Artista ‘invasor’ transforma ruas de Paris em sua galeria a céu aberto


Mosaicos de um artista de rua, que se autodenomina ‘Invader’, tornaram-se parte do tecido da cidade, estão por toda parte - se você os procurar

Por Catherine Porter

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Tudo começou em uma rua estreita de paralelepípedos perto da Place de la Bastille.

Um artista afixou um mosaico de um marciano do videogame pioneiro Space Invaders de 1978 em uma parede. Ele usou azulejos quadrados de banheiro que se assemelhavam a pixels.

Em um ano, ele havia afixado mais 146 deles em monumentos, pontes e calçadas.

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Ele estava afixando um mosaico na parede de uma igreja quando a polícia o prendeu pela primeira vez. Ele não foi pego quando afixou 10 dentro do Louvre.

“Eu estava invadindo o espaço público com um mosaico de um pequeno personagem cujo papel é invadir”, disse o artista, que atende pelo nome de Invader, durante entrevista em uma sala reservada de uma pequena galeria que expõe seu trabalho em Paris. “Eu tinha encontrado a minha coisa, como os grandes artistas que encontraram seu estilo.”

A obra 'PA_1432_2019', a maior feita pelo artista; um olhar atento pode identificar o trabalho do Invader por toda a cidade. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times
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Um quarto de século depois, é difícil andar por mais do que alguns quarteirões em grande parte de Paris sem avistar um mosaico do Invader - se você procurar.

Um deles olha para baixo perto do topo da Torre Eiffel. Os olhos prateados de outro brilham da fonte na Place du Châtelet. Uma fera de olhos vermelhos reluz perto do Centro Pompidou.

Juntamente com os prédios de apartamentos Haussman e as pontes que atravessam o Sena, as obras do Invader tornaram-se uma parte essencial da estética de Paris. Elas são uma parte íntima da vida de alguns moradores; muitos formaram equipes de voluntários para consertar o que foi danificado e substituir o que desapareceu, e outros planejam seus fins de semana e férias para encontrá-las.

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Seu trabalho ainda é tecnicamente ilegal; o medo da prisão é o motivo pelo qual ele adotou um pseudônimo. (Desde então, seu anonimato tornou-se parte intrínseca de sua identidade artística, e ele só concordou em ser entrevistado se seu nome verdadeiro não fosse divulgado.) Mas o Hôtel de Ville, prefeitura de Paris, colocou o trabalho do artista em seu cartaz anunciando uma exposição que celebra a arte de rua. A prefeita Anne Hidalgo ligou pessoalmente para o artista para pedir permissão.

Um mapa dos Space Invaders em Paris de 1998 a 2022, em uma exposição de arte urbana no Hôtel de Ville, prefeitura de Paris. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“O que vai acontecer da próxima vez que a polícia me parar na rua às 4 da manhã?” disse Invader, que passou 10 noites na prisão em Paris por vandalismo, mas nunca foi formalmente acusado. “Eles vão pedir um autógrafo ou me prender?”

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Suas invasões tiveram como alvo o fundo do Mar do Caribe e 22 milhas acima da atmosfera da Terra, usando um balão branco antes que tal coisa levantasse suspeitas. Em 2019, uma cópia que ele fez de seu mosaico Astro Boy, que havia colocado anos antes em uma ponte em Tóquio, foi vendida por US$ 1,12 milhão em um leilão.

No mês passado, o astronauta francês Thomas Pesquet lhe enviou um e-mail, declarando-se seu fã e oferecendo-se para levar uma de suas obras à Lua. “De alguma forma, fazia sentido que seus pequenos alienígenas estivessem lá no espaço, olhando para nós”, explicou Pesquet.

Muitos adoram o conceito original do artista, que oferece nostalgia e uma premonição assustadora. Depois, há sua enorme tenacidade: ele instalou mais de 4.000 peças em 32 países, incluindo cerca de 1.500 em Paris.

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“Quem personifica mais Paris? O Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da mostra da prefeitura.

Olivier Moquin limpando a obra “PA_758, 2008.” Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

O mistério faz parte de seu fascínio, mas o Invader deu alguns detalhes pessoais: ele cresceu em um subúrbio de Paris, um garoto criativo com uma câmara escura em casa e se formou na famosa École des Beaux-Arts. Ele está “perto dos 50″. Ele nada e é vegetariano - a única causa que levou para o seu trabalho. Ele vende cópias de seus mosaicos em exposições e leilões e publica livros por conta própria.

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Ao longo dos anos, sua temática se expandiu para incluir referências culturais e históricas. Em Paris, algumas obras parecem uma piada interna, outras uma canção de amor.

Na Rue de Louvre a própria Mona Lisa do Invader está pendurada, ao lado da placa verde da agência Duluc Detective - uma referência a quando a pintura foi roubada em 1911. Acima do local exato onde os estudantes da Sorbonne lideraram os protestos em 1968, há um invasor com um punho erguido. De uma janela embutida no segundo andar, uma elegante Nina Simone olha para o bar de jazz onde ela já se apresentou.

“Quem personifica mais Paris? Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da exposição dentro da prefeitura. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“Faço parte da arquitetura e da paisagem de Paris”, disse Invader, que percorre a cidade de scooter, admirando seu próprio trabalho. “É algo extraordinariamente emocionante para mim.”

Em 2014, ele criou um aplicativo, o Flash Invaders, que permite que os fãs compitam entre si para encontrar suas obras, escaneando-as com seus telefones para ganhar pontos. Há um aspecto lúdico de círculo completo nisso: o jogo de computador transformado em arte física agora é recapturado no mundo digital. Dois anos antes do Pokémon Go ser lançado, ele desencadeou uma loucura. Jogadores obstinados organizaram suas noites, fins de semana e férias em torno da arte do Invader. Matthieu Latrasse, um piloto que atualmente ocupa o primeiro lugar entre 277.000 jogadores, pediu rotas para encontrar as obras.

Em casa, a busca por mosaicos levou Latrasse, 43 anos, pelas ruas medievais e pelos limites sombrios da cidade. “Reencontrei a cidade onde nasci”, disse.

Uma releitura da Mona Lisa, chamada “PA_1097, 2014,” na Rue du Louvre. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Não demorou muito para que jogadores obstinados descobrissem mosaicos danificados ou perdidos - muitas vezes por roubo - e começassem a consertá-los e substituí-los. Surpreso, Invader enviou instruções para o que eles chamaram de “reativações”.

O Invader concordou com uma sessão de fotos mascarado em frente a uma de suas obras com vista para o Sena. À distância, apareciam as torres da Conciergerie - uma residência real medieval transformada em prisão.

Ao notar um de seus ajudantes limpando os azulejos, uma mulher de meia-idade se aproximou. Supondo que fossem outros fãs, ela confidenciou que também tinha o aplicativo.

“Talvez um dia a gente o conheça”, ela disse. O Invader, que ainda não havia colocado a máscara, disse que achava que não.

A mulher concordou e respondeu: “Esse é o charme dele.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Tudo começou em uma rua estreita de paralelepípedos perto da Place de la Bastille.

Um artista afixou um mosaico de um marciano do videogame pioneiro Space Invaders de 1978 em uma parede. Ele usou azulejos quadrados de banheiro que se assemelhavam a pixels.

Em um ano, ele havia afixado mais 146 deles em monumentos, pontes e calçadas.

Ele estava afixando um mosaico na parede de uma igreja quando a polícia o prendeu pela primeira vez. Ele não foi pego quando afixou 10 dentro do Louvre.

“Eu estava invadindo o espaço público com um mosaico de um pequeno personagem cujo papel é invadir”, disse o artista, que atende pelo nome de Invader, durante entrevista em uma sala reservada de uma pequena galeria que expõe seu trabalho em Paris. “Eu tinha encontrado a minha coisa, como os grandes artistas que encontraram seu estilo.”

A obra 'PA_1432_2019', a maior feita pelo artista; um olhar atento pode identificar o trabalho do Invader por toda a cidade. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Um quarto de século depois, é difícil andar por mais do que alguns quarteirões em grande parte de Paris sem avistar um mosaico do Invader - se você procurar.

Um deles olha para baixo perto do topo da Torre Eiffel. Os olhos prateados de outro brilham da fonte na Place du Châtelet. Uma fera de olhos vermelhos reluz perto do Centro Pompidou.

Juntamente com os prédios de apartamentos Haussman e as pontes que atravessam o Sena, as obras do Invader tornaram-se uma parte essencial da estética de Paris. Elas são uma parte íntima da vida de alguns moradores; muitos formaram equipes de voluntários para consertar o que foi danificado e substituir o que desapareceu, e outros planejam seus fins de semana e férias para encontrá-las.

Seu trabalho ainda é tecnicamente ilegal; o medo da prisão é o motivo pelo qual ele adotou um pseudônimo. (Desde então, seu anonimato tornou-se parte intrínseca de sua identidade artística, e ele só concordou em ser entrevistado se seu nome verdadeiro não fosse divulgado.) Mas o Hôtel de Ville, prefeitura de Paris, colocou o trabalho do artista em seu cartaz anunciando uma exposição que celebra a arte de rua. A prefeita Anne Hidalgo ligou pessoalmente para o artista para pedir permissão.

Um mapa dos Space Invaders em Paris de 1998 a 2022, em uma exposição de arte urbana no Hôtel de Ville, prefeitura de Paris. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“O que vai acontecer da próxima vez que a polícia me parar na rua às 4 da manhã?” disse Invader, que passou 10 noites na prisão em Paris por vandalismo, mas nunca foi formalmente acusado. “Eles vão pedir um autógrafo ou me prender?”

Suas invasões tiveram como alvo o fundo do Mar do Caribe e 22 milhas acima da atmosfera da Terra, usando um balão branco antes que tal coisa levantasse suspeitas. Em 2019, uma cópia que ele fez de seu mosaico Astro Boy, que havia colocado anos antes em uma ponte em Tóquio, foi vendida por US$ 1,12 milhão em um leilão.

No mês passado, o astronauta francês Thomas Pesquet lhe enviou um e-mail, declarando-se seu fã e oferecendo-se para levar uma de suas obras à Lua. “De alguma forma, fazia sentido que seus pequenos alienígenas estivessem lá no espaço, olhando para nós”, explicou Pesquet.

Muitos adoram o conceito original do artista, que oferece nostalgia e uma premonição assustadora. Depois, há sua enorme tenacidade: ele instalou mais de 4.000 peças em 32 países, incluindo cerca de 1.500 em Paris.

“Quem personifica mais Paris? O Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da mostra da prefeitura.

Olivier Moquin limpando a obra “PA_758, 2008.” Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

O mistério faz parte de seu fascínio, mas o Invader deu alguns detalhes pessoais: ele cresceu em um subúrbio de Paris, um garoto criativo com uma câmara escura em casa e se formou na famosa École des Beaux-Arts. Ele está “perto dos 50″. Ele nada e é vegetariano - a única causa que levou para o seu trabalho. Ele vende cópias de seus mosaicos em exposições e leilões e publica livros por conta própria.

Ao longo dos anos, sua temática se expandiu para incluir referências culturais e históricas. Em Paris, algumas obras parecem uma piada interna, outras uma canção de amor.

Na Rue de Louvre a própria Mona Lisa do Invader está pendurada, ao lado da placa verde da agência Duluc Detective - uma referência a quando a pintura foi roubada em 1911. Acima do local exato onde os estudantes da Sorbonne lideraram os protestos em 1968, há um invasor com um punho erguido. De uma janela embutida no segundo andar, uma elegante Nina Simone olha para o bar de jazz onde ela já se apresentou.

“Quem personifica mais Paris? Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da exposição dentro da prefeitura. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“Faço parte da arquitetura e da paisagem de Paris”, disse Invader, que percorre a cidade de scooter, admirando seu próprio trabalho. “É algo extraordinariamente emocionante para mim.”

Em 2014, ele criou um aplicativo, o Flash Invaders, que permite que os fãs compitam entre si para encontrar suas obras, escaneando-as com seus telefones para ganhar pontos. Há um aspecto lúdico de círculo completo nisso: o jogo de computador transformado em arte física agora é recapturado no mundo digital. Dois anos antes do Pokémon Go ser lançado, ele desencadeou uma loucura. Jogadores obstinados organizaram suas noites, fins de semana e férias em torno da arte do Invader. Matthieu Latrasse, um piloto que atualmente ocupa o primeiro lugar entre 277.000 jogadores, pediu rotas para encontrar as obras.

Em casa, a busca por mosaicos levou Latrasse, 43 anos, pelas ruas medievais e pelos limites sombrios da cidade. “Reencontrei a cidade onde nasci”, disse.

Uma releitura da Mona Lisa, chamada “PA_1097, 2014,” na Rue du Louvre. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Não demorou muito para que jogadores obstinados descobrissem mosaicos danificados ou perdidos - muitas vezes por roubo - e começassem a consertá-los e substituí-los. Surpreso, Invader enviou instruções para o que eles chamaram de “reativações”.

O Invader concordou com uma sessão de fotos mascarado em frente a uma de suas obras com vista para o Sena. À distância, apareciam as torres da Conciergerie - uma residência real medieval transformada em prisão.

Ao notar um de seus ajudantes limpando os azulejos, uma mulher de meia-idade se aproximou. Supondo que fossem outros fãs, ela confidenciou que também tinha o aplicativo.

“Talvez um dia a gente o conheça”, ela disse. O Invader, que ainda não havia colocado a máscara, disse que achava que não.

A mulher concordou e respondeu: “Esse é o charme dele.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Tudo começou em uma rua estreita de paralelepípedos perto da Place de la Bastille.

Um artista afixou um mosaico de um marciano do videogame pioneiro Space Invaders de 1978 em uma parede. Ele usou azulejos quadrados de banheiro que se assemelhavam a pixels.

Em um ano, ele havia afixado mais 146 deles em monumentos, pontes e calçadas.

Ele estava afixando um mosaico na parede de uma igreja quando a polícia o prendeu pela primeira vez. Ele não foi pego quando afixou 10 dentro do Louvre.

“Eu estava invadindo o espaço público com um mosaico de um pequeno personagem cujo papel é invadir”, disse o artista, que atende pelo nome de Invader, durante entrevista em uma sala reservada de uma pequena galeria que expõe seu trabalho em Paris. “Eu tinha encontrado a minha coisa, como os grandes artistas que encontraram seu estilo.”

A obra 'PA_1432_2019', a maior feita pelo artista; um olhar atento pode identificar o trabalho do Invader por toda a cidade. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Um quarto de século depois, é difícil andar por mais do que alguns quarteirões em grande parte de Paris sem avistar um mosaico do Invader - se você procurar.

Um deles olha para baixo perto do topo da Torre Eiffel. Os olhos prateados de outro brilham da fonte na Place du Châtelet. Uma fera de olhos vermelhos reluz perto do Centro Pompidou.

Juntamente com os prédios de apartamentos Haussman e as pontes que atravessam o Sena, as obras do Invader tornaram-se uma parte essencial da estética de Paris. Elas são uma parte íntima da vida de alguns moradores; muitos formaram equipes de voluntários para consertar o que foi danificado e substituir o que desapareceu, e outros planejam seus fins de semana e férias para encontrá-las.

Seu trabalho ainda é tecnicamente ilegal; o medo da prisão é o motivo pelo qual ele adotou um pseudônimo. (Desde então, seu anonimato tornou-se parte intrínseca de sua identidade artística, e ele só concordou em ser entrevistado se seu nome verdadeiro não fosse divulgado.) Mas o Hôtel de Ville, prefeitura de Paris, colocou o trabalho do artista em seu cartaz anunciando uma exposição que celebra a arte de rua. A prefeita Anne Hidalgo ligou pessoalmente para o artista para pedir permissão.

Um mapa dos Space Invaders em Paris de 1998 a 2022, em uma exposição de arte urbana no Hôtel de Ville, prefeitura de Paris. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“O que vai acontecer da próxima vez que a polícia me parar na rua às 4 da manhã?” disse Invader, que passou 10 noites na prisão em Paris por vandalismo, mas nunca foi formalmente acusado. “Eles vão pedir um autógrafo ou me prender?”

Suas invasões tiveram como alvo o fundo do Mar do Caribe e 22 milhas acima da atmosfera da Terra, usando um balão branco antes que tal coisa levantasse suspeitas. Em 2019, uma cópia que ele fez de seu mosaico Astro Boy, que havia colocado anos antes em uma ponte em Tóquio, foi vendida por US$ 1,12 milhão em um leilão.

No mês passado, o astronauta francês Thomas Pesquet lhe enviou um e-mail, declarando-se seu fã e oferecendo-se para levar uma de suas obras à Lua. “De alguma forma, fazia sentido que seus pequenos alienígenas estivessem lá no espaço, olhando para nós”, explicou Pesquet.

Muitos adoram o conceito original do artista, que oferece nostalgia e uma premonição assustadora. Depois, há sua enorme tenacidade: ele instalou mais de 4.000 peças em 32 países, incluindo cerca de 1.500 em Paris.

“Quem personifica mais Paris? O Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da mostra da prefeitura.

Olivier Moquin limpando a obra “PA_758, 2008.” Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

O mistério faz parte de seu fascínio, mas o Invader deu alguns detalhes pessoais: ele cresceu em um subúrbio de Paris, um garoto criativo com uma câmara escura em casa e se formou na famosa École des Beaux-Arts. Ele está “perto dos 50″. Ele nada e é vegetariano - a única causa que levou para o seu trabalho. Ele vende cópias de seus mosaicos em exposições e leilões e publica livros por conta própria.

Ao longo dos anos, sua temática se expandiu para incluir referências culturais e históricas. Em Paris, algumas obras parecem uma piada interna, outras uma canção de amor.

Na Rue de Louvre a própria Mona Lisa do Invader está pendurada, ao lado da placa verde da agência Duluc Detective - uma referência a quando a pintura foi roubada em 1911. Acima do local exato onde os estudantes da Sorbonne lideraram os protestos em 1968, há um invasor com um punho erguido. De uma janela embutida no segundo andar, uma elegante Nina Simone olha para o bar de jazz onde ela já se apresentou.

“Quem personifica mais Paris? Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da exposição dentro da prefeitura. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“Faço parte da arquitetura e da paisagem de Paris”, disse Invader, que percorre a cidade de scooter, admirando seu próprio trabalho. “É algo extraordinariamente emocionante para mim.”

Em 2014, ele criou um aplicativo, o Flash Invaders, que permite que os fãs compitam entre si para encontrar suas obras, escaneando-as com seus telefones para ganhar pontos. Há um aspecto lúdico de círculo completo nisso: o jogo de computador transformado em arte física agora é recapturado no mundo digital. Dois anos antes do Pokémon Go ser lançado, ele desencadeou uma loucura. Jogadores obstinados organizaram suas noites, fins de semana e férias em torno da arte do Invader. Matthieu Latrasse, um piloto que atualmente ocupa o primeiro lugar entre 277.000 jogadores, pediu rotas para encontrar as obras.

Em casa, a busca por mosaicos levou Latrasse, 43 anos, pelas ruas medievais e pelos limites sombrios da cidade. “Reencontrei a cidade onde nasci”, disse.

Uma releitura da Mona Lisa, chamada “PA_1097, 2014,” na Rue du Louvre. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Não demorou muito para que jogadores obstinados descobrissem mosaicos danificados ou perdidos - muitas vezes por roubo - e começassem a consertá-los e substituí-los. Surpreso, Invader enviou instruções para o que eles chamaram de “reativações”.

O Invader concordou com uma sessão de fotos mascarado em frente a uma de suas obras com vista para o Sena. À distância, apareciam as torres da Conciergerie - uma residência real medieval transformada em prisão.

Ao notar um de seus ajudantes limpando os azulejos, uma mulher de meia-idade se aproximou. Supondo que fossem outros fãs, ela confidenciou que também tinha o aplicativo.

“Talvez um dia a gente o conheça”, ela disse. O Invader, que ainda não havia colocado a máscara, disse que achava que não.

A mulher concordou e respondeu: “Esse é o charme dele.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Tudo começou em uma rua estreita de paralelepípedos perto da Place de la Bastille.

Um artista afixou um mosaico de um marciano do videogame pioneiro Space Invaders de 1978 em uma parede. Ele usou azulejos quadrados de banheiro que se assemelhavam a pixels.

Em um ano, ele havia afixado mais 146 deles em monumentos, pontes e calçadas.

Ele estava afixando um mosaico na parede de uma igreja quando a polícia o prendeu pela primeira vez. Ele não foi pego quando afixou 10 dentro do Louvre.

“Eu estava invadindo o espaço público com um mosaico de um pequeno personagem cujo papel é invadir”, disse o artista, que atende pelo nome de Invader, durante entrevista em uma sala reservada de uma pequena galeria que expõe seu trabalho em Paris. “Eu tinha encontrado a minha coisa, como os grandes artistas que encontraram seu estilo.”

A obra 'PA_1432_2019', a maior feita pelo artista; um olhar atento pode identificar o trabalho do Invader por toda a cidade. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Um quarto de século depois, é difícil andar por mais do que alguns quarteirões em grande parte de Paris sem avistar um mosaico do Invader - se você procurar.

Um deles olha para baixo perto do topo da Torre Eiffel. Os olhos prateados de outro brilham da fonte na Place du Châtelet. Uma fera de olhos vermelhos reluz perto do Centro Pompidou.

Juntamente com os prédios de apartamentos Haussman e as pontes que atravessam o Sena, as obras do Invader tornaram-se uma parte essencial da estética de Paris. Elas são uma parte íntima da vida de alguns moradores; muitos formaram equipes de voluntários para consertar o que foi danificado e substituir o que desapareceu, e outros planejam seus fins de semana e férias para encontrá-las.

Seu trabalho ainda é tecnicamente ilegal; o medo da prisão é o motivo pelo qual ele adotou um pseudônimo. (Desde então, seu anonimato tornou-se parte intrínseca de sua identidade artística, e ele só concordou em ser entrevistado se seu nome verdadeiro não fosse divulgado.) Mas o Hôtel de Ville, prefeitura de Paris, colocou o trabalho do artista em seu cartaz anunciando uma exposição que celebra a arte de rua. A prefeita Anne Hidalgo ligou pessoalmente para o artista para pedir permissão.

Um mapa dos Space Invaders em Paris de 1998 a 2022, em uma exposição de arte urbana no Hôtel de Ville, prefeitura de Paris. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“O que vai acontecer da próxima vez que a polícia me parar na rua às 4 da manhã?” disse Invader, que passou 10 noites na prisão em Paris por vandalismo, mas nunca foi formalmente acusado. “Eles vão pedir um autógrafo ou me prender?”

Suas invasões tiveram como alvo o fundo do Mar do Caribe e 22 milhas acima da atmosfera da Terra, usando um balão branco antes que tal coisa levantasse suspeitas. Em 2019, uma cópia que ele fez de seu mosaico Astro Boy, que havia colocado anos antes em uma ponte em Tóquio, foi vendida por US$ 1,12 milhão em um leilão.

No mês passado, o astronauta francês Thomas Pesquet lhe enviou um e-mail, declarando-se seu fã e oferecendo-se para levar uma de suas obras à Lua. “De alguma forma, fazia sentido que seus pequenos alienígenas estivessem lá no espaço, olhando para nós”, explicou Pesquet.

Muitos adoram o conceito original do artista, que oferece nostalgia e uma premonição assustadora. Depois, há sua enorme tenacidade: ele instalou mais de 4.000 peças em 32 países, incluindo cerca de 1.500 em Paris.

“Quem personifica mais Paris? O Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da mostra da prefeitura.

Olivier Moquin limpando a obra “PA_758, 2008.” Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

O mistério faz parte de seu fascínio, mas o Invader deu alguns detalhes pessoais: ele cresceu em um subúrbio de Paris, um garoto criativo com uma câmara escura em casa e se formou na famosa École des Beaux-Arts. Ele está “perto dos 50″. Ele nada e é vegetariano - a única causa que levou para o seu trabalho. Ele vende cópias de seus mosaicos em exposições e leilões e publica livros por conta própria.

Ao longo dos anos, sua temática se expandiu para incluir referências culturais e históricas. Em Paris, algumas obras parecem uma piada interna, outras uma canção de amor.

Na Rue de Louvre a própria Mona Lisa do Invader está pendurada, ao lado da placa verde da agência Duluc Detective - uma referência a quando a pintura foi roubada em 1911. Acima do local exato onde os estudantes da Sorbonne lideraram os protestos em 1968, há um invasor com um punho erguido. De uma janela embutida no segundo andar, uma elegante Nina Simone olha para o bar de jazz onde ela já se apresentou.

“Quem personifica mais Paris? Invader”, disse Nicolas Laugero Lasserre, especialista em arte de rua e um dos quatro curadores da exposição dentro da prefeitura. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

“Faço parte da arquitetura e da paisagem de Paris”, disse Invader, que percorre a cidade de scooter, admirando seu próprio trabalho. “É algo extraordinariamente emocionante para mim.”

Em 2014, ele criou um aplicativo, o Flash Invaders, que permite que os fãs compitam entre si para encontrar suas obras, escaneando-as com seus telefones para ganhar pontos. Há um aspecto lúdico de círculo completo nisso: o jogo de computador transformado em arte física agora é recapturado no mundo digital. Dois anos antes do Pokémon Go ser lançado, ele desencadeou uma loucura. Jogadores obstinados organizaram suas noites, fins de semana e férias em torno da arte do Invader. Matthieu Latrasse, um piloto que atualmente ocupa o primeiro lugar entre 277.000 jogadores, pediu rotas para encontrar as obras.

Em casa, a busca por mosaicos levou Latrasse, 43 anos, pelas ruas medievais e pelos limites sombrios da cidade. “Reencontrei a cidade onde nasci”, disse.

Uma releitura da Mona Lisa, chamada “PA_1097, 2014,” na Rue du Louvre. Foto: Andrea Mantovani/The New York Times

Não demorou muito para que jogadores obstinados descobrissem mosaicos danificados ou perdidos - muitas vezes por roubo - e começassem a consertá-los e substituí-los. Surpreso, Invader enviou instruções para o que eles chamaram de “reativações”.

O Invader concordou com uma sessão de fotos mascarado em frente a uma de suas obras com vista para o Sena. À distância, apareciam as torres da Conciergerie - uma residência real medieval transformada em prisão.

Ao notar um de seus ajudantes limpando os azulejos, uma mulher de meia-idade se aproximou. Supondo que fossem outros fãs, ela confidenciou que também tinha o aplicativo.

“Talvez um dia a gente o conheça”, ela disse. O Invader, que ainda não havia colocado a máscara, disse que achava que não.

A mulher concordou e respondeu: “Esse é o charme dele.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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