‘Asteroid City’: movimentos de câmera de Sanjay Sami são arma secreta de Wes Anderson


Sami traz projetos engenhosos, um espírito “faça você mesmo” e pura habilidade atlética para o trabalho de key grip - empurrando e puxando equipamentos de câmera pesados com uma precisão exata

Por Melena Ryzik
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os intrincados filmes de Wes Anderson são conhecidos por seus cenários particulares, figurinos vibrantes e elencos estrelados. Mas há outro elemento que dá a seus filmes uma aparência e sensação distintas, e ele surge na forma de um profissional de 52 anos.

Sanjay Sami, natural de Mumbai, na Índia, começou em filmes de Bollywood e trabalha com Anderson desde 2006, principalmente como um operador de dolly (carrinho de rodas usado na produção cinematográfica). É um trabalho difícil, empurrar e puxar uma câmera montada em um dolly - um equipamento que pesa até 408 Kg - ao longo de centenas de metros de trilhos construídos para uma cena, e Sami projetou, inventou e refinou isso como uma forma de arte.

Scarlett Johansson está no elenco do novo filme de Wes Anderson. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features
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Em um filme típico, um dolly pode mover a câmera da esquerda para a direita ou para frente e para trás. No universo de Wes, ele vai em todas essas direções - e às vezes para cima e para baixo também - em uma única tomada, permitindo, disse Anderson, uma expressão ininterrupta.

“Isso significa que os atores podem ficar no tempo real e você pode criar algo que realmente existe, na frente da câmera”, disse ele.

Designer engenhoso, guru do reparo “faça você mesmo”, engenheiro ferroviário, cineasta e atleta, Sami é, de acordo com muitos integrantes do elenco e da equipe, a arma secreta de Anderson.

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“Ele pode executar com maestria os movimentos de câmera mais intrincados que já vi”, disse Adrien Brody, um ator frequente de Anderson, que chamou Sami de “exigente, implacável e extremamente dedicado”.

No ano passado, em A Crônica Francesa, Sami executou a cena mais complicada de sua carreira, uma caminhada que acompanhava uma conversa de 70 segundos por uma delegacia de polícia incomumente ativa, interpretada como um monólogo por Jeffrey Wright, com o dolly acelerando e desacelerando para acompanhar o ritmo de sua fala cortada.

Este ano, Sami superou isso com uma cena em Asteroid City, o mais recente de Anderson, na qual Brody se move por um longo espaço teatral em uma coreografia primorosamente detalhada de cenários, adereços, paredes, atores, diálogos e câmera, que “tem que sair de um conjunto de trilhos e, em seguida, continuar ininterruptamente em outro conjunto de trilhos e atingir várias marcas precisas em tempos muito específicos”, observou Brody.

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Outro momento complexo ocorreu no início de Asteroid City, filmado na Espanha e ambientado em uma paisagem misteriosa do sudoeste de meados do século. Wright, interpretando um general, faz um discurso para um jovem grupo de astrônomos e cientistas juniores, enquanto a câmera se move para frente e para trás e de um lado para o outro (quase um padrão de estrela) em um trilho de três camadas, estabelecendo a cena e construindo uma noção do personagem de Wright.

“Há muita responsabilidade, porque somos os olhos do espectador”, disse Sami, em uma entrevista em vídeo de sua casa em Mumbai. “Estamos movendo a emoção e a história, mais do que apenas movendo a câmera.”

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Anderson envia os roteiros para Sami no início de seus projetos e, em seguida, os animatics - animações grosseiras que transmitem os longos planos que o cineasta gosta.

“Ele é quem aponta: ‘Isso é complicado’”, disse Anderson. “Ele vai expressar a física da coisa para mim.”

E então Sami quebra as leis habituais do cinema, inventando um novo equipamento ou encomendando uma quantidade inédita de trilhos, onde outros cineastas podem recorrer a telas verdes ou outros efeitos visuais.

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“O que eu amo é que, com Sanjay, basicamente estamos usando o mesmo equipamento que poderíamos ter usado em um filme 75 anos atrás”, disse Anderson, “mas estamos utilizando de uma forma que não foi utilizada antes.”

Em uma cena de A Crônica Francesa, por exemplo, o personagem de Owen Wilson chega andando de bicicleta, e a câmera que o segue precisa começar e parar rapidamente no mesmo ritmo que ele - uma das assinaturas visuais de Anderson.

“Mas estamos acelerando uma grande quantidade de peso de um ponto fixo com a força de um operador, em oposição a uma bicicleta leve com a qual ele já está em alta velocidade”, disse Sami. Então ele inventou um sistema envolvendo uma corda elástica ancorada a um caminhão que poderia colocar a câmera na velocidade certa instantaneamente.

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“Acho que o que ele gosta em trabalhar comigo é que odeio dizer não a qualquer coisa”, disse Sami, que também trabalhou com Christopher Nolan. “Por mais louca que seja a demanda, sempre quero encontrar uma solução. Talvez uma solução maluca. Isso é parte do que torna meu trabalho realmente interessante.”

“Às vezes, quanto mais louco o método, mais feliz ele fica”, acrescentou sobre Anderson.

Wes Anderson no set de 'Asteroid City'. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features

Sami trabalhou nos projetos comerciais de Anderson e em todos os filmes live-action desde “Viagem a Darjeeling” (2007), quando impressionou o cineasta ao criar uma maneira de encaixar um dolly nos vagões estreitos e antigos que eles usavam como cenário: ele montou um trilho escondido no teto do trem.

Para alcançar a visão de Anderson, Sami precisa frequentemente correr a toda velocidade, sobrecarregado com equipamentos - um Steadicam, que ele também opera, tem mais de 27 Kg - girar e parar abrupta e vertiginosamente.

“São 10 ou 12 horas de trabalho muito, muito físico”, disse ele. “Não é apenas resistência - você precisa de muita força para poder parar e iniciar esses movimentos, ou você vai se machucar.”

Portanto, ele segue um regime de exercícios com treinamento diário de resistência especificamente para um filme de Anderson. “Eu costumava jogar rúgbi, e muito do treinamento de rúgbi ajuda”, disse ele.

Antes de entrar no cinema, Sami era mergulhador industrial e soldador subaquático, trabalhando em plataformas de petróleo. Ele começou na indústria cinematográfica durante uma greve de funcionários marítimos, quando um amigo o convidou para um set de filmagem.

“Eu vi esse circo itinerante cheio de malucos que se juntam brevemente e fazem um filme. E então é outro filme - mesmo circo, palhaços diferentes”, disse ele. “Eu amei.” (Ele também é formado em ciências políticas - um histórico extravagante o suficiente para que ele próprio pudesse ser um personagem de Wes Anderson: A Vida Marinha e Nos Trilhos, com Sanjay Sami.)

Colaborando com Adam Stockhausen, designer de produção de Anderson, e Robert Yeoman, o diretor de fotografia, Sami - cujo título oficial é key grip, o chefe de seu departamento - tem uma quantidade incomum de funções.

“Ele é uma espécie de produtor para nós”, disse Anderson. “Ele nos ajuda a descobrir como vamos fazer as coisas. E ele é um bom gestor de pessoas. Então sua voz entra na discussão de uma forma que não tem nada a ver com empurrar um carrinho.”

Anderson jurou que não o desafiou intencionalmente a novos patamares em cada projeto; simplesmente acontece.

“Mas eu gosto de me sentir livre para fazer o que imaginarmos e saber que Sanjay encontrará uma maneira”, disse ele. Em um próximo curta da Netflix, A Maravilhosa História de Henry Sugar, baseado em um conto de Roald Dahl, Sami literalmente mandou a câmera pelos ares.

“Ele construiu um trilho subindo para o céu em um ângulo”, disse Anderson. Ele se inclina como uma escada no ar, “e a câmera está em outro trilho com um braço de lança e um dolly preso ao topo da lança”.

Para Sami, todo o suor, esforço e tontura valem a pena quando ele vê o produto finalizado na tela. “Fiz mais de 80 longas-metragens, e os que mais me orgulham são os que fazemos com Wes”, disse ele, “porque é um trabalho que, para mim, do ponto de vista do grip, não existe fora deste mundo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os intrincados filmes de Wes Anderson são conhecidos por seus cenários particulares, figurinos vibrantes e elencos estrelados. Mas há outro elemento que dá a seus filmes uma aparência e sensação distintas, e ele surge na forma de um profissional de 52 anos.

Sanjay Sami, natural de Mumbai, na Índia, começou em filmes de Bollywood e trabalha com Anderson desde 2006, principalmente como um operador de dolly (carrinho de rodas usado na produção cinematográfica). É um trabalho difícil, empurrar e puxar uma câmera montada em um dolly - um equipamento que pesa até 408 Kg - ao longo de centenas de metros de trilhos construídos para uma cena, e Sami projetou, inventou e refinou isso como uma forma de arte.

Scarlett Johansson está no elenco do novo filme de Wes Anderson. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features

Em um filme típico, um dolly pode mover a câmera da esquerda para a direita ou para frente e para trás. No universo de Wes, ele vai em todas essas direções - e às vezes para cima e para baixo também - em uma única tomada, permitindo, disse Anderson, uma expressão ininterrupta.

“Isso significa que os atores podem ficar no tempo real e você pode criar algo que realmente existe, na frente da câmera”, disse ele.

Designer engenhoso, guru do reparo “faça você mesmo”, engenheiro ferroviário, cineasta e atleta, Sami é, de acordo com muitos integrantes do elenco e da equipe, a arma secreta de Anderson.

“Ele pode executar com maestria os movimentos de câmera mais intrincados que já vi”, disse Adrien Brody, um ator frequente de Anderson, que chamou Sami de “exigente, implacável e extremamente dedicado”.

No ano passado, em A Crônica Francesa, Sami executou a cena mais complicada de sua carreira, uma caminhada que acompanhava uma conversa de 70 segundos por uma delegacia de polícia incomumente ativa, interpretada como um monólogo por Jeffrey Wright, com o dolly acelerando e desacelerando para acompanhar o ritmo de sua fala cortada.

Este ano, Sami superou isso com uma cena em Asteroid City, o mais recente de Anderson, na qual Brody se move por um longo espaço teatral em uma coreografia primorosamente detalhada de cenários, adereços, paredes, atores, diálogos e câmera, que “tem que sair de um conjunto de trilhos e, em seguida, continuar ininterruptamente em outro conjunto de trilhos e atingir várias marcas precisas em tempos muito específicos”, observou Brody.

Outro momento complexo ocorreu no início de Asteroid City, filmado na Espanha e ambientado em uma paisagem misteriosa do sudoeste de meados do século. Wright, interpretando um general, faz um discurso para um jovem grupo de astrônomos e cientistas juniores, enquanto a câmera se move para frente e para trás e de um lado para o outro (quase um padrão de estrela) em um trilho de três camadas, estabelecendo a cena e construindo uma noção do personagem de Wright.

“Há muita responsabilidade, porque somos os olhos do espectador”, disse Sami, em uma entrevista em vídeo de sua casa em Mumbai. “Estamos movendo a emoção e a história, mais do que apenas movendo a câmera.”

Anderson envia os roteiros para Sami no início de seus projetos e, em seguida, os animatics - animações grosseiras que transmitem os longos planos que o cineasta gosta.

“Ele é quem aponta: ‘Isso é complicado’”, disse Anderson. “Ele vai expressar a física da coisa para mim.”

E então Sami quebra as leis habituais do cinema, inventando um novo equipamento ou encomendando uma quantidade inédita de trilhos, onde outros cineastas podem recorrer a telas verdes ou outros efeitos visuais.

“O que eu amo é que, com Sanjay, basicamente estamos usando o mesmo equipamento que poderíamos ter usado em um filme 75 anos atrás”, disse Anderson, “mas estamos utilizando de uma forma que não foi utilizada antes.”

Em uma cena de A Crônica Francesa, por exemplo, o personagem de Owen Wilson chega andando de bicicleta, e a câmera que o segue precisa começar e parar rapidamente no mesmo ritmo que ele - uma das assinaturas visuais de Anderson.

“Mas estamos acelerando uma grande quantidade de peso de um ponto fixo com a força de um operador, em oposição a uma bicicleta leve com a qual ele já está em alta velocidade”, disse Sami. Então ele inventou um sistema envolvendo uma corda elástica ancorada a um caminhão que poderia colocar a câmera na velocidade certa instantaneamente.

“Acho que o que ele gosta em trabalhar comigo é que odeio dizer não a qualquer coisa”, disse Sami, que também trabalhou com Christopher Nolan. “Por mais louca que seja a demanda, sempre quero encontrar uma solução. Talvez uma solução maluca. Isso é parte do que torna meu trabalho realmente interessante.”

“Às vezes, quanto mais louco o método, mais feliz ele fica”, acrescentou sobre Anderson.

Wes Anderson no set de 'Asteroid City'. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features

Sami trabalhou nos projetos comerciais de Anderson e em todos os filmes live-action desde “Viagem a Darjeeling” (2007), quando impressionou o cineasta ao criar uma maneira de encaixar um dolly nos vagões estreitos e antigos que eles usavam como cenário: ele montou um trilho escondido no teto do trem.

Para alcançar a visão de Anderson, Sami precisa frequentemente correr a toda velocidade, sobrecarregado com equipamentos - um Steadicam, que ele também opera, tem mais de 27 Kg - girar e parar abrupta e vertiginosamente.

“São 10 ou 12 horas de trabalho muito, muito físico”, disse ele. “Não é apenas resistência - você precisa de muita força para poder parar e iniciar esses movimentos, ou você vai se machucar.”

Portanto, ele segue um regime de exercícios com treinamento diário de resistência especificamente para um filme de Anderson. “Eu costumava jogar rúgbi, e muito do treinamento de rúgbi ajuda”, disse ele.

Antes de entrar no cinema, Sami era mergulhador industrial e soldador subaquático, trabalhando em plataformas de petróleo. Ele começou na indústria cinematográfica durante uma greve de funcionários marítimos, quando um amigo o convidou para um set de filmagem.

“Eu vi esse circo itinerante cheio de malucos que se juntam brevemente e fazem um filme. E então é outro filme - mesmo circo, palhaços diferentes”, disse ele. “Eu amei.” (Ele também é formado em ciências políticas - um histórico extravagante o suficiente para que ele próprio pudesse ser um personagem de Wes Anderson: A Vida Marinha e Nos Trilhos, com Sanjay Sami.)

Colaborando com Adam Stockhausen, designer de produção de Anderson, e Robert Yeoman, o diretor de fotografia, Sami - cujo título oficial é key grip, o chefe de seu departamento - tem uma quantidade incomum de funções.

“Ele é uma espécie de produtor para nós”, disse Anderson. “Ele nos ajuda a descobrir como vamos fazer as coisas. E ele é um bom gestor de pessoas. Então sua voz entra na discussão de uma forma que não tem nada a ver com empurrar um carrinho.”

Anderson jurou que não o desafiou intencionalmente a novos patamares em cada projeto; simplesmente acontece.

“Mas eu gosto de me sentir livre para fazer o que imaginarmos e saber que Sanjay encontrará uma maneira”, disse ele. Em um próximo curta da Netflix, A Maravilhosa História de Henry Sugar, baseado em um conto de Roald Dahl, Sami literalmente mandou a câmera pelos ares.

“Ele construiu um trilho subindo para o céu em um ângulo”, disse Anderson. Ele se inclina como uma escada no ar, “e a câmera está em outro trilho com um braço de lança e um dolly preso ao topo da lança”.

Para Sami, todo o suor, esforço e tontura valem a pena quando ele vê o produto finalizado na tela. “Fiz mais de 80 longas-metragens, e os que mais me orgulham são os que fazemos com Wes”, disse ele, “porque é um trabalho que, para mim, do ponto de vista do grip, não existe fora deste mundo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os intrincados filmes de Wes Anderson são conhecidos por seus cenários particulares, figurinos vibrantes e elencos estrelados. Mas há outro elemento que dá a seus filmes uma aparência e sensação distintas, e ele surge na forma de um profissional de 52 anos.

Sanjay Sami, natural de Mumbai, na Índia, começou em filmes de Bollywood e trabalha com Anderson desde 2006, principalmente como um operador de dolly (carrinho de rodas usado na produção cinematográfica). É um trabalho difícil, empurrar e puxar uma câmera montada em um dolly - um equipamento que pesa até 408 Kg - ao longo de centenas de metros de trilhos construídos para uma cena, e Sami projetou, inventou e refinou isso como uma forma de arte.

Scarlett Johansson está no elenco do novo filme de Wes Anderson. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features

Em um filme típico, um dolly pode mover a câmera da esquerda para a direita ou para frente e para trás. No universo de Wes, ele vai em todas essas direções - e às vezes para cima e para baixo também - em uma única tomada, permitindo, disse Anderson, uma expressão ininterrupta.

“Isso significa que os atores podem ficar no tempo real e você pode criar algo que realmente existe, na frente da câmera”, disse ele.

Designer engenhoso, guru do reparo “faça você mesmo”, engenheiro ferroviário, cineasta e atleta, Sami é, de acordo com muitos integrantes do elenco e da equipe, a arma secreta de Anderson.

“Ele pode executar com maestria os movimentos de câmera mais intrincados que já vi”, disse Adrien Brody, um ator frequente de Anderson, que chamou Sami de “exigente, implacável e extremamente dedicado”.

No ano passado, em A Crônica Francesa, Sami executou a cena mais complicada de sua carreira, uma caminhada que acompanhava uma conversa de 70 segundos por uma delegacia de polícia incomumente ativa, interpretada como um monólogo por Jeffrey Wright, com o dolly acelerando e desacelerando para acompanhar o ritmo de sua fala cortada.

Este ano, Sami superou isso com uma cena em Asteroid City, o mais recente de Anderson, na qual Brody se move por um longo espaço teatral em uma coreografia primorosamente detalhada de cenários, adereços, paredes, atores, diálogos e câmera, que “tem que sair de um conjunto de trilhos e, em seguida, continuar ininterruptamente em outro conjunto de trilhos e atingir várias marcas precisas em tempos muito específicos”, observou Brody.

Outro momento complexo ocorreu no início de Asteroid City, filmado na Espanha e ambientado em uma paisagem misteriosa do sudoeste de meados do século. Wright, interpretando um general, faz um discurso para um jovem grupo de astrônomos e cientistas juniores, enquanto a câmera se move para frente e para trás e de um lado para o outro (quase um padrão de estrela) em um trilho de três camadas, estabelecendo a cena e construindo uma noção do personagem de Wright.

“Há muita responsabilidade, porque somos os olhos do espectador”, disse Sami, em uma entrevista em vídeo de sua casa em Mumbai. “Estamos movendo a emoção e a história, mais do que apenas movendo a câmera.”

Anderson envia os roteiros para Sami no início de seus projetos e, em seguida, os animatics - animações grosseiras que transmitem os longos planos que o cineasta gosta.

“Ele é quem aponta: ‘Isso é complicado’”, disse Anderson. “Ele vai expressar a física da coisa para mim.”

E então Sami quebra as leis habituais do cinema, inventando um novo equipamento ou encomendando uma quantidade inédita de trilhos, onde outros cineastas podem recorrer a telas verdes ou outros efeitos visuais.

“O que eu amo é que, com Sanjay, basicamente estamos usando o mesmo equipamento que poderíamos ter usado em um filme 75 anos atrás”, disse Anderson, “mas estamos utilizando de uma forma que não foi utilizada antes.”

Em uma cena de A Crônica Francesa, por exemplo, o personagem de Owen Wilson chega andando de bicicleta, e a câmera que o segue precisa começar e parar rapidamente no mesmo ritmo que ele - uma das assinaturas visuais de Anderson.

“Mas estamos acelerando uma grande quantidade de peso de um ponto fixo com a força de um operador, em oposição a uma bicicleta leve com a qual ele já está em alta velocidade”, disse Sami. Então ele inventou um sistema envolvendo uma corda elástica ancorada a um caminhão que poderia colocar a câmera na velocidade certa instantaneamente.

“Acho que o que ele gosta em trabalhar comigo é que odeio dizer não a qualquer coisa”, disse Sami, que também trabalhou com Christopher Nolan. “Por mais louca que seja a demanda, sempre quero encontrar uma solução. Talvez uma solução maluca. Isso é parte do que torna meu trabalho realmente interessante.”

“Às vezes, quanto mais louco o método, mais feliz ele fica”, acrescentou sobre Anderson.

Wes Anderson no set de 'Asteroid City'. Foto: Pop. 87 Productions/Focus Features

Sami trabalhou nos projetos comerciais de Anderson e em todos os filmes live-action desde “Viagem a Darjeeling” (2007), quando impressionou o cineasta ao criar uma maneira de encaixar um dolly nos vagões estreitos e antigos que eles usavam como cenário: ele montou um trilho escondido no teto do trem.

Para alcançar a visão de Anderson, Sami precisa frequentemente correr a toda velocidade, sobrecarregado com equipamentos - um Steadicam, que ele também opera, tem mais de 27 Kg - girar e parar abrupta e vertiginosamente.

“São 10 ou 12 horas de trabalho muito, muito físico”, disse ele. “Não é apenas resistência - você precisa de muita força para poder parar e iniciar esses movimentos, ou você vai se machucar.”

Portanto, ele segue um regime de exercícios com treinamento diário de resistência especificamente para um filme de Anderson. “Eu costumava jogar rúgbi, e muito do treinamento de rúgbi ajuda”, disse ele.

Antes de entrar no cinema, Sami era mergulhador industrial e soldador subaquático, trabalhando em plataformas de petróleo. Ele começou na indústria cinematográfica durante uma greve de funcionários marítimos, quando um amigo o convidou para um set de filmagem.

“Eu vi esse circo itinerante cheio de malucos que se juntam brevemente e fazem um filme. E então é outro filme - mesmo circo, palhaços diferentes”, disse ele. “Eu amei.” (Ele também é formado em ciências políticas - um histórico extravagante o suficiente para que ele próprio pudesse ser um personagem de Wes Anderson: A Vida Marinha e Nos Trilhos, com Sanjay Sami.)

Colaborando com Adam Stockhausen, designer de produção de Anderson, e Robert Yeoman, o diretor de fotografia, Sami - cujo título oficial é key grip, o chefe de seu departamento - tem uma quantidade incomum de funções.

“Ele é uma espécie de produtor para nós”, disse Anderson. “Ele nos ajuda a descobrir como vamos fazer as coisas. E ele é um bom gestor de pessoas. Então sua voz entra na discussão de uma forma que não tem nada a ver com empurrar um carrinho.”

Anderson jurou que não o desafiou intencionalmente a novos patamares em cada projeto; simplesmente acontece.

“Mas eu gosto de me sentir livre para fazer o que imaginarmos e saber que Sanjay encontrará uma maneira”, disse ele. Em um próximo curta da Netflix, A Maravilhosa História de Henry Sugar, baseado em um conto de Roald Dahl, Sami literalmente mandou a câmera pelos ares.

“Ele construiu um trilho subindo para o céu em um ângulo”, disse Anderson. Ele se inclina como uma escada no ar, “e a câmera está em outro trilho com um braço de lança e um dolly preso ao topo da lança”.

Para Sami, todo o suor, esforço e tontura valem a pena quando ele vê o produto finalizado na tela. “Fiz mais de 80 longas-metragens, e os que mais me orgulham são os que fazemos com Wes”, disse ele, “porque é um trabalho que, para mim, do ponto de vista do grip, não existe fora deste mundo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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