Novo trabalho de Maurizio Cattelan presta homenagem à dor do 11 de setembro


Uma escultura em exposição em Milão é uma lembrança gráfica dos ataques terroristas. A ex-curadora do Guggenheim disse ela pode ser agora apreciada, fora de Nova York

Por Matt Stevens

O artista italiano Maurizio Cattelan raramente cria obras que não despertam assombro. Afinal, ele é o responsável por aquela banana de US$ 120 mil e o popular e extremamente simbólico vaso sanitário de ouro que desapareceu em 2019.

Em sua última exposição individual, inaugurada em julho no PirelliHangarBicocca, em Milão, Cattelan decidiu ser menos irreverente e abordar temas mais existenciais, como a fragilidade da vida, lembranças e perda coletiva.

Parte de “Blind”, uma instalação de Maurizio Cattelan em 2021 em Milão. Foto: Maurizio Cattelan, Marian Goodman Gallery e Pirelli HangarBicocca via The New York Times
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Mas seu trabalho continua provocativo como sempre. A terceira parte da sua exposição, Breath Ghosts Blind, é um monólito de resina descomunal todo perfurado em volta como se atingido por um avião – uma lembrança gráfica e visceral dos ataques de 11 de setembro de 2001 de um homem que estava em Nova York naquele dia.

Blind é algo em que venho pensando há anos”, disse o artista em uma entrevista para o catálogo da exposição. “Tive de caminhar do aeroporto de LaGuardia até minha casa, o que levou horas, e as coisas que vi ficaram na minha mente”.

“Manter uma certa distância, não só no espaço, mas no tempo, é uma medida necessária para lembrar”, acrescentou ele na entrevista, na qual observou que sentiu “ser importante, quase necessário, Blind ser apresentado primeiramente na Itália”.

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Nos últimos 19 anos, a representação através da arte desse que foi o ataque mais mortal na história dos Estados Unidos tem sido algo muito tenso, com o peso de milhares de vidas perdidas e ao mesmo tempo levando em consideração os pensamentos e sentimentos daqueles que sobreviveram.

Algumas obras que confrontaram o tempo foram objeto de críticas.Por exemplo, em 2002 a escultura de bronze de Eric Fischl, Tumbling Woman, de uma pessoa nua caindo para a morte de uma das torres foi removida depois de alguns dias exposta no Rockefeller Center após um clamor público.

Ao mesmo tempo, representações mais abstratas, como o memorial construído no marco zero e no Pentágono foram muito apreciadas.

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Com o 20º aniversário daqueles ataques se aproximando, a obra de Maurizio Cattelan chega num momento em que as perspectivas evoluíram?

Uma instalação de Maurizio Cattelan está pendurada no Museu Guggenheim. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Em 2017, a então curadora do Museu Guggenheim, Nancy Spector, disse que “hesitou muito” quando Cattelan conversou com ela sobre uma possível escultura de um avião incrustado num edifício.

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“O momento (e talvez o local) não era oportuno”, escreveu Nancy Spector, que deixou o museu, num ensaio para o catálogo do HangarBiccoca. “Depois de 11 de setembro, especialmente para os nova-iorquinos, nada parecia seguro”.

Mesmo quatro anos depois, ela, no ensaio, reconhece que Blind, sem dúvida, provocaria reações emotivas fortes”. Mas acrescentou: “O fato de este monólito de uma escultura ser exibido primeiro no contexto de um museu em Milão como parte da exposição do artista – e não na cidade de Nova York, permitirá à obra se comunicar e se testar publicamente como um objeto de um significado complexo e profundo”.

Roberta Tenconi, curadora do HangarBicocca, e Vicente Todoli, diretor artístico, disseram em um e-mail que não tinham nenhuma dúvida quanto à exposição.

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“Arte é uma expressão de liberdade, e o papel de um museu, acreditamos, é ser o lugar para compartilhar diferentes vozes e gerar ideias e reflexões sobre o mundo em que estamos vivendo”, escreveram.

Blind indubitavelmente evoca um momento sombrio e trágico da história e está ali para lembrar a fragilidade e a vulnerabilidade de todos os seres humanos”, acrescentaram. “Expor a obra em Nova York é uma decisão que cabe às instituições culturais e artísticas da cidade”.

Em 2011, o Guggenheim, com a curadoria de Spector, realizou uma retrospectiva de 21 anos do trabalho de Maurizio Cattelan que incluiu 128 das suas esculturas, incluindo uma do Papa João Paulo II atingido por um meteorito e outra de Adolf Hitler ajoelhado rezando.

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Blind é uma obra sobre a dor e sua dimensão social e está aí para mostrar a fragilidade de uma sociedade onde a solidão e o egoísmo estão em ascensão”, disse Cattelan na sua entrevista com os curadores do HangarBiccoca. “Devo dizer que a pandemia tornou a morte visível novamente em nossas vidas: é algo que sempre tentamos suprimir e esquecer”.

No seu ensaio, Nancy Spector admira a nova escultura de Cattelan mesmo reconhecendo a intensidade da sua imagem. “Como um verdadeiro memorial, Blind preserva como sagradas as milhares de vidas perdidas”.

“Não deve ser vista como um gesto irônico, mas como ocorre com as esculturas mais radicais e desestabilizadoras de Cattelan, ela encara de frente o mal e ousa questionar o papel que a autoridade teria assumido na perpetuação de tal imoralidade”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O artista italiano Maurizio Cattelan raramente cria obras que não despertam assombro. Afinal, ele é o responsável por aquela banana de US$ 120 mil e o popular e extremamente simbólico vaso sanitário de ouro que desapareceu em 2019.

Em sua última exposição individual, inaugurada em julho no PirelliHangarBicocca, em Milão, Cattelan decidiu ser menos irreverente e abordar temas mais existenciais, como a fragilidade da vida, lembranças e perda coletiva.

Parte de “Blind”, uma instalação de Maurizio Cattelan em 2021 em Milão. Foto: Maurizio Cattelan, Marian Goodman Gallery e Pirelli HangarBicocca via The New York Times

Mas seu trabalho continua provocativo como sempre. A terceira parte da sua exposição, Breath Ghosts Blind, é um monólito de resina descomunal todo perfurado em volta como se atingido por um avião – uma lembrança gráfica e visceral dos ataques de 11 de setembro de 2001 de um homem que estava em Nova York naquele dia.

Blind é algo em que venho pensando há anos”, disse o artista em uma entrevista para o catálogo da exposição. “Tive de caminhar do aeroporto de LaGuardia até minha casa, o que levou horas, e as coisas que vi ficaram na minha mente”.

“Manter uma certa distância, não só no espaço, mas no tempo, é uma medida necessária para lembrar”, acrescentou ele na entrevista, na qual observou que sentiu “ser importante, quase necessário, Blind ser apresentado primeiramente na Itália”.

Nos últimos 19 anos, a representação através da arte desse que foi o ataque mais mortal na história dos Estados Unidos tem sido algo muito tenso, com o peso de milhares de vidas perdidas e ao mesmo tempo levando em consideração os pensamentos e sentimentos daqueles que sobreviveram.

Algumas obras que confrontaram o tempo foram objeto de críticas.Por exemplo, em 2002 a escultura de bronze de Eric Fischl, Tumbling Woman, de uma pessoa nua caindo para a morte de uma das torres foi removida depois de alguns dias exposta no Rockefeller Center após um clamor público.

Ao mesmo tempo, representações mais abstratas, como o memorial construído no marco zero e no Pentágono foram muito apreciadas.

Com o 20º aniversário daqueles ataques se aproximando, a obra de Maurizio Cattelan chega num momento em que as perspectivas evoluíram?

Uma instalação de Maurizio Cattelan está pendurada no Museu Guggenheim. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Em 2017, a então curadora do Museu Guggenheim, Nancy Spector, disse que “hesitou muito” quando Cattelan conversou com ela sobre uma possível escultura de um avião incrustado num edifício.

“O momento (e talvez o local) não era oportuno”, escreveu Nancy Spector, que deixou o museu, num ensaio para o catálogo do HangarBiccoca. “Depois de 11 de setembro, especialmente para os nova-iorquinos, nada parecia seguro”.

Mesmo quatro anos depois, ela, no ensaio, reconhece que Blind, sem dúvida, provocaria reações emotivas fortes”. Mas acrescentou: “O fato de este monólito de uma escultura ser exibido primeiro no contexto de um museu em Milão como parte da exposição do artista – e não na cidade de Nova York, permitirá à obra se comunicar e se testar publicamente como um objeto de um significado complexo e profundo”.

Roberta Tenconi, curadora do HangarBicocca, e Vicente Todoli, diretor artístico, disseram em um e-mail que não tinham nenhuma dúvida quanto à exposição.

“Arte é uma expressão de liberdade, e o papel de um museu, acreditamos, é ser o lugar para compartilhar diferentes vozes e gerar ideias e reflexões sobre o mundo em que estamos vivendo”, escreveram.

Blind indubitavelmente evoca um momento sombrio e trágico da história e está ali para lembrar a fragilidade e a vulnerabilidade de todos os seres humanos”, acrescentaram. “Expor a obra em Nova York é uma decisão que cabe às instituições culturais e artísticas da cidade”.

Em 2011, o Guggenheim, com a curadoria de Spector, realizou uma retrospectiva de 21 anos do trabalho de Maurizio Cattelan que incluiu 128 das suas esculturas, incluindo uma do Papa João Paulo II atingido por um meteorito e outra de Adolf Hitler ajoelhado rezando.

Blind é uma obra sobre a dor e sua dimensão social e está aí para mostrar a fragilidade de uma sociedade onde a solidão e o egoísmo estão em ascensão”, disse Cattelan na sua entrevista com os curadores do HangarBiccoca. “Devo dizer que a pandemia tornou a morte visível novamente em nossas vidas: é algo que sempre tentamos suprimir e esquecer”.

No seu ensaio, Nancy Spector admira a nova escultura de Cattelan mesmo reconhecendo a intensidade da sua imagem. “Como um verdadeiro memorial, Blind preserva como sagradas as milhares de vidas perdidas”.

“Não deve ser vista como um gesto irônico, mas como ocorre com as esculturas mais radicais e desestabilizadoras de Cattelan, ela encara de frente o mal e ousa questionar o papel que a autoridade teria assumido na perpetuação de tal imoralidade”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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O artista italiano Maurizio Cattelan raramente cria obras que não despertam assombro. Afinal, ele é o responsável por aquela banana de US$ 120 mil e o popular e extremamente simbólico vaso sanitário de ouro que desapareceu em 2019.

Em sua última exposição individual, inaugurada em julho no PirelliHangarBicocca, em Milão, Cattelan decidiu ser menos irreverente e abordar temas mais existenciais, como a fragilidade da vida, lembranças e perda coletiva.

Parte de “Blind”, uma instalação de Maurizio Cattelan em 2021 em Milão. Foto: Maurizio Cattelan, Marian Goodman Gallery e Pirelli HangarBicocca via The New York Times

Mas seu trabalho continua provocativo como sempre. A terceira parte da sua exposição, Breath Ghosts Blind, é um monólito de resina descomunal todo perfurado em volta como se atingido por um avião – uma lembrança gráfica e visceral dos ataques de 11 de setembro de 2001 de um homem que estava em Nova York naquele dia.

Blind é algo em que venho pensando há anos”, disse o artista em uma entrevista para o catálogo da exposição. “Tive de caminhar do aeroporto de LaGuardia até minha casa, o que levou horas, e as coisas que vi ficaram na minha mente”.

“Manter uma certa distância, não só no espaço, mas no tempo, é uma medida necessária para lembrar”, acrescentou ele na entrevista, na qual observou que sentiu “ser importante, quase necessário, Blind ser apresentado primeiramente na Itália”.

Nos últimos 19 anos, a representação através da arte desse que foi o ataque mais mortal na história dos Estados Unidos tem sido algo muito tenso, com o peso de milhares de vidas perdidas e ao mesmo tempo levando em consideração os pensamentos e sentimentos daqueles que sobreviveram.

Algumas obras que confrontaram o tempo foram objeto de críticas.Por exemplo, em 2002 a escultura de bronze de Eric Fischl, Tumbling Woman, de uma pessoa nua caindo para a morte de uma das torres foi removida depois de alguns dias exposta no Rockefeller Center após um clamor público.

Ao mesmo tempo, representações mais abstratas, como o memorial construído no marco zero e no Pentágono foram muito apreciadas.

Com o 20º aniversário daqueles ataques se aproximando, a obra de Maurizio Cattelan chega num momento em que as perspectivas evoluíram?

Uma instalação de Maurizio Cattelan está pendurada no Museu Guggenheim. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Em 2017, a então curadora do Museu Guggenheim, Nancy Spector, disse que “hesitou muito” quando Cattelan conversou com ela sobre uma possível escultura de um avião incrustado num edifício.

“O momento (e talvez o local) não era oportuno”, escreveu Nancy Spector, que deixou o museu, num ensaio para o catálogo do HangarBiccoca. “Depois de 11 de setembro, especialmente para os nova-iorquinos, nada parecia seguro”.

Mesmo quatro anos depois, ela, no ensaio, reconhece que Blind, sem dúvida, provocaria reações emotivas fortes”. Mas acrescentou: “O fato de este monólito de uma escultura ser exibido primeiro no contexto de um museu em Milão como parte da exposição do artista – e não na cidade de Nova York, permitirá à obra se comunicar e se testar publicamente como um objeto de um significado complexo e profundo”.

Roberta Tenconi, curadora do HangarBicocca, e Vicente Todoli, diretor artístico, disseram em um e-mail que não tinham nenhuma dúvida quanto à exposição.

“Arte é uma expressão de liberdade, e o papel de um museu, acreditamos, é ser o lugar para compartilhar diferentes vozes e gerar ideias e reflexões sobre o mundo em que estamos vivendo”, escreveram.

Blind indubitavelmente evoca um momento sombrio e trágico da história e está ali para lembrar a fragilidade e a vulnerabilidade de todos os seres humanos”, acrescentaram. “Expor a obra em Nova York é uma decisão que cabe às instituições culturais e artísticas da cidade”.

Em 2011, o Guggenheim, com a curadoria de Spector, realizou uma retrospectiva de 21 anos do trabalho de Maurizio Cattelan que incluiu 128 das suas esculturas, incluindo uma do Papa João Paulo II atingido por um meteorito e outra de Adolf Hitler ajoelhado rezando.

Blind é uma obra sobre a dor e sua dimensão social e está aí para mostrar a fragilidade de uma sociedade onde a solidão e o egoísmo estão em ascensão”, disse Cattelan na sua entrevista com os curadores do HangarBiccoca. “Devo dizer que a pandemia tornou a morte visível novamente em nossas vidas: é algo que sempre tentamos suprimir e esquecer”.

No seu ensaio, Nancy Spector admira a nova escultura de Cattelan mesmo reconhecendo a intensidade da sua imagem. “Como um verdadeiro memorial, Blind preserva como sagradas as milhares de vidas perdidas”.

“Não deve ser vista como um gesto irônico, mas como ocorre com as esculturas mais radicais e desestabilizadoras de Cattelan, ela encara de frente o mal e ousa questionar o papel que a autoridade teria assumido na perpetuação de tal imoralidade”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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O artista italiano Maurizio Cattelan raramente cria obras que não despertam assombro. Afinal, ele é o responsável por aquela banana de US$ 120 mil e o popular e extremamente simbólico vaso sanitário de ouro que desapareceu em 2019.

Em sua última exposição individual, inaugurada em julho no PirelliHangarBicocca, em Milão, Cattelan decidiu ser menos irreverente e abordar temas mais existenciais, como a fragilidade da vida, lembranças e perda coletiva.

Parte de “Blind”, uma instalação de Maurizio Cattelan em 2021 em Milão. Foto: Maurizio Cattelan, Marian Goodman Gallery e Pirelli HangarBicocca via The New York Times

Mas seu trabalho continua provocativo como sempre. A terceira parte da sua exposição, Breath Ghosts Blind, é um monólito de resina descomunal todo perfurado em volta como se atingido por um avião – uma lembrança gráfica e visceral dos ataques de 11 de setembro de 2001 de um homem que estava em Nova York naquele dia.

Blind é algo em que venho pensando há anos”, disse o artista em uma entrevista para o catálogo da exposição. “Tive de caminhar do aeroporto de LaGuardia até minha casa, o que levou horas, e as coisas que vi ficaram na minha mente”.

“Manter uma certa distância, não só no espaço, mas no tempo, é uma medida necessária para lembrar”, acrescentou ele na entrevista, na qual observou que sentiu “ser importante, quase necessário, Blind ser apresentado primeiramente na Itália”.

Nos últimos 19 anos, a representação através da arte desse que foi o ataque mais mortal na história dos Estados Unidos tem sido algo muito tenso, com o peso de milhares de vidas perdidas e ao mesmo tempo levando em consideração os pensamentos e sentimentos daqueles que sobreviveram.

Algumas obras que confrontaram o tempo foram objeto de críticas.Por exemplo, em 2002 a escultura de bronze de Eric Fischl, Tumbling Woman, de uma pessoa nua caindo para a morte de uma das torres foi removida depois de alguns dias exposta no Rockefeller Center após um clamor público.

Ao mesmo tempo, representações mais abstratas, como o memorial construído no marco zero e no Pentágono foram muito apreciadas.

Com o 20º aniversário daqueles ataques se aproximando, a obra de Maurizio Cattelan chega num momento em que as perspectivas evoluíram?

Uma instalação de Maurizio Cattelan está pendurada no Museu Guggenheim. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Em 2017, a então curadora do Museu Guggenheim, Nancy Spector, disse que “hesitou muito” quando Cattelan conversou com ela sobre uma possível escultura de um avião incrustado num edifício.

“O momento (e talvez o local) não era oportuno”, escreveu Nancy Spector, que deixou o museu, num ensaio para o catálogo do HangarBiccoca. “Depois de 11 de setembro, especialmente para os nova-iorquinos, nada parecia seguro”.

Mesmo quatro anos depois, ela, no ensaio, reconhece que Blind, sem dúvida, provocaria reações emotivas fortes”. Mas acrescentou: “O fato de este monólito de uma escultura ser exibido primeiro no contexto de um museu em Milão como parte da exposição do artista – e não na cidade de Nova York, permitirá à obra se comunicar e se testar publicamente como um objeto de um significado complexo e profundo”.

Roberta Tenconi, curadora do HangarBicocca, e Vicente Todoli, diretor artístico, disseram em um e-mail que não tinham nenhuma dúvida quanto à exposição.

“Arte é uma expressão de liberdade, e o papel de um museu, acreditamos, é ser o lugar para compartilhar diferentes vozes e gerar ideias e reflexões sobre o mundo em que estamos vivendo”, escreveram.

Blind indubitavelmente evoca um momento sombrio e trágico da história e está ali para lembrar a fragilidade e a vulnerabilidade de todos os seres humanos”, acrescentaram. “Expor a obra em Nova York é uma decisão que cabe às instituições culturais e artísticas da cidade”.

Em 2011, o Guggenheim, com a curadoria de Spector, realizou uma retrospectiva de 21 anos do trabalho de Maurizio Cattelan que incluiu 128 das suas esculturas, incluindo uma do Papa João Paulo II atingido por um meteorito e outra de Adolf Hitler ajoelhado rezando.

Blind é uma obra sobre a dor e sua dimensão social e está aí para mostrar a fragilidade de uma sociedade onde a solidão e o egoísmo estão em ascensão”, disse Cattelan na sua entrevista com os curadores do HangarBiccoca. “Devo dizer que a pandemia tornou a morte visível novamente em nossas vidas: é algo que sempre tentamos suprimir e esquecer”.

No seu ensaio, Nancy Spector admira a nova escultura de Cattelan mesmo reconhecendo a intensidade da sua imagem. “Como um verdadeiro memorial, Blind preserva como sagradas as milhares de vidas perdidas”.

“Não deve ser vista como um gesto irônico, mas como ocorre com as esculturas mais radicais e desestabilizadoras de Cattelan, ela encara de frente o mal e ousa questionar o papel que a autoridade teria assumido na perpetuação de tal imoralidade”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O artista italiano Maurizio Cattelan raramente cria obras que não despertam assombro. Afinal, ele é o responsável por aquela banana de US$ 120 mil e o popular e extremamente simbólico vaso sanitário de ouro que desapareceu em 2019.

Em sua última exposição individual, inaugurada em julho no PirelliHangarBicocca, em Milão, Cattelan decidiu ser menos irreverente e abordar temas mais existenciais, como a fragilidade da vida, lembranças e perda coletiva.

Parte de “Blind”, uma instalação de Maurizio Cattelan em 2021 em Milão. Foto: Maurizio Cattelan, Marian Goodman Gallery e Pirelli HangarBicocca via The New York Times

Mas seu trabalho continua provocativo como sempre. A terceira parte da sua exposição, Breath Ghosts Blind, é um monólito de resina descomunal todo perfurado em volta como se atingido por um avião – uma lembrança gráfica e visceral dos ataques de 11 de setembro de 2001 de um homem que estava em Nova York naquele dia.

Blind é algo em que venho pensando há anos”, disse o artista em uma entrevista para o catálogo da exposição. “Tive de caminhar do aeroporto de LaGuardia até minha casa, o que levou horas, e as coisas que vi ficaram na minha mente”.

“Manter uma certa distância, não só no espaço, mas no tempo, é uma medida necessária para lembrar”, acrescentou ele na entrevista, na qual observou que sentiu “ser importante, quase necessário, Blind ser apresentado primeiramente na Itália”.

Nos últimos 19 anos, a representação através da arte desse que foi o ataque mais mortal na história dos Estados Unidos tem sido algo muito tenso, com o peso de milhares de vidas perdidas e ao mesmo tempo levando em consideração os pensamentos e sentimentos daqueles que sobreviveram.

Algumas obras que confrontaram o tempo foram objeto de críticas.Por exemplo, em 2002 a escultura de bronze de Eric Fischl, Tumbling Woman, de uma pessoa nua caindo para a morte de uma das torres foi removida depois de alguns dias exposta no Rockefeller Center após um clamor público.

Ao mesmo tempo, representações mais abstratas, como o memorial construído no marco zero e no Pentágono foram muito apreciadas.

Com o 20º aniversário daqueles ataques se aproximando, a obra de Maurizio Cattelan chega num momento em que as perspectivas evoluíram?

Uma instalação de Maurizio Cattelan está pendurada no Museu Guggenheim. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Em 2017, a então curadora do Museu Guggenheim, Nancy Spector, disse que “hesitou muito” quando Cattelan conversou com ela sobre uma possível escultura de um avião incrustado num edifício.

“O momento (e talvez o local) não era oportuno”, escreveu Nancy Spector, que deixou o museu, num ensaio para o catálogo do HangarBiccoca. “Depois de 11 de setembro, especialmente para os nova-iorquinos, nada parecia seguro”.

Mesmo quatro anos depois, ela, no ensaio, reconhece que Blind, sem dúvida, provocaria reações emotivas fortes”. Mas acrescentou: “O fato de este monólito de uma escultura ser exibido primeiro no contexto de um museu em Milão como parte da exposição do artista – e não na cidade de Nova York, permitirá à obra se comunicar e se testar publicamente como um objeto de um significado complexo e profundo”.

Roberta Tenconi, curadora do HangarBicocca, e Vicente Todoli, diretor artístico, disseram em um e-mail que não tinham nenhuma dúvida quanto à exposição.

“Arte é uma expressão de liberdade, e o papel de um museu, acreditamos, é ser o lugar para compartilhar diferentes vozes e gerar ideias e reflexões sobre o mundo em que estamos vivendo”, escreveram.

Blind indubitavelmente evoca um momento sombrio e trágico da história e está ali para lembrar a fragilidade e a vulnerabilidade de todos os seres humanos”, acrescentaram. “Expor a obra em Nova York é uma decisão que cabe às instituições culturais e artísticas da cidade”.

Em 2011, o Guggenheim, com a curadoria de Spector, realizou uma retrospectiva de 21 anos do trabalho de Maurizio Cattelan que incluiu 128 das suas esculturas, incluindo uma do Papa João Paulo II atingido por um meteorito e outra de Adolf Hitler ajoelhado rezando.

Blind é uma obra sobre a dor e sua dimensão social e está aí para mostrar a fragilidade de uma sociedade onde a solidão e o egoísmo estão em ascensão”, disse Cattelan na sua entrevista com os curadores do HangarBiccoca. “Devo dizer que a pandemia tornou a morte visível novamente em nossas vidas: é algo que sempre tentamos suprimir e esquecer”.

No seu ensaio, Nancy Spector admira a nova escultura de Cattelan mesmo reconhecendo a intensidade da sua imagem. “Como um verdadeiro memorial, Blind preserva como sagradas as milhares de vidas perdidas”.

“Não deve ser vista como um gesto irônico, mas como ocorre com as esculturas mais radicais e desestabilizadoras de Cattelan, ela encara de frente o mal e ousa questionar o papel que a autoridade teria assumido na perpetuação de tal imoralidade”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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