Bem-vindo a uma aldeia com mais livrarias do que alunos na escola


Urueña, no noroeste da Espanha, lutou contra o despovoamento reinventando-se como um centro literário; a população em tempo integral ainda é de apenas 100, mas há 11 lojas que vendem livros

Por Raphael Minder

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE -URUEÑA, ESPANHA - Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña tem vista para uma vasta e ventosa paisagem de campos de girassóis e cevadas, bem como uma famosa vinícola. As paredes de algumas lojas são construídas diretamente nas muralhas do século XII da vila.

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Apesar de sua beleza acidentada, Urueña, como muitas aldeias no interior da Espanha, tem lutado nas últimas décadas com uma população envelhecida e cada vez menor que a deixou estagnada em apenas 100 residentes em tempo integral. Não há açougueiro nem padeiro; ambos se aposentaram nos últimos meses. A escola local tem apenas nove alunos.

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Mas na última década, um negócio tem prosperado em Urueña: livros. Há 11 lojas que vendem livros, incluindo nove dedicadas livrarias.

“Nasci em uma aldeia que não tinha livraria e onde as pessoas certamente se preocupavam muito mais com a agricultura de suas terras e seus animais do que com livros”, disse Francisco Rodríguez, 53, o prefeito de Urueña. “Essa mudança é um pouco estranha, mas é motivo de orgulho para um lugar minúsculo ter se tornado um centro cultural, o que agora certamente também nos torna diferentes e especiais comparados às outras aldeias ao nosso redor.”

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades provinciais investiram cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 milhões, para ajudar a restaurar e converter prédios da aldeia em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. Elas ofereceram uma taxa simbólica de aluguel de 10 euros por mês para pessoas interessadas em administrar uma livraria.

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O plano era manter Urueña viva com turismo de livros, modelando-a a partir de outros centros literários rurais em toda a Europa - notadamente, Montmorillon na França e Hay-on-Wye na Grã-Bretanha. Hay há muito hospeda um dos festivais literários mais famosos do continente.

A livraria Páramo em Urueña, Espanha, que vende uma série de livros em segunda mão. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa, alimentando uma rede de cerca de 3.000 livrarias independentes - e o dobro desse número se forem consideradas as papelarias e outros lugares que vendem livros. Mas cerca de 40% das livrarias têm menos de 90 mil euros de receita anual, o que equivale a operar “um negócio de subsistência”, segundo Álvaro Manso, porta-voz da CEGAL, associação que representa as livrarias independentes da Espanha.

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“A tendência é que o tamanho importe e mais livrarias pequenas vão desaparecer”, como aconteceu em outros países onde os setores do livro se consolidaram, disse Manso. Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha destinou este mês 9 milhões de euros em subsídios para o setor de livros se modernizar e digitalizar.

A sobrevivência dessa enorme rede nacional de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitores não são particularmente altos, é “um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que estamos vivendo uma espécie de bolha do livro”, disse Victor López- Bachiller, dono de uma livraria em Urueña.

Como o aluguel é baixo, disse López-Bachiller, ele pode se sustentar financeiramente vendendo uma série de livros de segunda mão, desde clássicos em espanhol, como Pedro Páramo - que dá nome à sua loja - até quadrinhos como Tintim. Sua loja também exibe cerca de 50 modelos de máquinas de escrever antigas que dizem ter sido usadas por escritores como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith.

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López-Bachiller, 47, está entre os cerca de 100 moradores da vila, a maioria aposentados.

Tamara Crespo, jornalista, e seu marido, Fidel Raso, fotógrafo, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes do esforço para transformar a região em um centro literário. Eles também administram uma livraria lá agora.

“Sinto que estar aqui não é apenas querer ter uma livraria sem pagar aluguel, mas também abraçar um certo modo de vida e construir uma comunidade”, disse Crespo, cuja loja se concentra em fotojornalismo.

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Uma de suas poucas queixas é que alguns outros donos de livrarias abrem apenas esporadicamente, principalmente nos finais de semana, quando sabem que haverá mais visitantes, embora o projeto de investimento preveja que suas lojas devam abrir pelo menos quatro dias por semana.

Ela também observou que a população da aldeia continuou a cair ligeiramente nas últimas duas décadas, mesmo quando Urueña se tornou um ímã para os amantes de livros.

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que se tornar um destino turístico não era garantia de que mais moradores em tempo integral se mudariam e manteriam a vila viva. As recentes aposentadorias dos lojistas foram mais uma prova disso.

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Víctor López-Bachiller em sua livraria, Páramo, in Urueña. Ele está entre aqueles que vivem no vilarejo, que tem cerca de apenas 100 residentes em tempo integral.  Foto: Samuel Aranda/The New York Times

“É muito triste, mas simplesmente não conseguimos encontrar ninguém da geração mais jovem aqui disposto a assumir o posto de nosso novo açougueiro”, ele disse.

O pão da manhã e a carne são agora entregues de uma cidade vizinha.

A demografia desfavorável da Espanha rural - um fenômeno agora conhecido como “La España vacía”, ou “Espanha vazia” - apresentará um desafio contínuo de sobrevivência, previu o prefeito.

No entanto, a iniciativa da livraria deu frutos.

Urueña foi selecionada para os subsídios por causa de sua localização cênica e edifícios pitorescos - e por causa de sua localização relativamente fácil de alcançar. Fica perto de uma rodovia no noroeste da Espanha e a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a cerca de 48 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

O escritório de turismo de Urueña registrou 19.000 visitantes em 2021, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. Autoridades dizem que o número real foi muito maior porque muitos turistas não param no escritório. A aldeia também recebe cerca de 70.000 euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, peças de teatro e conferências. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE -URUEÑA, ESPANHA - Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña tem vista para uma vasta e ventosa paisagem de campos de girassóis e cevadas, bem como uma famosa vinícola. As paredes de algumas lojas são construídas diretamente nas muralhas do século XII da vila.

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Apesar de sua beleza acidentada, Urueña, como muitas aldeias no interior da Espanha, tem lutado nas últimas décadas com uma população envelhecida e cada vez menor que a deixou estagnada em apenas 100 residentes em tempo integral. Não há açougueiro nem padeiro; ambos se aposentaram nos últimos meses. A escola local tem apenas nove alunos.

Mas na última década, um negócio tem prosperado em Urueña: livros. Há 11 lojas que vendem livros, incluindo nove dedicadas livrarias.

“Nasci em uma aldeia que não tinha livraria e onde as pessoas certamente se preocupavam muito mais com a agricultura de suas terras e seus animais do que com livros”, disse Francisco Rodríguez, 53, o prefeito de Urueña. “Essa mudança é um pouco estranha, mas é motivo de orgulho para um lugar minúsculo ter se tornado um centro cultural, o que agora certamente também nos torna diferentes e especiais comparados às outras aldeias ao nosso redor.”

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades provinciais investiram cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 milhões, para ajudar a restaurar e converter prédios da aldeia em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. Elas ofereceram uma taxa simbólica de aluguel de 10 euros por mês para pessoas interessadas em administrar uma livraria.

O plano era manter Urueña viva com turismo de livros, modelando-a a partir de outros centros literários rurais em toda a Europa - notadamente, Montmorillon na França e Hay-on-Wye na Grã-Bretanha. Hay há muito hospeda um dos festivais literários mais famosos do continente.

A livraria Páramo em Urueña, Espanha, que vende uma série de livros em segunda mão. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa, alimentando uma rede de cerca de 3.000 livrarias independentes - e o dobro desse número se forem consideradas as papelarias e outros lugares que vendem livros. Mas cerca de 40% das livrarias têm menos de 90 mil euros de receita anual, o que equivale a operar “um negócio de subsistência”, segundo Álvaro Manso, porta-voz da CEGAL, associação que representa as livrarias independentes da Espanha.

“A tendência é que o tamanho importe e mais livrarias pequenas vão desaparecer”, como aconteceu em outros países onde os setores do livro se consolidaram, disse Manso. Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha destinou este mês 9 milhões de euros em subsídios para o setor de livros se modernizar e digitalizar.

A sobrevivência dessa enorme rede nacional de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitores não são particularmente altos, é “um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que estamos vivendo uma espécie de bolha do livro”, disse Victor López- Bachiller, dono de uma livraria em Urueña.

Como o aluguel é baixo, disse López-Bachiller, ele pode se sustentar financeiramente vendendo uma série de livros de segunda mão, desde clássicos em espanhol, como Pedro Páramo - que dá nome à sua loja - até quadrinhos como Tintim. Sua loja também exibe cerca de 50 modelos de máquinas de escrever antigas que dizem ter sido usadas por escritores como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith.

López-Bachiller, 47, está entre os cerca de 100 moradores da vila, a maioria aposentados.

Tamara Crespo, jornalista, e seu marido, Fidel Raso, fotógrafo, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes do esforço para transformar a região em um centro literário. Eles também administram uma livraria lá agora.

“Sinto que estar aqui não é apenas querer ter uma livraria sem pagar aluguel, mas também abraçar um certo modo de vida e construir uma comunidade”, disse Crespo, cuja loja se concentra em fotojornalismo.

Uma de suas poucas queixas é que alguns outros donos de livrarias abrem apenas esporadicamente, principalmente nos finais de semana, quando sabem que haverá mais visitantes, embora o projeto de investimento preveja que suas lojas devam abrir pelo menos quatro dias por semana.

Ela também observou que a população da aldeia continuou a cair ligeiramente nas últimas duas décadas, mesmo quando Urueña se tornou um ímã para os amantes de livros.

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que se tornar um destino turístico não era garantia de que mais moradores em tempo integral se mudariam e manteriam a vila viva. As recentes aposentadorias dos lojistas foram mais uma prova disso.

Víctor López-Bachiller em sua livraria, Páramo, in Urueña. Ele está entre aqueles que vivem no vilarejo, que tem cerca de apenas 100 residentes em tempo integral.  Foto: Samuel Aranda/The New York Times

“É muito triste, mas simplesmente não conseguimos encontrar ninguém da geração mais jovem aqui disposto a assumir o posto de nosso novo açougueiro”, ele disse.

O pão da manhã e a carne são agora entregues de uma cidade vizinha.

A demografia desfavorável da Espanha rural - um fenômeno agora conhecido como “La España vacía”, ou “Espanha vazia” - apresentará um desafio contínuo de sobrevivência, previu o prefeito.

No entanto, a iniciativa da livraria deu frutos.

Urueña foi selecionada para os subsídios por causa de sua localização cênica e edifícios pitorescos - e por causa de sua localização relativamente fácil de alcançar. Fica perto de uma rodovia no noroeste da Espanha e a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a cerca de 48 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

O escritório de turismo de Urueña registrou 19.000 visitantes em 2021, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. Autoridades dizem que o número real foi muito maior porque muitos turistas não param no escritório. A aldeia também recebe cerca de 70.000 euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, peças de teatro e conferências. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE -URUEÑA, ESPANHA - Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña tem vista para uma vasta e ventosa paisagem de campos de girassóis e cevadas, bem como uma famosa vinícola. As paredes de algumas lojas são construídas diretamente nas muralhas do século XII da vila.

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Apesar de sua beleza acidentada, Urueña, como muitas aldeias no interior da Espanha, tem lutado nas últimas décadas com uma população envelhecida e cada vez menor que a deixou estagnada em apenas 100 residentes em tempo integral. Não há açougueiro nem padeiro; ambos se aposentaram nos últimos meses. A escola local tem apenas nove alunos.

Mas na última década, um negócio tem prosperado em Urueña: livros. Há 11 lojas que vendem livros, incluindo nove dedicadas livrarias.

“Nasci em uma aldeia que não tinha livraria e onde as pessoas certamente se preocupavam muito mais com a agricultura de suas terras e seus animais do que com livros”, disse Francisco Rodríguez, 53, o prefeito de Urueña. “Essa mudança é um pouco estranha, mas é motivo de orgulho para um lugar minúsculo ter se tornado um centro cultural, o que agora certamente também nos torna diferentes e especiais comparados às outras aldeias ao nosso redor.”

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades provinciais investiram cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 milhões, para ajudar a restaurar e converter prédios da aldeia em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. Elas ofereceram uma taxa simbólica de aluguel de 10 euros por mês para pessoas interessadas em administrar uma livraria.

O plano era manter Urueña viva com turismo de livros, modelando-a a partir de outros centros literários rurais em toda a Europa - notadamente, Montmorillon na França e Hay-on-Wye na Grã-Bretanha. Hay há muito hospeda um dos festivais literários mais famosos do continente.

A livraria Páramo em Urueña, Espanha, que vende uma série de livros em segunda mão. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa, alimentando uma rede de cerca de 3.000 livrarias independentes - e o dobro desse número se forem consideradas as papelarias e outros lugares que vendem livros. Mas cerca de 40% das livrarias têm menos de 90 mil euros de receita anual, o que equivale a operar “um negócio de subsistência”, segundo Álvaro Manso, porta-voz da CEGAL, associação que representa as livrarias independentes da Espanha.

“A tendência é que o tamanho importe e mais livrarias pequenas vão desaparecer”, como aconteceu em outros países onde os setores do livro se consolidaram, disse Manso. Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha destinou este mês 9 milhões de euros em subsídios para o setor de livros se modernizar e digitalizar.

A sobrevivência dessa enorme rede nacional de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitores não são particularmente altos, é “um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que estamos vivendo uma espécie de bolha do livro”, disse Victor López- Bachiller, dono de uma livraria em Urueña.

Como o aluguel é baixo, disse López-Bachiller, ele pode se sustentar financeiramente vendendo uma série de livros de segunda mão, desde clássicos em espanhol, como Pedro Páramo - que dá nome à sua loja - até quadrinhos como Tintim. Sua loja também exibe cerca de 50 modelos de máquinas de escrever antigas que dizem ter sido usadas por escritores como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith.

López-Bachiller, 47, está entre os cerca de 100 moradores da vila, a maioria aposentados.

Tamara Crespo, jornalista, e seu marido, Fidel Raso, fotógrafo, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes do esforço para transformar a região em um centro literário. Eles também administram uma livraria lá agora.

“Sinto que estar aqui não é apenas querer ter uma livraria sem pagar aluguel, mas também abraçar um certo modo de vida e construir uma comunidade”, disse Crespo, cuja loja se concentra em fotojornalismo.

Uma de suas poucas queixas é que alguns outros donos de livrarias abrem apenas esporadicamente, principalmente nos finais de semana, quando sabem que haverá mais visitantes, embora o projeto de investimento preveja que suas lojas devam abrir pelo menos quatro dias por semana.

Ela também observou que a população da aldeia continuou a cair ligeiramente nas últimas duas décadas, mesmo quando Urueña se tornou um ímã para os amantes de livros.

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que se tornar um destino turístico não era garantia de que mais moradores em tempo integral se mudariam e manteriam a vila viva. As recentes aposentadorias dos lojistas foram mais uma prova disso.

Víctor López-Bachiller em sua livraria, Páramo, in Urueña. Ele está entre aqueles que vivem no vilarejo, que tem cerca de apenas 100 residentes em tempo integral.  Foto: Samuel Aranda/The New York Times

“É muito triste, mas simplesmente não conseguimos encontrar ninguém da geração mais jovem aqui disposto a assumir o posto de nosso novo açougueiro”, ele disse.

O pão da manhã e a carne são agora entregues de uma cidade vizinha.

A demografia desfavorável da Espanha rural - um fenômeno agora conhecido como “La España vacía”, ou “Espanha vazia” - apresentará um desafio contínuo de sobrevivência, previu o prefeito.

No entanto, a iniciativa da livraria deu frutos.

Urueña foi selecionada para os subsídios por causa de sua localização cênica e edifícios pitorescos - e por causa de sua localização relativamente fácil de alcançar. Fica perto de uma rodovia no noroeste da Espanha e a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a cerca de 48 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

O escritório de turismo de Urueña registrou 19.000 visitantes em 2021, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. Autoridades dizem que o número real foi muito maior porque muitos turistas não param no escritório. A aldeia também recebe cerca de 70.000 euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, peças de teatro e conferências. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE -URUEÑA, ESPANHA - Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña tem vista para uma vasta e ventosa paisagem de campos de girassóis e cevadas, bem como uma famosa vinícola. As paredes de algumas lojas são construídas diretamente nas muralhas do século XII da vila.

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Apesar de sua beleza acidentada, Urueña, como muitas aldeias no interior da Espanha, tem lutado nas últimas décadas com uma população envelhecida e cada vez menor que a deixou estagnada em apenas 100 residentes em tempo integral. Não há açougueiro nem padeiro; ambos se aposentaram nos últimos meses. A escola local tem apenas nove alunos.

Mas na última década, um negócio tem prosperado em Urueña: livros. Há 11 lojas que vendem livros, incluindo nove dedicadas livrarias.

“Nasci em uma aldeia que não tinha livraria e onde as pessoas certamente se preocupavam muito mais com a agricultura de suas terras e seus animais do que com livros”, disse Francisco Rodríguez, 53, o prefeito de Urueña. “Essa mudança é um pouco estranha, mas é motivo de orgulho para um lugar minúsculo ter se tornado um centro cultural, o que agora certamente também nos torna diferentes e especiais comparados às outras aldeias ao nosso redor.”

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades provinciais investiram cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 milhões, para ajudar a restaurar e converter prédios da aldeia em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. Elas ofereceram uma taxa simbólica de aluguel de 10 euros por mês para pessoas interessadas em administrar uma livraria.

O plano era manter Urueña viva com turismo de livros, modelando-a a partir de outros centros literários rurais em toda a Europa - notadamente, Montmorillon na França e Hay-on-Wye na Grã-Bretanha. Hay há muito hospeda um dos festivais literários mais famosos do continente.

A livraria Páramo em Urueña, Espanha, que vende uma série de livros em segunda mão. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa, alimentando uma rede de cerca de 3.000 livrarias independentes - e o dobro desse número se forem consideradas as papelarias e outros lugares que vendem livros. Mas cerca de 40% das livrarias têm menos de 90 mil euros de receita anual, o que equivale a operar “um negócio de subsistência”, segundo Álvaro Manso, porta-voz da CEGAL, associação que representa as livrarias independentes da Espanha.

“A tendência é que o tamanho importe e mais livrarias pequenas vão desaparecer”, como aconteceu em outros países onde os setores do livro se consolidaram, disse Manso. Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha destinou este mês 9 milhões de euros em subsídios para o setor de livros se modernizar e digitalizar.

A sobrevivência dessa enorme rede nacional de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitores não são particularmente altos, é “um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que estamos vivendo uma espécie de bolha do livro”, disse Victor López- Bachiller, dono de uma livraria em Urueña.

Como o aluguel é baixo, disse López-Bachiller, ele pode se sustentar financeiramente vendendo uma série de livros de segunda mão, desde clássicos em espanhol, como Pedro Páramo - que dá nome à sua loja - até quadrinhos como Tintim. Sua loja também exibe cerca de 50 modelos de máquinas de escrever antigas que dizem ter sido usadas por escritores como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith.

López-Bachiller, 47, está entre os cerca de 100 moradores da vila, a maioria aposentados.

Tamara Crespo, jornalista, e seu marido, Fidel Raso, fotógrafo, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes do esforço para transformar a região em um centro literário. Eles também administram uma livraria lá agora.

“Sinto que estar aqui não é apenas querer ter uma livraria sem pagar aluguel, mas também abraçar um certo modo de vida e construir uma comunidade”, disse Crespo, cuja loja se concentra em fotojornalismo.

Uma de suas poucas queixas é que alguns outros donos de livrarias abrem apenas esporadicamente, principalmente nos finais de semana, quando sabem que haverá mais visitantes, embora o projeto de investimento preveja que suas lojas devam abrir pelo menos quatro dias por semana.

Ela também observou que a população da aldeia continuou a cair ligeiramente nas últimas duas décadas, mesmo quando Urueña se tornou um ímã para os amantes de livros.

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que se tornar um destino turístico não era garantia de que mais moradores em tempo integral se mudariam e manteriam a vila viva. As recentes aposentadorias dos lojistas foram mais uma prova disso.

Víctor López-Bachiller em sua livraria, Páramo, in Urueña. Ele está entre aqueles que vivem no vilarejo, que tem cerca de apenas 100 residentes em tempo integral.  Foto: Samuel Aranda/The New York Times

“É muito triste, mas simplesmente não conseguimos encontrar ninguém da geração mais jovem aqui disposto a assumir o posto de nosso novo açougueiro”, ele disse.

O pão da manhã e a carne são agora entregues de uma cidade vizinha.

A demografia desfavorável da Espanha rural - um fenômeno agora conhecido como “La España vacía”, ou “Espanha vazia” - apresentará um desafio contínuo de sobrevivência, previu o prefeito.

No entanto, a iniciativa da livraria deu frutos.

Urueña foi selecionada para os subsídios por causa de sua localização cênica e edifícios pitorescos - e por causa de sua localização relativamente fácil de alcançar. Fica perto de uma rodovia no noroeste da Espanha e a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a cerca de 48 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

O escritório de turismo de Urueña registrou 19.000 visitantes em 2021, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. Autoridades dizem que o número real foi muito maior porque muitos turistas não param no escritório. A aldeia também recebe cerca de 70.000 euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, peças de teatro e conferências. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE -URUEÑA, ESPANHA - Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña tem vista para uma vasta e ventosa paisagem de campos de girassóis e cevadas, bem como uma famosa vinícola. As paredes de algumas lojas são construídas diretamente nas muralhas do século XII da vila.

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Apesar de sua beleza acidentada, Urueña, como muitas aldeias no interior da Espanha, tem lutado nas últimas décadas com uma população envelhecida e cada vez menor que a deixou estagnada em apenas 100 residentes em tempo integral. Não há açougueiro nem padeiro; ambos se aposentaram nos últimos meses. A escola local tem apenas nove alunos.

Mas na última década, um negócio tem prosperado em Urueña: livros. Há 11 lojas que vendem livros, incluindo nove dedicadas livrarias.

“Nasci em uma aldeia que não tinha livraria e onde as pessoas certamente se preocupavam muito mais com a agricultura de suas terras e seus animais do que com livros”, disse Francisco Rodríguez, 53, o prefeito de Urueña. “Essa mudança é um pouco estranha, mas é motivo de orgulho para um lugar minúsculo ter se tornado um centro cultural, o que agora certamente também nos torna diferentes e especiais comparados às outras aldeias ao nosso redor.”

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades provinciais investiram cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,3 milhões, para ajudar a restaurar e converter prédios da aldeia em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. Elas ofereceram uma taxa simbólica de aluguel de 10 euros por mês para pessoas interessadas em administrar uma livraria.

O plano era manter Urueña viva com turismo de livros, modelando-a a partir de outros centros literários rurais em toda a Europa - notadamente, Montmorillon na França e Hay-on-Wye na Grã-Bretanha. Hay há muito hospeda um dos festivais literários mais famosos do continente.

A livraria Páramo em Urueña, Espanha, que vende uma série de livros em segunda mão. Foto: Samuel Aranda/The New York Times

A Espanha tem um dos maiores mercados de publicação de livros da Europa, alimentando uma rede de cerca de 3.000 livrarias independentes - e o dobro desse número se forem consideradas as papelarias e outros lugares que vendem livros. Mas cerca de 40% das livrarias têm menos de 90 mil euros de receita anual, o que equivale a operar “um negócio de subsistência”, segundo Álvaro Manso, porta-voz da CEGAL, associação que representa as livrarias independentes da Espanha.

“A tendência é que o tamanho importe e mais livrarias pequenas vão desaparecer”, como aconteceu em outros países onde os setores do livro se consolidaram, disse Manso. Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha destinou este mês 9 milhões de euros em subsídios para o setor de livros se modernizar e digitalizar.

A sobrevivência dessa enorme rede nacional de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitores não são particularmente altos, é “um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que estamos vivendo uma espécie de bolha do livro”, disse Victor López- Bachiller, dono de uma livraria em Urueña.

Como o aluguel é baixo, disse López-Bachiller, ele pode se sustentar financeiramente vendendo uma série de livros de segunda mão, desde clássicos em espanhol, como Pedro Páramo - que dá nome à sua loja - até quadrinhos como Tintim. Sua loja também exibe cerca de 50 modelos de máquinas de escrever antigas que dizem ter sido usadas por escritores como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith.

López-Bachiller, 47, está entre os cerca de 100 moradores da vila, a maioria aposentados.

Tamara Crespo, jornalista, e seu marido, Fidel Raso, fotógrafo, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes do esforço para transformar a região em um centro literário. Eles também administram uma livraria lá agora.

“Sinto que estar aqui não é apenas querer ter uma livraria sem pagar aluguel, mas também abraçar um certo modo de vida e construir uma comunidade”, disse Crespo, cuja loja se concentra em fotojornalismo.

Uma de suas poucas queixas é que alguns outros donos de livrarias abrem apenas esporadicamente, principalmente nos finais de semana, quando sabem que haverá mais visitantes, embora o projeto de investimento preveja que suas lojas devam abrir pelo menos quatro dias por semana.

Ela também observou que a população da aldeia continuou a cair ligeiramente nas últimas duas décadas, mesmo quando Urueña se tornou um ímã para os amantes de livros.

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que se tornar um destino turístico não era garantia de que mais moradores em tempo integral se mudariam e manteriam a vila viva. As recentes aposentadorias dos lojistas foram mais uma prova disso.

Víctor López-Bachiller em sua livraria, Páramo, in Urueña. Ele está entre aqueles que vivem no vilarejo, que tem cerca de apenas 100 residentes em tempo integral.  Foto: Samuel Aranda/The New York Times

“É muito triste, mas simplesmente não conseguimos encontrar ninguém da geração mais jovem aqui disposto a assumir o posto de nosso novo açougueiro”, ele disse.

O pão da manhã e a carne são agora entregues de uma cidade vizinha.

A demografia desfavorável da Espanha rural - um fenômeno agora conhecido como “La España vacía”, ou “Espanha vazia” - apresentará um desafio contínuo de sobrevivência, previu o prefeito.

No entanto, a iniciativa da livraria deu frutos.

Urueña foi selecionada para os subsídios por causa de sua localização cênica e edifícios pitorescos - e por causa de sua localização relativamente fácil de alcançar. Fica perto de uma rodovia no noroeste da Espanha e a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a cerca de 48 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

O escritório de turismo de Urueña registrou 19.000 visitantes em 2021, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. Autoridades dizem que o número real foi muito maior porque muitos turistas não param no escritório. A aldeia também recebe cerca de 70.000 euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, peças de teatro e conferências. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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