Recentemente, autoridades da Califórnia anunciaram que o Camp Fire, o mais violento incêndio da história do estado, havia sido totalmente contido. O feito só foi possível graças ao trabalho duro dos bombeiros - e à ajuda de um enxame de minúsculos satélites que representam a próxima fase da era espacial. Os satélites são operados pela Planet Labs, uma empresa de São Francisco que dirige a maior frota mundial de satélites de observação da Terra, com cerca de 140 artefatos. Todos os satélites carregam câmeras e telescópios. A maioria tem mais ou menos o tamanho de um pão caseiro.
Em conjunto, os satélites podem visualizar o mesmo local uma ou até duas vezes por dia. Os satélites comerciais só conseguiam observar um mesmo local no máximo uma vez por semana ou por mês. O ritmo mais rápido possibilita o monitoramento de mudanças ambientais mais velozes, como incêndios, inundações e furacões. “Não dá para consertar o que você não consegue ver”, disse Will Marshall, diretor-executivo da empresa.
O Camp Fire começou em 8 de novembro. No dia seguinte, uma equipe da Planet Labs começou a transmitir dados de vigilância para as autoridades estaduais. O gabinete de emergência do governador usou as imagens dos satélites para mapear as chamas que avançavam rapidamente e avaliar se as propriedades estavam intactas, danificadas ou destruídas.
A frota da Planet Labs faz parte de uma tendência à miniaturização. Menores, os satélites ficam menos caros e mais acessíveis. Durante anos, o espaço foi dominado pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Seus projetos eram imensos: foguetes tinham a altura de um prédio de vinte andares. Satélites chegaram ao tamanho de um ônibus. Satélites espiões abriam antenas quase tão grandes quanto um campo de futebol.
Para uma nova geração de fabricantes de satélites, a estreia do iPhone em 2007 foi um sinal de que suas criações também poderiam encolher. Hoje, pequenos foguetes lançam satélites do tamanho de bolsas de mão, cheios de sensores, circuitos, lentes, baterias, antenas e motores minúsculos.
No ano passado, um único lançamento na Índia colocou 104 satélites em órbita, quebrando o recorde anterior. Eles vinham da Índia, Israel, Cazaquistão, Holanda, Suíça e Emirados Árabes Unidos, bem como de duas empresas americanas, entre elas a Planet Labs. Gana, país da África Ocidental, entrou na era espacial com um satélite do tamanho de uma lata.
Normalmente, a construção e o lançamento dos artefatos custam tão pouco que universidades e até mesmo escolas de Ensino Médio estão adquirindo os seus. A NASA, a agência espacial americana, também aderiu à nova onda. Em maio, mandou para Marte um par de naves do tamanho de maletas, conhecidas como Mars Cube One - as primeiras sondas miniaturizadas a voar para além da órbita da Terra. Em outubro, uma delas tirou a primeira foto.
“Finalmente ver o planeta é, sem dúvida, uma grande vitória”, disse Cody Colley, gerente da missão. No final do mês passado, o par passou voando pelo planeta vermelho e comprovou que os dispositivos em miniatura conseguem transmitir dados de uma nave em solo marciano para a Terra, abrindo caminho para uma exploração ainda mais avançada.
Depois de passar por uma fase experimental de desenvolvimento, os minissatélites começaram a crescer em quantidade, disse Jonathan McDowell, astrônomo da Universidade de Harvard que acompanha lançamentos no mundo todo e publica o “Relatório Espacial do Jonathan”. O número total de artefatos espaciais com 10 quilos ou menos cresceu de 12 em 2011 para 89 em 2013, 125 em 2015 e 291 no ano passado. Ele acha que os números vão continuar subindo. “Durante muito tempo, as pessoas pensaram que o espaço era um campo estabelecido, que não iria mais evoluir”, disse ele. “Agora esse sentimento acabou”.
Muitos dos novos artefatos fazem trabalhos tradicionais, como avaliar plantações, mapear cidades, transmitir sinais e supervisionar recursos naturais, com menor custo. Os analistas de Wall Street estão usando muitas dessas informações para avaliar melhor os mercados futuros. Empresas como a Planet Labs querem usar a observação da Terra não para espionar, mas para ajudar cientistas e pessoas a rastrear as mudanças ambientais.
Em 3 de dezembro, na Califórnia, um foguete da SpaceX lançou mais de 64 satélites feitos pela Planet Labs e outros dezessete países. O foguete também levava o IRVINE02, o segundo minissatélite construído por um grupo de estudantes de seis escolas de Ensino Médio de Irvine, Califórnia. Um artefato do tamanho de uma mochila feito nos Estados Unidos vai enviar sinais de radar da superfície da Terra. Para isso, a Capella Space, com sede em São Francisco, contratou um especialista em origamis para descobrir como dobrar uma antena de quase nove metros quadrados para colocá-la dentro de um pacote bem apertado.
Gana está tentando construir um artefato minúsculo, com câmeras poderosas o suficiente para rastrear a mineração ilegal e o desmatamento. Elon Musk, conhecido por seus carros Tesla e foguetes SpaceX, quer construir uma rede de 12 mil minissatélites que forneceriam acesso à internet para bilhões de pessoas. É provável que a onda da miniaturização cresça: as missões ficam menos vulneráveis quando podem ser subdivididas em muitas partes minúsculas. Como disse McDowell: “Você ganha em robustez”.