Baterista com síndrome de Down mostra caminho para ‘um universo musical mais livre’


Miguel Tomasín chamou a atenção para visões artísticas de pessoas com deficiências de desenvolvimento, com sua banda lançando mais de 100 álbuns

Por Anatoly Kurmanaev

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A plateia em um show recente, extasiada, gritou quando o frontman da banda subiu ao palco e começou a definir a batida da bateria, levando sua banda a uma jornada improvisada através de gêneros que, uma hora depois, culminou com a audiência aplaudindo de pé.

Ao longo de uma carreira de 30 anos, Miguel Tomasín lançou mais de cem álbuns, transformou sua banda argentina em um dos grupos underground mais influentes da América do Sul e ajudou centenas de pessoas com deficiência a expressar sua voz por intermédio da música. Conseguiu isso, em parte, por causa de uma visão artística distinta que vem, segundo sua família, seus colegas músicos e amigos, do fato de ter nascido com síndrome de Down. Sua história, dizem eles, mostra como a arte consegue ajudar alguém a superar barreiras sociais e o que pode decorrer da dedicação para aperfeiçoar os talentos de uma pessoa, em vez do foco em suas limitações. “Fazemos música para agradar às pessoas. A música é a melhor coisa, é mágica”, afirmou Tomasín em sua casa na cidade de Rio Gallegos, no extremo sul do país.

Embora sua produção prolífica não tenha alcançado sucesso comercial, teve um impacto significativo na forma como as pessoas com deficiência são percebidas na Argentina e além. Também inspirou membros de sua banda, a Reynols, a estabelecer longas oficinas de música para essas pessoas. E outros músicos com quem trabalharam criaram mais bandas em que há membros com deficiência de desenvolvimento. “Graças a Miguel, muita gente que nunca tinha interagido com alguém com síndrome de Down pôde se conscientizar de seu mundo por intermédio da música”, comentou Patricio Conlazo, membro ocasional dos Reynols que, depois de tocar com Tomasín, iniciou projetos musicais para pessoas com deficiência no sul da Argentina.

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Em um recente show esgotado do Reynols em Buenos Aires, Miguel Tomasín (esquerda) cantou e tocou todos os instrumentos no palco para 600 fãs. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A abordagem não convencional da Reynols também inspirou músicos estabelecidos. “Ele fez com que eu me lembrasse de que você pode tocar música do jeito que quiser”, observou o japonês Mitsuru Tabata, músico experimental veterano que gravou com a Reynols.

Mas o som da banda também tem seus detratores. Um proeminente jornalista musical britânico, Ben Watson, chamou sua música de “barulho irritante” em seu livro Honesty Is Explosive!, de 2010, no qual sugeriu que a presença de Tomasín no grupo era uma jogada publicitária.

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Em seus primeiros anos, a Reynols lutou para encontrar gravadoras e locais interessados em seu som cheio de improvisação. A mudança se deu em 1998, quando inesperadamente se tornou a banda permanente em um programa do canal público argentino, o que a expôs a um novo público. Esse trabalho fez de Tomasín o primeiro argentino com síndrome de Down a ser contratado por uma emissora nacional. “Foi revolucionário, porque as pessoas com essas condições estavam basicamente longe da vista do público”, disse Claudio Canali, que ajudou a produzir o programa.

Tomasín tem 58 anos, embora, como muitos outros artistas, diminua sua idade, insistindo que tem 54. Usa frases curtas que são amplamente compreensíveis para um falante de espanhol, mas que às vezes exigem um parente que o acompanhe para colocá-las em contexto. Nasceu em Buenos Aires, o segundo de três filhos de pais de classe média. O pai era um capitão da marinha; a mãe, formada em artes plásticas, ficava em casa cuidando dos filhos. Na década de 1960, a maioria das famílias argentinas enviava crianças com síndrome de Down para internatos especiais, que na prática eram pouco mais do que asilos, de acordo com sua irmã mais nova, Jorgelina. Depois de visitar vários deles, os pais decidiram criar Tomasín em casa.

Os membros do Reynols, da esquerda; Alan Courtis, Patricio Conlazo, Sr. Tomasín e Roberto Conlazo em seu camarim antes de um show em Buenos Aires. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times
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Ele começou a mostrar interesse pelos sons quando criança, batendo em panelas de cozinha e brincando com um piano da família, o que levou seus avós a lhe dar uma bateria de brinquedo. Quando voltava da escola, ia direto para seu quarto e tocava as três fitas cassete que possuía do começo ao fim, fazendo de Julio Iglesias e Palito Ortega uma presença inescapável na casa durante anos, segundo sua irmã mais nova.

No início da década de 1990, a família começou a se separar à medida que seus irmãos cresciam e saíam de casa, o que fez Tomasín, então um jovem adulto, sentir-se isolado. Para preencher o vazio, seus pais decidiram matriculá-lo em uma escola de música, mas tiveram dificuldade para encontrar uma que o aceitasse.

Um dia, em 1993, tentaram um lugar modesto que encontraram em seu bairro de Buenos Aires, a Escola de Formação Integral de Músicos, que era administrada por jovens roqueiros de vanguarda que davam aulas para subsidiar seu espaço de ensaio. Roberto Conlazo, que dirigia a escola com seu irmão Patricio, lembra-se de que Tomasín disse em sua introdução, apesar de nunca ter tocado uma bateria profissional: “Oi, sou Miguel, grande baterista famoso.”

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A escola se tornou um lar artístico inesperado para Tomasín. Em um país que permanece profundamente dividido pelo legado de uma ditadura militar e de uma insurgência marxista, era raro uma família militar se associar a artistas boêmios, muito menos confiar seu filho a eles. Mas a família de Tomasín e os artistas acabaram se tornando amigos para a vida inteira, um exemplo precoce de como sua falta de preconceitos sociais influenciou outras pessoas a reconsiderar crenças antigas.

A partir da esquerda, Patricio Conlazo Sr. Tomasín e Roberto Conlazo durante um ensaio. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A espontaneidade e a segurança de Tomasín o tornaram um improvisador natural, exemplo ideal do objetivo da escola de criar música sem ideias preconcebidas. “Estávamos procurando o universo musical mais livre possível. Miguel se tornou o despertador do lado adormecido de nosso cérebro”, resumiu Alan Courtis, que lecionava na escola.

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Roberto Conlazo e Courtis estavam tocando em uma banda que acabaria se tornando a Reynols, nome vagamente inspirado em Burt Reynolds. Depois de dar algumas aulas de bateria a Tomasín, decidiram incluí-lo na formação. Sua colaboração, no entanto, teve um início incerto. Durante um de seus primeiros shows, em 1994, uma multidão de alunos do ensino médio tomou conta da pista em frente ao palco, e Courtis e Roberto Conlazo borrifaram desodorante no rosto do público, dedilharam as cordas da guitarra com pinças e emitiram um ruído tenebroso nos velhos alto-falantes.

Quando o pai de Tomasín, Jorge, aproximou-se da banda depois do show, os integrantes acharam que nunca mais veriam Miguel; estavam certos de que seu pai desaprovara tudo. Mas, segundo Roberto Conlazo, ele só comentou: “Rapazes, não entendi muito o que vocês tocaram, mas vi o Miguel muito feliz. Por isso, vão em frente.”

Essas palavras permitiram as três décadas de criatividade que se seguiram, com cerca de 120 álbuns produzidos, turnês americanas e europeias e colaborações com alguns dos músicos experimentais mais respeitados do mundo. A banda divide por igual os lucros de shows e vendas de música, o que faz de Tomasín um dos poucos músicos profissionais com síndrome de Down no mundo.

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A Reynols chamou a atenção nacional pela primeira vez com o programa da tarde na TV. Um apresentador popular, o dr. Mario Socolinsky, havia entrevistado os integrantes em seu programa diurno, Buen Día Salud, no qual dava dicas de saúde. Impressionado com a adaptação de Tomasín, ele a convidou para ser a banda fixa do programa, dando à Reynols o trabalho improvável de tocar para um público careta cinco vezes por semana durante um ano.

O senhor Tomasín com seu irmão, Juan Mario Tomasín, e um cachorro da vizinhança nas margens do Rio Gallegos. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

O passo seguinte se deu em 2001, quando Courtis e Roberto Conlazo fizeram a primeira turnê da banda nos Estados Unidos. Embora Tomasín tenha decidido não participar da turnê, esta apresentou seu trabalho à rede global de música underground, que apoiou a carreira subsequente do grupo.

Nos anos seguintes, o foco da banda na improvisação impulsionou sua extraordinária produção de álbuns. Como cada jam session com Tomasín poderia resultar em um som diferente, a banda lançou dezenas delas em álbuns de pequenas gravadoras, com tiragens de algumas centenas de cópias.

Depois de ver a performance de Tomasín na TV, famílias de toda a Argentina começaram a entrar em contato com a banda, pedindo a ela que ensinasse música a seus filhos com deficiência. Isso levou Courtis, Roberto e Patricio Conlazo a criar um coletivo, chamado Sol Mayor, que reunia pessoas com várias deficiências físicas e de desenvolvimento para tocar.

Em um show recente da Reynols em Buenos Aires, Tomasín cantou e tocou todos os instrumentos no palco para uma plateia de 600 pessoas.

No início deste ano, mudou-se de Buenos Aires para Río Gallegos para morar com seu irmão.

Seus colegas de banda dizem que seu maior dom é ajudar as pessoas a se tornar uma versão melhor de si mesmas sem que percebam sua influência. “Ele ensina sem ensinar, simplesmente aproveitando a vida”, observou Roberto Conlazo.

O próximo plano de Tomasín é fazer um show em sua nova cidade, trazendo seus companheiros de Buenos Aires, a mais de 2.500 quilômetros de distância: “Quero que venham à minha escola para podermos tocar juntos.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A plateia em um show recente, extasiada, gritou quando o frontman da banda subiu ao palco e começou a definir a batida da bateria, levando sua banda a uma jornada improvisada através de gêneros que, uma hora depois, culminou com a audiência aplaudindo de pé.

Ao longo de uma carreira de 30 anos, Miguel Tomasín lançou mais de cem álbuns, transformou sua banda argentina em um dos grupos underground mais influentes da América do Sul e ajudou centenas de pessoas com deficiência a expressar sua voz por intermédio da música. Conseguiu isso, em parte, por causa de uma visão artística distinta que vem, segundo sua família, seus colegas músicos e amigos, do fato de ter nascido com síndrome de Down. Sua história, dizem eles, mostra como a arte consegue ajudar alguém a superar barreiras sociais e o que pode decorrer da dedicação para aperfeiçoar os talentos de uma pessoa, em vez do foco em suas limitações. “Fazemos música para agradar às pessoas. A música é a melhor coisa, é mágica”, afirmou Tomasín em sua casa na cidade de Rio Gallegos, no extremo sul do país.

Embora sua produção prolífica não tenha alcançado sucesso comercial, teve um impacto significativo na forma como as pessoas com deficiência são percebidas na Argentina e além. Também inspirou membros de sua banda, a Reynols, a estabelecer longas oficinas de música para essas pessoas. E outros músicos com quem trabalharam criaram mais bandas em que há membros com deficiência de desenvolvimento. “Graças a Miguel, muita gente que nunca tinha interagido com alguém com síndrome de Down pôde se conscientizar de seu mundo por intermédio da música”, comentou Patricio Conlazo, membro ocasional dos Reynols que, depois de tocar com Tomasín, iniciou projetos musicais para pessoas com deficiência no sul da Argentina.

Em um recente show esgotado do Reynols em Buenos Aires, Miguel Tomasín (esquerda) cantou e tocou todos os instrumentos no palco para 600 fãs. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A abordagem não convencional da Reynols também inspirou músicos estabelecidos. “Ele fez com que eu me lembrasse de que você pode tocar música do jeito que quiser”, observou o japonês Mitsuru Tabata, músico experimental veterano que gravou com a Reynols.

Mas o som da banda também tem seus detratores. Um proeminente jornalista musical britânico, Ben Watson, chamou sua música de “barulho irritante” em seu livro Honesty Is Explosive!, de 2010, no qual sugeriu que a presença de Tomasín no grupo era uma jogada publicitária.

Em seus primeiros anos, a Reynols lutou para encontrar gravadoras e locais interessados em seu som cheio de improvisação. A mudança se deu em 1998, quando inesperadamente se tornou a banda permanente em um programa do canal público argentino, o que a expôs a um novo público. Esse trabalho fez de Tomasín o primeiro argentino com síndrome de Down a ser contratado por uma emissora nacional. “Foi revolucionário, porque as pessoas com essas condições estavam basicamente longe da vista do público”, disse Claudio Canali, que ajudou a produzir o programa.

Tomasín tem 58 anos, embora, como muitos outros artistas, diminua sua idade, insistindo que tem 54. Usa frases curtas que são amplamente compreensíveis para um falante de espanhol, mas que às vezes exigem um parente que o acompanhe para colocá-las em contexto. Nasceu em Buenos Aires, o segundo de três filhos de pais de classe média. O pai era um capitão da marinha; a mãe, formada em artes plásticas, ficava em casa cuidando dos filhos. Na década de 1960, a maioria das famílias argentinas enviava crianças com síndrome de Down para internatos especiais, que na prática eram pouco mais do que asilos, de acordo com sua irmã mais nova, Jorgelina. Depois de visitar vários deles, os pais decidiram criar Tomasín em casa.

Os membros do Reynols, da esquerda; Alan Courtis, Patricio Conlazo, Sr. Tomasín e Roberto Conlazo em seu camarim antes de um show em Buenos Aires. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

Ele começou a mostrar interesse pelos sons quando criança, batendo em panelas de cozinha e brincando com um piano da família, o que levou seus avós a lhe dar uma bateria de brinquedo. Quando voltava da escola, ia direto para seu quarto e tocava as três fitas cassete que possuía do começo ao fim, fazendo de Julio Iglesias e Palito Ortega uma presença inescapável na casa durante anos, segundo sua irmã mais nova.

No início da década de 1990, a família começou a se separar à medida que seus irmãos cresciam e saíam de casa, o que fez Tomasín, então um jovem adulto, sentir-se isolado. Para preencher o vazio, seus pais decidiram matriculá-lo em uma escola de música, mas tiveram dificuldade para encontrar uma que o aceitasse.

Um dia, em 1993, tentaram um lugar modesto que encontraram em seu bairro de Buenos Aires, a Escola de Formação Integral de Músicos, que era administrada por jovens roqueiros de vanguarda que davam aulas para subsidiar seu espaço de ensaio. Roberto Conlazo, que dirigia a escola com seu irmão Patricio, lembra-se de que Tomasín disse em sua introdução, apesar de nunca ter tocado uma bateria profissional: “Oi, sou Miguel, grande baterista famoso.”

A escola se tornou um lar artístico inesperado para Tomasín. Em um país que permanece profundamente dividido pelo legado de uma ditadura militar e de uma insurgência marxista, era raro uma família militar se associar a artistas boêmios, muito menos confiar seu filho a eles. Mas a família de Tomasín e os artistas acabaram se tornando amigos para a vida inteira, um exemplo precoce de como sua falta de preconceitos sociais influenciou outras pessoas a reconsiderar crenças antigas.

A partir da esquerda, Patricio Conlazo Sr. Tomasín e Roberto Conlazo durante um ensaio. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A espontaneidade e a segurança de Tomasín o tornaram um improvisador natural, exemplo ideal do objetivo da escola de criar música sem ideias preconcebidas. “Estávamos procurando o universo musical mais livre possível. Miguel se tornou o despertador do lado adormecido de nosso cérebro”, resumiu Alan Courtis, que lecionava na escola.

Roberto Conlazo e Courtis estavam tocando em uma banda que acabaria se tornando a Reynols, nome vagamente inspirado em Burt Reynolds. Depois de dar algumas aulas de bateria a Tomasín, decidiram incluí-lo na formação. Sua colaboração, no entanto, teve um início incerto. Durante um de seus primeiros shows, em 1994, uma multidão de alunos do ensino médio tomou conta da pista em frente ao palco, e Courtis e Roberto Conlazo borrifaram desodorante no rosto do público, dedilharam as cordas da guitarra com pinças e emitiram um ruído tenebroso nos velhos alto-falantes.

Quando o pai de Tomasín, Jorge, aproximou-se da banda depois do show, os integrantes acharam que nunca mais veriam Miguel; estavam certos de que seu pai desaprovara tudo. Mas, segundo Roberto Conlazo, ele só comentou: “Rapazes, não entendi muito o que vocês tocaram, mas vi o Miguel muito feliz. Por isso, vão em frente.”

Essas palavras permitiram as três décadas de criatividade que se seguiram, com cerca de 120 álbuns produzidos, turnês americanas e europeias e colaborações com alguns dos músicos experimentais mais respeitados do mundo. A banda divide por igual os lucros de shows e vendas de música, o que faz de Tomasín um dos poucos músicos profissionais com síndrome de Down no mundo.

A Reynols chamou a atenção nacional pela primeira vez com o programa da tarde na TV. Um apresentador popular, o dr. Mario Socolinsky, havia entrevistado os integrantes em seu programa diurno, Buen Día Salud, no qual dava dicas de saúde. Impressionado com a adaptação de Tomasín, ele a convidou para ser a banda fixa do programa, dando à Reynols o trabalho improvável de tocar para um público careta cinco vezes por semana durante um ano.

O senhor Tomasín com seu irmão, Juan Mario Tomasín, e um cachorro da vizinhança nas margens do Rio Gallegos. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

O passo seguinte se deu em 2001, quando Courtis e Roberto Conlazo fizeram a primeira turnê da banda nos Estados Unidos. Embora Tomasín tenha decidido não participar da turnê, esta apresentou seu trabalho à rede global de música underground, que apoiou a carreira subsequente do grupo.

Nos anos seguintes, o foco da banda na improvisação impulsionou sua extraordinária produção de álbuns. Como cada jam session com Tomasín poderia resultar em um som diferente, a banda lançou dezenas delas em álbuns de pequenas gravadoras, com tiragens de algumas centenas de cópias.

Depois de ver a performance de Tomasín na TV, famílias de toda a Argentina começaram a entrar em contato com a banda, pedindo a ela que ensinasse música a seus filhos com deficiência. Isso levou Courtis, Roberto e Patricio Conlazo a criar um coletivo, chamado Sol Mayor, que reunia pessoas com várias deficiências físicas e de desenvolvimento para tocar.

Em um show recente da Reynols em Buenos Aires, Tomasín cantou e tocou todos os instrumentos no palco para uma plateia de 600 pessoas.

No início deste ano, mudou-se de Buenos Aires para Río Gallegos para morar com seu irmão.

Seus colegas de banda dizem que seu maior dom é ajudar as pessoas a se tornar uma versão melhor de si mesmas sem que percebam sua influência. “Ele ensina sem ensinar, simplesmente aproveitando a vida”, observou Roberto Conlazo.

O próximo plano de Tomasín é fazer um show em sua nova cidade, trazendo seus companheiros de Buenos Aires, a mais de 2.500 quilômetros de distância: “Quero que venham à minha escola para podermos tocar juntos.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A plateia em um show recente, extasiada, gritou quando o frontman da banda subiu ao palco e começou a definir a batida da bateria, levando sua banda a uma jornada improvisada através de gêneros que, uma hora depois, culminou com a audiência aplaudindo de pé.

Ao longo de uma carreira de 30 anos, Miguel Tomasín lançou mais de cem álbuns, transformou sua banda argentina em um dos grupos underground mais influentes da América do Sul e ajudou centenas de pessoas com deficiência a expressar sua voz por intermédio da música. Conseguiu isso, em parte, por causa de uma visão artística distinta que vem, segundo sua família, seus colegas músicos e amigos, do fato de ter nascido com síndrome de Down. Sua história, dizem eles, mostra como a arte consegue ajudar alguém a superar barreiras sociais e o que pode decorrer da dedicação para aperfeiçoar os talentos de uma pessoa, em vez do foco em suas limitações. “Fazemos música para agradar às pessoas. A música é a melhor coisa, é mágica”, afirmou Tomasín em sua casa na cidade de Rio Gallegos, no extremo sul do país.

Embora sua produção prolífica não tenha alcançado sucesso comercial, teve um impacto significativo na forma como as pessoas com deficiência são percebidas na Argentina e além. Também inspirou membros de sua banda, a Reynols, a estabelecer longas oficinas de música para essas pessoas. E outros músicos com quem trabalharam criaram mais bandas em que há membros com deficiência de desenvolvimento. “Graças a Miguel, muita gente que nunca tinha interagido com alguém com síndrome de Down pôde se conscientizar de seu mundo por intermédio da música”, comentou Patricio Conlazo, membro ocasional dos Reynols que, depois de tocar com Tomasín, iniciou projetos musicais para pessoas com deficiência no sul da Argentina.

Em um recente show esgotado do Reynols em Buenos Aires, Miguel Tomasín (esquerda) cantou e tocou todos os instrumentos no palco para 600 fãs. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A abordagem não convencional da Reynols também inspirou músicos estabelecidos. “Ele fez com que eu me lembrasse de que você pode tocar música do jeito que quiser”, observou o japonês Mitsuru Tabata, músico experimental veterano que gravou com a Reynols.

Mas o som da banda também tem seus detratores. Um proeminente jornalista musical britânico, Ben Watson, chamou sua música de “barulho irritante” em seu livro Honesty Is Explosive!, de 2010, no qual sugeriu que a presença de Tomasín no grupo era uma jogada publicitária.

Em seus primeiros anos, a Reynols lutou para encontrar gravadoras e locais interessados em seu som cheio de improvisação. A mudança se deu em 1998, quando inesperadamente se tornou a banda permanente em um programa do canal público argentino, o que a expôs a um novo público. Esse trabalho fez de Tomasín o primeiro argentino com síndrome de Down a ser contratado por uma emissora nacional. “Foi revolucionário, porque as pessoas com essas condições estavam basicamente longe da vista do público”, disse Claudio Canali, que ajudou a produzir o programa.

Tomasín tem 58 anos, embora, como muitos outros artistas, diminua sua idade, insistindo que tem 54. Usa frases curtas que são amplamente compreensíveis para um falante de espanhol, mas que às vezes exigem um parente que o acompanhe para colocá-las em contexto. Nasceu em Buenos Aires, o segundo de três filhos de pais de classe média. O pai era um capitão da marinha; a mãe, formada em artes plásticas, ficava em casa cuidando dos filhos. Na década de 1960, a maioria das famílias argentinas enviava crianças com síndrome de Down para internatos especiais, que na prática eram pouco mais do que asilos, de acordo com sua irmã mais nova, Jorgelina. Depois de visitar vários deles, os pais decidiram criar Tomasín em casa.

Os membros do Reynols, da esquerda; Alan Courtis, Patricio Conlazo, Sr. Tomasín e Roberto Conlazo em seu camarim antes de um show em Buenos Aires. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

Ele começou a mostrar interesse pelos sons quando criança, batendo em panelas de cozinha e brincando com um piano da família, o que levou seus avós a lhe dar uma bateria de brinquedo. Quando voltava da escola, ia direto para seu quarto e tocava as três fitas cassete que possuía do começo ao fim, fazendo de Julio Iglesias e Palito Ortega uma presença inescapável na casa durante anos, segundo sua irmã mais nova.

No início da década de 1990, a família começou a se separar à medida que seus irmãos cresciam e saíam de casa, o que fez Tomasín, então um jovem adulto, sentir-se isolado. Para preencher o vazio, seus pais decidiram matriculá-lo em uma escola de música, mas tiveram dificuldade para encontrar uma que o aceitasse.

Um dia, em 1993, tentaram um lugar modesto que encontraram em seu bairro de Buenos Aires, a Escola de Formação Integral de Músicos, que era administrada por jovens roqueiros de vanguarda que davam aulas para subsidiar seu espaço de ensaio. Roberto Conlazo, que dirigia a escola com seu irmão Patricio, lembra-se de que Tomasín disse em sua introdução, apesar de nunca ter tocado uma bateria profissional: “Oi, sou Miguel, grande baterista famoso.”

A escola se tornou um lar artístico inesperado para Tomasín. Em um país que permanece profundamente dividido pelo legado de uma ditadura militar e de uma insurgência marxista, era raro uma família militar se associar a artistas boêmios, muito menos confiar seu filho a eles. Mas a família de Tomasín e os artistas acabaram se tornando amigos para a vida inteira, um exemplo precoce de como sua falta de preconceitos sociais influenciou outras pessoas a reconsiderar crenças antigas.

A partir da esquerda, Patricio Conlazo Sr. Tomasín e Roberto Conlazo durante um ensaio. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A espontaneidade e a segurança de Tomasín o tornaram um improvisador natural, exemplo ideal do objetivo da escola de criar música sem ideias preconcebidas. “Estávamos procurando o universo musical mais livre possível. Miguel se tornou o despertador do lado adormecido de nosso cérebro”, resumiu Alan Courtis, que lecionava na escola.

Roberto Conlazo e Courtis estavam tocando em uma banda que acabaria se tornando a Reynols, nome vagamente inspirado em Burt Reynolds. Depois de dar algumas aulas de bateria a Tomasín, decidiram incluí-lo na formação. Sua colaboração, no entanto, teve um início incerto. Durante um de seus primeiros shows, em 1994, uma multidão de alunos do ensino médio tomou conta da pista em frente ao palco, e Courtis e Roberto Conlazo borrifaram desodorante no rosto do público, dedilharam as cordas da guitarra com pinças e emitiram um ruído tenebroso nos velhos alto-falantes.

Quando o pai de Tomasín, Jorge, aproximou-se da banda depois do show, os integrantes acharam que nunca mais veriam Miguel; estavam certos de que seu pai desaprovara tudo. Mas, segundo Roberto Conlazo, ele só comentou: “Rapazes, não entendi muito o que vocês tocaram, mas vi o Miguel muito feliz. Por isso, vão em frente.”

Essas palavras permitiram as três décadas de criatividade que se seguiram, com cerca de 120 álbuns produzidos, turnês americanas e europeias e colaborações com alguns dos músicos experimentais mais respeitados do mundo. A banda divide por igual os lucros de shows e vendas de música, o que faz de Tomasín um dos poucos músicos profissionais com síndrome de Down no mundo.

A Reynols chamou a atenção nacional pela primeira vez com o programa da tarde na TV. Um apresentador popular, o dr. Mario Socolinsky, havia entrevistado os integrantes em seu programa diurno, Buen Día Salud, no qual dava dicas de saúde. Impressionado com a adaptação de Tomasín, ele a convidou para ser a banda fixa do programa, dando à Reynols o trabalho improvável de tocar para um público careta cinco vezes por semana durante um ano.

O senhor Tomasín com seu irmão, Juan Mario Tomasín, e um cachorro da vizinhança nas margens do Rio Gallegos. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

O passo seguinte se deu em 2001, quando Courtis e Roberto Conlazo fizeram a primeira turnê da banda nos Estados Unidos. Embora Tomasín tenha decidido não participar da turnê, esta apresentou seu trabalho à rede global de música underground, que apoiou a carreira subsequente do grupo.

Nos anos seguintes, o foco da banda na improvisação impulsionou sua extraordinária produção de álbuns. Como cada jam session com Tomasín poderia resultar em um som diferente, a banda lançou dezenas delas em álbuns de pequenas gravadoras, com tiragens de algumas centenas de cópias.

Depois de ver a performance de Tomasín na TV, famílias de toda a Argentina começaram a entrar em contato com a banda, pedindo a ela que ensinasse música a seus filhos com deficiência. Isso levou Courtis, Roberto e Patricio Conlazo a criar um coletivo, chamado Sol Mayor, que reunia pessoas com várias deficiências físicas e de desenvolvimento para tocar.

Em um show recente da Reynols em Buenos Aires, Tomasín cantou e tocou todos os instrumentos no palco para uma plateia de 600 pessoas.

No início deste ano, mudou-se de Buenos Aires para Río Gallegos para morar com seu irmão.

Seus colegas de banda dizem que seu maior dom é ajudar as pessoas a se tornar uma versão melhor de si mesmas sem que percebam sua influência. “Ele ensina sem ensinar, simplesmente aproveitando a vida”, observou Roberto Conlazo.

O próximo plano de Tomasín é fazer um show em sua nova cidade, trazendo seus companheiros de Buenos Aires, a mais de 2.500 quilômetros de distância: “Quero que venham à minha escola para podermos tocar juntos.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A plateia em um show recente, extasiada, gritou quando o frontman da banda subiu ao palco e começou a definir a batida da bateria, levando sua banda a uma jornada improvisada através de gêneros que, uma hora depois, culminou com a audiência aplaudindo de pé.

Ao longo de uma carreira de 30 anos, Miguel Tomasín lançou mais de cem álbuns, transformou sua banda argentina em um dos grupos underground mais influentes da América do Sul e ajudou centenas de pessoas com deficiência a expressar sua voz por intermédio da música. Conseguiu isso, em parte, por causa de uma visão artística distinta que vem, segundo sua família, seus colegas músicos e amigos, do fato de ter nascido com síndrome de Down. Sua história, dizem eles, mostra como a arte consegue ajudar alguém a superar barreiras sociais e o que pode decorrer da dedicação para aperfeiçoar os talentos de uma pessoa, em vez do foco em suas limitações. “Fazemos música para agradar às pessoas. A música é a melhor coisa, é mágica”, afirmou Tomasín em sua casa na cidade de Rio Gallegos, no extremo sul do país.

Embora sua produção prolífica não tenha alcançado sucesso comercial, teve um impacto significativo na forma como as pessoas com deficiência são percebidas na Argentina e além. Também inspirou membros de sua banda, a Reynols, a estabelecer longas oficinas de música para essas pessoas. E outros músicos com quem trabalharam criaram mais bandas em que há membros com deficiência de desenvolvimento. “Graças a Miguel, muita gente que nunca tinha interagido com alguém com síndrome de Down pôde se conscientizar de seu mundo por intermédio da música”, comentou Patricio Conlazo, membro ocasional dos Reynols que, depois de tocar com Tomasín, iniciou projetos musicais para pessoas com deficiência no sul da Argentina.

Em um recente show esgotado do Reynols em Buenos Aires, Miguel Tomasín (esquerda) cantou e tocou todos os instrumentos no palco para 600 fãs. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A abordagem não convencional da Reynols também inspirou músicos estabelecidos. “Ele fez com que eu me lembrasse de que você pode tocar música do jeito que quiser”, observou o japonês Mitsuru Tabata, músico experimental veterano que gravou com a Reynols.

Mas o som da banda também tem seus detratores. Um proeminente jornalista musical britânico, Ben Watson, chamou sua música de “barulho irritante” em seu livro Honesty Is Explosive!, de 2010, no qual sugeriu que a presença de Tomasín no grupo era uma jogada publicitária.

Em seus primeiros anos, a Reynols lutou para encontrar gravadoras e locais interessados em seu som cheio de improvisação. A mudança se deu em 1998, quando inesperadamente se tornou a banda permanente em um programa do canal público argentino, o que a expôs a um novo público. Esse trabalho fez de Tomasín o primeiro argentino com síndrome de Down a ser contratado por uma emissora nacional. “Foi revolucionário, porque as pessoas com essas condições estavam basicamente longe da vista do público”, disse Claudio Canali, que ajudou a produzir o programa.

Tomasín tem 58 anos, embora, como muitos outros artistas, diminua sua idade, insistindo que tem 54. Usa frases curtas que são amplamente compreensíveis para um falante de espanhol, mas que às vezes exigem um parente que o acompanhe para colocá-las em contexto. Nasceu em Buenos Aires, o segundo de três filhos de pais de classe média. O pai era um capitão da marinha; a mãe, formada em artes plásticas, ficava em casa cuidando dos filhos. Na década de 1960, a maioria das famílias argentinas enviava crianças com síndrome de Down para internatos especiais, que na prática eram pouco mais do que asilos, de acordo com sua irmã mais nova, Jorgelina. Depois de visitar vários deles, os pais decidiram criar Tomasín em casa.

Os membros do Reynols, da esquerda; Alan Courtis, Patricio Conlazo, Sr. Tomasín e Roberto Conlazo em seu camarim antes de um show em Buenos Aires. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

Ele começou a mostrar interesse pelos sons quando criança, batendo em panelas de cozinha e brincando com um piano da família, o que levou seus avós a lhe dar uma bateria de brinquedo. Quando voltava da escola, ia direto para seu quarto e tocava as três fitas cassete que possuía do começo ao fim, fazendo de Julio Iglesias e Palito Ortega uma presença inescapável na casa durante anos, segundo sua irmã mais nova.

No início da década de 1990, a família começou a se separar à medida que seus irmãos cresciam e saíam de casa, o que fez Tomasín, então um jovem adulto, sentir-se isolado. Para preencher o vazio, seus pais decidiram matriculá-lo em uma escola de música, mas tiveram dificuldade para encontrar uma que o aceitasse.

Um dia, em 1993, tentaram um lugar modesto que encontraram em seu bairro de Buenos Aires, a Escola de Formação Integral de Músicos, que era administrada por jovens roqueiros de vanguarda que davam aulas para subsidiar seu espaço de ensaio. Roberto Conlazo, que dirigia a escola com seu irmão Patricio, lembra-se de que Tomasín disse em sua introdução, apesar de nunca ter tocado uma bateria profissional: “Oi, sou Miguel, grande baterista famoso.”

A escola se tornou um lar artístico inesperado para Tomasín. Em um país que permanece profundamente dividido pelo legado de uma ditadura militar e de uma insurgência marxista, era raro uma família militar se associar a artistas boêmios, muito menos confiar seu filho a eles. Mas a família de Tomasín e os artistas acabaram se tornando amigos para a vida inteira, um exemplo precoce de como sua falta de preconceitos sociais influenciou outras pessoas a reconsiderar crenças antigas.

A partir da esquerda, Patricio Conlazo Sr. Tomasín e Roberto Conlazo durante um ensaio. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

A espontaneidade e a segurança de Tomasín o tornaram um improvisador natural, exemplo ideal do objetivo da escola de criar música sem ideias preconcebidas. “Estávamos procurando o universo musical mais livre possível. Miguel se tornou o despertador do lado adormecido de nosso cérebro”, resumiu Alan Courtis, que lecionava na escola.

Roberto Conlazo e Courtis estavam tocando em uma banda que acabaria se tornando a Reynols, nome vagamente inspirado em Burt Reynolds. Depois de dar algumas aulas de bateria a Tomasín, decidiram incluí-lo na formação. Sua colaboração, no entanto, teve um início incerto. Durante um de seus primeiros shows, em 1994, uma multidão de alunos do ensino médio tomou conta da pista em frente ao palco, e Courtis e Roberto Conlazo borrifaram desodorante no rosto do público, dedilharam as cordas da guitarra com pinças e emitiram um ruído tenebroso nos velhos alto-falantes.

Quando o pai de Tomasín, Jorge, aproximou-se da banda depois do show, os integrantes acharam que nunca mais veriam Miguel; estavam certos de que seu pai desaprovara tudo. Mas, segundo Roberto Conlazo, ele só comentou: “Rapazes, não entendi muito o que vocês tocaram, mas vi o Miguel muito feliz. Por isso, vão em frente.”

Essas palavras permitiram as três décadas de criatividade que se seguiram, com cerca de 120 álbuns produzidos, turnês americanas e europeias e colaborações com alguns dos músicos experimentais mais respeitados do mundo. A banda divide por igual os lucros de shows e vendas de música, o que faz de Tomasín um dos poucos músicos profissionais com síndrome de Down no mundo.

A Reynols chamou a atenção nacional pela primeira vez com o programa da tarde na TV. Um apresentador popular, o dr. Mario Socolinsky, havia entrevistado os integrantes em seu programa diurno, Buen Día Salud, no qual dava dicas de saúde. Impressionado com a adaptação de Tomasín, ele a convidou para ser a banda fixa do programa, dando à Reynols o trabalho improvável de tocar para um público careta cinco vezes por semana durante um ano.

O senhor Tomasín com seu irmão, Juan Mario Tomasín, e um cachorro da vizinhança nas margens do Rio Gallegos. Foto: Anita Pouchard Serra/The New York Times

O passo seguinte se deu em 2001, quando Courtis e Roberto Conlazo fizeram a primeira turnê da banda nos Estados Unidos. Embora Tomasín tenha decidido não participar da turnê, esta apresentou seu trabalho à rede global de música underground, que apoiou a carreira subsequente do grupo.

Nos anos seguintes, o foco da banda na improvisação impulsionou sua extraordinária produção de álbuns. Como cada jam session com Tomasín poderia resultar em um som diferente, a banda lançou dezenas delas em álbuns de pequenas gravadoras, com tiragens de algumas centenas de cópias.

Depois de ver a performance de Tomasín na TV, famílias de toda a Argentina começaram a entrar em contato com a banda, pedindo a ela que ensinasse música a seus filhos com deficiência. Isso levou Courtis, Roberto e Patricio Conlazo a criar um coletivo, chamado Sol Mayor, que reunia pessoas com várias deficiências físicas e de desenvolvimento para tocar.

Em um show recente da Reynols em Buenos Aires, Tomasín cantou e tocou todos os instrumentos no palco para uma plateia de 600 pessoas.

No início deste ano, mudou-se de Buenos Aires para Río Gallegos para morar com seu irmão.

Seus colegas de banda dizem que seu maior dom é ajudar as pessoas a se tornar uma versão melhor de si mesmas sem que percebam sua influência. “Ele ensina sem ensinar, simplesmente aproveitando a vida”, observou Roberto Conlazo.

O próximo plano de Tomasín é fazer um show em sua nova cidade, trazendo seus companheiros de Buenos Aires, a mais de 2.500 quilômetros de distância: “Quero que venham à minha escola para podermos tocar juntos.”

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