THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que o K-pop ampliava suas ambições globais no final dos anos 2000 e início dos anos 2010, também aumentava seu apetite, tornando-se a cena de música pop mais faminta do planeta. Ele se banqueteou especialmente com o pop americano, o hip-hop, o R&B e a dance music, alquimizando tudo em uma fantasia maximalista, criando uma estética de excessos absurdos que se tornou, por um tempo, a abordagem mais progressiva e popular do mundo.
Conjuntos como o grupo feminino 2NE1 da YG Entertainment prosperaram nesse ambiente (junto com o Big Bang, a boy band de seus compatriotas) e ajudaram a preparar o cenário para a conquista mundial do gênero. Aqui havia uma música - em grande parte idealizada pelo produtor Teddy Park - que era curiosa, caótica e arrogante. Outras cenas pop pareciam se desmaterializar na sua esteira.
O Blackpink, grupo feminino da YG da geração posterior que estreou em 2016, parecia pronto para carregar essa tocha com o sucesso inicial de singles como Whistle, Ddu-Du Ddu-Du e How You Like That. Mas na época de seu primeiro lançamento completo, The Album, em 2020, a música do grupo se tornou de alguma forma mais bombástica e mais frágil do que a de seus antecessores, e o projeto estava mostrando suas costuras.
Born Pink, o segundo álbum completo do Blackpink, é em teoria uma oportunidade para a inovação, tanto para o grupo quanto para o próprio gênero. E encontra o Blackpink - Jennie, Jisoo, Lisa, Rosé - em uma encruzilhada: se deve continuar sua colisão sônica de alta energia; se deve abraçar totalmente o mercado de língua inglesa; se deve desmantelar sua própria casa.
O primeiro single, Pink Venom, é o clássico Blackpink - o que quer dizer, um pandemônio costurado de forma tão apertada que atinge sua própria lógica interna, cafeinada e fatigante ao mesmo tempo. O canto de Jisoo está tão rico e austero como sempre, e o rap de Jennie é flexível e pontuado por pequenas filigranas inteligentes.
Quatro das músicas são totalmente em inglês, incluindo Hard to Love, interpretada na íntegra por Rosé. (O Blackpink é muito mais eficaz nesse idioma do que, digamos, o BTS.) E também há palavrões - não é algo novo para o grupo, mas ainda é um gesto ousado.
A produção densa permanece central para a missão e o posicionamento do grupo, especialmente nas músicas em que Park trabalhou. E ao longo do álbum, há camadas sonoras intensas, com G-funk, samples de cordas de música clássica e referências que estão tão enterradas que podem nem estar lá. Still Tippin em Typa Girl? Mighty D-Block (2 Guns Up) em Pink Venom? My Baby Takes the Morning Train em Yeah Yeah Yeah? Quem pode afirmar?
A miscelânea do Blackpink, ou do 2NE1 antes dele, foi pelo menos em parte uma reação a uma onda anterior de grupos femininos que ajudaram a estabelecer as ambições e a escala do K-pop, mas cujos flertes com influências ocidentais eram mais superficiais.
No mês passado, um dos grupos cruciais daquela época, o Girls’ Generation, lançou um novo álbum, Forever 1, 15 anos após sua estreia. Mais de uma década atrás, o Girls’ Generation foi um dos primeiros, se não o primeiro, grupo de K-pop a lançar um álbum em uma grande gravadora americana. Mas suas ambições não são tão persistentes quanto as do Blackpink.
Forever 1 é um regresso refrescante para um momento menos agitado do gênero. A produção é amplamente melíflua e brilhante, e o canto é doce e descomplicado. É a evocação de uma época em que o K-pop ainda estava estabelecendo sua própria gramática, antes de consumir vorazmente a de todos os outros. Há leves lampejos de hip-hop e new jack swing, como em Seventeen e You Better Run.
Mas, no geral, isso é música classicista - o puro brilho do piano em Closer, o leve sashay em Summer Night. A música surge não como uma destruidora do mundo, mas como uma pausa e um sonho.
Por mais atraente que Forever 1 seja, não parece algo deste momento, como se fosse uma lembrança redescoberta. Isso fica especialmente claro quando o álbum é contextualizado não apenas ao lado do Blackpink, mas também da intrigante onda de grupos femininos que chegaram na esteira desse grupo, identificando os contornos de seu sucesso e construindo a partir deles.
Entre esses grupos, o Aespa tem sido o mais vital nos últimos anos, e seu recente EP, Girls, é um dos lançamentos de K-pop mais impressionantes do ano precisamente por causa de seu domínio duplo do intrincado e do elegante. Isso aparece em sua parte final: Black Mamba, uma batida de guerreiro que canaliza o pop extravagante do início dos anos 2000, a balada retrô Forever e depois Dreams Come True, que parece um aceno para as primeiras aproximações do K-pop com R&B.
Por outro lado, o Itzy se destaca por sua peculiaridade resoluta. Seu recente EP Checkmate continua o caos barulhento do grupo, com vocais intensamente alertas e radiantes, e uma produção que parece estar borbulhando em tempo real. 365 lembra música industrial ou de clube de vanguarda, e Racer soa como música de parque temático da Disney passando por uma fábrica de glitter.
Finalmente, e talvez o mais promissor, o NewJeans acaba de lançar um estelar EP de estreia autointitulado que é muito bom e equilibrado. A produção é sensual e contida, e o canto é brilhante e calmo.
Na superfície, o NewJeans remonta a um momento mais calmo, pré-2NE1 do K-pop. Mas suas referências submersas são profundamente modernas, especialmente o desvio para a música dos clubes de Nova Jersey em Cookie. No entanto, o NewJeans usa seus pontos de referência contemporâneos a serviço de uma ideia retrô. Ou talvez mais pontualmente, tenha aprendido todas as lições que o mundo tem a oferecer e as está trazendo de volta para casa. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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