E um raio caiu duas vezes no mesmo lugar: outra pintura de Jacob Lawrence aparece em NY


Sua proprietária chegou no balcão de informações do Metropolitan Museum e disse: 'Por favor, ninguém retornou minha ligação. Estou de posse desta pintura. Com quem devo falar?'

Por Hilarie M. Sheets

Quando a enfermeira que mora no Upper West Side em Nova York, acessou o aplicativo com um boletim informativo do bairro em que vive, ela ficou sabendo da descoberta recente de uma pintura de Jacob Lawrence num apartamento perto da sua residência. Tratava-se de um dos cinco painéis há muito tempo perdidos da série de 30 painéis do artista chamada “Struggle: From the History of the American People, que estava exposta no Metropolitan Museum of Art.

O nome Jacob Lawrence pareceu familiar.

Obra de Jacob Lawrence estava 'perdida' na casa de uma enfermeira de Nova York. Foto: The Jacob and Gwendolyn Knight Lawrence Foundation, Seattle/Artists Rights Society (ARS), New York; Amr Alfiky/The New York Times
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Ela examinou mais de perto uma pequena pintura figurativa na parede da sua sala, pendurada ali há duas décadas, com a assinatura do artista pouco legível. Foi um presente da sua sogra, que havia colado um perfil de Lawrence no New York Times em 1996 nas costas do quadro. A enfermeira, que somente deu uma olhada atrás do quatro uma vez quando tirava o pó, soube pelo aplicativo que Lawrence era um importante pintor modernista do século 20 e um dos poucos artistas negros da sua época a ter uma enorme repercussão no mundo da arte.

“Um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar no espaço de duas semanas? A mulher relatou a história ao seu filho de 20 anos, estudante de arte na faculdade, que rapidamente procurou no Google notícia sobre a exposição no Met. Ele encontrou uma foto em branco e preto um pouco apagada da pintura sendo usada como um espaço reservado para o Painel 28. O título era “Imigrantes admitidos de todos os países: 1820 a 1840, 115.773. E o rótulo na parede: “localização desconhecida”.

“Não parecia nada especial, honestamente”, disse a proprietária, de cerca de 40 anos de idade e que veio para Nova York, da Ucrânia, aos 18 anos. “As cores eram bonitas. Um pouco desgastadas. Passei pelo quadro milhares de vezes por dia quando ia para a cozinha”, disse ela em uma entrevista por telefone.

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“Não sabia que possuía uma obra-prima”, acrescentou.

Ela contatou o Met, mas suas mensagens não obtiveram resposta. No terceiro dia, seu filho sugeriu que eles fossem até lá na sua moto.“Deparei com um jovem no balcão de informações no saguão do museu e disse a ele: “escute, ninguém retornou minhas chamadas. Estou com esta pintura. Com quem devo falar?”, lembrou ela. Então, finalmente um administrador do departamento de arte moderna e contemporânea do museu foi ao encontro deles e pediu para a proprietária lhe enviar fotos da obra, que ela não tinha em mãos, pelo seu celular.

Na mesma tarde, Randall Griffey e Sykvua Yount, curadores da mostra de Lawrence no museu, e Isabelle Duvernois, restauradora das pinturas do Met, foram ao apartamento em Upper West Side pela segunda vez no espaço de duas semanas para verificarem a autenticidade de um quadro de Lawrence que não era visto publicamente desde 1960.

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A enfermeira, que concordou em emprestar a pintura para as duas exibições da mostra itinerante do artista, pediu para seu nome não ser informado, pois estava preocupada com a segurança da família. Agora, o painel faz parte de uma exposição no Museu de Arte de Seattle chamada Jacob Lawrence: The American Struggle e ficará exposto até 23 de maio.

Antes da descoberta do Painel 16, reportado pelo The New York Times em 21 de outubro, a equipe do Met conhecia apenas o título e o tema da obra - Shay’s Rebellion - mas não tinha nenhuma imagem que ajudasse a autenticá-la. Griffey lembrou que a revelação do primeiro painel foi um “grande ponto luminoso” para ele profissionalmente e para uma cidade exausta com a pandemia.

“Acabou sendo o feliz acontecimento de uma temporada necessitada de histórias assim”, afirmou.

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No caso do Painel 28 eles tinham uma foto de má qualidade da obra, que foi exibida no final da década de 1950 na galeria do marchand de Lawrence, Charles Alan.

A pintura, em têmpera marrom, dourado e um vermelho vívido, mostra duas mulheres envoltas em xales ao lado de um homem usando um chapéu de abas largas, as cabeças inclinadas e mãos descomunais entrelaçadas na direção do centro da imagem. O painel, evocando viajantes do Velho Mundo, foi inspirado pelas estatísticas de imigração da Enciclopédia da História Americana, de Richard Morris, de 1953, parte da exaustiva pesquisa de Lawrence sobre a contribuição fundamental dos imigrantes, negros e nativos americanos na construção da nação. (Ele se refere especificamente no título aos inúmeros imigrantes que foram para os Estados Unidos durante os primeiros anos do século 19).

A série The Struggle que ele criou entre 1954 e 1956 estilísticamente entrelaça formas cúbicas em composições agitadas. Ele rompe assim com seus trabalhos anteriores como The Migration Series (1940-41) pintados com blocos de cor mais simples.

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Se de um lado foi possível o Painel 16, dominado por uma paleta de cores azuis brilhantes em condições pristinas, ser imediatamente adicionado à mostra itinerante nos seus últimos dias, o Painel 28 havia sofrido alguma descamação e era necessária uma restauração. Griffley passou a tarefa para seus colegas do Peabody Essex Museum, em Salem, Massachusetts, onde a exposição teve origem.

“Achamos que, sem saber, Lawrence usou tubos de tinta ruim porque há certas cores, incluindo o vermelho e o marrom, em que a qualidade de adesão era deficiente em todas as obras produzidas em 1956”, disse Lydia Gordon, curadora da exposição no Peabody Essex. O museu colaborou com o Seattle Art Musem e a The Philips Collection, em Washington, que será a última parada da mostra itinerante, para pagar pela restauração do Painel 28 a cargo da ArtCare Conservation em Nova York.

Quando a nova pintura foi emoldurada no laboratório de restauração, um título alternativo, "The Emigrants - 1821-1839 (106.308)" ficou visível na escrita à mão por Lawrence nas costas da obra. “Ele escreveu emigrantes com um “e”, o que achamos muito interessante porque isto adiciona a ideia de permanência à chegada deles”, disse Gordon.

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O filho da proprietária foi o primeiro a sublinhar que a descrição dos curadores do Painel 28 no texto na parede precisava ser revisto: o que parecia um livro de orações nas mãos de um homem na foto granulada, na verdade, era um vaso de flores com uma rosa vermelha, a flor oficial dos Estados Unidos. Um bebê nos braços de uma mulher na pintura estava totalmente oculto na reprodução em branco e preto.

Os painéis 14, 20 e 29 continuam desaparecidos. O Peabody Essex Museum criou um e-mail, missingpanels@pem.org para as pessoas compartilharem informação. Gordon coloca suas esperanças na enorme comunidade de ex-alunos de Lawrence e galeristas e curadores solidários em Seattle, onde o pintor viveu as últimas três décadas da sua vida depois de deixar Nova York.

“Vamos encontra-los”, disse ela com firmeza. 

Moradores da Costa Oeste dos EUA, vamos checar nossas paredes no nosso caminho para a cozinha. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quando a enfermeira que mora no Upper West Side em Nova York, acessou o aplicativo com um boletim informativo do bairro em que vive, ela ficou sabendo da descoberta recente de uma pintura de Jacob Lawrence num apartamento perto da sua residência. Tratava-se de um dos cinco painéis há muito tempo perdidos da série de 30 painéis do artista chamada “Struggle: From the History of the American People, que estava exposta no Metropolitan Museum of Art.

O nome Jacob Lawrence pareceu familiar.

Obra de Jacob Lawrence estava 'perdida' na casa de uma enfermeira de Nova York. Foto: The Jacob and Gwendolyn Knight Lawrence Foundation, Seattle/Artists Rights Society (ARS), New York; Amr Alfiky/The New York Times

Ela examinou mais de perto uma pequena pintura figurativa na parede da sua sala, pendurada ali há duas décadas, com a assinatura do artista pouco legível. Foi um presente da sua sogra, que havia colado um perfil de Lawrence no New York Times em 1996 nas costas do quadro. A enfermeira, que somente deu uma olhada atrás do quatro uma vez quando tirava o pó, soube pelo aplicativo que Lawrence era um importante pintor modernista do século 20 e um dos poucos artistas negros da sua época a ter uma enorme repercussão no mundo da arte.

“Um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar no espaço de duas semanas? A mulher relatou a história ao seu filho de 20 anos, estudante de arte na faculdade, que rapidamente procurou no Google notícia sobre a exposição no Met. Ele encontrou uma foto em branco e preto um pouco apagada da pintura sendo usada como um espaço reservado para o Painel 28. O título era “Imigrantes admitidos de todos os países: 1820 a 1840, 115.773. E o rótulo na parede: “localização desconhecida”.

“Não parecia nada especial, honestamente”, disse a proprietária, de cerca de 40 anos de idade e que veio para Nova York, da Ucrânia, aos 18 anos. “As cores eram bonitas. Um pouco desgastadas. Passei pelo quadro milhares de vezes por dia quando ia para a cozinha”, disse ela em uma entrevista por telefone.

“Não sabia que possuía uma obra-prima”, acrescentou.

Ela contatou o Met, mas suas mensagens não obtiveram resposta. No terceiro dia, seu filho sugeriu que eles fossem até lá na sua moto.“Deparei com um jovem no balcão de informações no saguão do museu e disse a ele: “escute, ninguém retornou minhas chamadas. Estou com esta pintura. Com quem devo falar?”, lembrou ela. Então, finalmente um administrador do departamento de arte moderna e contemporânea do museu foi ao encontro deles e pediu para a proprietária lhe enviar fotos da obra, que ela não tinha em mãos, pelo seu celular.

Na mesma tarde, Randall Griffey e Sykvua Yount, curadores da mostra de Lawrence no museu, e Isabelle Duvernois, restauradora das pinturas do Met, foram ao apartamento em Upper West Side pela segunda vez no espaço de duas semanas para verificarem a autenticidade de um quadro de Lawrence que não era visto publicamente desde 1960.

A enfermeira, que concordou em emprestar a pintura para as duas exibições da mostra itinerante do artista, pediu para seu nome não ser informado, pois estava preocupada com a segurança da família. Agora, o painel faz parte de uma exposição no Museu de Arte de Seattle chamada Jacob Lawrence: The American Struggle e ficará exposto até 23 de maio.

Antes da descoberta do Painel 16, reportado pelo The New York Times em 21 de outubro, a equipe do Met conhecia apenas o título e o tema da obra - Shay’s Rebellion - mas não tinha nenhuma imagem que ajudasse a autenticá-la. Griffey lembrou que a revelação do primeiro painel foi um “grande ponto luminoso” para ele profissionalmente e para uma cidade exausta com a pandemia.

“Acabou sendo o feliz acontecimento de uma temporada necessitada de histórias assim”, afirmou.

No caso do Painel 28 eles tinham uma foto de má qualidade da obra, que foi exibida no final da década de 1950 na galeria do marchand de Lawrence, Charles Alan.

A pintura, em têmpera marrom, dourado e um vermelho vívido, mostra duas mulheres envoltas em xales ao lado de um homem usando um chapéu de abas largas, as cabeças inclinadas e mãos descomunais entrelaçadas na direção do centro da imagem. O painel, evocando viajantes do Velho Mundo, foi inspirado pelas estatísticas de imigração da Enciclopédia da História Americana, de Richard Morris, de 1953, parte da exaustiva pesquisa de Lawrence sobre a contribuição fundamental dos imigrantes, negros e nativos americanos na construção da nação. (Ele se refere especificamente no título aos inúmeros imigrantes que foram para os Estados Unidos durante os primeiros anos do século 19).

A série The Struggle que ele criou entre 1954 e 1956 estilísticamente entrelaça formas cúbicas em composições agitadas. Ele rompe assim com seus trabalhos anteriores como The Migration Series (1940-41) pintados com blocos de cor mais simples.

Se de um lado foi possível o Painel 16, dominado por uma paleta de cores azuis brilhantes em condições pristinas, ser imediatamente adicionado à mostra itinerante nos seus últimos dias, o Painel 28 havia sofrido alguma descamação e era necessária uma restauração. Griffley passou a tarefa para seus colegas do Peabody Essex Museum, em Salem, Massachusetts, onde a exposição teve origem.

“Achamos que, sem saber, Lawrence usou tubos de tinta ruim porque há certas cores, incluindo o vermelho e o marrom, em que a qualidade de adesão era deficiente em todas as obras produzidas em 1956”, disse Lydia Gordon, curadora da exposição no Peabody Essex. O museu colaborou com o Seattle Art Musem e a The Philips Collection, em Washington, que será a última parada da mostra itinerante, para pagar pela restauração do Painel 28 a cargo da ArtCare Conservation em Nova York.

Quando a nova pintura foi emoldurada no laboratório de restauração, um título alternativo, "The Emigrants - 1821-1839 (106.308)" ficou visível na escrita à mão por Lawrence nas costas da obra. “Ele escreveu emigrantes com um “e”, o que achamos muito interessante porque isto adiciona a ideia de permanência à chegada deles”, disse Gordon.

O filho da proprietária foi o primeiro a sublinhar que a descrição dos curadores do Painel 28 no texto na parede precisava ser revisto: o que parecia um livro de orações nas mãos de um homem na foto granulada, na verdade, era um vaso de flores com uma rosa vermelha, a flor oficial dos Estados Unidos. Um bebê nos braços de uma mulher na pintura estava totalmente oculto na reprodução em branco e preto.

Os painéis 14, 20 e 29 continuam desaparecidos. O Peabody Essex Museum criou um e-mail, missingpanels@pem.org para as pessoas compartilharem informação. Gordon coloca suas esperanças na enorme comunidade de ex-alunos de Lawrence e galeristas e curadores solidários em Seattle, onde o pintor viveu as últimas três décadas da sua vida depois de deixar Nova York.

“Vamos encontra-los”, disse ela com firmeza. 

Moradores da Costa Oeste dos EUA, vamos checar nossas paredes no nosso caminho para a cozinha. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quando a enfermeira que mora no Upper West Side em Nova York, acessou o aplicativo com um boletim informativo do bairro em que vive, ela ficou sabendo da descoberta recente de uma pintura de Jacob Lawrence num apartamento perto da sua residência. Tratava-se de um dos cinco painéis há muito tempo perdidos da série de 30 painéis do artista chamada “Struggle: From the History of the American People, que estava exposta no Metropolitan Museum of Art.

O nome Jacob Lawrence pareceu familiar.

Obra de Jacob Lawrence estava 'perdida' na casa de uma enfermeira de Nova York. Foto: The Jacob and Gwendolyn Knight Lawrence Foundation, Seattle/Artists Rights Society (ARS), New York; Amr Alfiky/The New York Times

Ela examinou mais de perto uma pequena pintura figurativa na parede da sua sala, pendurada ali há duas décadas, com a assinatura do artista pouco legível. Foi um presente da sua sogra, que havia colado um perfil de Lawrence no New York Times em 1996 nas costas do quadro. A enfermeira, que somente deu uma olhada atrás do quatro uma vez quando tirava o pó, soube pelo aplicativo que Lawrence era um importante pintor modernista do século 20 e um dos poucos artistas negros da sua época a ter uma enorme repercussão no mundo da arte.

“Um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar no espaço de duas semanas? A mulher relatou a história ao seu filho de 20 anos, estudante de arte na faculdade, que rapidamente procurou no Google notícia sobre a exposição no Met. Ele encontrou uma foto em branco e preto um pouco apagada da pintura sendo usada como um espaço reservado para o Painel 28. O título era “Imigrantes admitidos de todos os países: 1820 a 1840, 115.773. E o rótulo na parede: “localização desconhecida”.

“Não parecia nada especial, honestamente”, disse a proprietária, de cerca de 40 anos de idade e que veio para Nova York, da Ucrânia, aos 18 anos. “As cores eram bonitas. Um pouco desgastadas. Passei pelo quadro milhares de vezes por dia quando ia para a cozinha”, disse ela em uma entrevista por telefone.

“Não sabia que possuía uma obra-prima”, acrescentou.

Ela contatou o Met, mas suas mensagens não obtiveram resposta. No terceiro dia, seu filho sugeriu que eles fossem até lá na sua moto.“Deparei com um jovem no balcão de informações no saguão do museu e disse a ele: “escute, ninguém retornou minhas chamadas. Estou com esta pintura. Com quem devo falar?”, lembrou ela. Então, finalmente um administrador do departamento de arte moderna e contemporânea do museu foi ao encontro deles e pediu para a proprietária lhe enviar fotos da obra, que ela não tinha em mãos, pelo seu celular.

Na mesma tarde, Randall Griffey e Sykvua Yount, curadores da mostra de Lawrence no museu, e Isabelle Duvernois, restauradora das pinturas do Met, foram ao apartamento em Upper West Side pela segunda vez no espaço de duas semanas para verificarem a autenticidade de um quadro de Lawrence que não era visto publicamente desde 1960.

A enfermeira, que concordou em emprestar a pintura para as duas exibições da mostra itinerante do artista, pediu para seu nome não ser informado, pois estava preocupada com a segurança da família. Agora, o painel faz parte de uma exposição no Museu de Arte de Seattle chamada Jacob Lawrence: The American Struggle e ficará exposto até 23 de maio.

Antes da descoberta do Painel 16, reportado pelo The New York Times em 21 de outubro, a equipe do Met conhecia apenas o título e o tema da obra - Shay’s Rebellion - mas não tinha nenhuma imagem que ajudasse a autenticá-la. Griffey lembrou que a revelação do primeiro painel foi um “grande ponto luminoso” para ele profissionalmente e para uma cidade exausta com a pandemia.

“Acabou sendo o feliz acontecimento de uma temporada necessitada de histórias assim”, afirmou.

No caso do Painel 28 eles tinham uma foto de má qualidade da obra, que foi exibida no final da década de 1950 na galeria do marchand de Lawrence, Charles Alan.

A pintura, em têmpera marrom, dourado e um vermelho vívido, mostra duas mulheres envoltas em xales ao lado de um homem usando um chapéu de abas largas, as cabeças inclinadas e mãos descomunais entrelaçadas na direção do centro da imagem. O painel, evocando viajantes do Velho Mundo, foi inspirado pelas estatísticas de imigração da Enciclopédia da História Americana, de Richard Morris, de 1953, parte da exaustiva pesquisa de Lawrence sobre a contribuição fundamental dos imigrantes, negros e nativos americanos na construção da nação. (Ele se refere especificamente no título aos inúmeros imigrantes que foram para os Estados Unidos durante os primeiros anos do século 19).

A série The Struggle que ele criou entre 1954 e 1956 estilísticamente entrelaça formas cúbicas em composições agitadas. Ele rompe assim com seus trabalhos anteriores como The Migration Series (1940-41) pintados com blocos de cor mais simples.

Se de um lado foi possível o Painel 16, dominado por uma paleta de cores azuis brilhantes em condições pristinas, ser imediatamente adicionado à mostra itinerante nos seus últimos dias, o Painel 28 havia sofrido alguma descamação e era necessária uma restauração. Griffley passou a tarefa para seus colegas do Peabody Essex Museum, em Salem, Massachusetts, onde a exposição teve origem.

“Achamos que, sem saber, Lawrence usou tubos de tinta ruim porque há certas cores, incluindo o vermelho e o marrom, em que a qualidade de adesão era deficiente em todas as obras produzidas em 1956”, disse Lydia Gordon, curadora da exposição no Peabody Essex. O museu colaborou com o Seattle Art Musem e a The Philips Collection, em Washington, que será a última parada da mostra itinerante, para pagar pela restauração do Painel 28 a cargo da ArtCare Conservation em Nova York.

Quando a nova pintura foi emoldurada no laboratório de restauração, um título alternativo, "The Emigrants - 1821-1839 (106.308)" ficou visível na escrita à mão por Lawrence nas costas da obra. “Ele escreveu emigrantes com um “e”, o que achamos muito interessante porque isto adiciona a ideia de permanência à chegada deles”, disse Gordon.

O filho da proprietária foi o primeiro a sublinhar que a descrição dos curadores do Painel 28 no texto na parede precisava ser revisto: o que parecia um livro de orações nas mãos de um homem na foto granulada, na verdade, era um vaso de flores com uma rosa vermelha, a flor oficial dos Estados Unidos. Um bebê nos braços de uma mulher na pintura estava totalmente oculto na reprodução em branco e preto.

Os painéis 14, 20 e 29 continuam desaparecidos. O Peabody Essex Museum criou um e-mail, missingpanels@pem.org para as pessoas compartilharem informação. Gordon coloca suas esperanças na enorme comunidade de ex-alunos de Lawrence e galeristas e curadores solidários em Seattle, onde o pintor viveu as últimas três décadas da sua vida depois de deixar Nova York.

“Vamos encontra-los”, disse ela com firmeza. 

Moradores da Costa Oeste dos EUA, vamos checar nossas paredes no nosso caminho para a cozinha. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quando a enfermeira que mora no Upper West Side em Nova York, acessou o aplicativo com um boletim informativo do bairro em que vive, ela ficou sabendo da descoberta recente de uma pintura de Jacob Lawrence num apartamento perto da sua residência. Tratava-se de um dos cinco painéis há muito tempo perdidos da série de 30 painéis do artista chamada “Struggle: From the History of the American People, que estava exposta no Metropolitan Museum of Art.

O nome Jacob Lawrence pareceu familiar.

Obra de Jacob Lawrence estava 'perdida' na casa de uma enfermeira de Nova York. Foto: The Jacob and Gwendolyn Knight Lawrence Foundation, Seattle/Artists Rights Society (ARS), New York; Amr Alfiky/The New York Times

Ela examinou mais de perto uma pequena pintura figurativa na parede da sua sala, pendurada ali há duas décadas, com a assinatura do artista pouco legível. Foi um presente da sua sogra, que havia colado um perfil de Lawrence no New York Times em 1996 nas costas do quadro. A enfermeira, que somente deu uma olhada atrás do quatro uma vez quando tirava o pó, soube pelo aplicativo que Lawrence era um importante pintor modernista do século 20 e um dos poucos artistas negros da sua época a ter uma enorme repercussão no mundo da arte.

“Um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar no espaço de duas semanas? A mulher relatou a história ao seu filho de 20 anos, estudante de arte na faculdade, que rapidamente procurou no Google notícia sobre a exposição no Met. Ele encontrou uma foto em branco e preto um pouco apagada da pintura sendo usada como um espaço reservado para o Painel 28. O título era “Imigrantes admitidos de todos os países: 1820 a 1840, 115.773. E o rótulo na parede: “localização desconhecida”.

“Não parecia nada especial, honestamente”, disse a proprietária, de cerca de 40 anos de idade e que veio para Nova York, da Ucrânia, aos 18 anos. “As cores eram bonitas. Um pouco desgastadas. Passei pelo quadro milhares de vezes por dia quando ia para a cozinha”, disse ela em uma entrevista por telefone.

“Não sabia que possuía uma obra-prima”, acrescentou.

Ela contatou o Met, mas suas mensagens não obtiveram resposta. No terceiro dia, seu filho sugeriu que eles fossem até lá na sua moto.“Deparei com um jovem no balcão de informações no saguão do museu e disse a ele: “escute, ninguém retornou minhas chamadas. Estou com esta pintura. Com quem devo falar?”, lembrou ela. Então, finalmente um administrador do departamento de arte moderna e contemporânea do museu foi ao encontro deles e pediu para a proprietária lhe enviar fotos da obra, que ela não tinha em mãos, pelo seu celular.

Na mesma tarde, Randall Griffey e Sykvua Yount, curadores da mostra de Lawrence no museu, e Isabelle Duvernois, restauradora das pinturas do Met, foram ao apartamento em Upper West Side pela segunda vez no espaço de duas semanas para verificarem a autenticidade de um quadro de Lawrence que não era visto publicamente desde 1960.

A enfermeira, que concordou em emprestar a pintura para as duas exibições da mostra itinerante do artista, pediu para seu nome não ser informado, pois estava preocupada com a segurança da família. Agora, o painel faz parte de uma exposição no Museu de Arte de Seattle chamada Jacob Lawrence: The American Struggle e ficará exposto até 23 de maio.

Antes da descoberta do Painel 16, reportado pelo The New York Times em 21 de outubro, a equipe do Met conhecia apenas o título e o tema da obra - Shay’s Rebellion - mas não tinha nenhuma imagem que ajudasse a autenticá-la. Griffey lembrou que a revelação do primeiro painel foi um “grande ponto luminoso” para ele profissionalmente e para uma cidade exausta com a pandemia.

“Acabou sendo o feliz acontecimento de uma temporada necessitada de histórias assim”, afirmou.

No caso do Painel 28 eles tinham uma foto de má qualidade da obra, que foi exibida no final da década de 1950 na galeria do marchand de Lawrence, Charles Alan.

A pintura, em têmpera marrom, dourado e um vermelho vívido, mostra duas mulheres envoltas em xales ao lado de um homem usando um chapéu de abas largas, as cabeças inclinadas e mãos descomunais entrelaçadas na direção do centro da imagem. O painel, evocando viajantes do Velho Mundo, foi inspirado pelas estatísticas de imigração da Enciclopédia da História Americana, de Richard Morris, de 1953, parte da exaustiva pesquisa de Lawrence sobre a contribuição fundamental dos imigrantes, negros e nativos americanos na construção da nação. (Ele se refere especificamente no título aos inúmeros imigrantes que foram para os Estados Unidos durante os primeiros anos do século 19).

A série The Struggle que ele criou entre 1954 e 1956 estilísticamente entrelaça formas cúbicas em composições agitadas. Ele rompe assim com seus trabalhos anteriores como The Migration Series (1940-41) pintados com blocos de cor mais simples.

Se de um lado foi possível o Painel 16, dominado por uma paleta de cores azuis brilhantes em condições pristinas, ser imediatamente adicionado à mostra itinerante nos seus últimos dias, o Painel 28 havia sofrido alguma descamação e era necessária uma restauração. Griffley passou a tarefa para seus colegas do Peabody Essex Museum, em Salem, Massachusetts, onde a exposição teve origem.

“Achamos que, sem saber, Lawrence usou tubos de tinta ruim porque há certas cores, incluindo o vermelho e o marrom, em que a qualidade de adesão era deficiente em todas as obras produzidas em 1956”, disse Lydia Gordon, curadora da exposição no Peabody Essex. O museu colaborou com o Seattle Art Musem e a The Philips Collection, em Washington, que será a última parada da mostra itinerante, para pagar pela restauração do Painel 28 a cargo da ArtCare Conservation em Nova York.

Quando a nova pintura foi emoldurada no laboratório de restauração, um título alternativo, "The Emigrants - 1821-1839 (106.308)" ficou visível na escrita à mão por Lawrence nas costas da obra. “Ele escreveu emigrantes com um “e”, o que achamos muito interessante porque isto adiciona a ideia de permanência à chegada deles”, disse Gordon.

O filho da proprietária foi o primeiro a sublinhar que a descrição dos curadores do Painel 28 no texto na parede precisava ser revisto: o que parecia um livro de orações nas mãos de um homem na foto granulada, na verdade, era um vaso de flores com uma rosa vermelha, a flor oficial dos Estados Unidos. Um bebê nos braços de uma mulher na pintura estava totalmente oculto na reprodução em branco e preto.

Os painéis 14, 20 e 29 continuam desaparecidos. O Peabody Essex Museum criou um e-mail, missingpanels@pem.org para as pessoas compartilharem informação. Gordon coloca suas esperanças na enorme comunidade de ex-alunos de Lawrence e galeristas e curadores solidários em Seattle, onde o pintor viveu as últimas três décadas da sua vida depois de deixar Nova York.

“Vamos encontra-los”, disse ela com firmeza. 

Moradores da Costa Oeste dos EUA, vamos checar nossas paredes no nosso caminho para a cozinha. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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