DETROIT — Poucas marcas americanas alcançaram a estatura da Cadillac, que já foi sinônimo de excelência e status. E poucas marcas tiveram uma decadência tão vertiginosa. A Cadillac ganhou destaque há um século — o destino definitivo conforme os donos de carros prosperavam e trocavam seus modelos Chevrolet, Oldsmobile e Buick.
Mas, já nos anos 1970, a montadora enfrentava problemas de qualidade e não conseguiu se manter como sinônimo de luxo, cuja definição passou de carrões com rabo de peixe para sedãs alemães de alta performance. A Cadillac passou a ser conhecida como a “montadora do vovô". Seu desempenho global atual é bem inferior ao de marcas como Mercedes-Benz, BMW e Audi.
Faz mais de duas décadas que a General Motors tenta restaurar a posição da Cadillac no topo do mundo automotivo, com pouco sucesso. Mas a iniciativa de reforma da imagem não foi acompanhada por novos modelos capazes de chamar a atenção. E a Cadillac errou no momento de lançar seus sedãs, que chegaram ao mercado quando o consumidor buscava os veículos esportivos utilitários. A GM embarcou na mais recente iniciativa de reforma há um ano, nomeando um novo presidente para a Cadillac: o engenheiro canadense Steve Carlisle, que está na GM desde 1982.
Veículos elétricos
Sob o comando de Carlisle, a Cadillac está apostando na tecnologia. Ele disse que a marca pretende retirar gradualmente os motores de combustão de seus modelos, e em questão de seis a dez anos, toda a sua linha será de veículos elétricos. Mas o primeiro modelo elétrico, um esportivo utilitário, só chegará em três anos ao mercado, quando este pode estar um pouco saturado.
Outro ponto que a Cadillac está apresentando como alavanca para as vendas: o sistema Super Cruise de auxílio ao motorista. Usando câmeras e radar, a tecnologia é capaz de pilotar o carro em vias expressas com divisão entre as faixas. O motorista não precisa nem mesmo manter as mãos no volante. Basta olhar para frente — uma câmera infravermelha monitora o movimento dos olhos — e o sistema Super Cruise cuida da direção, freando e acelerando conforme necessário.
Carlisle comentou aquilo que ele enxerga como progresso da Cadillac. Na China, atualmente o principal mercado da marca, as vendas da Cadillac são robustas e estão crescendo, ainda que o mercado automobilístico como um todo comece a apresentar sinais de desaceleração. E dois novos veículos esportivos utilitários chegaram entre as opções de modelos.
A Cadillac também planeja lançar veículos elétricos para concorrer com a Tesla, uma das principais marcas de carros de alto padrão. Um sedã com lançamento previsto para o ano que vem terá uma espinha dorsal digital permitindo que a GM faça atualizações no software do veículo usando tecnologia sem fio, recurso no qual a Tesla foi pioneira, transformando-o em um marco característico de seus carros.
Super Cruise
O sistema Super Cruise tem o potencial de diferenciar a Cadillac em relação às outras marcas de luxo, incluindo a Tesla. Os sistemas da concorrência exigem que os motoristas mantenham as mãos no volante, o que praticamente invalida o propósito de um sistema de piloto automático. Nenhum deles conta com a câmera infravermelha que garante que a atenção do motorista esteja na pista.
Mas, apesar de toda a potência do Super Cruise, o sistema só está disponível no modelo CT6, que vende pouco e pode ser cancelado em breve. O sistema estará disponível no modelo menor CT5 no ano que vem, mas os veículos esportivos utilitário, categoria mais popular da marca, só receberão essa tecnologia daqui a dois anos. “É um infeliz problema de prioridades”, disse Carlisle. “Se tivéssemos pensado nisso antes, poderíamos implementar o sistema mais rápido”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL