Lobos estão na linha de frente contra uma doença cerebral mortal


Cientistas dizem que esses predadores são essenciais para conter a disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica em outros animais; especialistas temem que um dia ela possa chegar aos humanos

Por Jim Robbins

Será que os lobos do Parque Nacional de Yellowstone podem ser a primeira linha de defesa contra uma doença terrível que ataca rebanhos da vida selvagem?

Esta é a grande pergunta para um projeto de pesquisa em andamento no parque, e os resultados preliminares sugerem que a resposta é sim. Os pesquisadores estão estudando o que é conhecido como efeito de limpeza do predador, que ocorre quando um predador garante a saúde de uma população de presas matando os animais mais doentes. Se a ideia se sustentar, pode significar que os lobos têm um papel fundamental na limitação da disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica, que infecta veados e animais semelhantes nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os especialistas temem que um dia ela possa chegar aos humanos.

Oficiais checam um veado morto por caçador em Montana em busca de sinais da doença. Foto: Lynn Donaldson/The New York Times
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“Não há ferramenta de gerenciamento que seja eficaz” para controlar a doença, disse Ellen Brandell, doutoranda em ecologia da vida selvagem na Universidade de Penn que está liderando o projeto em colaboração com o Serviço Geológico dos Estados Unidos e o Serviço Nacional de Parques. “Não existe vacina. Os predadores talvez sejam a solução”.

Muitos biólogos e conservacionistas dizem que mais pesquisas fortaleceriam o argumento de que a reintrodução de mais lobos em certas partes dos Estados Unidos pode ajudar a controlar doenças da vida selvagem, embora a ideia certamente deva enfrentar resistência de caçadores, fazendeiros e outras pessoas preocupadas com a competição dos lobos.

A Enfermidade Debilitante Crônica, doença neurológica contagiosa, é tão peculiar que alguns especialistas a chamam de “doença do espaço sideral”. Descoberta entre veados selvagens em 1981, leva à deterioração do tecido cerebral em cervídeos, principalmente veados, mas também alces, cervos e renas, com sintomas como apatia, salivação, desequilíbrio, emaciação e morte.

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É causada por uma versão anormal de uma proteína celular chamada príon, que funciona de maneira muito diferente das bactérias ou vírus. A doença se espalhou por populações selvagens de cervídeos e agora se encontra em 26 estados americanos e várias províncias canadenses, bem como na Coreia do Sul e na Escandinávia.

A doença faz parte de um grupo denominado encefalopatias espongiformes transmissíveis, sendo a mais famosa a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como doença da vaca louca. Em humanos, a doença da vaca louca causa uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, e houve um surto entre pessoas na Grã-Bretanha na década de 1990 por consumo de carne contaminada.

O cozimento não mata os príons, e os especialistas temem que a Enfermidade Debilitante Crônica possa se espalhar para os humanos que caçam e consomem cervos ou outros animais infectados.

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A doença infectou muitos rebanhos de veados no Wyoming e se espalhou para Montana em 2017. Ambos os estados são vizinhos a Yellowstone, então os especialistas estão preocupados com a possibilidade de a doença mortal em breve se alastrar pelos vastos rebanhos de alces e veados do parque.

A não ser, quem sabe, que as dez matilhas de lobos do parque, que no total contam cerca de cem indivíduos, ataquem e comam os animais doentes, os quais são presas mais fáceis por causa da doença (a enfermidade parece não infectar os lobos).

“Os lobos de fato vêm sendo apontados como o melhor tipo de animal para remover os veados infectados, porque perseguem suas presas e procuram as mais fracas”, disse Brandell. Por essa lógica, cervos e outros animais doentes teriam maior probabilidade de serem eliminados pelos lobos.

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Lobos podem ajudar a parar ou controlar a doença porque os animais infectados são presas mais fáceis. Foto: National Park Service via The New York Times

Os resultados preliminares em Yellowstone mostraram que os lobos podem atrasar os surtos de Enfermidade Debilitante Crônica em suas presas e diminuir o tamanho do surto, disse Brandell. Há pouca pesquisa publicada sobre “o efeito de limpeza do predador” e este estudo procura dar mais fundamento para o uso de predadores no controle de doenças.

Uma das principais preocupações quanto à disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica na região de Yellowstone é o fato de Wyoming ter 22 áreas de alimentação mantidas pelo estado, as quais concentram artificialmente um grande número de alces na região de Yellowstone. E logo ao sul do Parque Nacional de Grand Teton fica o Refúgio Nacional dos Alces, onde milhares de animais, deslocados por fazendas de gado, são alimentados a cada inverno, para satisfazer os caçadores e turistas. Muitos biólogos da vida selvagem dizem que concentrar os animais em áreas tão pequenas é receita certa para a rápida disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica.

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Quando os casos da doença entre veados foram de 5% para 50% em Wisconsin e Colorado, esses estados foram classificados como pontos críticos. Mas, se a doença atingir fazendas de caça como as de Wyoming, “as taxas de prevalência vão disparar para 90 ou 100%”, disse Mark Zabel, diretor do Centro de Pesquisa em Príon da Universidade Estadual do Colorado.

Os príons são particularmente mortais. Ao contrário dos vírus e bactérias, os príons podem persistir no solo por mais de dez anos e sobreviver em meio à vegetação. Mesmo que um rebanho morra ou seja sacrificado, novos animais que entrem em contato com os príons podem ser infectados.

A origem da doença é desconhecida. Andrew P. Dobson, professor de ecologia e epidemiologia de Princeton que estudou o efeito de limpeza do predador, acredita que a doença é, em grande parte, resultado de ecossistemas com poucos predadores e necrófagos.

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Restaurar a população de predadores em parques nacionais e terras selvagens seria um grande passo para o restabelecimento de ecossistemas mais saudáveis e com menos doenças, disse Dobson.

Ken McDonald, chefe da divisão de vida selvagem do Departamento de Peixes, Vida Selvagem e Parques de Montana, expressou dúvidas quanto à possibilidade de os lobos prevenirem a Enfermidade Debilitante Crônica.

“Os lobos ajudam a remover os animais doentes, mas os animais não ficam visivelmente doentes por cerca de dois anos”, disse ele. “Portanto, são portadores e disseminadores mesmo sem apresentar os sintomas clássicos”.

McDonald disse que manter uma população de lobos grande o suficiente perto de Yellowstone para controlar a Enfermidade Debilitante Crônica exigiria uma quantidade de animais socialmente inaceitável, especialmente para fazendeiros e caçadores.

O método do estado para controlar a doença, disse ele, é aumentar o número de cervos que podem ser mortos em locais onde a doença está crescendo.

Brandell, no entanto, disse que os lobos conseguem detectar a doença muito antes de ela se tornar aparente para os seres humanos, por meio do cheiro ou de uma leve mudança no movimento da presa, o que pode ser benéfico.

“Os lobos não seriam uma cura mágica em lugar nenhum”, disse ela. “Mas, em lugares onde a doença está só começando e você tem uma alcateia de predadores ativa, eles podem mantê-la sob controle, a ponto dela nunca se firmar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Será que os lobos do Parque Nacional de Yellowstone podem ser a primeira linha de defesa contra uma doença terrível que ataca rebanhos da vida selvagem?

Esta é a grande pergunta para um projeto de pesquisa em andamento no parque, e os resultados preliminares sugerem que a resposta é sim. Os pesquisadores estão estudando o que é conhecido como efeito de limpeza do predador, que ocorre quando um predador garante a saúde de uma população de presas matando os animais mais doentes. Se a ideia se sustentar, pode significar que os lobos têm um papel fundamental na limitação da disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica, que infecta veados e animais semelhantes nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os especialistas temem que um dia ela possa chegar aos humanos.

Oficiais checam um veado morto por caçador em Montana em busca de sinais da doença. Foto: Lynn Donaldson/The New York Times

“Não há ferramenta de gerenciamento que seja eficaz” para controlar a doença, disse Ellen Brandell, doutoranda em ecologia da vida selvagem na Universidade de Penn que está liderando o projeto em colaboração com o Serviço Geológico dos Estados Unidos e o Serviço Nacional de Parques. “Não existe vacina. Os predadores talvez sejam a solução”.

Muitos biólogos e conservacionistas dizem que mais pesquisas fortaleceriam o argumento de que a reintrodução de mais lobos em certas partes dos Estados Unidos pode ajudar a controlar doenças da vida selvagem, embora a ideia certamente deva enfrentar resistência de caçadores, fazendeiros e outras pessoas preocupadas com a competição dos lobos.

A Enfermidade Debilitante Crônica, doença neurológica contagiosa, é tão peculiar que alguns especialistas a chamam de “doença do espaço sideral”. Descoberta entre veados selvagens em 1981, leva à deterioração do tecido cerebral em cervídeos, principalmente veados, mas também alces, cervos e renas, com sintomas como apatia, salivação, desequilíbrio, emaciação e morte.

É causada por uma versão anormal de uma proteína celular chamada príon, que funciona de maneira muito diferente das bactérias ou vírus. A doença se espalhou por populações selvagens de cervídeos e agora se encontra em 26 estados americanos e várias províncias canadenses, bem como na Coreia do Sul e na Escandinávia.

A doença faz parte de um grupo denominado encefalopatias espongiformes transmissíveis, sendo a mais famosa a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como doença da vaca louca. Em humanos, a doença da vaca louca causa uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, e houve um surto entre pessoas na Grã-Bretanha na década de 1990 por consumo de carne contaminada.

O cozimento não mata os príons, e os especialistas temem que a Enfermidade Debilitante Crônica possa se espalhar para os humanos que caçam e consomem cervos ou outros animais infectados.

A doença infectou muitos rebanhos de veados no Wyoming e se espalhou para Montana em 2017. Ambos os estados são vizinhos a Yellowstone, então os especialistas estão preocupados com a possibilidade de a doença mortal em breve se alastrar pelos vastos rebanhos de alces e veados do parque.

A não ser, quem sabe, que as dez matilhas de lobos do parque, que no total contam cerca de cem indivíduos, ataquem e comam os animais doentes, os quais são presas mais fáceis por causa da doença (a enfermidade parece não infectar os lobos).

“Os lobos de fato vêm sendo apontados como o melhor tipo de animal para remover os veados infectados, porque perseguem suas presas e procuram as mais fracas”, disse Brandell. Por essa lógica, cervos e outros animais doentes teriam maior probabilidade de serem eliminados pelos lobos.

Lobos podem ajudar a parar ou controlar a doença porque os animais infectados são presas mais fáceis. Foto: National Park Service via The New York Times

Os resultados preliminares em Yellowstone mostraram que os lobos podem atrasar os surtos de Enfermidade Debilitante Crônica em suas presas e diminuir o tamanho do surto, disse Brandell. Há pouca pesquisa publicada sobre “o efeito de limpeza do predador” e este estudo procura dar mais fundamento para o uso de predadores no controle de doenças.

Uma das principais preocupações quanto à disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica na região de Yellowstone é o fato de Wyoming ter 22 áreas de alimentação mantidas pelo estado, as quais concentram artificialmente um grande número de alces na região de Yellowstone. E logo ao sul do Parque Nacional de Grand Teton fica o Refúgio Nacional dos Alces, onde milhares de animais, deslocados por fazendas de gado, são alimentados a cada inverno, para satisfazer os caçadores e turistas. Muitos biólogos da vida selvagem dizem que concentrar os animais em áreas tão pequenas é receita certa para a rápida disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica.

Quando os casos da doença entre veados foram de 5% para 50% em Wisconsin e Colorado, esses estados foram classificados como pontos críticos. Mas, se a doença atingir fazendas de caça como as de Wyoming, “as taxas de prevalência vão disparar para 90 ou 100%”, disse Mark Zabel, diretor do Centro de Pesquisa em Príon da Universidade Estadual do Colorado.

Os príons são particularmente mortais. Ao contrário dos vírus e bactérias, os príons podem persistir no solo por mais de dez anos e sobreviver em meio à vegetação. Mesmo que um rebanho morra ou seja sacrificado, novos animais que entrem em contato com os príons podem ser infectados.

A origem da doença é desconhecida. Andrew P. Dobson, professor de ecologia e epidemiologia de Princeton que estudou o efeito de limpeza do predador, acredita que a doença é, em grande parte, resultado de ecossistemas com poucos predadores e necrófagos.

Restaurar a população de predadores em parques nacionais e terras selvagens seria um grande passo para o restabelecimento de ecossistemas mais saudáveis e com menos doenças, disse Dobson.

Ken McDonald, chefe da divisão de vida selvagem do Departamento de Peixes, Vida Selvagem e Parques de Montana, expressou dúvidas quanto à possibilidade de os lobos prevenirem a Enfermidade Debilitante Crônica.

“Os lobos ajudam a remover os animais doentes, mas os animais não ficam visivelmente doentes por cerca de dois anos”, disse ele. “Portanto, são portadores e disseminadores mesmo sem apresentar os sintomas clássicos”.

McDonald disse que manter uma população de lobos grande o suficiente perto de Yellowstone para controlar a Enfermidade Debilitante Crônica exigiria uma quantidade de animais socialmente inaceitável, especialmente para fazendeiros e caçadores.

O método do estado para controlar a doença, disse ele, é aumentar o número de cervos que podem ser mortos em locais onde a doença está crescendo.

Brandell, no entanto, disse que os lobos conseguem detectar a doença muito antes de ela se tornar aparente para os seres humanos, por meio do cheiro ou de uma leve mudança no movimento da presa, o que pode ser benéfico.

“Os lobos não seriam uma cura mágica em lugar nenhum”, disse ela. “Mas, em lugares onde a doença está só começando e você tem uma alcateia de predadores ativa, eles podem mantê-la sob controle, a ponto dela nunca se firmar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Será que os lobos do Parque Nacional de Yellowstone podem ser a primeira linha de defesa contra uma doença terrível que ataca rebanhos da vida selvagem?

Esta é a grande pergunta para um projeto de pesquisa em andamento no parque, e os resultados preliminares sugerem que a resposta é sim. Os pesquisadores estão estudando o que é conhecido como efeito de limpeza do predador, que ocorre quando um predador garante a saúde de uma população de presas matando os animais mais doentes. Se a ideia se sustentar, pode significar que os lobos têm um papel fundamental na limitação da disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica, que infecta veados e animais semelhantes nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os especialistas temem que um dia ela possa chegar aos humanos.

Oficiais checam um veado morto por caçador em Montana em busca de sinais da doença. Foto: Lynn Donaldson/The New York Times

“Não há ferramenta de gerenciamento que seja eficaz” para controlar a doença, disse Ellen Brandell, doutoranda em ecologia da vida selvagem na Universidade de Penn que está liderando o projeto em colaboração com o Serviço Geológico dos Estados Unidos e o Serviço Nacional de Parques. “Não existe vacina. Os predadores talvez sejam a solução”.

Muitos biólogos e conservacionistas dizem que mais pesquisas fortaleceriam o argumento de que a reintrodução de mais lobos em certas partes dos Estados Unidos pode ajudar a controlar doenças da vida selvagem, embora a ideia certamente deva enfrentar resistência de caçadores, fazendeiros e outras pessoas preocupadas com a competição dos lobos.

A Enfermidade Debilitante Crônica, doença neurológica contagiosa, é tão peculiar que alguns especialistas a chamam de “doença do espaço sideral”. Descoberta entre veados selvagens em 1981, leva à deterioração do tecido cerebral em cervídeos, principalmente veados, mas também alces, cervos e renas, com sintomas como apatia, salivação, desequilíbrio, emaciação e morte.

É causada por uma versão anormal de uma proteína celular chamada príon, que funciona de maneira muito diferente das bactérias ou vírus. A doença se espalhou por populações selvagens de cervídeos e agora se encontra em 26 estados americanos e várias províncias canadenses, bem como na Coreia do Sul e na Escandinávia.

A doença faz parte de um grupo denominado encefalopatias espongiformes transmissíveis, sendo a mais famosa a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como doença da vaca louca. Em humanos, a doença da vaca louca causa uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, e houve um surto entre pessoas na Grã-Bretanha na década de 1990 por consumo de carne contaminada.

O cozimento não mata os príons, e os especialistas temem que a Enfermidade Debilitante Crônica possa se espalhar para os humanos que caçam e consomem cervos ou outros animais infectados.

A doença infectou muitos rebanhos de veados no Wyoming e se espalhou para Montana em 2017. Ambos os estados são vizinhos a Yellowstone, então os especialistas estão preocupados com a possibilidade de a doença mortal em breve se alastrar pelos vastos rebanhos de alces e veados do parque.

A não ser, quem sabe, que as dez matilhas de lobos do parque, que no total contam cerca de cem indivíduos, ataquem e comam os animais doentes, os quais são presas mais fáceis por causa da doença (a enfermidade parece não infectar os lobos).

“Os lobos de fato vêm sendo apontados como o melhor tipo de animal para remover os veados infectados, porque perseguem suas presas e procuram as mais fracas”, disse Brandell. Por essa lógica, cervos e outros animais doentes teriam maior probabilidade de serem eliminados pelos lobos.

Lobos podem ajudar a parar ou controlar a doença porque os animais infectados são presas mais fáceis. Foto: National Park Service via The New York Times

Os resultados preliminares em Yellowstone mostraram que os lobos podem atrasar os surtos de Enfermidade Debilitante Crônica em suas presas e diminuir o tamanho do surto, disse Brandell. Há pouca pesquisa publicada sobre “o efeito de limpeza do predador” e este estudo procura dar mais fundamento para o uso de predadores no controle de doenças.

Uma das principais preocupações quanto à disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica na região de Yellowstone é o fato de Wyoming ter 22 áreas de alimentação mantidas pelo estado, as quais concentram artificialmente um grande número de alces na região de Yellowstone. E logo ao sul do Parque Nacional de Grand Teton fica o Refúgio Nacional dos Alces, onde milhares de animais, deslocados por fazendas de gado, são alimentados a cada inverno, para satisfazer os caçadores e turistas. Muitos biólogos da vida selvagem dizem que concentrar os animais em áreas tão pequenas é receita certa para a rápida disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica.

Quando os casos da doença entre veados foram de 5% para 50% em Wisconsin e Colorado, esses estados foram classificados como pontos críticos. Mas, se a doença atingir fazendas de caça como as de Wyoming, “as taxas de prevalência vão disparar para 90 ou 100%”, disse Mark Zabel, diretor do Centro de Pesquisa em Príon da Universidade Estadual do Colorado.

Os príons são particularmente mortais. Ao contrário dos vírus e bactérias, os príons podem persistir no solo por mais de dez anos e sobreviver em meio à vegetação. Mesmo que um rebanho morra ou seja sacrificado, novos animais que entrem em contato com os príons podem ser infectados.

A origem da doença é desconhecida. Andrew P. Dobson, professor de ecologia e epidemiologia de Princeton que estudou o efeito de limpeza do predador, acredita que a doença é, em grande parte, resultado de ecossistemas com poucos predadores e necrófagos.

Restaurar a população de predadores em parques nacionais e terras selvagens seria um grande passo para o restabelecimento de ecossistemas mais saudáveis e com menos doenças, disse Dobson.

Ken McDonald, chefe da divisão de vida selvagem do Departamento de Peixes, Vida Selvagem e Parques de Montana, expressou dúvidas quanto à possibilidade de os lobos prevenirem a Enfermidade Debilitante Crônica.

“Os lobos ajudam a remover os animais doentes, mas os animais não ficam visivelmente doentes por cerca de dois anos”, disse ele. “Portanto, são portadores e disseminadores mesmo sem apresentar os sintomas clássicos”.

McDonald disse que manter uma população de lobos grande o suficiente perto de Yellowstone para controlar a Enfermidade Debilitante Crônica exigiria uma quantidade de animais socialmente inaceitável, especialmente para fazendeiros e caçadores.

O método do estado para controlar a doença, disse ele, é aumentar o número de cervos que podem ser mortos em locais onde a doença está crescendo.

Brandell, no entanto, disse que os lobos conseguem detectar a doença muito antes de ela se tornar aparente para os seres humanos, por meio do cheiro ou de uma leve mudança no movimento da presa, o que pode ser benéfico.

“Os lobos não seriam uma cura mágica em lugar nenhum”, disse ela. “Mas, em lugares onde a doença está só começando e você tem uma alcateia de predadores ativa, eles podem mantê-la sob controle, a ponto dela nunca se firmar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Será que os lobos do Parque Nacional de Yellowstone podem ser a primeira linha de defesa contra uma doença terrível que ataca rebanhos da vida selvagem?

Esta é a grande pergunta para um projeto de pesquisa em andamento no parque, e os resultados preliminares sugerem que a resposta é sim. Os pesquisadores estão estudando o que é conhecido como efeito de limpeza do predador, que ocorre quando um predador garante a saúde de uma população de presas matando os animais mais doentes. Se a ideia se sustentar, pode significar que os lobos têm um papel fundamental na limitação da disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica, que infecta veados e animais semelhantes nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os especialistas temem que um dia ela possa chegar aos humanos.

Oficiais checam um veado morto por caçador em Montana em busca de sinais da doença. Foto: Lynn Donaldson/The New York Times

“Não há ferramenta de gerenciamento que seja eficaz” para controlar a doença, disse Ellen Brandell, doutoranda em ecologia da vida selvagem na Universidade de Penn que está liderando o projeto em colaboração com o Serviço Geológico dos Estados Unidos e o Serviço Nacional de Parques. “Não existe vacina. Os predadores talvez sejam a solução”.

Muitos biólogos e conservacionistas dizem que mais pesquisas fortaleceriam o argumento de que a reintrodução de mais lobos em certas partes dos Estados Unidos pode ajudar a controlar doenças da vida selvagem, embora a ideia certamente deva enfrentar resistência de caçadores, fazendeiros e outras pessoas preocupadas com a competição dos lobos.

A Enfermidade Debilitante Crônica, doença neurológica contagiosa, é tão peculiar que alguns especialistas a chamam de “doença do espaço sideral”. Descoberta entre veados selvagens em 1981, leva à deterioração do tecido cerebral em cervídeos, principalmente veados, mas também alces, cervos e renas, com sintomas como apatia, salivação, desequilíbrio, emaciação e morte.

É causada por uma versão anormal de uma proteína celular chamada príon, que funciona de maneira muito diferente das bactérias ou vírus. A doença se espalhou por populações selvagens de cervídeos e agora se encontra em 26 estados americanos e várias províncias canadenses, bem como na Coreia do Sul e na Escandinávia.

A doença faz parte de um grupo denominado encefalopatias espongiformes transmissíveis, sendo a mais famosa a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como doença da vaca louca. Em humanos, a doença da vaca louca causa uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, e houve um surto entre pessoas na Grã-Bretanha na década de 1990 por consumo de carne contaminada.

O cozimento não mata os príons, e os especialistas temem que a Enfermidade Debilitante Crônica possa se espalhar para os humanos que caçam e consomem cervos ou outros animais infectados.

A doença infectou muitos rebanhos de veados no Wyoming e se espalhou para Montana em 2017. Ambos os estados são vizinhos a Yellowstone, então os especialistas estão preocupados com a possibilidade de a doença mortal em breve se alastrar pelos vastos rebanhos de alces e veados do parque.

A não ser, quem sabe, que as dez matilhas de lobos do parque, que no total contam cerca de cem indivíduos, ataquem e comam os animais doentes, os quais são presas mais fáceis por causa da doença (a enfermidade parece não infectar os lobos).

“Os lobos de fato vêm sendo apontados como o melhor tipo de animal para remover os veados infectados, porque perseguem suas presas e procuram as mais fracas”, disse Brandell. Por essa lógica, cervos e outros animais doentes teriam maior probabilidade de serem eliminados pelos lobos.

Lobos podem ajudar a parar ou controlar a doença porque os animais infectados são presas mais fáceis. Foto: National Park Service via The New York Times

Os resultados preliminares em Yellowstone mostraram que os lobos podem atrasar os surtos de Enfermidade Debilitante Crônica em suas presas e diminuir o tamanho do surto, disse Brandell. Há pouca pesquisa publicada sobre “o efeito de limpeza do predador” e este estudo procura dar mais fundamento para o uso de predadores no controle de doenças.

Uma das principais preocupações quanto à disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica na região de Yellowstone é o fato de Wyoming ter 22 áreas de alimentação mantidas pelo estado, as quais concentram artificialmente um grande número de alces na região de Yellowstone. E logo ao sul do Parque Nacional de Grand Teton fica o Refúgio Nacional dos Alces, onde milhares de animais, deslocados por fazendas de gado, são alimentados a cada inverno, para satisfazer os caçadores e turistas. Muitos biólogos da vida selvagem dizem que concentrar os animais em áreas tão pequenas é receita certa para a rápida disseminação da Enfermidade Debilitante Crônica.

Quando os casos da doença entre veados foram de 5% para 50% em Wisconsin e Colorado, esses estados foram classificados como pontos críticos. Mas, se a doença atingir fazendas de caça como as de Wyoming, “as taxas de prevalência vão disparar para 90 ou 100%”, disse Mark Zabel, diretor do Centro de Pesquisa em Príon da Universidade Estadual do Colorado.

Os príons são particularmente mortais. Ao contrário dos vírus e bactérias, os príons podem persistir no solo por mais de dez anos e sobreviver em meio à vegetação. Mesmo que um rebanho morra ou seja sacrificado, novos animais que entrem em contato com os príons podem ser infectados.

A origem da doença é desconhecida. Andrew P. Dobson, professor de ecologia e epidemiologia de Princeton que estudou o efeito de limpeza do predador, acredita que a doença é, em grande parte, resultado de ecossistemas com poucos predadores e necrófagos.

Restaurar a população de predadores em parques nacionais e terras selvagens seria um grande passo para o restabelecimento de ecossistemas mais saudáveis e com menos doenças, disse Dobson.

Ken McDonald, chefe da divisão de vida selvagem do Departamento de Peixes, Vida Selvagem e Parques de Montana, expressou dúvidas quanto à possibilidade de os lobos prevenirem a Enfermidade Debilitante Crônica.

“Os lobos ajudam a remover os animais doentes, mas os animais não ficam visivelmente doentes por cerca de dois anos”, disse ele. “Portanto, são portadores e disseminadores mesmo sem apresentar os sintomas clássicos”.

McDonald disse que manter uma população de lobos grande o suficiente perto de Yellowstone para controlar a Enfermidade Debilitante Crônica exigiria uma quantidade de animais socialmente inaceitável, especialmente para fazendeiros e caçadores.

O método do estado para controlar a doença, disse ele, é aumentar o número de cervos que podem ser mortos em locais onde a doença está crescendo.

Brandell, no entanto, disse que os lobos conseguem detectar a doença muito antes de ela se tornar aparente para os seres humanos, por meio do cheiro ou de uma leve mudança no movimento da presa, o que pode ser benéfico.

“Os lobos não seriam uma cura mágica em lugar nenhum”, disse ela. “Mas, em lugares onde a doença está só começando e você tem uma alcateia de predadores ativa, eles podem mantê-la sob controle, a ponto dela nunca se firmar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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