estão se perguntando se o catálogo de músicas que já foi sua base pode resistir à reação ou fornecer um caminho de volta.

“É um dos momentos mais embaraçosos que já vimos no mundo dos negócios e na música, e foi tudo autoinfligido”, disse Charlamagne. “Não sabemos por que ele decidiu vestir a camiseta ‘White Lives Matter’. Não sabemos por que ele decidiu começar a fazer comentários antissemitas. Não sabemos por que ele decidiu defender Derek Chauvin, o policial que matou George Floyd. Não há uma música que possa me fazer esquecer isso.

“Toda essa música”, acrescentou Charlamagne, “é apenas uma memória distante”.

Os quatro álbuns de Ye desde Pablo foram mais notáveis por seus lançamentos caóticos do que por sua qualidade, não conseguindo causar tanto impacto crítico ou comercial.

Enquanto Ye já dominou o mundo pop com faixas inescapáveis como Jesus Walks, Gold Digger e Stronger, ele não tem um grande sucesso há anos. The Life of Pablo vendeu o equivalente a cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos; álbuns subsequentes como Ye (2018) e Donda (2021) atingiram apenas a metade, de acordo com o serviço de rastreamento Luminate, que fornece os dados para as paradas da Billboard.

Recentemente o cantor se envolveu com polêmicas por publicar mensagens antissemitas. Foto: Evan Vucci/AP

Mesmo quando um álbum como o de 2019 e que se tornou gospel, Jesus Is King, estreou no topo da parada da Billboard, desapareceu rapidamente da memória. Os projetos têm sido prejudicados por repetidos prazos estourados, gravações incompletas e estratégias de lançamento abortadas. Sua atenção nos últimos anos tem sido muito mais focada na moda. Ele não faz uma turnê desde 2016.

Embora a presença de Ye no rádio tenha diminuído no último mês - de uma média de cerca de 2.300 reproduções de suas músicas por semana para 1.800 na semana passada, com muitas estações agora o vetando completamente - o streaming pode fornecer uma rede de segurança. Seu estoque de sucessos continua popular lá, atraindo quase 4 bilhões de reproduções até agora este ano apenas nos Estados Unidos. No Spotify, ele tem 51 milhões de ouvintes mensais em todo o mundo, tornando-se o 19º artista mais popular nessa plataforma.

No mês passado, os números de streaming de Ye caíram um pouco, diminuindo cerca de 6%, para 88 milhões de cliques sob demanda nos Estados Unidos. Mas esses números estão bem dentro de sua faixa habitual neste momento de sua carreira e aumentaram um pouco desde o início de 2022, de acordo com o Luminate. O número de playlists de usuários no Spotify com músicas de Ye também disparou nas últimas semanas para quase 1,3 milhão, de acordo com a Chartmetric, uma empresa que rastreia serviços de streaming e mídias sociais.

Esses números sugerem alguma combinação de fidelidade dos fãs e curiosidade do usuário que pode ser impulsionada pela atenção da mídia. “A maioria dos consumidores de música provavelmente só se importa se gosta ou não da música, então qualquer cobertura negativa da imprensa sobre um artista pode apenas lembrá-los de ouvir sua música”, disse Rutger Rosenborg, gerente de marketing da Chartmetric. “E talvez Kanye esteja contando com isso.”

West causou confusão ao usar uma camiseta “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam) em seu desfile de moda em Paris.  Foto: Candance Owens/Twitter

Esse fenômeno ocorreu inúmeras vezes nos últimos anos. Muitos fãs de R. Kelly se mantiveram fiéis em seus hábitos de escuta privada, mesmo quando o cantor foi acusado - e condenado - por extorsão e tráfico sexual. No ano passado, depois que o cantor country Morgan Wallen foi flagrado em um vídeo fazendo um insulto racial, as estações de rádio removeram suas músicas por um tempo e as plataformas de streaming o tiraram temporariamente das playlists oficiais. Mas os fãs se uniram a ele, e Wallen acabou com a maior sequência de Top 10 na parada de álbuns da Billboard em quase 60 anos.

Artistas como Chris Brown, XXXTentacion e Michael Jackson, que também foram acusados de má conduta, se mantiveram firmes nos serviços de streaming. Essas plataformas geralmente relutam em remover conteúdo, vendo seu papel como protetores neutros do discurso. A música de Kelly, por exemplo, continua amplamente disponível, mesmo que não seja fortemente promovida.

Daniel Ek, CEO do Spotify, disse à Reuters que os “comentários horríveis” de Ye justificariam a remoção do serviço apenas se estivessem incluídos em uma música ou podcast gravado. “Sua música não viola nossa política”, disse Ek. “Depende da gravadora dele se eles querem agir ou não.”

Representantes da Apple não responderam a perguntas esta semana sobre se seu serviço de streaming tomaria alguma medida sobre a música de Ye.

Futuro

Para onde a carreira musical de Ye vai a partir daqui não está claro. Embora momentaneamente rejeitado pelos principais empresários da indústria do entretenimento, ele também é essencialmente um agente livre - uma situação que ele busca há muito tempo. Seu contrato com a Def Jam terminou com seu álbum Donda. E seu contrato de composição com a Sony Music expirou no início deste ano, embora a empresa ainda atue como administradora de seu catálogo.

Nada disso descarta a possibilidade de um retorno em uma indústria que há muito tempo chama a atenção de qualquer forma e muitas vezes abraça a redenção de suas maiores e mais problemáticas estrelas. “Mesmo que não seja a Def Jam”, disse o analista da indústria Dan Runcie, que cobre o negócio de streaming e hip-hop em seu site Trapital, “acho que provavelmente há outra gravadora por aí que provavelmente vai querer fazer parceria com ele de algum modo.”

Plataformas como YouTube e SoundCloud, juntamente com a facilidade de distribuição digital para o Spotify e outros grandes serviços de streaming, mostram que Ye pode nem precisar de um parceiro corporativo, dado o tamanho de seu megafone pessoal.

“Kanye pode lançar uma música amanhã, e as pessoas vão ouvi-la”, disse Charlamagne. “Nós amamos a disfunção, então, infelizmente, Kanye West sempre terá uma voz.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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