Arte palestina tombada pela Unesco ganha impulso entre os jovens para não ser esquecida


O bordado tradicional palestino está na lista do patrimônio cultural da instituição o interesse por essa arte entre as gerações mais jovens aumentou

Por Raja Abdulrahim
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em cada ponto há uma história.

Como camadas de história, o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez, tradicionalmente usado para ornamentar as vestimentas palestinas, fala sobre cidades e vilarejos perdidos, velhos costumes abandonados, vidas passadas e sobrevivência. Os desenhos e símbolos costurados já funcionaram quase como uma carteira de identidade.

Bordando na Cooperativa de Mulheres Surif, na Cisjordânia. Em 2021, a UNESCO adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Foto: Samar Hazboun/The New York Times
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O galo, um antigo símbolo cristão, indicava a fé de quem o usava. Um pássaro vermelho em um manto de linha azul usado pelas viúvas significava que a mulher estava pronta para se casar novamente. A imagem de uma planta ou fruta específica sugeria a origem da vestimenta, como flores de laranjeira adornando as vestes de Jafa ou ciprestes nas de Hebrom.

“Os bordados de cada cidade têm uma característica especial”, disse Baha Jubeh, gerente de coleções e conservação do Museu Palestino em Birzeit, entre uma longa fileira dessas vestimentas, conhecidas como thobes, alguns datados de décadas e outros de mais de um século. “Mas todos eles juntos se combinam para criar uma identidade histórica palestina.”

O ofício “é uma parte central da herança palestina”, acrescentou.

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Em 2021, a Unesco adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reconhecendo-o como “uma prática social e intergeracional generalizada na Palestina”, um símbolo de orgulho nacional e uma forma de as mulheres complementarem a renda familiar. Mas, tal como outros artesanatos indígenas em todo o mundo, enfrenta ameaças, incluindo a mecanização e o abandono de antigos estilos de vestuário.

Agora há um esforço para reavivá-lo nas gerações mais jovens e para preservar os antigos thobes que contam a história palestina.

Um exemplo de thobe no Museu Palestino em Birzeit. Há um esforço para preservar os antigos thobes que contam a história palestina. Foto: Samar Hazboun/The New York Times
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Esses esforços incluem planos para reintroduzir o bordado nos currículos das escolas palestinas, incluí-lo como parte dos uniformes escolares e abrir uma escola na Cisjordânia ocupada por Israel, dedicada ao artesanato, supervisionada pelo Ministério da Cultura da Autoridade Palestina.

Em julho, o museu inaugurou um Estúdio de Conservação Têxtil para preservar os thobes palestinos e outros tecidos históricos e para fornecer formação em conservação e restauro.

“Precisamos praticar a nossa herança para não a perdermos”, disse Maha Saca, fundadora e diretora do Centro do Patrimônio Palestino em Belém, que ajudou a submeter a candidatura à Unesco e está agora trabalhando na abertura da escola.

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Enquanto isso, os praticantes do bordado palestino, principalmente em coletivos de mulheres, estão mantendo a tradição viva, preservando antigas técnicas de costura juntamente com a história palestina. O thobe é um dos símbolos mais importantes e reconhecíveis da identidade palestina, bem como uma ligação com uma terra profundamente contestada. A tradição das mulheres de bordar os seus próprios thobes generalizou-se por todo o Oriente Médio a partir do século IX, disse Hanan Munayyer, uma palestina-americana que escreveu o livro Traditional Palestinian Costume: Origins and Evolution (“Trajes Tradicionais Palestinos: Origens e Evolução” em tradução livre).

Historicamente, o bordado palestino era ensinado principalmente em casa, transmitido de geração em geração, junto com os thobes decorados.

Costurando o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez. Foto: Samar Hazboun/The New York Times
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Em 2019, quando a deputada Rashida Tlaib, democrata do Michigan, foi empossada como a primeira mulher palestino-americana no Congresso, ela usava um thobe vermelho e preto que pertenceu à sua mãe. Isso levou a uma hashtag, #TweetYourThobe, que encorajou outras mulheres palestinas a compartilharem fotografias suas nos seus próprios thobes.

Na época, Tlaib escreveu que queria levar ao Congresso “uma demonstração sem remorso do tecido do povo deste país”.

Esse tecido também fala da sobrevivência palestina.

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Décadas atrás, o thobe era um item cotidiano usado e bordado principalmente por mulheres palestinas rurais. Suas cores e desenhos eram inspirados nas flores, plantas e animais ao seu redor. Alguns foram usados durante toda a vida, com tecido sendo adicionado para marcar o casamento e costuras ampliadas para permitir a gravidez e a amamentação.

Em 1948, cerca de 700 mil palestinos foram forçados a fugir das suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, um período que os palestinos chamam de nakba, ou catástrofe. A maioria acabou em campos de refugiados em países vizinhos e na Cisjordânia e em Gaza. Subitamente desenraizadas das suas casas, terras e fontes de rendimento, as mulheres começaram a vender um dos seus poucos bens de valor: os seus thobes.

A nakba - e, quase duas décadas mais tarde, a naksa, que é o como os palestinos chamam a deslocação em massa em torno da guerra árabe-israelense de 1967 - forçou muitas mulheres a tornarem-se fonte de sustento das suas famílias. O bordado foi uma habilidade importante, transformado de um ofício pessoal em um ofício comercial.

Os desenhos e cores dos bordados começaram a mudar porque as mulheres estavam longe das terras e de suas inspirações locais. O bordado ficou mais homogeneizado e menos como uma marca de identidade.

Desde a década de 1970, a maioria das mulheres palestinas abandonou o thobe em favor de roupas ocidentais ou dos estilos islâmicos genéricos usados em todo o Oriente Médio. Hoje em dia, os thobes bordados costumam ser usados apenas em casamentos e outras ocasiões especiais.

Halima Fareed, à esquerda, e outras pessoas na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebron, na Cisjordânia. 'Esta não é a herança antiga', disse Fareed. 'É a nossa herança, mas foi modernizada.' Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Saca disse que as imagens dos thobes tradicionais provenientes de diferentes vilas e cidades da atual Israel contam uma história política.

“Provamos a nossa presença aqui há milhares de anos através da nossa herança”, disse ela. “Como teríamos um thobe de Jafa, um thobe de Acre e um thobe de Bersebá se não estivéssemos lá? A maior evidência da nossa presença nessas áreas é o nosso thobe.”

Ela referia-se à frase “uma terra sem povo para um povo sem terra”, usada por alguns sionistas antes do estabelecimento de Israel para afirmar que a terra da Palestina histórica era desabitada.

Na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebrom, na Cisjordânia, Halima Fareed, 58 anos, deu os retoques finais em uma fronha bordada em verde e preto. Sentada perto de uma parede coberta de rolos coloridos de linha e tecido, ela costurou uma etiqueta: Bordado palestino. Cisjordânia. Fabricado em Hebrom.

À medida que o artesanato evolui, seus praticantes o veem no contexto da história.

“Esta não é a herança antiga”, disse Fareed enquanto costurava as bordas de uma fronha multicolorida. “É a nossa herança, mas foi modernizada.”

A diretora da cooperativa, Taghrid Hudoosh, 55 anos, assentiu. “Somos uma continuação da nossa herança”, disse ela. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em cada ponto há uma história.

Como camadas de história, o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez, tradicionalmente usado para ornamentar as vestimentas palestinas, fala sobre cidades e vilarejos perdidos, velhos costumes abandonados, vidas passadas e sobrevivência. Os desenhos e símbolos costurados já funcionaram quase como uma carteira de identidade.

Bordando na Cooperativa de Mulheres Surif, na Cisjordânia. Em 2021, a UNESCO adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

O galo, um antigo símbolo cristão, indicava a fé de quem o usava. Um pássaro vermelho em um manto de linha azul usado pelas viúvas significava que a mulher estava pronta para se casar novamente. A imagem de uma planta ou fruta específica sugeria a origem da vestimenta, como flores de laranjeira adornando as vestes de Jafa ou ciprestes nas de Hebrom.

“Os bordados de cada cidade têm uma característica especial”, disse Baha Jubeh, gerente de coleções e conservação do Museu Palestino em Birzeit, entre uma longa fileira dessas vestimentas, conhecidas como thobes, alguns datados de décadas e outros de mais de um século. “Mas todos eles juntos se combinam para criar uma identidade histórica palestina.”

O ofício “é uma parte central da herança palestina”, acrescentou.

Em 2021, a Unesco adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reconhecendo-o como “uma prática social e intergeracional generalizada na Palestina”, um símbolo de orgulho nacional e uma forma de as mulheres complementarem a renda familiar. Mas, tal como outros artesanatos indígenas em todo o mundo, enfrenta ameaças, incluindo a mecanização e o abandono de antigos estilos de vestuário.

Agora há um esforço para reavivá-lo nas gerações mais jovens e para preservar os antigos thobes que contam a história palestina.

Um exemplo de thobe no Museu Palestino em Birzeit. Há um esforço para preservar os antigos thobes que contam a história palestina. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Esses esforços incluem planos para reintroduzir o bordado nos currículos das escolas palestinas, incluí-lo como parte dos uniformes escolares e abrir uma escola na Cisjordânia ocupada por Israel, dedicada ao artesanato, supervisionada pelo Ministério da Cultura da Autoridade Palestina.

Em julho, o museu inaugurou um Estúdio de Conservação Têxtil para preservar os thobes palestinos e outros tecidos históricos e para fornecer formação em conservação e restauro.

“Precisamos praticar a nossa herança para não a perdermos”, disse Maha Saca, fundadora e diretora do Centro do Patrimônio Palestino em Belém, que ajudou a submeter a candidatura à Unesco e está agora trabalhando na abertura da escola.

Enquanto isso, os praticantes do bordado palestino, principalmente em coletivos de mulheres, estão mantendo a tradição viva, preservando antigas técnicas de costura juntamente com a história palestina. O thobe é um dos símbolos mais importantes e reconhecíveis da identidade palestina, bem como uma ligação com uma terra profundamente contestada. A tradição das mulheres de bordar os seus próprios thobes generalizou-se por todo o Oriente Médio a partir do século IX, disse Hanan Munayyer, uma palestina-americana que escreveu o livro Traditional Palestinian Costume: Origins and Evolution (“Trajes Tradicionais Palestinos: Origens e Evolução” em tradução livre).

Historicamente, o bordado palestino era ensinado principalmente em casa, transmitido de geração em geração, junto com os thobes decorados.

Costurando o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Em 2019, quando a deputada Rashida Tlaib, democrata do Michigan, foi empossada como a primeira mulher palestino-americana no Congresso, ela usava um thobe vermelho e preto que pertenceu à sua mãe. Isso levou a uma hashtag, #TweetYourThobe, que encorajou outras mulheres palestinas a compartilharem fotografias suas nos seus próprios thobes.

Na época, Tlaib escreveu que queria levar ao Congresso “uma demonstração sem remorso do tecido do povo deste país”.

Esse tecido também fala da sobrevivência palestina.

Décadas atrás, o thobe era um item cotidiano usado e bordado principalmente por mulheres palestinas rurais. Suas cores e desenhos eram inspirados nas flores, plantas e animais ao seu redor. Alguns foram usados durante toda a vida, com tecido sendo adicionado para marcar o casamento e costuras ampliadas para permitir a gravidez e a amamentação.

Em 1948, cerca de 700 mil palestinos foram forçados a fugir das suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, um período que os palestinos chamam de nakba, ou catástrofe. A maioria acabou em campos de refugiados em países vizinhos e na Cisjordânia e em Gaza. Subitamente desenraizadas das suas casas, terras e fontes de rendimento, as mulheres começaram a vender um dos seus poucos bens de valor: os seus thobes.

A nakba - e, quase duas décadas mais tarde, a naksa, que é o como os palestinos chamam a deslocação em massa em torno da guerra árabe-israelense de 1967 - forçou muitas mulheres a tornarem-se fonte de sustento das suas famílias. O bordado foi uma habilidade importante, transformado de um ofício pessoal em um ofício comercial.

Os desenhos e cores dos bordados começaram a mudar porque as mulheres estavam longe das terras e de suas inspirações locais. O bordado ficou mais homogeneizado e menos como uma marca de identidade.

Desde a década de 1970, a maioria das mulheres palestinas abandonou o thobe em favor de roupas ocidentais ou dos estilos islâmicos genéricos usados em todo o Oriente Médio. Hoje em dia, os thobes bordados costumam ser usados apenas em casamentos e outras ocasiões especiais.

Halima Fareed, à esquerda, e outras pessoas na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebron, na Cisjordânia. 'Esta não é a herança antiga', disse Fareed. 'É a nossa herança, mas foi modernizada.' Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Saca disse que as imagens dos thobes tradicionais provenientes de diferentes vilas e cidades da atual Israel contam uma história política.

“Provamos a nossa presença aqui há milhares de anos através da nossa herança”, disse ela. “Como teríamos um thobe de Jafa, um thobe de Acre e um thobe de Bersebá se não estivéssemos lá? A maior evidência da nossa presença nessas áreas é o nosso thobe.”

Ela referia-se à frase “uma terra sem povo para um povo sem terra”, usada por alguns sionistas antes do estabelecimento de Israel para afirmar que a terra da Palestina histórica era desabitada.

Na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebrom, na Cisjordânia, Halima Fareed, 58 anos, deu os retoques finais em uma fronha bordada em verde e preto. Sentada perto de uma parede coberta de rolos coloridos de linha e tecido, ela costurou uma etiqueta: Bordado palestino. Cisjordânia. Fabricado em Hebrom.

À medida que o artesanato evolui, seus praticantes o veem no contexto da história.

“Esta não é a herança antiga”, disse Fareed enquanto costurava as bordas de uma fronha multicolorida. “É a nossa herança, mas foi modernizada.”

A diretora da cooperativa, Taghrid Hudoosh, 55 anos, assentiu. “Somos uma continuação da nossa herança”, disse ela. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em cada ponto há uma história.

Como camadas de história, o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez, tradicionalmente usado para ornamentar as vestimentas palestinas, fala sobre cidades e vilarejos perdidos, velhos costumes abandonados, vidas passadas e sobrevivência. Os desenhos e símbolos costurados já funcionaram quase como uma carteira de identidade.

Bordando na Cooperativa de Mulheres Surif, na Cisjordânia. Em 2021, a UNESCO adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

O galo, um antigo símbolo cristão, indicava a fé de quem o usava. Um pássaro vermelho em um manto de linha azul usado pelas viúvas significava que a mulher estava pronta para se casar novamente. A imagem de uma planta ou fruta específica sugeria a origem da vestimenta, como flores de laranjeira adornando as vestes de Jafa ou ciprestes nas de Hebrom.

“Os bordados de cada cidade têm uma característica especial”, disse Baha Jubeh, gerente de coleções e conservação do Museu Palestino em Birzeit, entre uma longa fileira dessas vestimentas, conhecidas como thobes, alguns datados de décadas e outros de mais de um século. “Mas todos eles juntos se combinam para criar uma identidade histórica palestina.”

O ofício “é uma parte central da herança palestina”, acrescentou.

Em 2021, a Unesco adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reconhecendo-o como “uma prática social e intergeracional generalizada na Palestina”, um símbolo de orgulho nacional e uma forma de as mulheres complementarem a renda familiar. Mas, tal como outros artesanatos indígenas em todo o mundo, enfrenta ameaças, incluindo a mecanização e o abandono de antigos estilos de vestuário.

Agora há um esforço para reavivá-lo nas gerações mais jovens e para preservar os antigos thobes que contam a história palestina.

Um exemplo de thobe no Museu Palestino em Birzeit. Há um esforço para preservar os antigos thobes que contam a história palestina. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Esses esforços incluem planos para reintroduzir o bordado nos currículos das escolas palestinas, incluí-lo como parte dos uniformes escolares e abrir uma escola na Cisjordânia ocupada por Israel, dedicada ao artesanato, supervisionada pelo Ministério da Cultura da Autoridade Palestina.

Em julho, o museu inaugurou um Estúdio de Conservação Têxtil para preservar os thobes palestinos e outros tecidos históricos e para fornecer formação em conservação e restauro.

“Precisamos praticar a nossa herança para não a perdermos”, disse Maha Saca, fundadora e diretora do Centro do Patrimônio Palestino em Belém, que ajudou a submeter a candidatura à Unesco e está agora trabalhando na abertura da escola.

Enquanto isso, os praticantes do bordado palestino, principalmente em coletivos de mulheres, estão mantendo a tradição viva, preservando antigas técnicas de costura juntamente com a história palestina. O thobe é um dos símbolos mais importantes e reconhecíveis da identidade palestina, bem como uma ligação com uma terra profundamente contestada. A tradição das mulheres de bordar os seus próprios thobes generalizou-se por todo o Oriente Médio a partir do século IX, disse Hanan Munayyer, uma palestina-americana que escreveu o livro Traditional Palestinian Costume: Origins and Evolution (“Trajes Tradicionais Palestinos: Origens e Evolução” em tradução livre).

Historicamente, o bordado palestino era ensinado principalmente em casa, transmitido de geração em geração, junto com os thobes decorados.

Costurando o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Em 2019, quando a deputada Rashida Tlaib, democrata do Michigan, foi empossada como a primeira mulher palestino-americana no Congresso, ela usava um thobe vermelho e preto que pertenceu à sua mãe. Isso levou a uma hashtag, #TweetYourThobe, que encorajou outras mulheres palestinas a compartilharem fotografias suas nos seus próprios thobes.

Na época, Tlaib escreveu que queria levar ao Congresso “uma demonstração sem remorso do tecido do povo deste país”.

Esse tecido também fala da sobrevivência palestina.

Décadas atrás, o thobe era um item cotidiano usado e bordado principalmente por mulheres palestinas rurais. Suas cores e desenhos eram inspirados nas flores, plantas e animais ao seu redor. Alguns foram usados durante toda a vida, com tecido sendo adicionado para marcar o casamento e costuras ampliadas para permitir a gravidez e a amamentação.

Em 1948, cerca de 700 mil palestinos foram forçados a fugir das suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, um período que os palestinos chamam de nakba, ou catástrofe. A maioria acabou em campos de refugiados em países vizinhos e na Cisjordânia e em Gaza. Subitamente desenraizadas das suas casas, terras e fontes de rendimento, as mulheres começaram a vender um dos seus poucos bens de valor: os seus thobes.

A nakba - e, quase duas décadas mais tarde, a naksa, que é o como os palestinos chamam a deslocação em massa em torno da guerra árabe-israelense de 1967 - forçou muitas mulheres a tornarem-se fonte de sustento das suas famílias. O bordado foi uma habilidade importante, transformado de um ofício pessoal em um ofício comercial.

Os desenhos e cores dos bordados começaram a mudar porque as mulheres estavam longe das terras e de suas inspirações locais. O bordado ficou mais homogeneizado e menos como uma marca de identidade.

Desde a década de 1970, a maioria das mulheres palestinas abandonou o thobe em favor de roupas ocidentais ou dos estilos islâmicos genéricos usados em todo o Oriente Médio. Hoje em dia, os thobes bordados costumam ser usados apenas em casamentos e outras ocasiões especiais.

Halima Fareed, à esquerda, e outras pessoas na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebron, na Cisjordânia. 'Esta não é a herança antiga', disse Fareed. 'É a nossa herança, mas foi modernizada.' Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Saca disse que as imagens dos thobes tradicionais provenientes de diferentes vilas e cidades da atual Israel contam uma história política.

“Provamos a nossa presença aqui há milhares de anos através da nossa herança”, disse ela. “Como teríamos um thobe de Jafa, um thobe de Acre e um thobe de Bersebá se não estivéssemos lá? A maior evidência da nossa presença nessas áreas é o nosso thobe.”

Ela referia-se à frase “uma terra sem povo para um povo sem terra”, usada por alguns sionistas antes do estabelecimento de Israel para afirmar que a terra da Palestina histórica era desabitada.

Na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebrom, na Cisjordânia, Halima Fareed, 58 anos, deu os retoques finais em uma fronha bordada em verde e preto. Sentada perto de uma parede coberta de rolos coloridos de linha e tecido, ela costurou uma etiqueta: Bordado palestino. Cisjordânia. Fabricado em Hebrom.

À medida que o artesanato evolui, seus praticantes o veem no contexto da história.

“Esta não é a herança antiga”, disse Fareed enquanto costurava as bordas de uma fronha multicolorida. “É a nossa herança, mas foi modernizada.”

A diretora da cooperativa, Taghrid Hudoosh, 55 anos, assentiu. “Somos uma continuação da nossa herança”, disse ela. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em cada ponto há uma história.

Como camadas de história, o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez, tradicionalmente usado para ornamentar as vestimentas palestinas, fala sobre cidades e vilarejos perdidos, velhos costumes abandonados, vidas passadas e sobrevivência. Os desenhos e símbolos costurados já funcionaram quase como uma carteira de identidade.

Bordando na Cooperativa de Mulheres Surif, na Cisjordânia. Em 2021, a UNESCO adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

O galo, um antigo símbolo cristão, indicava a fé de quem o usava. Um pássaro vermelho em um manto de linha azul usado pelas viúvas significava que a mulher estava pronta para se casar novamente. A imagem de uma planta ou fruta específica sugeria a origem da vestimenta, como flores de laranjeira adornando as vestes de Jafa ou ciprestes nas de Hebrom.

“Os bordados de cada cidade têm uma característica especial”, disse Baha Jubeh, gerente de coleções e conservação do Museu Palestino em Birzeit, entre uma longa fileira dessas vestimentas, conhecidas como thobes, alguns datados de décadas e outros de mais de um século. “Mas todos eles juntos se combinam para criar uma identidade histórica palestina.”

O ofício “é uma parte central da herança palestina”, acrescentou.

Em 2021, a Unesco adicionou o bordado palestino à sua lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reconhecendo-o como “uma prática social e intergeracional generalizada na Palestina”, um símbolo de orgulho nacional e uma forma de as mulheres complementarem a renda familiar. Mas, tal como outros artesanatos indígenas em todo o mundo, enfrenta ameaças, incluindo a mecanização e o abandono de antigos estilos de vestuário.

Agora há um esforço para reavivá-lo nas gerações mais jovens e para preservar os antigos thobes que contam a história palestina.

Um exemplo de thobe no Museu Palestino em Birzeit. Há um esforço para preservar os antigos thobes que contam a história palestina. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Esses esforços incluem planos para reintroduzir o bordado nos currículos das escolas palestinas, incluí-lo como parte dos uniformes escolares e abrir uma escola na Cisjordânia ocupada por Israel, dedicada ao artesanato, supervisionada pelo Ministério da Cultura da Autoridade Palestina.

Em julho, o museu inaugurou um Estúdio de Conservação Têxtil para preservar os thobes palestinos e outros tecidos históricos e para fornecer formação em conservação e restauro.

“Precisamos praticar a nossa herança para não a perdermos”, disse Maha Saca, fundadora e diretora do Centro do Patrimônio Palestino em Belém, que ajudou a submeter a candidatura à Unesco e está agora trabalhando na abertura da escola.

Enquanto isso, os praticantes do bordado palestino, principalmente em coletivos de mulheres, estão mantendo a tradição viva, preservando antigas técnicas de costura juntamente com a história palestina. O thobe é um dos símbolos mais importantes e reconhecíveis da identidade palestina, bem como uma ligação com uma terra profundamente contestada. A tradição das mulheres de bordar os seus próprios thobes generalizou-se por todo o Oriente Médio a partir do século IX, disse Hanan Munayyer, uma palestina-americana que escreveu o livro Traditional Palestinian Costume: Origins and Evolution (“Trajes Tradicionais Palestinos: Origens e Evolução” em tradução livre).

Historicamente, o bordado palestino era ensinado principalmente em casa, transmitido de geração em geração, junto com os thobes decorados.

Costurando o bordado palestino feito à mão conhecido como tatreez. Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Em 2019, quando a deputada Rashida Tlaib, democrata do Michigan, foi empossada como a primeira mulher palestino-americana no Congresso, ela usava um thobe vermelho e preto que pertenceu à sua mãe. Isso levou a uma hashtag, #TweetYourThobe, que encorajou outras mulheres palestinas a compartilharem fotografias suas nos seus próprios thobes.

Na época, Tlaib escreveu que queria levar ao Congresso “uma demonstração sem remorso do tecido do povo deste país”.

Esse tecido também fala da sobrevivência palestina.

Décadas atrás, o thobe era um item cotidiano usado e bordado principalmente por mulheres palestinas rurais. Suas cores e desenhos eram inspirados nas flores, plantas e animais ao seu redor. Alguns foram usados durante toda a vida, com tecido sendo adicionado para marcar o casamento e costuras ampliadas para permitir a gravidez e a amamentação.

Em 1948, cerca de 700 mil palestinos foram forçados a fugir das suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, um período que os palestinos chamam de nakba, ou catástrofe. A maioria acabou em campos de refugiados em países vizinhos e na Cisjordânia e em Gaza. Subitamente desenraizadas das suas casas, terras e fontes de rendimento, as mulheres começaram a vender um dos seus poucos bens de valor: os seus thobes.

A nakba - e, quase duas décadas mais tarde, a naksa, que é o como os palestinos chamam a deslocação em massa em torno da guerra árabe-israelense de 1967 - forçou muitas mulheres a tornarem-se fonte de sustento das suas famílias. O bordado foi uma habilidade importante, transformado de um ofício pessoal em um ofício comercial.

Os desenhos e cores dos bordados começaram a mudar porque as mulheres estavam longe das terras e de suas inspirações locais. O bordado ficou mais homogeneizado e menos como uma marca de identidade.

Desde a década de 1970, a maioria das mulheres palestinas abandonou o thobe em favor de roupas ocidentais ou dos estilos islâmicos genéricos usados em todo o Oriente Médio. Hoje em dia, os thobes bordados costumam ser usados apenas em casamentos e outras ocasiões especiais.

Halima Fareed, à esquerda, e outras pessoas na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebron, na Cisjordânia. 'Esta não é a herança antiga', disse Fareed. 'É a nossa herança, mas foi modernizada.' Foto: Samar Hazboun/The New York Times

Saca disse que as imagens dos thobes tradicionais provenientes de diferentes vilas e cidades da atual Israel contam uma história política.

“Provamos a nossa presença aqui há milhares de anos através da nossa herança”, disse ela. “Como teríamos um thobe de Jafa, um thobe de Acre e um thobe de Bersebá se não estivéssemos lá? A maior evidência da nossa presença nessas áreas é o nosso thobe.”

Ela referia-se à frase “uma terra sem povo para um povo sem terra”, usada por alguns sionistas antes do estabelecimento de Israel para afirmar que a terra da Palestina histórica era desabitada.

Na Cooperativa de Mulheres Surif, em uma pequena cidade nos arredores da cidade de Hebrom, na Cisjordânia, Halima Fareed, 58 anos, deu os retoques finais em uma fronha bordada em verde e preto. Sentada perto de uma parede coberta de rolos coloridos de linha e tecido, ela costurou uma etiqueta: Bordado palestino. Cisjordânia. Fabricado em Hebrom.

À medida que o artesanato evolui, seus praticantes o veem no contexto da história.

“Esta não é a herança antiga”, disse Fareed enquanto costurava as bordas de uma fronha multicolorida. “É a nossa herança, mas foi modernizada.”

A diretora da cooperativa, Taghrid Hudoosh, 55 anos, assentiu. “Somos uma continuação da nossa herança”, disse ela. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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