No filme O Chamado da Floresta de 1935, Buck era um corpulento cão São Bernardo dividindo a tela com Clark Gable. Em 1972, ele foi interpretado por um estoico Pastor Alemão e, em 1997, por um imenso Leonberger.
Em 2020, Buck é interpretado por um ex-artista de 51 anos do Cirque du Soleil chamado Terry, que foi transformado digitalmente em uma mistura de Collie com São Bernardo. Ele anda como um cachorro, late como um cachorro, mas – como muitos espectadores perceberão, em poucos segundos – não é um cachorro de verdade.
O novo Buck consegue fazer coisas que os Buck do passado não conseguiam. Consegue lamber um floco de neve do nariz com um timing cômico. Consegue olhar com desaprovação quando seu companheiro humano, interpretado por Harrison Ford, bebe demais. “É por isso que usamos personagens geradas por computador”, disse Ryan Stafford, produtor de efeitos visuais da 20th Century Studios em O Chamado da Floresta, agora em lançamento mundial. Você pode fazer “o que quer que a cena exija”.
Mas alguns descobriram que o cão distrai a audiência de um jeito indesejado: as pessoas reclamaram online, querendo que o estúdio seguisse um caminho diferente. O filme teve críticas favoráveis e boa bilheteria.
O reboot de Buck é o mais recente exemplo da substituição de animais treinados por criaturas geradas por computador, uma abordagem cara e meticulosa que abre inúmeras oportunidades de pós-produção e contorna as preocupações éticas sobre o tratamento de animais que trabalham nos sets de filmagem.
Em julho, os cineastas por trás de O Chamado da Floresta acompanharam de perto o lançamento de outro filme repleto de animais gerados por computador. Embora O Rei Leão tenha arrecadado quase US$ 1,7 bilhão nas bilheterias, alguns disseram que os animais não tinham emoção. A Moving Picture Company fez os efeitos especiais tanto de O Chamado da Floresta quanto de O Rei Leão.
A tecnologia vem sendo usada desde a década de 1990, quando Steven Spielberg se interessou pela técnica durante a produção de Jurassic Park. A cada um dos três filmes da série Planeta dos Macacos, desde 2011, os macacos foram se tornando mais realistas, graças a melhorias tecnológicas, disse Chris White, da Weta Digital, empresa de efeitos da Nova Zelândia.
Ainda assim, os especialistas reconhecem que os espectadores têm com os cães uma relação diferente daquela que poderiam ter com ursos, macacos ou porcos. As apostas emocionais são maiores.
Lori Boyle, que recentemente treinou os animais de Togo, filme da Disney sobre cães de trenó, disse que um dos cães que interpretava o husky protagonista estava muito feliz no trabalho, em que sua recompensa favorita era uma corrida rápida. Essa alegria e determinação se traduziram na tela, disse Boyle. “É uma coisa difícil de se fazer com um animal gerado por computador”, explicou. “Não tem personalidade ali”.
As pessoas por trás O Chamado da Floresta se esforçaram para garantir que tem, sim. Buck foi projetado para parecer ora medroso e envergonhado, ora curioso e protetor. “Ficamos tão apegados a ele”, afirmou Stafford, “que falamos que gostaríamos que ele fosse nosso cachorro de casa”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU