Atriz de ‘Passagem’, filme da Apple TV+, Jennifer Lawrence retorna à vida que sempre quis


Depois de estrelar franquias milionárias como ‘Jogos Vorazes’ e ‘X-Men’, Lawrence volta a mostrar seu talento em um filme com menos holofotes

Por Kyle Buchanan

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os frequentadores do Pieces, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, podem esperar bebidas fortes e shows de drags, mas não a visão de Jennifer Lawrence, a atriz mais famosa de sua geração, derrubando uma amiga no chão depois que esta perdeu um jogo muito importante de adivinhação de música. Ah, e a amiga é Adele.

Na verdade, Lawrence também não esperava que houvesse nada disso no Pieces. Foi em março de 2019, pouco depois que ela começara a namorar seu agora marido, o negociante de arte Cooke Maroney, e apenas alguns meses depois do projeto ainda em curso de Lawrence de tentar viver como um ser humano normal novamente. No auge de sua fama à frente da franquia Jogos Vorazes, qualquer noite em público exigiria seguranças, mas Maroney muitas vezes marcava encontros com Lawrence em bares, e ela não queria estragar esses lugares aparecendo com dois guarda-costas robustos.

Jennifer Lawrence está no filme 'Passagem', disponível na Apple TV + Foto: Robbie Lawrence/The New York Times
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O que ela descobriu, para sua agradável surpresa, foi que o mundo permitiu que fosse recebida sem muita estranheza. Essa foi a lição que tentou transmitir a Adele quando a cantora britânica mandou uma mensagem para Lawrence sugerindo que fossem a um show, o tipo de lugar onde estariam limitadas a uma seção VIP longe das massas. Lawrence respondeu que já estava no Pieces, onde Adele deveria vir encontrá-la. Adele respondeu com uma pergunta: “Tem gente aí?” “Sim. Tem gente em todo lugar”, Lawrence respondeu. E esse era o ponto: estar em Nova York sem nunca se misturar com a multidão não era estar em Nova York. E fazer planos espontâneos para tomar alguma coisa em um lugar inesperado - bom, isso era ainda melhor.

Então Adele apareceu. E, claro, as duas foram reconhecidas, e, sim, as pessoas tiraram fotos com o celular, mas ninguém foi desagradável, a animação permaneceu, e Adele até participou de um jogo de bebida no palco (embora sua derrota tenha feito com que a competitiva Lawrence berrasse: “Como você perdeu?”, pulando na amiga e derrubando-a).

Foi uma noite fabulosa passada do outro lado da corda de veludo, o tipo de coisa boa para uma superestrela como Adele experimentar de vez em quando, e algo do qual Lawrence sabe que precisa para continuar sendo uma boa atriz. “Não sei como posso atuar quando me sinto isolada da interação humana normal”, explicou.

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Novo filme

Sem essa percepção, é difícil imaginar Lawrence fazendo um filme como Passagem, na Apple TV+, drama íntimo e discreto em que interpreta uma engenheira militar ferida no Afeganistão que volta para casa em Nova Orleans para uma convalescença agitada. Passagem é o tipo de filme independente que a atriz de 32 anos não estrela desde Inverno da Alma, de 2010, e é um lembrete eficaz de que, quando toda a parafernália milionária de Hollywood está ausente, poucas pessoas conseguem estabelecer uma conexão tão poderosa com a câmera quanto Lawrence. “O limite entre sua vida interior e a câmera é bem determinado”, disse Lila Neugebauer, a diretora de Passagem.

Brian Tyree Henry e Jennifer Lawrence em cena de 'Passagem' Foto: Wilson Webb/Apple TV Plus
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No início de outubro, quando me encontrou para um drinque em um bar no West Village, em Nova York, Lawrence me contou que alguns de seus agentes a tinham afastado de produções menores como Passagem, prevenindo-a de que o público não entenderia. “Descobri que muitos cineastas que eu realmente amava e admirava tinham roteiros que nem sequer chegavam a mim.”

Por fim, Lawrence percebeu que gente demais esteve envolvida em tomar as decisões que deveriam ter sido só dela, e em agosto de 2018, quando encerrou a refilmagem de algumas cenas de X-Men: Fênix Negra, deixou a CAA, a agência que a representara durante dez anos. “Eu me deixei ser sequestrada.”

Lawrence sempre teve o dom da franqueza: na tela, vai mostrar coisas - e fora da tela, dizer coisas - que outras atrizes, com a garantia da fama, tendem a manter guardadas. Talvez ela nunca tenha tido tempo de desenvolver uma casca protetora. Quando Inverno da Alma foi lançado, tinha apenas 19 anos; um ano depois, foi escalada para o papel de Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, e, apenas dois anos depois, ganhou um Oscar por sua atuação em O Lado Bom da Vida.

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Numa época em que parece difícil encontrar novas estrelas de cinema, não é de admirar que Hollywood tenha se agarrado a Lawrence como a uma boia salva-vidas. Ainda assim, ela só conseguiria flutuar por algum tempo. Com seus 20 e poucos anos, quando terminou a franquia Jogos Vorazes e passou para filmes menos calorosamente recebidos, sentiu o desânimo de seus fãs: “Pensei: ‘Ah, não, vocês estão aqui porque estou aqui, e estou aqui porque vocês estão aqui. Espera! Quem decidiu que esse filme era bom?’”

Havia algum que a fizesse se sentir assim? “Passageiros, acho”, respondeu Lawrence, mencionando o romance de ficção científica de 2016 que estrelou com Chris Pratt. Depois de Passageiros, veio o ultra-angustiante Mãe!, de Darren Aronofsky, e depois o thriller de espionagem Operação Red Sparrow, provando que ela havia deixado para trás suas raízes de jovem adulta. E, embora essas produções tenham produzido um retorno cada vez menor, ela continuou estrelando os filmes de X-Men porque, claro, se você é uma estrela de cinema, deve fazer sequências de super-heróis. Parece ser parte do combinado.

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Mas nada disso estava realmente dando certo, e Lawrence podia sentir uma reação se formando: ela havia ficado muito grande, e as pessoas estavam ansiosas para baixar sua bola. No fundo, talvez ela também quisesse isso. “Eu me sentia mais uma celebridade do que uma atriz, isolada da minha criatividade, da minha imaginação.”

Lawrence já passou mais da metade de sua vida na TV e nos filmes. “Jen faz isso desde a adolescência. Consegue encontrar sua marca de olhos vendados”, garantiu Neugebauer. Lawrence considera o set um porto seguro: “Se você tem de estar em determinado lugar todo dia, provavelmente nem vai perceber que está sofrendo de ansiedade e depressão até que acabe.” Talvez seja por isso que se sentiu tão atraída por Lynsey, sua personagem em Passagem, que retorna do Afeganistão com uma lesão cerebral traumática, mas ainda anseia por retornar à guerra: “Obviamente, não sei dizer o que é arriscar minha vida pelo meu país, mas posso entender, lendo Passagem, por que me sinto tão tocada com alguém que sente que não pertence a lugar algum, a menos que seja um compromisso.”

Portanto, quem é Jennifer Lawrence, agora que terminou todos os seus compromissos de franquia e pode se mover de modo relativamente irrestrito? Ela me contou que, antes de ter aceitado participar de Jogos Vorazes e de ter tido de reestruturar radicalmente seu futuro, imaginava uma vida em que trabalharia muito e teria uma família, mas não seria famosa a tal ponto que não conseguisse viver normalmente. “E agora, em um círculo completo, estou tendo a vida que imaginei.”

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The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os frequentadores do Pieces, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, podem esperar bebidas fortes e shows de drags, mas não a visão de Jennifer Lawrence, a atriz mais famosa de sua geração, derrubando uma amiga no chão depois que esta perdeu um jogo muito importante de adivinhação de música. Ah, e a amiga é Adele.

Na verdade, Lawrence também não esperava que houvesse nada disso no Pieces. Foi em março de 2019, pouco depois que ela começara a namorar seu agora marido, o negociante de arte Cooke Maroney, e apenas alguns meses depois do projeto ainda em curso de Lawrence de tentar viver como um ser humano normal novamente. No auge de sua fama à frente da franquia Jogos Vorazes, qualquer noite em público exigiria seguranças, mas Maroney muitas vezes marcava encontros com Lawrence em bares, e ela não queria estragar esses lugares aparecendo com dois guarda-costas robustos.

Jennifer Lawrence está no filme 'Passagem', disponível na Apple TV + Foto: Robbie Lawrence/The New York Times

O que ela descobriu, para sua agradável surpresa, foi que o mundo permitiu que fosse recebida sem muita estranheza. Essa foi a lição que tentou transmitir a Adele quando a cantora britânica mandou uma mensagem para Lawrence sugerindo que fossem a um show, o tipo de lugar onde estariam limitadas a uma seção VIP longe das massas. Lawrence respondeu que já estava no Pieces, onde Adele deveria vir encontrá-la. Adele respondeu com uma pergunta: “Tem gente aí?” “Sim. Tem gente em todo lugar”, Lawrence respondeu. E esse era o ponto: estar em Nova York sem nunca se misturar com a multidão não era estar em Nova York. E fazer planos espontâneos para tomar alguma coisa em um lugar inesperado - bom, isso era ainda melhor.

Então Adele apareceu. E, claro, as duas foram reconhecidas, e, sim, as pessoas tiraram fotos com o celular, mas ninguém foi desagradável, a animação permaneceu, e Adele até participou de um jogo de bebida no palco (embora sua derrota tenha feito com que a competitiva Lawrence berrasse: “Como você perdeu?”, pulando na amiga e derrubando-a).

Foi uma noite fabulosa passada do outro lado da corda de veludo, o tipo de coisa boa para uma superestrela como Adele experimentar de vez em quando, e algo do qual Lawrence sabe que precisa para continuar sendo uma boa atriz. “Não sei como posso atuar quando me sinto isolada da interação humana normal”, explicou.

Novo filme

Sem essa percepção, é difícil imaginar Lawrence fazendo um filme como Passagem, na Apple TV+, drama íntimo e discreto em que interpreta uma engenheira militar ferida no Afeganistão que volta para casa em Nova Orleans para uma convalescença agitada. Passagem é o tipo de filme independente que a atriz de 32 anos não estrela desde Inverno da Alma, de 2010, e é um lembrete eficaz de que, quando toda a parafernália milionária de Hollywood está ausente, poucas pessoas conseguem estabelecer uma conexão tão poderosa com a câmera quanto Lawrence. “O limite entre sua vida interior e a câmera é bem determinado”, disse Lila Neugebauer, a diretora de Passagem.

Brian Tyree Henry e Jennifer Lawrence em cena de 'Passagem' Foto: Wilson Webb/Apple TV Plus

No início de outubro, quando me encontrou para um drinque em um bar no West Village, em Nova York, Lawrence me contou que alguns de seus agentes a tinham afastado de produções menores como Passagem, prevenindo-a de que o público não entenderia. “Descobri que muitos cineastas que eu realmente amava e admirava tinham roteiros que nem sequer chegavam a mim.”

Por fim, Lawrence percebeu que gente demais esteve envolvida em tomar as decisões que deveriam ter sido só dela, e em agosto de 2018, quando encerrou a refilmagem de algumas cenas de X-Men: Fênix Negra, deixou a CAA, a agência que a representara durante dez anos. “Eu me deixei ser sequestrada.”

Lawrence sempre teve o dom da franqueza: na tela, vai mostrar coisas - e fora da tela, dizer coisas - que outras atrizes, com a garantia da fama, tendem a manter guardadas. Talvez ela nunca tenha tido tempo de desenvolver uma casca protetora. Quando Inverno da Alma foi lançado, tinha apenas 19 anos; um ano depois, foi escalada para o papel de Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, e, apenas dois anos depois, ganhou um Oscar por sua atuação em O Lado Bom da Vida.

Numa época em que parece difícil encontrar novas estrelas de cinema, não é de admirar que Hollywood tenha se agarrado a Lawrence como a uma boia salva-vidas. Ainda assim, ela só conseguiria flutuar por algum tempo. Com seus 20 e poucos anos, quando terminou a franquia Jogos Vorazes e passou para filmes menos calorosamente recebidos, sentiu o desânimo de seus fãs: “Pensei: ‘Ah, não, vocês estão aqui porque estou aqui, e estou aqui porque vocês estão aqui. Espera! Quem decidiu que esse filme era bom?’”

Havia algum que a fizesse se sentir assim? “Passageiros, acho”, respondeu Lawrence, mencionando o romance de ficção científica de 2016 que estrelou com Chris Pratt. Depois de Passageiros, veio o ultra-angustiante Mãe!, de Darren Aronofsky, e depois o thriller de espionagem Operação Red Sparrow, provando que ela havia deixado para trás suas raízes de jovem adulta. E, embora essas produções tenham produzido um retorno cada vez menor, ela continuou estrelando os filmes de X-Men porque, claro, se você é uma estrela de cinema, deve fazer sequências de super-heróis. Parece ser parte do combinado.

Mas nada disso estava realmente dando certo, e Lawrence podia sentir uma reação se formando: ela havia ficado muito grande, e as pessoas estavam ansiosas para baixar sua bola. No fundo, talvez ela também quisesse isso. “Eu me sentia mais uma celebridade do que uma atriz, isolada da minha criatividade, da minha imaginação.”

Lawrence já passou mais da metade de sua vida na TV e nos filmes. “Jen faz isso desde a adolescência. Consegue encontrar sua marca de olhos vendados”, garantiu Neugebauer. Lawrence considera o set um porto seguro: “Se você tem de estar em determinado lugar todo dia, provavelmente nem vai perceber que está sofrendo de ansiedade e depressão até que acabe.” Talvez seja por isso que se sentiu tão atraída por Lynsey, sua personagem em Passagem, que retorna do Afeganistão com uma lesão cerebral traumática, mas ainda anseia por retornar à guerra: “Obviamente, não sei dizer o que é arriscar minha vida pelo meu país, mas posso entender, lendo Passagem, por que me sinto tão tocada com alguém que sente que não pertence a lugar algum, a menos que seja um compromisso.”

Portanto, quem é Jennifer Lawrence, agora que terminou todos os seus compromissos de franquia e pode se mover de modo relativamente irrestrito? Ela me contou que, antes de ter aceitado participar de Jogos Vorazes e de ter tido de reestruturar radicalmente seu futuro, imaginava uma vida em que trabalharia muito e teria uma família, mas não seria famosa a tal ponto que não conseguisse viver normalmente. “E agora, em um círculo completo, estou tendo a vida que imaginei.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os frequentadores do Pieces, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, podem esperar bebidas fortes e shows de drags, mas não a visão de Jennifer Lawrence, a atriz mais famosa de sua geração, derrubando uma amiga no chão depois que esta perdeu um jogo muito importante de adivinhação de música. Ah, e a amiga é Adele.

Na verdade, Lawrence também não esperava que houvesse nada disso no Pieces. Foi em março de 2019, pouco depois que ela começara a namorar seu agora marido, o negociante de arte Cooke Maroney, e apenas alguns meses depois do projeto ainda em curso de Lawrence de tentar viver como um ser humano normal novamente. No auge de sua fama à frente da franquia Jogos Vorazes, qualquer noite em público exigiria seguranças, mas Maroney muitas vezes marcava encontros com Lawrence em bares, e ela não queria estragar esses lugares aparecendo com dois guarda-costas robustos.

Jennifer Lawrence está no filme 'Passagem', disponível na Apple TV + Foto: Robbie Lawrence/The New York Times

O que ela descobriu, para sua agradável surpresa, foi que o mundo permitiu que fosse recebida sem muita estranheza. Essa foi a lição que tentou transmitir a Adele quando a cantora britânica mandou uma mensagem para Lawrence sugerindo que fossem a um show, o tipo de lugar onde estariam limitadas a uma seção VIP longe das massas. Lawrence respondeu que já estava no Pieces, onde Adele deveria vir encontrá-la. Adele respondeu com uma pergunta: “Tem gente aí?” “Sim. Tem gente em todo lugar”, Lawrence respondeu. E esse era o ponto: estar em Nova York sem nunca se misturar com a multidão não era estar em Nova York. E fazer planos espontâneos para tomar alguma coisa em um lugar inesperado - bom, isso era ainda melhor.

Então Adele apareceu. E, claro, as duas foram reconhecidas, e, sim, as pessoas tiraram fotos com o celular, mas ninguém foi desagradável, a animação permaneceu, e Adele até participou de um jogo de bebida no palco (embora sua derrota tenha feito com que a competitiva Lawrence berrasse: “Como você perdeu?”, pulando na amiga e derrubando-a).

Foi uma noite fabulosa passada do outro lado da corda de veludo, o tipo de coisa boa para uma superestrela como Adele experimentar de vez em quando, e algo do qual Lawrence sabe que precisa para continuar sendo uma boa atriz. “Não sei como posso atuar quando me sinto isolada da interação humana normal”, explicou.

Novo filme

Sem essa percepção, é difícil imaginar Lawrence fazendo um filme como Passagem, na Apple TV+, drama íntimo e discreto em que interpreta uma engenheira militar ferida no Afeganistão que volta para casa em Nova Orleans para uma convalescença agitada. Passagem é o tipo de filme independente que a atriz de 32 anos não estrela desde Inverno da Alma, de 2010, e é um lembrete eficaz de que, quando toda a parafernália milionária de Hollywood está ausente, poucas pessoas conseguem estabelecer uma conexão tão poderosa com a câmera quanto Lawrence. “O limite entre sua vida interior e a câmera é bem determinado”, disse Lila Neugebauer, a diretora de Passagem.

Brian Tyree Henry e Jennifer Lawrence em cena de 'Passagem' Foto: Wilson Webb/Apple TV Plus

No início de outubro, quando me encontrou para um drinque em um bar no West Village, em Nova York, Lawrence me contou que alguns de seus agentes a tinham afastado de produções menores como Passagem, prevenindo-a de que o público não entenderia. “Descobri que muitos cineastas que eu realmente amava e admirava tinham roteiros que nem sequer chegavam a mim.”

Por fim, Lawrence percebeu que gente demais esteve envolvida em tomar as decisões que deveriam ter sido só dela, e em agosto de 2018, quando encerrou a refilmagem de algumas cenas de X-Men: Fênix Negra, deixou a CAA, a agência que a representara durante dez anos. “Eu me deixei ser sequestrada.”

Lawrence sempre teve o dom da franqueza: na tela, vai mostrar coisas - e fora da tela, dizer coisas - que outras atrizes, com a garantia da fama, tendem a manter guardadas. Talvez ela nunca tenha tido tempo de desenvolver uma casca protetora. Quando Inverno da Alma foi lançado, tinha apenas 19 anos; um ano depois, foi escalada para o papel de Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, e, apenas dois anos depois, ganhou um Oscar por sua atuação em O Lado Bom da Vida.

Numa época em que parece difícil encontrar novas estrelas de cinema, não é de admirar que Hollywood tenha se agarrado a Lawrence como a uma boia salva-vidas. Ainda assim, ela só conseguiria flutuar por algum tempo. Com seus 20 e poucos anos, quando terminou a franquia Jogos Vorazes e passou para filmes menos calorosamente recebidos, sentiu o desânimo de seus fãs: “Pensei: ‘Ah, não, vocês estão aqui porque estou aqui, e estou aqui porque vocês estão aqui. Espera! Quem decidiu que esse filme era bom?’”

Havia algum que a fizesse se sentir assim? “Passageiros, acho”, respondeu Lawrence, mencionando o romance de ficção científica de 2016 que estrelou com Chris Pratt. Depois de Passageiros, veio o ultra-angustiante Mãe!, de Darren Aronofsky, e depois o thriller de espionagem Operação Red Sparrow, provando que ela havia deixado para trás suas raízes de jovem adulta. E, embora essas produções tenham produzido um retorno cada vez menor, ela continuou estrelando os filmes de X-Men porque, claro, se você é uma estrela de cinema, deve fazer sequências de super-heróis. Parece ser parte do combinado.

Mas nada disso estava realmente dando certo, e Lawrence podia sentir uma reação se formando: ela havia ficado muito grande, e as pessoas estavam ansiosas para baixar sua bola. No fundo, talvez ela também quisesse isso. “Eu me sentia mais uma celebridade do que uma atriz, isolada da minha criatividade, da minha imaginação.”

Lawrence já passou mais da metade de sua vida na TV e nos filmes. “Jen faz isso desde a adolescência. Consegue encontrar sua marca de olhos vendados”, garantiu Neugebauer. Lawrence considera o set um porto seguro: “Se você tem de estar em determinado lugar todo dia, provavelmente nem vai perceber que está sofrendo de ansiedade e depressão até que acabe.” Talvez seja por isso que se sentiu tão atraída por Lynsey, sua personagem em Passagem, que retorna do Afeganistão com uma lesão cerebral traumática, mas ainda anseia por retornar à guerra: “Obviamente, não sei dizer o que é arriscar minha vida pelo meu país, mas posso entender, lendo Passagem, por que me sinto tão tocada com alguém que sente que não pertence a lugar algum, a menos que seja um compromisso.”

Portanto, quem é Jennifer Lawrence, agora que terminou todos os seus compromissos de franquia e pode se mover de modo relativamente irrestrito? Ela me contou que, antes de ter aceitado participar de Jogos Vorazes e de ter tido de reestruturar radicalmente seu futuro, imaginava uma vida em que trabalharia muito e teria uma família, mas não seria famosa a tal ponto que não conseguisse viver normalmente. “E agora, em um círculo completo, estou tendo a vida que imaginei.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os frequentadores do Pieces, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, podem esperar bebidas fortes e shows de drags, mas não a visão de Jennifer Lawrence, a atriz mais famosa de sua geração, derrubando uma amiga no chão depois que esta perdeu um jogo muito importante de adivinhação de música. Ah, e a amiga é Adele.

Na verdade, Lawrence também não esperava que houvesse nada disso no Pieces. Foi em março de 2019, pouco depois que ela começara a namorar seu agora marido, o negociante de arte Cooke Maroney, e apenas alguns meses depois do projeto ainda em curso de Lawrence de tentar viver como um ser humano normal novamente. No auge de sua fama à frente da franquia Jogos Vorazes, qualquer noite em público exigiria seguranças, mas Maroney muitas vezes marcava encontros com Lawrence em bares, e ela não queria estragar esses lugares aparecendo com dois guarda-costas robustos.

Jennifer Lawrence está no filme 'Passagem', disponível na Apple TV + Foto: Robbie Lawrence/The New York Times

O que ela descobriu, para sua agradável surpresa, foi que o mundo permitiu que fosse recebida sem muita estranheza. Essa foi a lição que tentou transmitir a Adele quando a cantora britânica mandou uma mensagem para Lawrence sugerindo que fossem a um show, o tipo de lugar onde estariam limitadas a uma seção VIP longe das massas. Lawrence respondeu que já estava no Pieces, onde Adele deveria vir encontrá-la. Adele respondeu com uma pergunta: “Tem gente aí?” “Sim. Tem gente em todo lugar”, Lawrence respondeu. E esse era o ponto: estar em Nova York sem nunca se misturar com a multidão não era estar em Nova York. E fazer planos espontâneos para tomar alguma coisa em um lugar inesperado - bom, isso era ainda melhor.

Então Adele apareceu. E, claro, as duas foram reconhecidas, e, sim, as pessoas tiraram fotos com o celular, mas ninguém foi desagradável, a animação permaneceu, e Adele até participou de um jogo de bebida no palco (embora sua derrota tenha feito com que a competitiva Lawrence berrasse: “Como você perdeu?”, pulando na amiga e derrubando-a).

Foi uma noite fabulosa passada do outro lado da corda de veludo, o tipo de coisa boa para uma superestrela como Adele experimentar de vez em quando, e algo do qual Lawrence sabe que precisa para continuar sendo uma boa atriz. “Não sei como posso atuar quando me sinto isolada da interação humana normal”, explicou.

Novo filme

Sem essa percepção, é difícil imaginar Lawrence fazendo um filme como Passagem, na Apple TV+, drama íntimo e discreto em que interpreta uma engenheira militar ferida no Afeganistão que volta para casa em Nova Orleans para uma convalescença agitada. Passagem é o tipo de filme independente que a atriz de 32 anos não estrela desde Inverno da Alma, de 2010, e é um lembrete eficaz de que, quando toda a parafernália milionária de Hollywood está ausente, poucas pessoas conseguem estabelecer uma conexão tão poderosa com a câmera quanto Lawrence. “O limite entre sua vida interior e a câmera é bem determinado”, disse Lila Neugebauer, a diretora de Passagem.

Brian Tyree Henry e Jennifer Lawrence em cena de 'Passagem' Foto: Wilson Webb/Apple TV Plus

No início de outubro, quando me encontrou para um drinque em um bar no West Village, em Nova York, Lawrence me contou que alguns de seus agentes a tinham afastado de produções menores como Passagem, prevenindo-a de que o público não entenderia. “Descobri que muitos cineastas que eu realmente amava e admirava tinham roteiros que nem sequer chegavam a mim.”

Por fim, Lawrence percebeu que gente demais esteve envolvida em tomar as decisões que deveriam ter sido só dela, e em agosto de 2018, quando encerrou a refilmagem de algumas cenas de X-Men: Fênix Negra, deixou a CAA, a agência que a representara durante dez anos. “Eu me deixei ser sequestrada.”

Lawrence sempre teve o dom da franqueza: na tela, vai mostrar coisas - e fora da tela, dizer coisas - que outras atrizes, com a garantia da fama, tendem a manter guardadas. Talvez ela nunca tenha tido tempo de desenvolver uma casca protetora. Quando Inverno da Alma foi lançado, tinha apenas 19 anos; um ano depois, foi escalada para o papel de Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, e, apenas dois anos depois, ganhou um Oscar por sua atuação em O Lado Bom da Vida.

Numa época em que parece difícil encontrar novas estrelas de cinema, não é de admirar que Hollywood tenha se agarrado a Lawrence como a uma boia salva-vidas. Ainda assim, ela só conseguiria flutuar por algum tempo. Com seus 20 e poucos anos, quando terminou a franquia Jogos Vorazes e passou para filmes menos calorosamente recebidos, sentiu o desânimo de seus fãs: “Pensei: ‘Ah, não, vocês estão aqui porque estou aqui, e estou aqui porque vocês estão aqui. Espera! Quem decidiu que esse filme era bom?’”

Havia algum que a fizesse se sentir assim? “Passageiros, acho”, respondeu Lawrence, mencionando o romance de ficção científica de 2016 que estrelou com Chris Pratt. Depois de Passageiros, veio o ultra-angustiante Mãe!, de Darren Aronofsky, e depois o thriller de espionagem Operação Red Sparrow, provando que ela havia deixado para trás suas raízes de jovem adulta. E, embora essas produções tenham produzido um retorno cada vez menor, ela continuou estrelando os filmes de X-Men porque, claro, se você é uma estrela de cinema, deve fazer sequências de super-heróis. Parece ser parte do combinado.

Mas nada disso estava realmente dando certo, e Lawrence podia sentir uma reação se formando: ela havia ficado muito grande, e as pessoas estavam ansiosas para baixar sua bola. No fundo, talvez ela também quisesse isso. “Eu me sentia mais uma celebridade do que uma atriz, isolada da minha criatividade, da minha imaginação.”

Lawrence já passou mais da metade de sua vida na TV e nos filmes. “Jen faz isso desde a adolescência. Consegue encontrar sua marca de olhos vendados”, garantiu Neugebauer. Lawrence considera o set um porto seguro: “Se você tem de estar em determinado lugar todo dia, provavelmente nem vai perceber que está sofrendo de ansiedade e depressão até que acabe.” Talvez seja por isso que se sentiu tão atraída por Lynsey, sua personagem em Passagem, que retorna do Afeganistão com uma lesão cerebral traumática, mas ainda anseia por retornar à guerra: “Obviamente, não sei dizer o que é arriscar minha vida pelo meu país, mas posso entender, lendo Passagem, por que me sinto tão tocada com alguém que sente que não pertence a lugar algum, a menos que seja um compromisso.”

Portanto, quem é Jennifer Lawrence, agora que terminou todos os seus compromissos de franquia e pode se mover de modo relativamente irrestrito? Ela me contou que, antes de ter aceitado participar de Jogos Vorazes e de ter tido de reestruturar radicalmente seu futuro, imaginava uma vida em que trabalharia muito e teria uma família, mas não seria famosa a tal ponto que não conseguisse viver normalmente. “E agora, em um círculo completo, estou tendo a vida que imaginei.”

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