O camundongo que sobreviveu a um apocalipse vulcânico


Do mesmo modo que pequenos mamíferos sobreviveram à extinção na época dos dinossauros, esse roedor superou os obstáculos quando o topo do Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991

Por Robin George Andrews

Durante séculos, o Monte Pinatubo, um vulcão dormente em Luzon, a mais populosa ilha das Filipinas, foi um paraíso ecológico, uma montanha verdejante que abrigava uma fauna abundante. Um dos animais era o Apomys sacobianus, o camundongo do vulcão de Pinatubo, que passava seus dias em busca de minhocas e outros alimentos.

Em 15 de junho de 1991, o apocalipse acabou com o paraíso. A lava que explodiu do vulcão, envolveu suas encostas numa avalanche de detritos e gás tóxico superaquecidos que instantaneamente exterminaria toda a vida existente ali. Seu pico foi arrasado, deixando um buraco de 2,4 quilômetros e arrasando toda a floresta em torno.

Assim como os pequenos mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros, este roedor venceu as probabilidades quando Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991. Foto: Danny Balete / The Field Museum via The New York Times
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Os ecologistas suspeitavam que o camundongo de Pinatubo, encontrado apenas ali e em nenhum outro lugar, fora extinto. Mas, para surpresa de todos, pesquisas sobre a vida selvagem revelaram que este roedor não só sobreviveu à erupção, mas também se desenvolveu. Como foi reportado no Philippine Journal of Science, em janeiro, ele se tornou o mais abundante mamífero no topo da montanha.

Investigar como este camundongo fez seu retorno ajudará os ecologistas a compreenderem como outros mamíferos podem reagir frente a uma devastação – antropogênica ou natural, opinou Eric Rickart, curador do departamento de vertebrados no Museu de História Natural de Utah e coautor do novo estudo.

A dramática saga desse camundongo também reforça uma regra ecológica irrefutável: você jamais deve subestimar os roedores, disse Christine Wilkinson, aluna de doutorado no campo da biologia da conservação, que estuda o conflito entre humanos e vida selvagem na Universidade da Califórnia.

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“Qualquer pessoa que encontra um rato na cidade de Nova York sabe que é esse o caso”, afirmou.

Achar, ou não, que o Apomys sabobianus é uma gracinha vai depender da sua predileção por roedores.

"É um camundongo grande. Alguns diriam que é um rato pequeno. É um animalzinho muito bonito", disse Rickart.

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Deixando de lado a aparência, pouco sabemos sobre ele. Durante meio século havia apenas um espécime nos arquivos científicos, encontrado nas colinas mais baixas do vulcão em 1956, e posteriores trabalhos de campo sugeriram que o vulcão era seu único abrigo. Estudos no campo da biologia da conservação sugeriram que esse habitat precariamente pequeno significaria a extinção do camundongo da face da terra.

Embora os cientistas achassem que ele havia desaparecido na explosão do vulcão, alguns estavam curiosos para saber se havia algo mais nessa história. Danilo Balete, pesquisador do Field Museum, em Chicago, foi a Pinatubo em 2011 e 2012 para checar se aquele triste fim havia ocorrido. Trabalhando com assistentes em campo, incluindo membros dos povos indígenas Aeta, Balete instalou armadilhas repletas de minhocas e pedaços de coco assados para tentar capturar e fazer uma contagem dos mamíferos locais.

Balete, que também foi um dos coautores do estudo, faleceu repentinamente em 2017, aos 56 anos de idade. Ele não só era um expoente no campo da ciência da biodiversidade filipina, como um amigo querido dos colegas, que se sentiram impelidos a concluir o trabalho por ele iniciado. E assim, concluíram o oposto do que todo mundo havia previsto.

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Depois de uma violenta destruição ambiental, esperava-se que ratos das áreas mais baixas dominassem a montanha, com espécies nativas sendo empurradas de lado.

"Não é o que vemos nas Filipinas", disse Lawrence Heaney, curador da área de mamíferos do Field Museum

O vulcão Pinatubo em erupção, nasFilipinas Foto: ARLAN NAEG/AFP
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Os mamíferos locais se recusaram a ceder muito terreno para quaisquer pestes oportunistas, e em vez disso continuaram a controlar seu espaço vulcânico. Acredita-se que controlavam pequenas áreas de bosques que sobreviveram à lava e acabaram repovoando as colinas da montanha.

Erupções similarmente devastadoras ocorreram no Pinatubo em um passado distante. O camundongo deve ter persistido e sobrevivido em cada uma delas, proliferando novamente nos cenários pós-apocalípticos. "Nós o consideramos um especialista em espaços degradados", disse Rickart, um animal que se destaca em ambientes arruinados.

Pode parecer algo contrário à lógica, mas um ambiente tranquilo nem sempre é uma condição excelente para a vida, disse Wilkinson. Como diversas plantas, fungos e animais presos em incêndios florestais demonstram, alguns precisam da destruição para se desenvolverem. E quando um ecossistema sofre um impacto letal, como o golpe de misericórdia do asteroide que atingiu os dinossauros há 66 milhões de anos, os pequenos mamíferos ficam felizes em preencher o espaço vazio deixado.

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A erupção foi sem dúvida terrível para muitos. Mas como a história desse camundongo super-herói nos mostra, “terrível” é algo relativo”, disse Heaney. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Durante séculos, o Monte Pinatubo, um vulcão dormente em Luzon, a mais populosa ilha das Filipinas, foi um paraíso ecológico, uma montanha verdejante que abrigava uma fauna abundante. Um dos animais era o Apomys sacobianus, o camundongo do vulcão de Pinatubo, que passava seus dias em busca de minhocas e outros alimentos.

Em 15 de junho de 1991, o apocalipse acabou com o paraíso. A lava que explodiu do vulcão, envolveu suas encostas numa avalanche de detritos e gás tóxico superaquecidos que instantaneamente exterminaria toda a vida existente ali. Seu pico foi arrasado, deixando um buraco de 2,4 quilômetros e arrasando toda a floresta em torno.

Assim como os pequenos mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros, este roedor venceu as probabilidades quando Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991. Foto: Danny Balete / The Field Museum via The New York Times

Os ecologistas suspeitavam que o camundongo de Pinatubo, encontrado apenas ali e em nenhum outro lugar, fora extinto. Mas, para surpresa de todos, pesquisas sobre a vida selvagem revelaram que este roedor não só sobreviveu à erupção, mas também se desenvolveu. Como foi reportado no Philippine Journal of Science, em janeiro, ele se tornou o mais abundante mamífero no topo da montanha.

Investigar como este camundongo fez seu retorno ajudará os ecologistas a compreenderem como outros mamíferos podem reagir frente a uma devastação – antropogênica ou natural, opinou Eric Rickart, curador do departamento de vertebrados no Museu de História Natural de Utah e coautor do novo estudo.

A dramática saga desse camundongo também reforça uma regra ecológica irrefutável: você jamais deve subestimar os roedores, disse Christine Wilkinson, aluna de doutorado no campo da biologia da conservação, que estuda o conflito entre humanos e vida selvagem na Universidade da Califórnia.

“Qualquer pessoa que encontra um rato na cidade de Nova York sabe que é esse o caso”, afirmou.

Achar, ou não, que o Apomys sabobianus é uma gracinha vai depender da sua predileção por roedores.

"É um camundongo grande. Alguns diriam que é um rato pequeno. É um animalzinho muito bonito", disse Rickart.

Deixando de lado a aparência, pouco sabemos sobre ele. Durante meio século havia apenas um espécime nos arquivos científicos, encontrado nas colinas mais baixas do vulcão em 1956, e posteriores trabalhos de campo sugeriram que o vulcão era seu único abrigo. Estudos no campo da biologia da conservação sugeriram que esse habitat precariamente pequeno significaria a extinção do camundongo da face da terra.

Embora os cientistas achassem que ele havia desaparecido na explosão do vulcão, alguns estavam curiosos para saber se havia algo mais nessa história. Danilo Balete, pesquisador do Field Museum, em Chicago, foi a Pinatubo em 2011 e 2012 para checar se aquele triste fim havia ocorrido. Trabalhando com assistentes em campo, incluindo membros dos povos indígenas Aeta, Balete instalou armadilhas repletas de minhocas e pedaços de coco assados para tentar capturar e fazer uma contagem dos mamíferos locais.

Balete, que também foi um dos coautores do estudo, faleceu repentinamente em 2017, aos 56 anos de idade. Ele não só era um expoente no campo da ciência da biodiversidade filipina, como um amigo querido dos colegas, que se sentiram impelidos a concluir o trabalho por ele iniciado. E assim, concluíram o oposto do que todo mundo havia previsto.

Depois de uma violenta destruição ambiental, esperava-se que ratos das áreas mais baixas dominassem a montanha, com espécies nativas sendo empurradas de lado.

"Não é o que vemos nas Filipinas", disse Lawrence Heaney, curador da área de mamíferos do Field Museum

O vulcão Pinatubo em erupção, nasFilipinas Foto: ARLAN NAEG/AFP

Os mamíferos locais se recusaram a ceder muito terreno para quaisquer pestes oportunistas, e em vez disso continuaram a controlar seu espaço vulcânico. Acredita-se que controlavam pequenas áreas de bosques que sobreviveram à lava e acabaram repovoando as colinas da montanha.

Erupções similarmente devastadoras ocorreram no Pinatubo em um passado distante. O camundongo deve ter persistido e sobrevivido em cada uma delas, proliferando novamente nos cenários pós-apocalípticos. "Nós o consideramos um especialista em espaços degradados", disse Rickart, um animal que se destaca em ambientes arruinados.

Pode parecer algo contrário à lógica, mas um ambiente tranquilo nem sempre é uma condição excelente para a vida, disse Wilkinson. Como diversas plantas, fungos e animais presos em incêndios florestais demonstram, alguns precisam da destruição para se desenvolverem. E quando um ecossistema sofre um impacto letal, como o golpe de misericórdia do asteroide que atingiu os dinossauros há 66 milhões de anos, os pequenos mamíferos ficam felizes em preencher o espaço vazio deixado.

A erupção foi sem dúvida terrível para muitos. Mas como a história desse camundongo super-herói nos mostra, “terrível” é algo relativo”, disse Heaney. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Durante séculos, o Monte Pinatubo, um vulcão dormente em Luzon, a mais populosa ilha das Filipinas, foi um paraíso ecológico, uma montanha verdejante que abrigava uma fauna abundante. Um dos animais era o Apomys sacobianus, o camundongo do vulcão de Pinatubo, que passava seus dias em busca de minhocas e outros alimentos.

Em 15 de junho de 1991, o apocalipse acabou com o paraíso. A lava que explodiu do vulcão, envolveu suas encostas numa avalanche de detritos e gás tóxico superaquecidos que instantaneamente exterminaria toda a vida existente ali. Seu pico foi arrasado, deixando um buraco de 2,4 quilômetros e arrasando toda a floresta em torno.

Assim como os pequenos mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros, este roedor venceu as probabilidades quando Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991. Foto: Danny Balete / The Field Museum via The New York Times

Os ecologistas suspeitavam que o camundongo de Pinatubo, encontrado apenas ali e em nenhum outro lugar, fora extinto. Mas, para surpresa de todos, pesquisas sobre a vida selvagem revelaram que este roedor não só sobreviveu à erupção, mas também se desenvolveu. Como foi reportado no Philippine Journal of Science, em janeiro, ele se tornou o mais abundante mamífero no topo da montanha.

Investigar como este camundongo fez seu retorno ajudará os ecologistas a compreenderem como outros mamíferos podem reagir frente a uma devastação – antropogênica ou natural, opinou Eric Rickart, curador do departamento de vertebrados no Museu de História Natural de Utah e coautor do novo estudo.

A dramática saga desse camundongo também reforça uma regra ecológica irrefutável: você jamais deve subestimar os roedores, disse Christine Wilkinson, aluna de doutorado no campo da biologia da conservação, que estuda o conflito entre humanos e vida selvagem na Universidade da Califórnia.

“Qualquer pessoa que encontra um rato na cidade de Nova York sabe que é esse o caso”, afirmou.

Achar, ou não, que o Apomys sabobianus é uma gracinha vai depender da sua predileção por roedores.

"É um camundongo grande. Alguns diriam que é um rato pequeno. É um animalzinho muito bonito", disse Rickart.

Deixando de lado a aparência, pouco sabemos sobre ele. Durante meio século havia apenas um espécime nos arquivos científicos, encontrado nas colinas mais baixas do vulcão em 1956, e posteriores trabalhos de campo sugeriram que o vulcão era seu único abrigo. Estudos no campo da biologia da conservação sugeriram que esse habitat precariamente pequeno significaria a extinção do camundongo da face da terra.

Embora os cientistas achassem que ele havia desaparecido na explosão do vulcão, alguns estavam curiosos para saber se havia algo mais nessa história. Danilo Balete, pesquisador do Field Museum, em Chicago, foi a Pinatubo em 2011 e 2012 para checar se aquele triste fim havia ocorrido. Trabalhando com assistentes em campo, incluindo membros dos povos indígenas Aeta, Balete instalou armadilhas repletas de minhocas e pedaços de coco assados para tentar capturar e fazer uma contagem dos mamíferos locais.

Balete, que também foi um dos coautores do estudo, faleceu repentinamente em 2017, aos 56 anos de idade. Ele não só era um expoente no campo da ciência da biodiversidade filipina, como um amigo querido dos colegas, que se sentiram impelidos a concluir o trabalho por ele iniciado. E assim, concluíram o oposto do que todo mundo havia previsto.

Depois de uma violenta destruição ambiental, esperava-se que ratos das áreas mais baixas dominassem a montanha, com espécies nativas sendo empurradas de lado.

"Não é o que vemos nas Filipinas", disse Lawrence Heaney, curador da área de mamíferos do Field Museum

O vulcão Pinatubo em erupção, nasFilipinas Foto: ARLAN NAEG/AFP

Os mamíferos locais se recusaram a ceder muito terreno para quaisquer pestes oportunistas, e em vez disso continuaram a controlar seu espaço vulcânico. Acredita-se que controlavam pequenas áreas de bosques que sobreviveram à lava e acabaram repovoando as colinas da montanha.

Erupções similarmente devastadoras ocorreram no Pinatubo em um passado distante. O camundongo deve ter persistido e sobrevivido em cada uma delas, proliferando novamente nos cenários pós-apocalípticos. "Nós o consideramos um especialista em espaços degradados", disse Rickart, um animal que se destaca em ambientes arruinados.

Pode parecer algo contrário à lógica, mas um ambiente tranquilo nem sempre é uma condição excelente para a vida, disse Wilkinson. Como diversas plantas, fungos e animais presos em incêndios florestais demonstram, alguns precisam da destruição para se desenvolverem. E quando um ecossistema sofre um impacto letal, como o golpe de misericórdia do asteroide que atingiu os dinossauros há 66 milhões de anos, os pequenos mamíferos ficam felizes em preencher o espaço vazio deixado.

A erupção foi sem dúvida terrível para muitos. Mas como a história desse camundongo super-herói nos mostra, “terrível” é algo relativo”, disse Heaney. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Durante séculos, o Monte Pinatubo, um vulcão dormente em Luzon, a mais populosa ilha das Filipinas, foi um paraíso ecológico, uma montanha verdejante que abrigava uma fauna abundante. Um dos animais era o Apomys sacobianus, o camundongo do vulcão de Pinatubo, que passava seus dias em busca de minhocas e outros alimentos.

Em 15 de junho de 1991, o apocalipse acabou com o paraíso. A lava que explodiu do vulcão, envolveu suas encostas numa avalanche de detritos e gás tóxico superaquecidos que instantaneamente exterminaria toda a vida existente ali. Seu pico foi arrasado, deixando um buraco de 2,4 quilômetros e arrasando toda a floresta em torno.

Assim como os pequenos mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros, este roedor venceu as probabilidades quando Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991. Foto: Danny Balete / The Field Museum via The New York Times

Os ecologistas suspeitavam que o camundongo de Pinatubo, encontrado apenas ali e em nenhum outro lugar, fora extinto. Mas, para surpresa de todos, pesquisas sobre a vida selvagem revelaram que este roedor não só sobreviveu à erupção, mas também se desenvolveu. Como foi reportado no Philippine Journal of Science, em janeiro, ele se tornou o mais abundante mamífero no topo da montanha.

Investigar como este camundongo fez seu retorno ajudará os ecologistas a compreenderem como outros mamíferos podem reagir frente a uma devastação – antropogênica ou natural, opinou Eric Rickart, curador do departamento de vertebrados no Museu de História Natural de Utah e coautor do novo estudo.

A dramática saga desse camundongo também reforça uma regra ecológica irrefutável: você jamais deve subestimar os roedores, disse Christine Wilkinson, aluna de doutorado no campo da biologia da conservação, que estuda o conflito entre humanos e vida selvagem na Universidade da Califórnia.

“Qualquer pessoa que encontra um rato na cidade de Nova York sabe que é esse o caso”, afirmou.

Achar, ou não, que o Apomys sabobianus é uma gracinha vai depender da sua predileção por roedores.

"É um camundongo grande. Alguns diriam que é um rato pequeno. É um animalzinho muito bonito", disse Rickart.

Deixando de lado a aparência, pouco sabemos sobre ele. Durante meio século havia apenas um espécime nos arquivos científicos, encontrado nas colinas mais baixas do vulcão em 1956, e posteriores trabalhos de campo sugeriram que o vulcão era seu único abrigo. Estudos no campo da biologia da conservação sugeriram que esse habitat precariamente pequeno significaria a extinção do camundongo da face da terra.

Embora os cientistas achassem que ele havia desaparecido na explosão do vulcão, alguns estavam curiosos para saber se havia algo mais nessa história. Danilo Balete, pesquisador do Field Museum, em Chicago, foi a Pinatubo em 2011 e 2012 para checar se aquele triste fim havia ocorrido. Trabalhando com assistentes em campo, incluindo membros dos povos indígenas Aeta, Balete instalou armadilhas repletas de minhocas e pedaços de coco assados para tentar capturar e fazer uma contagem dos mamíferos locais.

Balete, que também foi um dos coautores do estudo, faleceu repentinamente em 2017, aos 56 anos de idade. Ele não só era um expoente no campo da ciência da biodiversidade filipina, como um amigo querido dos colegas, que se sentiram impelidos a concluir o trabalho por ele iniciado. E assim, concluíram o oposto do que todo mundo havia previsto.

Depois de uma violenta destruição ambiental, esperava-se que ratos das áreas mais baixas dominassem a montanha, com espécies nativas sendo empurradas de lado.

"Não é o que vemos nas Filipinas", disse Lawrence Heaney, curador da área de mamíferos do Field Museum

O vulcão Pinatubo em erupção, nasFilipinas Foto: ARLAN NAEG/AFP

Os mamíferos locais se recusaram a ceder muito terreno para quaisquer pestes oportunistas, e em vez disso continuaram a controlar seu espaço vulcânico. Acredita-se que controlavam pequenas áreas de bosques que sobreviveram à lava e acabaram repovoando as colinas da montanha.

Erupções similarmente devastadoras ocorreram no Pinatubo em um passado distante. O camundongo deve ter persistido e sobrevivido em cada uma delas, proliferando novamente nos cenários pós-apocalípticos. "Nós o consideramos um especialista em espaços degradados", disse Rickart, um animal que se destaca em ambientes arruinados.

Pode parecer algo contrário à lógica, mas um ambiente tranquilo nem sempre é uma condição excelente para a vida, disse Wilkinson. Como diversas plantas, fungos e animais presos em incêndios florestais demonstram, alguns precisam da destruição para se desenvolverem. E quando um ecossistema sofre um impacto letal, como o golpe de misericórdia do asteroide que atingiu os dinossauros há 66 milhões de anos, os pequenos mamíferos ficam felizes em preencher o espaço vazio deixado.

A erupção foi sem dúvida terrível para muitos. Mas como a história desse camundongo super-herói nos mostra, “terrível” é algo relativo”, disse Heaney. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Durante séculos, o Monte Pinatubo, um vulcão dormente em Luzon, a mais populosa ilha das Filipinas, foi um paraíso ecológico, uma montanha verdejante que abrigava uma fauna abundante. Um dos animais era o Apomys sacobianus, o camundongo do vulcão de Pinatubo, que passava seus dias em busca de minhocas e outros alimentos.

Em 15 de junho de 1991, o apocalipse acabou com o paraíso. A lava que explodiu do vulcão, envolveu suas encostas numa avalanche de detritos e gás tóxico superaquecidos que instantaneamente exterminaria toda a vida existente ali. Seu pico foi arrasado, deixando um buraco de 2,4 quilômetros e arrasando toda a floresta em torno.

Assim como os pequenos mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros, este roedor venceu as probabilidades quando Pinatubo explodiu nas Filipinas em 1991. Foto: Danny Balete / The Field Museum via The New York Times

Os ecologistas suspeitavam que o camundongo de Pinatubo, encontrado apenas ali e em nenhum outro lugar, fora extinto. Mas, para surpresa de todos, pesquisas sobre a vida selvagem revelaram que este roedor não só sobreviveu à erupção, mas também se desenvolveu. Como foi reportado no Philippine Journal of Science, em janeiro, ele se tornou o mais abundante mamífero no topo da montanha.

Investigar como este camundongo fez seu retorno ajudará os ecologistas a compreenderem como outros mamíferos podem reagir frente a uma devastação – antropogênica ou natural, opinou Eric Rickart, curador do departamento de vertebrados no Museu de História Natural de Utah e coautor do novo estudo.

A dramática saga desse camundongo também reforça uma regra ecológica irrefutável: você jamais deve subestimar os roedores, disse Christine Wilkinson, aluna de doutorado no campo da biologia da conservação, que estuda o conflito entre humanos e vida selvagem na Universidade da Califórnia.

“Qualquer pessoa que encontra um rato na cidade de Nova York sabe que é esse o caso”, afirmou.

Achar, ou não, que o Apomys sabobianus é uma gracinha vai depender da sua predileção por roedores.

"É um camundongo grande. Alguns diriam que é um rato pequeno. É um animalzinho muito bonito", disse Rickart.

Deixando de lado a aparência, pouco sabemos sobre ele. Durante meio século havia apenas um espécime nos arquivos científicos, encontrado nas colinas mais baixas do vulcão em 1956, e posteriores trabalhos de campo sugeriram que o vulcão era seu único abrigo. Estudos no campo da biologia da conservação sugeriram que esse habitat precariamente pequeno significaria a extinção do camundongo da face da terra.

Embora os cientistas achassem que ele havia desaparecido na explosão do vulcão, alguns estavam curiosos para saber se havia algo mais nessa história. Danilo Balete, pesquisador do Field Museum, em Chicago, foi a Pinatubo em 2011 e 2012 para checar se aquele triste fim havia ocorrido. Trabalhando com assistentes em campo, incluindo membros dos povos indígenas Aeta, Balete instalou armadilhas repletas de minhocas e pedaços de coco assados para tentar capturar e fazer uma contagem dos mamíferos locais.

Balete, que também foi um dos coautores do estudo, faleceu repentinamente em 2017, aos 56 anos de idade. Ele não só era um expoente no campo da ciência da biodiversidade filipina, como um amigo querido dos colegas, que se sentiram impelidos a concluir o trabalho por ele iniciado. E assim, concluíram o oposto do que todo mundo havia previsto.

Depois de uma violenta destruição ambiental, esperava-se que ratos das áreas mais baixas dominassem a montanha, com espécies nativas sendo empurradas de lado.

"Não é o que vemos nas Filipinas", disse Lawrence Heaney, curador da área de mamíferos do Field Museum

O vulcão Pinatubo em erupção, nasFilipinas Foto: ARLAN NAEG/AFP

Os mamíferos locais se recusaram a ceder muito terreno para quaisquer pestes oportunistas, e em vez disso continuaram a controlar seu espaço vulcânico. Acredita-se que controlavam pequenas áreas de bosques que sobreviveram à lava e acabaram repovoando as colinas da montanha.

Erupções similarmente devastadoras ocorreram no Pinatubo em um passado distante. O camundongo deve ter persistido e sobrevivido em cada uma delas, proliferando novamente nos cenários pós-apocalípticos. "Nós o consideramos um especialista em espaços degradados", disse Rickart, um animal que se destaca em ambientes arruinados.

Pode parecer algo contrário à lógica, mas um ambiente tranquilo nem sempre é uma condição excelente para a vida, disse Wilkinson. Como diversas plantas, fungos e animais presos em incêndios florestais demonstram, alguns precisam da destruição para se desenvolverem. E quando um ecossistema sofre um impacto letal, como o golpe de misericórdia do asteroide que atingiu os dinossauros há 66 milhões de anos, os pequenos mamíferos ficam felizes em preencher o espaço vazio deixado.

A erupção foi sem dúvida terrível para muitos. Mas como a história desse camundongo super-herói nos mostra, “terrível” é algo relativo”, disse Heaney. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

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