'Não tenho mais medo', diz a atriz Kelly Marie Tran sobre o racismo no cinema


A atriz deixou os valentões de Star Wars para interpretar a primeira princesa do Sudeste Asiático em 'Raya, o último Dragão', filme da Disney. E ela diz: 'Finalmente estou exigindo as coisas que eu quero'

Por Sarah Bahr

Existem duas Kelly Marie Tran nesta história. Uma é segura de si, confiante e ansiosa para mostrar às jovens garotas asiático-americanas que, sim, mulheres que não têm longos cabelos loiros, grandes olhos de corça e pele de porcelana podem conseguir papéis importantes em filmes.

A outra é uma lembrança distante, embora importante.

A atriz Kelly Marie Tran deixou "Star Wars" para estrelar como a primeira princesa do sudeste asiático da Disney em "Raya e o Último Dragão". Foto: Tracy Nguyen / The New York Times
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Quando Tran escreveu um ensaio mordaz no The New York Times em agosto de 2018 criticando uma cultura que a tinha marginalizado pela cor de sua pele, ela tinha acabado de apagar suas postagens no Instagram em meio ao assédio on-line dos fãs de Star Wars. Sua atuação como Rose Tico, a primeira personagem principal de um filme de Star Wars interpretada por uma mulher não branca, foi um momento de orgulho para ela. Mas então, escreveu, começou a acreditar nos comentários racistas e sexistas dos trolls on-line. “Suas palavras reforçaram uma narrativa que ouvi durante toda a minha vida”, escreveu a atriz vietnamita-americana.

“Que eu era ‘outra’, que não pertencia a este mundo, que não era boa o suficiente, simplesmente porque não era como eles”.

Mais recentes sucessos de bilheteria como Podres de Ricos e sucessos de crítica como Minari, que se concentraram em personagens asiáticos, animaram sua visão da indústria cinematográfica e contribuíram para seu próprio fortalecimento. “Estou finalmente demandando as coisas que quero e aprendendo a confiar em minha própria opinião”, disse ela em uma entrevista por vídeo de Los Angeles. “E eu gostaria muito de ter crescido em um mundo que me ensinasse como chegar a isso numa idade mais jovem.”

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Tran é a voz da princesa guerreira Raya (que rima com Maya) no filme de animação Raya e o Último Dragão, que foi lançado pela Disney +. O que faz dela a primeira atriz descendente do sudeste asiático a ter o papel principal em um filme de animação da Disney, um marco que ela não considera levianamente.

“Sinto um enorme senso de responsabilidade”, disse. Honestamente, não tenho dormido há duas semanas.

Na conversa, Tran falou como os filmes de Star Wars a prepararam para a pressão de ser uma princesa da Disney, o boom das histórias asiáticas e americano-asiáticas na tela e os prós e contras da vida sem mídia social. Abaixo, trechos editados da entrevista.

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Você tem intencionalmente por objetivo papéis que quebram barreiras?

Eu desejo! Nunca pensei que faria o que estou fazendo agora. Fui a primeira mulher de cor a ter um papel principal em um filme de Guerra nas Estrelas. Sou a primeira princesa da Disney do sudeste asiático - essas são coisas que ninguém com minha aparência fez antes.

Em seu ensaio no New York Times, você falou sobre o assédio que sofreu depois de seu papel em Star Wars: O Último Jedi. Dada a recente série de filmes asiáticos e asiático-americanos de sucesso, parece que as coisas mudaram em Hollywood?

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Estou tão animada que mais filmes como Podres de Ricos, Parasita e Minari vêm sendo produzidos. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa mudança em termos de se produzir filmes que homenageiam pessoas dessas partes do mundo. Mas também houve muitos crimes de ódio contra asiáticos recentemente, por isso ainda há muito trabalho a ser feito.

Você ainda teria feito Guerra nas Estrelas sabendo do assédio que enfrentaria?

[Longa pausa] Acho que teria feito de qualquer maneira. Trabalhar naquele primeiro filme foi muito divertido - foi como ser admitido em Hogwarts. Parecia algo impossível e então eu me vi trabalhando nele. Eu realmente não olho para trás e fico lamentando. Star Wars foi como se eu tivesse me apaixonado pela primeira vez, depois houve um rompimento muito ruim, mas então aprendi a amar novamente, e agora estou em um relacionamento melhor com Raya. Eu mudei, e é ótimo.

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Em que você é uma pessoa diferente do que era há três anos?

Eu tinha muito medo e colocava muita pressão sobre mim mesma no começo. Você acha que tem de fazer as coisas da maneira certa ou ninguém lhe dará uma outra chance. Mas hoje sou uma pessoa muito mais forte e tenho as ferramentas para reagir a essas situações quando elas acontecem. Eu não tenho mais medo. Finalmente estou abrindo espaço para mim e exigindo as coisas que quero. Deus, eu gostaria de saber como fazer isso há 10 anos!

Cite algumas coisas que, agora, você se sente mais à vontade para exigir?

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Tenho sido muito eloquente quanto aos projetos que faço e os que não quero me envolver. Jamais quero promover um estereótipo ou aceitar um trabalho que me faça sentir que estou perpetuando algum tipo de ideia sobre o que é ser asiático. E eu tenho sido muito, muito inflexível quanto aos meus limites. Deixar as redes sociais foi muito saudável mentalmente para mim, embora eu tenha ouvido repetidamente: “você não vai conseguir patrocínios”, mas não me importo com isso porque sei o que é melhor para mim e sei que hoje estou mais feliz do que nunca.

O que é mais encorajador para você na indústria do entretenimento neste momento?

Estou mais inspirada pelas pessoas que continuam a lutar para que suas vozes sejam ouvidas, e não apenas na comunidade asiática, mas nas comunidades negras, trans, LGBTQ e outras comunidades sub-representadas. Nos meus dias mais difíceis, quando me sinto triste e insegura comigo mesma, esse é o tipo de programas que assisto e as histórias para as quais eu me volto. O que me dá muita esperança de que as pessoas estão falando suas verdades e realmente ouvindo.

Que conselho você daria para jovens atores asiático-americanos?

Não se culpe se alguém não é educado o suficiente para entender que existem diferentes tipos de pessoas no mundo que merecem ser ouvidas. Não internalize o racismo, não internalize a misoginia, abra espaço para você e exija o que quiser, porque ninguém vai abrir espaço para você. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Existem duas Kelly Marie Tran nesta história. Uma é segura de si, confiante e ansiosa para mostrar às jovens garotas asiático-americanas que, sim, mulheres que não têm longos cabelos loiros, grandes olhos de corça e pele de porcelana podem conseguir papéis importantes em filmes.

A outra é uma lembrança distante, embora importante.

A atriz Kelly Marie Tran deixou "Star Wars" para estrelar como a primeira princesa do sudeste asiático da Disney em "Raya e o Último Dragão". Foto: Tracy Nguyen / The New York Times

Quando Tran escreveu um ensaio mordaz no The New York Times em agosto de 2018 criticando uma cultura que a tinha marginalizado pela cor de sua pele, ela tinha acabado de apagar suas postagens no Instagram em meio ao assédio on-line dos fãs de Star Wars. Sua atuação como Rose Tico, a primeira personagem principal de um filme de Star Wars interpretada por uma mulher não branca, foi um momento de orgulho para ela. Mas então, escreveu, começou a acreditar nos comentários racistas e sexistas dos trolls on-line. “Suas palavras reforçaram uma narrativa que ouvi durante toda a minha vida”, escreveu a atriz vietnamita-americana.

“Que eu era ‘outra’, que não pertencia a este mundo, que não era boa o suficiente, simplesmente porque não era como eles”.

Mais recentes sucessos de bilheteria como Podres de Ricos e sucessos de crítica como Minari, que se concentraram em personagens asiáticos, animaram sua visão da indústria cinematográfica e contribuíram para seu próprio fortalecimento. “Estou finalmente demandando as coisas que quero e aprendendo a confiar em minha própria opinião”, disse ela em uma entrevista por vídeo de Los Angeles. “E eu gostaria muito de ter crescido em um mundo que me ensinasse como chegar a isso numa idade mais jovem.”

Tran é a voz da princesa guerreira Raya (que rima com Maya) no filme de animação Raya e o Último Dragão, que foi lançado pela Disney +. O que faz dela a primeira atriz descendente do sudeste asiático a ter o papel principal em um filme de animação da Disney, um marco que ela não considera levianamente.

“Sinto um enorme senso de responsabilidade”, disse. Honestamente, não tenho dormido há duas semanas.

Na conversa, Tran falou como os filmes de Star Wars a prepararam para a pressão de ser uma princesa da Disney, o boom das histórias asiáticas e americano-asiáticas na tela e os prós e contras da vida sem mídia social. Abaixo, trechos editados da entrevista.

Você tem intencionalmente por objetivo papéis que quebram barreiras?

Eu desejo! Nunca pensei que faria o que estou fazendo agora. Fui a primeira mulher de cor a ter um papel principal em um filme de Guerra nas Estrelas. Sou a primeira princesa da Disney do sudeste asiático - essas são coisas que ninguém com minha aparência fez antes.

Em seu ensaio no New York Times, você falou sobre o assédio que sofreu depois de seu papel em Star Wars: O Último Jedi. Dada a recente série de filmes asiáticos e asiático-americanos de sucesso, parece que as coisas mudaram em Hollywood?

Estou tão animada que mais filmes como Podres de Ricos, Parasita e Minari vêm sendo produzidos. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa mudança em termos de se produzir filmes que homenageiam pessoas dessas partes do mundo. Mas também houve muitos crimes de ódio contra asiáticos recentemente, por isso ainda há muito trabalho a ser feito.

Você ainda teria feito Guerra nas Estrelas sabendo do assédio que enfrentaria?

[Longa pausa] Acho que teria feito de qualquer maneira. Trabalhar naquele primeiro filme foi muito divertido - foi como ser admitido em Hogwarts. Parecia algo impossível e então eu me vi trabalhando nele. Eu realmente não olho para trás e fico lamentando. Star Wars foi como se eu tivesse me apaixonado pela primeira vez, depois houve um rompimento muito ruim, mas então aprendi a amar novamente, e agora estou em um relacionamento melhor com Raya. Eu mudei, e é ótimo.

Em que você é uma pessoa diferente do que era há três anos?

Eu tinha muito medo e colocava muita pressão sobre mim mesma no começo. Você acha que tem de fazer as coisas da maneira certa ou ninguém lhe dará uma outra chance. Mas hoje sou uma pessoa muito mais forte e tenho as ferramentas para reagir a essas situações quando elas acontecem. Eu não tenho mais medo. Finalmente estou abrindo espaço para mim e exigindo as coisas que quero. Deus, eu gostaria de saber como fazer isso há 10 anos!

Cite algumas coisas que, agora, você se sente mais à vontade para exigir?

Tenho sido muito eloquente quanto aos projetos que faço e os que não quero me envolver. Jamais quero promover um estereótipo ou aceitar um trabalho que me faça sentir que estou perpetuando algum tipo de ideia sobre o que é ser asiático. E eu tenho sido muito, muito inflexível quanto aos meus limites. Deixar as redes sociais foi muito saudável mentalmente para mim, embora eu tenha ouvido repetidamente: “você não vai conseguir patrocínios”, mas não me importo com isso porque sei o que é melhor para mim e sei que hoje estou mais feliz do que nunca.

O que é mais encorajador para você na indústria do entretenimento neste momento?

Estou mais inspirada pelas pessoas que continuam a lutar para que suas vozes sejam ouvidas, e não apenas na comunidade asiática, mas nas comunidades negras, trans, LGBTQ e outras comunidades sub-representadas. Nos meus dias mais difíceis, quando me sinto triste e insegura comigo mesma, esse é o tipo de programas que assisto e as histórias para as quais eu me volto. O que me dá muita esperança de que as pessoas estão falando suas verdades e realmente ouvindo.

Que conselho você daria para jovens atores asiático-americanos?

Não se culpe se alguém não é educado o suficiente para entender que existem diferentes tipos de pessoas no mundo que merecem ser ouvidas. Não internalize o racismo, não internalize a misoginia, abra espaço para você e exija o que quiser, porque ninguém vai abrir espaço para você. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Existem duas Kelly Marie Tran nesta história. Uma é segura de si, confiante e ansiosa para mostrar às jovens garotas asiático-americanas que, sim, mulheres que não têm longos cabelos loiros, grandes olhos de corça e pele de porcelana podem conseguir papéis importantes em filmes.

A outra é uma lembrança distante, embora importante.

A atriz Kelly Marie Tran deixou "Star Wars" para estrelar como a primeira princesa do sudeste asiático da Disney em "Raya e o Último Dragão". Foto: Tracy Nguyen / The New York Times

Quando Tran escreveu um ensaio mordaz no The New York Times em agosto de 2018 criticando uma cultura que a tinha marginalizado pela cor de sua pele, ela tinha acabado de apagar suas postagens no Instagram em meio ao assédio on-line dos fãs de Star Wars. Sua atuação como Rose Tico, a primeira personagem principal de um filme de Star Wars interpretada por uma mulher não branca, foi um momento de orgulho para ela. Mas então, escreveu, começou a acreditar nos comentários racistas e sexistas dos trolls on-line. “Suas palavras reforçaram uma narrativa que ouvi durante toda a minha vida”, escreveu a atriz vietnamita-americana.

“Que eu era ‘outra’, que não pertencia a este mundo, que não era boa o suficiente, simplesmente porque não era como eles”.

Mais recentes sucessos de bilheteria como Podres de Ricos e sucessos de crítica como Minari, que se concentraram em personagens asiáticos, animaram sua visão da indústria cinematográfica e contribuíram para seu próprio fortalecimento. “Estou finalmente demandando as coisas que quero e aprendendo a confiar em minha própria opinião”, disse ela em uma entrevista por vídeo de Los Angeles. “E eu gostaria muito de ter crescido em um mundo que me ensinasse como chegar a isso numa idade mais jovem.”

Tran é a voz da princesa guerreira Raya (que rima com Maya) no filme de animação Raya e o Último Dragão, que foi lançado pela Disney +. O que faz dela a primeira atriz descendente do sudeste asiático a ter o papel principal em um filme de animação da Disney, um marco que ela não considera levianamente.

“Sinto um enorme senso de responsabilidade”, disse. Honestamente, não tenho dormido há duas semanas.

Na conversa, Tran falou como os filmes de Star Wars a prepararam para a pressão de ser uma princesa da Disney, o boom das histórias asiáticas e americano-asiáticas na tela e os prós e contras da vida sem mídia social. Abaixo, trechos editados da entrevista.

Você tem intencionalmente por objetivo papéis que quebram barreiras?

Eu desejo! Nunca pensei que faria o que estou fazendo agora. Fui a primeira mulher de cor a ter um papel principal em um filme de Guerra nas Estrelas. Sou a primeira princesa da Disney do sudeste asiático - essas são coisas que ninguém com minha aparência fez antes.

Em seu ensaio no New York Times, você falou sobre o assédio que sofreu depois de seu papel em Star Wars: O Último Jedi. Dada a recente série de filmes asiáticos e asiático-americanos de sucesso, parece que as coisas mudaram em Hollywood?

Estou tão animada que mais filmes como Podres de Ricos, Parasita e Minari vêm sendo produzidos. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa mudança em termos de se produzir filmes que homenageiam pessoas dessas partes do mundo. Mas também houve muitos crimes de ódio contra asiáticos recentemente, por isso ainda há muito trabalho a ser feito.

Você ainda teria feito Guerra nas Estrelas sabendo do assédio que enfrentaria?

[Longa pausa] Acho que teria feito de qualquer maneira. Trabalhar naquele primeiro filme foi muito divertido - foi como ser admitido em Hogwarts. Parecia algo impossível e então eu me vi trabalhando nele. Eu realmente não olho para trás e fico lamentando. Star Wars foi como se eu tivesse me apaixonado pela primeira vez, depois houve um rompimento muito ruim, mas então aprendi a amar novamente, e agora estou em um relacionamento melhor com Raya. Eu mudei, e é ótimo.

Em que você é uma pessoa diferente do que era há três anos?

Eu tinha muito medo e colocava muita pressão sobre mim mesma no começo. Você acha que tem de fazer as coisas da maneira certa ou ninguém lhe dará uma outra chance. Mas hoje sou uma pessoa muito mais forte e tenho as ferramentas para reagir a essas situações quando elas acontecem. Eu não tenho mais medo. Finalmente estou abrindo espaço para mim e exigindo as coisas que quero. Deus, eu gostaria de saber como fazer isso há 10 anos!

Cite algumas coisas que, agora, você se sente mais à vontade para exigir?

Tenho sido muito eloquente quanto aos projetos que faço e os que não quero me envolver. Jamais quero promover um estereótipo ou aceitar um trabalho que me faça sentir que estou perpetuando algum tipo de ideia sobre o que é ser asiático. E eu tenho sido muito, muito inflexível quanto aos meus limites. Deixar as redes sociais foi muito saudável mentalmente para mim, embora eu tenha ouvido repetidamente: “você não vai conseguir patrocínios”, mas não me importo com isso porque sei o que é melhor para mim e sei que hoje estou mais feliz do que nunca.

O que é mais encorajador para você na indústria do entretenimento neste momento?

Estou mais inspirada pelas pessoas que continuam a lutar para que suas vozes sejam ouvidas, e não apenas na comunidade asiática, mas nas comunidades negras, trans, LGBTQ e outras comunidades sub-representadas. Nos meus dias mais difíceis, quando me sinto triste e insegura comigo mesma, esse é o tipo de programas que assisto e as histórias para as quais eu me volto. O que me dá muita esperança de que as pessoas estão falando suas verdades e realmente ouvindo.

Que conselho você daria para jovens atores asiático-americanos?

Não se culpe se alguém não é educado o suficiente para entender que existem diferentes tipos de pessoas no mundo que merecem ser ouvidas. Não internalize o racismo, não internalize a misoginia, abra espaço para você e exija o que quiser, porque ninguém vai abrir espaço para você. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Existem duas Kelly Marie Tran nesta história. Uma é segura de si, confiante e ansiosa para mostrar às jovens garotas asiático-americanas que, sim, mulheres que não têm longos cabelos loiros, grandes olhos de corça e pele de porcelana podem conseguir papéis importantes em filmes.

A outra é uma lembrança distante, embora importante.

A atriz Kelly Marie Tran deixou "Star Wars" para estrelar como a primeira princesa do sudeste asiático da Disney em "Raya e o Último Dragão". Foto: Tracy Nguyen / The New York Times

Quando Tran escreveu um ensaio mordaz no The New York Times em agosto de 2018 criticando uma cultura que a tinha marginalizado pela cor de sua pele, ela tinha acabado de apagar suas postagens no Instagram em meio ao assédio on-line dos fãs de Star Wars. Sua atuação como Rose Tico, a primeira personagem principal de um filme de Star Wars interpretada por uma mulher não branca, foi um momento de orgulho para ela. Mas então, escreveu, começou a acreditar nos comentários racistas e sexistas dos trolls on-line. “Suas palavras reforçaram uma narrativa que ouvi durante toda a minha vida”, escreveu a atriz vietnamita-americana.

“Que eu era ‘outra’, que não pertencia a este mundo, que não era boa o suficiente, simplesmente porque não era como eles”.

Mais recentes sucessos de bilheteria como Podres de Ricos e sucessos de crítica como Minari, que se concentraram em personagens asiáticos, animaram sua visão da indústria cinematográfica e contribuíram para seu próprio fortalecimento. “Estou finalmente demandando as coisas que quero e aprendendo a confiar em minha própria opinião”, disse ela em uma entrevista por vídeo de Los Angeles. “E eu gostaria muito de ter crescido em um mundo que me ensinasse como chegar a isso numa idade mais jovem.”

Tran é a voz da princesa guerreira Raya (que rima com Maya) no filme de animação Raya e o Último Dragão, que foi lançado pela Disney +. O que faz dela a primeira atriz descendente do sudeste asiático a ter o papel principal em um filme de animação da Disney, um marco que ela não considera levianamente.

“Sinto um enorme senso de responsabilidade”, disse. Honestamente, não tenho dormido há duas semanas.

Na conversa, Tran falou como os filmes de Star Wars a prepararam para a pressão de ser uma princesa da Disney, o boom das histórias asiáticas e americano-asiáticas na tela e os prós e contras da vida sem mídia social. Abaixo, trechos editados da entrevista.

Você tem intencionalmente por objetivo papéis que quebram barreiras?

Eu desejo! Nunca pensei que faria o que estou fazendo agora. Fui a primeira mulher de cor a ter um papel principal em um filme de Guerra nas Estrelas. Sou a primeira princesa da Disney do sudeste asiático - essas são coisas que ninguém com minha aparência fez antes.

Em seu ensaio no New York Times, você falou sobre o assédio que sofreu depois de seu papel em Star Wars: O Último Jedi. Dada a recente série de filmes asiáticos e asiático-americanos de sucesso, parece que as coisas mudaram em Hollywood?

Estou tão animada que mais filmes como Podres de Ricos, Parasita e Minari vêm sendo produzidos. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa mudança em termos de se produzir filmes que homenageiam pessoas dessas partes do mundo. Mas também houve muitos crimes de ódio contra asiáticos recentemente, por isso ainda há muito trabalho a ser feito.

Você ainda teria feito Guerra nas Estrelas sabendo do assédio que enfrentaria?

[Longa pausa] Acho que teria feito de qualquer maneira. Trabalhar naquele primeiro filme foi muito divertido - foi como ser admitido em Hogwarts. Parecia algo impossível e então eu me vi trabalhando nele. Eu realmente não olho para trás e fico lamentando. Star Wars foi como se eu tivesse me apaixonado pela primeira vez, depois houve um rompimento muito ruim, mas então aprendi a amar novamente, e agora estou em um relacionamento melhor com Raya. Eu mudei, e é ótimo.

Em que você é uma pessoa diferente do que era há três anos?

Eu tinha muito medo e colocava muita pressão sobre mim mesma no começo. Você acha que tem de fazer as coisas da maneira certa ou ninguém lhe dará uma outra chance. Mas hoje sou uma pessoa muito mais forte e tenho as ferramentas para reagir a essas situações quando elas acontecem. Eu não tenho mais medo. Finalmente estou abrindo espaço para mim e exigindo as coisas que quero. Deus, eu gostaria de saber como fazer isso há 10 anos!

Cite algumas coisas que, agora, você se sente mais à vontade para exigir?

Tenho sido muito eloquente quanto aos projetos que faço e os que não quero me envolver. Jamais quero promover um estereótipo ou aceitar um trabalho que me faça sentir que estou perpetuando algum tipo de ideia sobre o que é ser asiático. E eu tenho sido muito, muito inflexível quanto aos meus limites. Deixar as redes sociais foi muito saudável mentalmente para mim, embora eu tenha ouvido repetidamente: “você não vai conseguir patrocínios”, mas não me importo com isso porque sei o que é melhor para mim e sei que hoje estou mais feliz do que nunca.

O que é mais encorajador para você na indústria do entretenimento neste momento?

Estou mais inspirada pelas pessoas que continuam a lutar para que suas vozes sejam ouvidas, e não apenas na comunidade asiática, mas nas comunidades negras, trans, LGBTQ e outras comunidades sub-representadas. Nos meus dias mais difíceis, quando me sinto triste e insegura comigo mesma, esse é o tipo de programas que assisto e as histórias para as quais eu me volto. O que me dá muita esperança de que as pessoas estão falando suas verdades e realmente ouvindo.

Que conselho você daria para jovens atores asiático-americanos?

Não se culpe se alguém não é educado o suficiente para entender que existem diferentes tipos de pessoas no mundo que merecem ser ouvidas. Não internalize o racismo, não internalize a misoginia, abra espaço para você e exija o que quiser, porque ninguém vai abrir espaço para você. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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