Carl Sagan disse uma vez que Vênus é o planeta em nosso sistema solar mais parecido com o inferno. Então, quando voltaremos para lá? Astrônomos relataram a detecção de uma substância química nas ácidas nuvens venusianas, a fosfina, que pode ser um possível sinal de vida.
Isso deixou alguns cientistas ansiosos para retornar ao segundo planeta após o Sol, especialmente aqueles que sentem que Vênus há muito foi esquecido em prol de Marte e outros destinos. "Se este planeta está ativo e produzindo fosfina, e há algo que a está produzindo na atmosfera de Vênus, então, por Deus Todo-Poderoso, esqueça essa bobagem de Marte", disse Paul Byrne, cientista planetário da Universidade do Estado da Carolina do Norte.
“Precisamos de um módulo de pouso, um orbital, precisamos de um programa.” Vênus não é fácil de visitar. Sua atmosfera rica em dióxido de carbono é 90 vezes mais densa que a nossa, e as temperaturas de superfície são, em média, superiores a 400 ºC. Sua pressão na superfície é intensa o bastante para esmagar alguns submarinos.
Mas isso não impediu os programas espaciais humanos de tentar. Cerca de 40 espaçonaves robóticas lançadas por governos tentaram visitar Vênus de uma forma ou de outra. Aqui estão os destaques de viagens anteriores a Vênus, bem como as perspectivas de um rápido retorno ao planeta para descobrir o que está acontecendo naquelas nuvens.
Os muitos visitantes soviéticos de Vênus
Em 1961, o programa espacial soviético começou a tentar explorar Vênus. Nas décadas que se seguiram, ele lançou dezenas de espaçonaves em direção ao mundo, por vezes, chamado de gêmeo da Terra. Embora a exploração soviética de Vênus tenha começado com muitas falhas de ignição, o país se tornou o primeiro a pousar uma espaçonave em outro mundo e, não muito depois, o primeiro a tirar fotos da superfície de outro planeta. Suas realizações de engenharia foram significativas mesmo para os padrões de agora.
Depois de ver sua primeira rodada de espaçonaves enviada para a atmosfera esmagada como latas de estanho, os soviéticos perceberam o quão extrema era a pressão sobre Vênus. Essa tentativa e erro levou a um projeto de uma espaçonave de metal de 5 toneladas construída para suportar, mesmo que por apenas uma hora, as imensas pressões da superfície. Em 1967, a Venera 4 tornou-se a primeira espaçonave a medir a atmosfera de outro planeta, detectando grandes quantidades de dióxido de carbono, que causam o incessante efeito estufa venusiano.
Então, em 1975, a sonda Venera 9 se tornou a primeira a tirar fotos da superfície de outro planeta. E o mundo conheceu Vênus oficialmente. As imagens que ela e as missões posteriores enviaram revelaram um planeta que realmente não era como nenhum outro: terreno rachado sob luz verde neon turva e diluída. O planeta que pensávamos estar coberto de oceanos e semelhante ao nosso era, em vez disso, um mundo estranho com chuva venenosa.
As missões posteriores da série Venera na década de 1980 deram aos cientistas uma melhor compreensão dos processos geológicos do planeta. As Venera 11 e 12 detectaram grandes quantidades de relâmpagos e trovões enquanto viajavam para a superfície. As Venera 13 e 14 foram equipadas com microfones que documentaram os sons de sua descida à superfície, tornando-as as primeiras espaçonaves a gravar áudio de outro planeta.
Em 1985, a União Soviética concluiu suas missões a Vênus com as espaçonaves gêmeas Vega 1 e Vega 2, cada uma delas liberando grandes balões carregados com instrumentos científicos, demonstrando o potencial de sondas que poderiam flutuar nas nuvens do planeta.
A desaceleração do programa espacial soviético no final da Guerra Fria interrompeu os lançamentos para Vênus. Embora o programa espacial russo tenha discutido a exploração futura de Vênus, seus planos não saíram do papel.
A Nasa também não tirou os olhos de Vênus
Embora Marte sempre tenha parecido a "menina dos olhos" dos projetistas espaciais americanos, os programas Mariner e Pioneer dos anos 1960 e 1970 abriram espaço para Vênus.
A Mariner 2 foi a primeira espaçonave americana a chegar a Vênus, em 1962. Ela determinou que as temperaturas eram mais frias nas nuvens, mas extremamente quentes na superfície. Em 1978, as missões Pioneer deram aos pesquisadores americanos uma visão mais próxima de Vênus. A primeira missão Pioneer orbitou o planeta por quase 14 anos, revelando muito a respeito da misteriosa atmosfera venusiana.
Ela também observou que a superfície era mais lisa que a da Terra, e que Vênus tinha muito pouco ou talvez nenhum campo magnético. Uma segunda missão Pioneer lançou uma série de sondas para a atmosfera de Vênus, que enviaram informações acerca da estrutura das nuvens e leituras de radar da superfície. A sonda Magellan, da Nasa, entrou em órbita em 1990 e passou quatro anos mapeando a superfície e procurando por evidências de placas tectônicas.
Ela descobriu que quase 85% da superfície estava coberta por fluxos de lava antigos, sugerindo uma significativa atividade vulcânica passada e possivelmente presente. Ela foi também o último dos visitantes americanos, embora várias espaçonaves da Nasa tenham usado Vênus como catapulta ao definir o curso para outros destinos.
Outros visitantes de Vênus
A Venus Express foi lançada pela Agência Espacial Europeia em 2005. Ela orbitou o planeta por oito anos e observou que ele ainda poderia estar geologicamente ativo. O único convidado da Terra no planeta atualmente é a Akatsuki, que foi lançada pelo Japão em 2010. A sonda perdeu seu encontro com Vênus quando seu motor falhou ao entrar em órbita.
Em 2015, os gerentes da missão conseguiram direcioná-la em um curso para orbitar e estudar o planeta. Desde então, isso transformou a forma como os cientistas veem nosso gêmeo nebuloso. Em seu estudo da física das densas camadas de nuvens de Vênus, a missão revelou distúrbios nos ventos do planeta, conhecidos como ondas gravitacionais, bem como jatos equatoriais em sua atmosfera.
Quem será o próximo?
Muitas missões de retorno a Vênus foram propostas e algumas agências espaciais declararam ambições de visitar o planeta. Mas é difícil dizer se alguém fará a viagem. A agência espacial da Índia propôs uma missão chamada Shukrayaan-1, que orbitará o planeta e se concentrará principalmente na química da atmosfera.
Peter Beck, o fundador da Rocket Lab, uma empresa privada iniciada na Nova Zelândia que lançou cerca de uma dúzia de foguetes para o espaço, falou recentemente em enviar um pequeno satélite ao planeta. A Nasa considerou uma série de propostas para Vênus na última década, incluindo duas em 2017 que foram finalistas do programa Discovery, que já havia enviado exploradores à Lua, Marte, Mercúrio e outros destinos.
Mas a agência, em vez disso, selecionou um par de missões para asteroides. Também em 2017, para a maior e mais cara competição do programa New Frontiers, a Nasa considerou uma missão para Vênus chamada Venus In situ Composition Investigations, ou VICI, que buscava colocar duas sondas na superfície do planeta.
Mas ele foi preterido pelo Dragonfly, que enviará um drone movido a plutônio para voar em Titã, a maior lua de Saturno. A Nasa, porém, forneceu dinheiro para algumas das tecnologias de que a VICI precisaria. E os proponentes de missões a Vênus podem ter um novo defensor dentro da Nasa.
Lori S. Glaze, a principal pesquisadora da VICI, é agora a diretora da divisão de ciência planetária da Nasa. A agência terá outra chance de escolher uma missão a Vênus para financiamento na próxima rodada de seu programa Discovery. Duas propostas de missões para Vênus, chamadas DAVINCI + e VERITAS, estão competindo contra as missões propostas para a lua Tritão de Netuno ou a lua vulcânica de Júpiter Io.
A Nasa pode selecionar dois dos quatro finalistas. E pode haver outras possibilidades para aqueles que desejam visitar Vênus. “Devemos também reconhecer que Vênus é um destino planetário que podemos alcançar com missões menores também”, disse Thomas Zurbuchen, chefe do diretório de missões científicas da Nasa. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA