Colecionador adquire bebidas alcoólicas raras de Cecil B. DeMille


Kevin Langdon Ackerman faz parte do grupo de colecionadores de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage

Por Aaron Goldfarb

Kevin Langdon Ackerman tinha uma boa pista, por isso saiu de casa, no bairro de Beachwood Canyon, em Los Angeles, em uma manhã de terça-feira em agosto e dirigiu 29 quilômetros no sentido noroeste até Sylmar, na Califórnia. Ele dirigiu seu BMW preto metálico pela 210 e subiu a estrada sinuosa até o topo do cânion Little Tujunga; à direita, Middle Ranch, uma instalação equestre e um popular local para a realização de festas de casamento; à esquerda, propriedades multimilionárias, tudo cercado pelas montanhas da Floresta Nacional de Angeles.

Por fim, chegou ao seu destino, uma casa no estilo Santa Fé construída no início do século XX. Chegando lá, encontrou-se com Caroline Debbané, que o conduziu não pela porta da frente, mas pelos fundos da propriedade. Uma moderna fechadura com código abriu as portas do porão e os dois desceram um lance de degraus de concreto até o bunker.

Parte da coleção de bebidas alcoólicas de Kevin Langdon Ackerman, incluindo algumas garrafas da era da proibição de propriedade do cineasta americano Cecil B. DeMille, em Los Angeles. Foto: Rozette Rago/The New York Times
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Uma parede inteira tinha garrafas de vinho embutidas e, ao lado dela, garrafas empoeiradas de vinho e de champanhe. Outra parede funcionava como um armário de bebidas, com mais garrafas de bourbon, uísque irlandês e rum, intocadas por mais de meio século. Ackerman encontrou a coleção de bebidas de Cecil B. DeMille, o lendário diretor e produtor.

"Fiquei pensando: 'Minha nossa! Quero e preciso conseguir isso.' Na minha cabeça, isso é fruto de minha incrível vigilância nos últimos oito anos", disse ele. Ackerman, ele próprio um hábil cineasta, também é um "dusty hunter" (caçador empoeirado, em tradução literal), ou seja, um colecionador de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage, geralmente de uísque americano.

As discussões sobre colecionar garrafas antigas e o uso do termo exato apareceram na internet por volta de 2007, principalmente em blogs e fóruns de fãs de uísque, como o Straight Bourbon. Embora seja um hobby relativamente novo, ele já está chegando ao fim, porque há cada vez menos garrafas a descobrir por aí.

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Ackerman aceitou o desafio em 2012, depois de ler um artigo online sobre um grupo de amigos que voou especificamente até o Kentucky para procurar, nas prateleiras das lojas de bebidas, velhas garrafas de bourbon da muito elogiada, mas já extinta, destilaria Stitzel-Weller.

Nos anos seguintes, Ackerman iria atrás de garrafas antigas várias vezes por semana, alternando entre trabalhar em um projeto de filme em um dia e dirigir pela grande Los Angeles nos outros. Se a cidade tem mais de 1.500 pontos de venda de bebida alcoólica, ele calcula ter visitado a maioria deles.

"De uma forma muito real, cerca de seis anos atrás, as pessoas começaram a perceber que comprar garrafas antigas é, em certo sentido, como construir um portfólio de investimentos. Elas vão se valorizar como a barriga de porco, a prata ou o ouro. Garrafas que me custaram US$ 20 passaram a valer US$ 800 e, para mim, isso é muito mais divertido do que comprar um título municipal do departamento de água de Los Angeles. Prefiro caçar em lojas de bebidas alcoólicas", contou Ackerman.

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Pablo Moix foi um dos primeiros colecionadores de garrafas antigas dos Estados Unidos. Em seus dias de produção de drinques como o Midslide, no fim dos anos 1990, Moix, de 45 anos, um experiente barman, começou a pegar todas as garrafas antigas e intrigantes que via em lojas de bebidas.

"Eu estava acumulando coisas estranhas só para tê-las em casa. Por fim, comecei a me perguntar: 'Por que isso é tão valioso? Por que isso é colecionável?'". Nos primeiros anos, quando Moix transformou sua arte de colecionar garrafas antigas em algo mais intencional, saiu em busca de tequila; muitas marcas haviam desaparecido e ele as procurava ansiosamente. Em 2011, percebeu um crescente interesse pelo uísque americano, com mais colecionadores entrando na cena.

Na época, ele trabalhava como comprador de bebidas em um bar de Los Angeles e imediatamente começou a estocar caixas de uísque Rittenhouse envelhecido, Vintage Bourbon 17 Year Old e Old Fitzgerald Bottled-in-Bond, que já foi produzido pela Stitzel-Weller quando Julian "Pappy" Van Winkle estava literalmente no comando.

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No fim, ele e um parceiro de negócios, Steve Livigni, passavam dez horas por dia, todos os dias, procurando garrafas por toda a Califórnia e pela Península da Baixa Califórnia, no México. Em uma viagem, visitaram praticamente todas as lojas de bebidas entre Detroit e Los Angeles.

"Mais tarde, descobrimos que estávamos indo a lojas de bebidas em bairros que são considerados verdadeiras zonas de guerra", disse Moix. Embora possam ter vergonha de admitir, os colecionadores de garrafas antigas há muito acreditam que, quanto mais violento for o bairro e quanto mais protegido atrás de vidros à prova de balas estiver o caixa, maior será a probabilidade de encontrarem ótimas marcas vintage.

Talvez o colecionador de garrafas antigas mais conhecido hoje em dia seja Eric Witz, de 42 anos, editor de produção sênior da MIT Press, que posta as avaliações em seu perfil no Instagram @aphonik, muitas vezes com uma análise detalhada das origens de cada garrafa. Ele começou a colecionar garrafas antigas por volta de 2010, com a compra de uma garrafa de Forbidden Fruit dos anos 1940, um estranho licor de toranja e mel que não está mais no mercado há décadas.

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Witz coleciona não apenas uísque, a obsessão da maioria dos colecionadores de garrafas antigas de hoje em dia, mas rum vintage, brandy e Chartreuse, todos os quais estão se valorizando no momento. "Adoro a ideia de poder saborear algo que foi feito há algumas gerações", comentou ele.

Os destilados têm um teor alcóolico maior do que o vinho, por isso realmente não envelhecem nem se estragam na garrafa; assim, são como cápsulas do tempo que podem ser bebidas. Na verdade, a maioria dos colecionadores de garradas antigas acredita que os destilados vintage têm um sabor superior ao que está sendo feito hoje, mesmo que não consigam explicar por quê.

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Talvez naquela época o material fosse melhor e o método de produção fosse mais artesanal, talvez os conglomerados internacionais de bebidas ainda não tivessem destruído a qualidade, ou talvez algo mágico aconteça com o vidro ao longo de todos esses anos.

"Quando um pouco de álcool vaza, a concentração fica mais profunda. A profundidade e a riqueza são como a diferença entre o xarope simples e o xarope de bordo", explicou Scott Torrence, de 52 anos, proprietário da Chapter 4, fornecedora de bebidas finas e raras em Culver City, na Califórnia, que provou bastante bourbon da era da Lei Seca. Os colecionadores de garrafas antigas como Ackerman, Moix e Witz entraram na hora perfeita nesse mundo.

Em 2010, a indústria de bourbon valia US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos; hoje, vale mais de US$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas. Esse entusiasmo fez com que mais colecionadores quisessem revisitar as garrafas da chamada era do "excesso", as décadas de 1960 a 1990, quando a ascensão da vodca e uma falta de interesse geral por destilados marrons fizeram com que muitas garrafas excelentes nunca fossem compradas e ficassem paradas nas prateleiras das lojas, juntando uma fina camada de sujeira.

Embora alguns digam que os dias de glória dos colecionadores de garrafas antigas já acabaram há muito tempo, com quase todas as lojas de bebidas nos Estados Unidos agora completamente recuperadas, ainda há jovens otimistas adotando o hobby, como Jonah Goodman, consultor de restaurante de 22 anos em Atlanta.

Criado em Louisville, no Kentucky, por um pai que amava bourbon, Goodman se apaixonou precocemente pela bebida. Em 2018, pouco depois de ter atingido a idade para beber legalmente, ele começou a vasculhar as lojas de bebidas do Kentucky, chegando a encontrar uma Eagle Rare 101 de 1984 em seus primeiros dias.

Goodman acredita que a pandemia injetou vida nova no hobby, como em tantos outros. "Houve uma grande quantidade de descobertas recentes, já que muitas pessoas estão entediadas, presas em casa, e começaram a procurar lojas", disse Goodman, observando que ainda deve haver garrafas vintage no fundo das lojas de bebidas que, enfim, estão sendo colocadas na parte da frente.

Ele também suspeita que os distribuidores finalmente tiveram tempo para reorganizar seus estoques e agora estão enviando garrafas remanescentes do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 para o varejo. "Quero morrer quando vejo pessoas no Instagram postando algo que acabaram de encontrar em Atlanta. Quero morrer."

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Kevin Langdon Ackerman tinha uma boa pista, por isso saiu de casa, no bairro de Beachwood Canyon, em Los Angeles, em uma manhã de terça-feira em agosto e dirigiu 29 quilômetros no sentido noroeste até Sylmar, na Califórnia. Ele dirigiu seu BMW preto metálico pela 210 e subiu a estrada sinuosa até o topo do cânion Little Tujunga; à direita, Middle Ranch, uma instalação equestre e um popular local para a realização de festas de casamento; à esquerda, propriedades multimilionárias, tudo cercado pelas montanhas da Floresta Nacional de Angeles.

Por fim, chegou ao seu destino, uma casa no estilo Santa Fé construída no início do século XX. Chegando lá, encontrou-se com Caroline Debbané, que o conduziu não pela porta da frente, mas pelos fundos da propriedade. Uma moderna fechadura com código abriu as portas do porão e os dois desceram um lance de degraus de concreto até o bunker.

Parte da coleção de bebidas alcoólicas de Kevin Langdon Ackerman, incluindo algumas garrafas da era da proibição de propriedade do cineasta americano Cecil B. DeMille, em Los Angeles. Foto: Rozette Rago/The New York Times

Uma parede inteira tinha garrafas de vinho embutidas e, ao lado dela, garrafas empoeiradas de vinho e de champanhe. Outra parede funcionava como um armário de bebidas, com mais garrafas de bourbon, uísque irlandês e rum, intocadas por mais de meio século. Ackerman encontrou a coleção de bebidas de Cecil B. DeMille, o lendário diretor e produtor.

"Fiquei pensando: 'Minha nossa! Quero e preciso conseguir isso.' Na minha cabeça, isso é fruto de minha incrível vigilância nos últimos oito anos", disse ele. Ackerman, ele próprio um hábil cineasta, também é um "dusty hunter" (caçador empoeirado, em tradução literal), ou seja, um colecionador de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage, geralmente de uísque americano.

As discussões sobre colecionar garrafas antigas e o uso do termo exato apareceram na internet por volta de 2007, principalmente em blogs e fóruns de fãs de uísque, como o Straight Bourbon. Embora seja um hobby relativamente novo, ele já está chegando ao fim, porque há cada vez menos garrafas a descobrir por aí.

Ackerman aceitou o desafio em 2012, depois de ler um artigo online sobre um grupo de amigos que voou especificamente até o Kentucky para procurar, nas prateleiras das lojas de bebidas, velhas garrafas de bourbon da muito elogiada, mas já extinta, destilaria Stitzel-Weller.

Nos anos seguintes, Ackerman iria atrás de garrafas antigas várias vezes por semana, alternando entre trabalhar em um projeto de filme em um dia e dirigir pela grande Los Angeles nos outros. Se a cidade tem mais de 1.500 pontos de venda de bebida alcoólica, ele calcula ter visitado a maioria deles.

"De uma forma muito real, cerca de seis anos atrás, as pessoas começaram a perceber que comprar garrafas antigas é, em certo sentido, como construir um portfólio de investimentos. Elas vão se valorizar como a barriga de porco, a prata ou o ouro. Garrafas que me custaram US$ 20 passaram a valer US$ 800 e, para mim, isso é muito mais divertido do que comprar um título municipal do departamento de água de Los Angeles. Prefiro caçar em lojas de bebidas alcoólicas", contou Ackerman.

Pablo Moix foi um dos primeiros colecionadores de garrafas antigas dos Estados Unidos. Em seus dias de produção de drinques como o Midslide, no fim dos anos 1990, Moix, de 45 anos, um experiente barman, começou a pegar todas as garrafas antigas e intrigantes que via em lojas de bebidas.

"Eu estava acumulando coisas estranhas só para tê-las em casa. Por fim, comecei a me perguntar: 'Por que isso é tão valioso? Por que isso é colecionável?'". Nos primeiros anos, quando Moix transformou sua arte de colecionar garrafas antigas em algo mais intencional, saiu em busca de tequila; muitas marcas haviam desaparecido e ele as procurava ansiosamente. Em 2011, percebeu um crescente interesse pelo uísque americano, com mais colecionadores entrando na cena.

Na época, ele trabalhava como comprador de bebidas em um bar de Los Angeles e imediatamente começou a estocar caixas de uísque Rittenhouse envelhecido, Vintage Bourbon 17 Year Old e Old Fitzgerald Bottled-in-Bond, que já foi produzido pela Stitzel-Weller quando Julian "Pappy" Van Winkle estava literalmente no comando.

No fim, ele e um parceiro de negócios, Steve Livigni, passavam dez horas por dia, todos os dias, procurando garrafas por toda a Califórnia e pela Península da Baixa Califórnia, no México. Em uma viagem, visitaram praticamente todas as lojas de bebidas entre Detroit e Los Angeles.

"Mais tarde, descobrimos que estávamos indo a lojas de bebidas em bairros que são considerados verdadeiras zonas de guerra", disse Moix. Embora possam ter vergonha de admitir, os colecionadores de garrafas antigas há muito acreditam que, quanto mais violento for o bairro e quanto mais protegido atrás de vidros à prova de balas estiver o caixa, maior será a probabilidade de encontrarem ótimas marcas vintage.

Talvez o colecionador de garrafas antigas mais conhecido hoje em dia seja Eric Witz, de 42 anos, editor de produção sênior da MIT Press, que posta as avaliações em seu perfil no Instagram @aphonik, muitas vezes com uma análise detalhada das origens de cada garrafa. Ele começou a colecionar garrafas antigas por volta de 2010, com a compra de uma garrafa de Forbidden Fruit dos anos 1940, um estranho licor de toranja e mel que não está mais no mercado há décadas.

reference

Witz coleciona não apenas uísque, a obsessão da maioria dos colecionadores de garrafas antigas de hoje em dia, mas rum vintage, brandy e Chartreuse, todos os quais estão se valorizando no momento. "Adoro a ideia de poder saborear algo que foi feito há algumas gerações", comentou ele.

Os destilados têm um teor alcóolico maior do que o vinho, por isso realmente não envelhecem nem se estragam na garrafa; assim, são como cápsulas do tempo que podem ser bebidas. Na verdade, a maioria dos colecionadores de garradas antigas acredita que os destilados vintage têm um sabor superior ao que está sendo feito hoje, mesmo que não consigam explicar por quê.

Talvez naquela época o material fosse melhor e o método de produção fosse mais artesanal, talvez os conglomerados internacionais de bebidas ainda não tivessem destruído a qualidade, ou talvez algo mágico aconteça com o vidro ao longo de todos esses anos.

"Quando um pouco de álcool vaza, a concentração fica mais profunda. A profundidade e a riqueza são como a diferença entre o xarope simples e o xarope de bordo", explicou Scott Torrence, de 52 anos, proprietário da Chapter 4, fornecedora de bebidas finas e raras em Culver City, na Califórnia, que provou bastante bourbon da era da Lei Seca. Os colecionadores de garrafas antigas como Ackerman, Moix e Witz entraram na hora perfeita nesse mundo.

Em 2010, a indústria de bourbon valia US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos; hoje, vale mais de US$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas. Esse entusiasmo fez com que mais colecionadores quisessem revisitar as garrafas da chamada era do "excesso", as décadas de 1960 a 1990, quando a ascensão da vodca e uma falta de interesse geral por destilados marrons fizeram com que muitas garrafas excelentes nunca fossem compradas e ficassem paradas nas prateleiras das lojas, juntando uma fina camada de sujeira.

Embora alguns digam que os dias de glória dos colecionadores de garrafas antigas já acabaram há muito tempo, com quase todas as lojas de bebidas nos Estados Unidos agora completamente recuperadas, ainda há jovens otimistas adotando o hobby, como Jonah Goodman, consultor de restaurante de 22 anos em Atlanta.

Criado em Louisville, no Kentucky, por um pai que amava bourbon, Goodman se apaixonou precocemente pela bebida. Em 2018, pouco depois de ter atingido a idade para beber legalmente, ele começou a vasculhar as lojas de bebidas do Kentucky, chegando a encontrar uma Eagle Rare 101 de 1984 em seus primeiros dias.

Goodman acredita que a pandemia injetou vida nova no hobby, como em tantos outros. "Houve uma grande quantidade de descobertas recentes, já que muitas pessoas estão entediadas, presas em casa, e começaram a procurar lojas", disse Goodman, observando que ainda deve haver garrafas vintage no fundo das lojas de bebidas que, enfim, estão sendo colocadas na parte da frente.

Ele também suspeita que os distribuidores finalmente tiveram tempo para reorganizar seus estoques e agora estão enviando garrafas remanescentes do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 para o varejo. "Quero morrer quando vejo pessoas no Instagram postando algo que acabaram de encontrar em Atlanta. Quero morrer."

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Kevin Langdon Ackerman tinha uma boa pista, por isso saiu de casa, no bairro de Beachwood Canyon, em Los Angeles, em uma manhã de terça-feira em agosto e dirigiu 29 quilômetros no sentido noroeste até Sylmar, na Califórnia. Ele dirigiu seu BMW preto metálico pela 210 e subiu a estrada sinuosa até o topo do cânion Little Tujunga; à direita, Middle Ranch, uma instalação equestre e um popular local para a realização de festas de casamento; à esquerda, propriedades multimilionárias, tudo cercado pelas montanhas da Floresta Nacional de Angeles.

Por fim, chegou ao seu destino, uma casa no estilo Santa Fé construída no início do século XX. Chegando lá, encontrou-se com Caroline Debbané, que o conduziu não pela porta da frente, mas pelos fundos da propriedade. Uma moderna fechadura com código abriu as portas do porão e os dois desceram um lance de degraus de concreto até o bunker.

Parte da coleção de bebidas alcoólicas de Kevin Langdon Ackerman, incluindo algumas garrafas da era da proibição de propriedade do cineasta americano Cecil B. DeMille, em Los Angeles. Foto: Rozette Rago/The New York Times

Uma parede inteira tinha garrafas de vinho embutidas e, ao lado dela, garrafas empoeiradas de vinho e de champanhe. Outra parede funcionava como um armário de bebidas, com mais garrafas de bourbon, uísque irlandês e rum, intocadas por mais de meio século. Ackerman encontrou a coleção de bebidas de Cecil B. DeMille, o lendário diretor e produtor.

"Fiquei pensando: 'Minha nossa! Quero e preciso conseguir isso.' Na minha cabeça, isso é fruto de minha incrível vigilância nos últimos oito anos", disse ele. Ackerman, ele próprio um hábil cineasta, também é um "dusty hunter" (caçador empoeirado, em tradução literal), ou seja, um colecionador de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage, geralmente de uísque americano.

As discussões sobre colecionar garrafas antigas e o uso do termo exato apareceram na internet por volta de 2007, principalmente em blogs e fóruns de fãs de uísque, como o Straight Bourbon. Embora seja um hobby relativamente novo, ele já está chegando ao fim, porque há cada vez menos garrafas a descobrir por aí.

Ackerman aceitou o desafio em 2012, depois de ler um artigo online sobre um grupo de amigos que voou especificamente até o Kentucky para procurar, nas prateleiras das lojas de bebidas, velhas garrafas de bourbon da muito elogiada, mas já extinta, destilaria Stitzel-Weller.

Nos anos seguintes, Ackerman iria atrás de garrafas antigas várias vezes por semana, alternando entre trabalhar em um projeto de filme em um dia e dirigir pela grande Los Angeles nos outros. Se a cidade tem mais de 1.500 pontos de venda de bebida alcoólica, ele calcula ter visitado a maioria deles.

"De uma forma muito real, cerca de seis anos atrás, as pessoas começaram a perceber que comprar garrafas antigas é, em certo sentido, como construir um portfólio de investimentos. Elas vão se valorizar como a barriga de porco, a prata ou o ouro. Garrafas que me custaram US$ 20 passaram a valer US$ 800 e, para mim, isso é muito mais divertido do que comprar um título municipal do departamento de água de Los Angeles. Prefiro caçar em lojas de bebidas alcoólicas", contou Ackerman.

Pablo Moix foi um dos primeiros colecionadores de garrafas antigas dos Estados Unidos. Em seus dias de produção de drinques como o Midslide, no fim dos anos 1990, Moix, de 45 anos, um experiente barman, começou a pegar todas as garrafas antigas e intrigantes que via em lojas de bebidas.

"Eu estava acumulando coisas estranhas só para tê-las em casa. Por fim, comecei a me perguntar: 'Por que isso é tão valioso? Por que isso é colecionável?'". Nos primeiros anos, quando Moix transformou sua arte de colecionar garrafas antigas em algo mais intencional, saiu em busca de tequila; muitas marcas haviam desaparecido e ele as procurava ansiosamente. Em 2011, percebeu um crescente interesse pelo uísque americano, com mais colecionadores entrando na cena.

Na época, ele trabalhava como comprador de bebidas em um bar de Los Angeles e imediatamente começou a estocar caixas de uísque Rittenhouse envelhecido, Vintage Bourbon 17 Year Old e Old Fitzgerald Bottled-in-Bond, que já foi produzido pela Stitzel-Weller quando Julian "Pappy" Van Winkle estava literalmente no comando.

No fim, ele e um parceiro de negócios, Steve Livigni, passavam dez horas por dia, todos os dias, procurando garrafas por toda a Califórnia e pela Península da Baixa Califórnia, no México. Em uma viagem, visitaram praticamente todas as lojas de bebidas entre Detroit e Los Angeles.

"Mais tarde, descobrimos que estávamos indo a lojas de bebidas em bairros que são considerados verdadeiras zonas de guerra", disse Moix. Embora possam ter vergonha de admitir, os colecionadores de garrafas antigas há muito acreditam que, quanto mais violento for o bairro e quanto mais protegido atrás de vidros à prova de balas estiver o caixa, maior será a probabilidade de encontrarem ótimas marcas vintage.

Talvez o colecionador de garrafas antigas mais conhecido hoje em dia seja Eric Witz, de 42 anos, editor de produção sênior da MIT Press, que posta as avaliações em seu perfil no Instagram @aphonik, muitas vezes com uma análise detalhada das origens de cada garrafa. Ele começou a colecionar garrafas antigas por volta de 2010, com a compra de uma garrafa de Forbidden Fruit dos anos 1940, um estranho licor de toranja e mel que não está mais no mercado há décadas.

reference

Witz coleciona não apenas uísque, a obsessão da maioria dos colecionadores de garrafas antigas de hoje em dia, mas rum vintage, brandy e Chartreuse, todos os quais estão se valorizando no momento. "Adoro a ideia de poder saborear algo que foi feito há algumas gerações", comentou ele.

Os destilados têm um teor alcóolico maior do que o vinho, por isso realmente não envelhecem nem se estragam na garrafa; assim, são como cápsulas do tempo que podem ser bebidas. Na verdade, a maioria dos colecionadores de garradas antigas acredita que os destilados vintage têm um sabor superior ao que está sendo feito hoje, mesmo que não consigam explicar por quê.

Talvez naquela época o material fosse melhor e o método de produção fosse mais artesanal, talvez os conglomerados internacionais de bebidas ainda não tivessem destruído a qualidade, ou talvez algo mágico aconteça com o vidro ao longo de todos esses anos.

"Quando um pouco de álcool vaza, a concentração fica mais profunda. A profundidade e a riqueza são como a diferença entre o xarope simples e o xarope de bordo", explicou Scott Torrence, de 52 anos, proprietário da Chapter 4, fornecedora de bebidas finas e raras em Culver City, na Califórnia, que provou bastante bourbon da era da Lei Seca. Os colecionadores de garrafas antigas como Ackerman, Moix e Witz entraram na hora perfeita nesse mundo.

Em 2010, a indústria de bourbon valia US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos; hoje, vale mais de US$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas. Esse entusiasmo fez com que mais colecionadores quisessem revisitar as garrafas da chamada era do "excesso", as décadas de 1960 a 1990, quando a ascensão da vodca e uma falta de interesse geral por destilados marrons fizeram com que muitas garrafas excelentes nunca fossem compradas e ficassem paradas nas prateleiras das lojas, juntando uma fina camada de sujeira.

Embora alguns digam que os dias de glória dos colecionadores de garrafas antigas já acabaram há muito tempo, com quase todas as lojas de bebidas nos Estados Unidos agora completamente recuperadas, ainda há jovens otimistas adotando o hobby, como Jonah Goodman, consultor de restaurante de 22 anos em Atlanta.

Criado em Louisville, no Kentucky, por um pai que amava bourbon, Goodman se apaixonou precocemente pela bebida. Em 2018, pouco depois de ter atingido a idade para beber legalmente, ele começou a vasculhar as lojas de bebidas do Kentucky, chegando a encontrar uma Eagle Rare 101 de 1984 em seus primeiros dias.

Goodman acredita que a pandemia injetou vida nova no hobby, como em tantos outros. "Houve uma grande quantidade de descobertas recentes, já que muitas pessoas estão entediadas, presas em casa, e começaram a procurar lojas", disse Goodman, observando que ainda deve haver garrafas vintage no fundo das lojas de bebidas que, enfim, estão sendo colocadas na parte da frente.

Ele também suspeita que os distribuidores finalmente tiveram tempo para reorganizar seus estoques e agora estão enviando garrafas remanescentes do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 para o varejo. "Quero morrer quando vejo pessoas no Instagram postando algo que acabaram de encontrar em Atlanta. Quero morrer."

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Kevin Langdon Ackerman tinha uma boa pista, por isso saiu de casa, no bairro de Beachwood Canyon, em Los Angeles, em uma manhã de terça-feira em agosto e dirigiu 29 quilômetros no sentido noroeste até Sylmar, na Califórnia. Ele dirigiu seu BMW preto metálico pela 210 e subiu a estrada sinuosa até o topo do cânion Little Tujunga; à direita, Middle Ranch, uma instalação equestre e um popular local para a realização de festas de casamento; à esquerda, propriedades multimilionárias, tudo cercado pelas montanhas da Floresta Nacional de Angeles.

Por fim, chegou ao seu destino, uma casa no estilo Santa Fé construída no início do século XX. Chegando lá, encontrou-se com Caroline Debbané, que o conduziu não pela porta da frente, mas pelos fundos da propriedade. Uma moderna fechadura com código abriu as portas do porão e os dois desceram um lance de degraus de concreto até o bunker.

Parte da coleção de bebidas alcoólicas de Kevin Langdon Ackerman, incluindo algumas garrafas da era da proibição de propriedade do cineasta americano Cecil B. DeMille, em Los Angeles. Foto: Rozette Rago/The New York Times

Uma parede inteira tinha garrafas de vinho embutidas e, ao lado dela, garrafas empoeiradas de vinho e de champanhe. Outra parede funcionava como um armário de bebidas, com mais garrafas de bourbon, uísque irlandês e rum, intocadas por mais de meio século. Ackerman encontrou a coleção de bebidas de Cecil B. DeMille, o lendário diretor e produtor.

"Fiquei pensando: 'Minha nossa! Quero e preciso conseguir isso.' Na minha cabeça, isso é fruto de minha incrível vigilância nos últimos oito anos", disse ele. Ackerman, ele próprio um hábil cineasta, também é um "dusty hunter" (caçador empoeirado, em tradução literal), ou seja, um colecionador de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage, geralmente de uísque americano.

As discussões sobre colecionar garrafas antigas e o uso do termo exato apareceram na internet por volta de 2007, principalmente em blogs e fóruns de fãs de uísque, como o Straight Bourbon. Embora seja um hobby relativamente novo, ele já está chegando ao fim, porque há cada vez menos garrafas a descobrir por aí.

Ackerman aceitou o desafio em 2012, depois de ler um artigo online sobre um grupo de amigos que voou especificamente até o Kentucky para procurar, nas prateleiras das lojas de bebidas, velhas garrafas de bourbon da muito elogiada, mas já extinta, destilaria Stitzel-Weller.

Nos anos seguintes, Ackerman iria atrás de garrafas antigas várias vezes por semana, alternando entre trabalhar em um projeto de filme em um dia e dirigir pela grande Los Angeles nos outros. Se a cidade tem mais de 1.500 pontos de venda de bebida alcoólica, ele calcula ter visitado a maioria deles.

"De uma forma muito real, cerca de seis anos atrás, as pessoas começaram a perceber que comprar garrafas antigas é, em certo sentido, como construir um portfólio de investimentos. Elas vão se valorizar como a barriga de porco, a prata ou o ouro. Garrafas que me custaram US$ 20 passaram a valer US$ 800 e, para mim, isso é muito mais divertido do que comprar um título municipal do departamento de água de Los Angeles. Prefiro caçar em lojas de bebidas alcoólicas", contou Ackerman.

Pablo Moix foi um dos primeiros colecionadores de garrafas antigas dos Estados Unidos. Em seus dias de produção de drinques como o Midslide, no fim dos anos 1990, Moix, de 45 anos, um experiente barman, começou a pegar todas as garrafas antigas e intrigantes que via em lojas de bebidas.

"Eu estava acumulando coisas estranhas só para tê-las em casa. Por fim, comecei a me perguntar: 'Por que isso é tão valioso? Por que isso é colecionável?'". Nos primeiros anos, quando Moix transformou sua arte de colecionar garrafas antigas em algo mais intencional, saiu em busca de tequila; muitas marcas haviam desaparecido e ele as procurava ansiosamente. Em 2011, percebeu um crescente interesse pelo uísque americano, com mais colecionadores entrando na cena.

Na época, ele trabalhava como comprador de bebidas em um bar de Los Angeles e imediatamente começou a estocar caixas de uísque Rittenhouse envelhecido, Vintage Bourbon 17 Year Old e Old Fitzgerald Bottled-in-Bond, que já foi produzido pela Stitzel-Weller quando Julian "Pappy" Van Winkle estava literalmente no comando.

No fim, ele e um parceiro de negócios, Steve Livigni, passavam dez horas por dia, todos os dias, procurando garrafas por toda a Califórnia e pela Península da Baixa Califórnia, no México. Em uma viagem, visitaram praticamente todas as lojas de bebidas entre Detroit e Los Angeles.

"Mais tarde, descobrimos que estávamos indo a lojas de bebidas em bairros que são considerados verdadeiras zonas de guerra", disse Moix. Embora possam ter vergonha de admitir, os colecionadores de garrafas antigas há muito acreditam que, quanto mais violento for o bairro e quanto mais protegido atrás de vidros à prova de balas estiver o caixa, maior será a probabilidade de encontrarem ótimas marcas vintage.

Talvez o colecionador de garrafas antigas mais conhecido hoje em dia seja Eric Witz, de 42 anos, editor de produção sênior da MIT Press, que posta as avaliações em seu perfil no Instagram @aphonik, muitas vezes com uma análise detalhada das origens de cada garrafa. Ele começou a colecionar garrafas antigas por volta de 2010, com a compra de uma garrafa de Forbidden Fruit dos anos 1940, um estranho licor de toranja e mel que não está mais no mercado há décadas.

reference

Witz coleciona não apenas uísque, a obsessão da maioria dos colecionadores de garrafas antigas de hoje em dia, mas rum vintage, brandy e Chartreuse, todos os quais estão se valorizando no momento. "Adoro a ideia de poder saborear algo que foi feito há algumas gerações", comentou ele.

Os destilados têm um teor alcóolico maior do que o vinho, por isso realmente não envelhecem nem se estragam na garrafa; assim, são como cápsulas do tempo que podem ser bebidas. Na verdade, a maioria dos colecionadores de garradas antigas acredita que os destilados vintage têm um sabor superior ao que está sendo feito hoje, mesmo que não consigam explicar por quê.

Talvez naquela época o material fosse melhor e o método de produção fosse mais artesanal, talvez os conglomerados internacionais de bebidas ainda não tivessem destruído a qualidade, ou talvez algo mágico aconteça com o vidro ao longo de todos esses anos.

"Quando um pouco de álcool vaza, a concentração fica mais profunda. A profundidade e a riqueza são como a diferença entre o xarope simples e o xarope de bordo", explicou Scott Torrence, de 52 anos, proprietário da Chapter 4, fornecedora de bebidas finas e raras em Culver City, na Califórnia, que provou bastante bourbon da era da Lei Seca. Os colecionadores de garrafas antigas como Ackerman, Moix e Witz entraram na hora perfeita nesse mundo.

Em 2010, a indústria de bourbon valia US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos; hoje, vale mais de US$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas. Esse entusiasmo fez com que mais colecionadores quisessem revisitar as garrafas da chamada era do "excesso", as décadas de 1960 a 1990, quando a ascensão da vodca e uma falta de interesse geral por destilados marrons fizeram com que muitas garrafas excelentes nunca fossem compradas e ficassem paradas nas prateleiras das lojas, juntando uma fina camada de sujeira.

Embora alguns digam que os dias de glória dos colecionadores de garrafas antigas já acabaram há muito tempo, com quase todas as lojas de bebidas nos Estados Unidos agora completamente recuperadas, ainda há jovens otimistas adotando o hobby, como Jonah Goodman, consultor de restaurante de 22 anos em Atlanta.

Criado em Louisville, no Kentucky, por um pai que amava bourbon, Goodman se apaixonou precocemente pela bebida. Em 2018, pouco depois de ter atingido a idade para beber legalmente, ele começou a vasculhar as lojas de bebidas do Kentucky, chegando a encontrar uma Eagle Rare 101 de 1984 em seus primeiros dias.

Goodman acredita que a pandemia injetou vida nova no hobby, como em tantos outros. "Houve uma grande quantidade de descobertas recentes, já que muitas pessoas estão entediadas, presas em casa, e começaram a procurar lojas", disse Goodman, observando que ainda deve haver garrafas vintage no fundo das lojas de bebidas que, enfim, estão sendo colocadas na parte da frente.

Ele também suspeita que os distribuidores finalmente tiveram tempo para reorganizar seus estoques e agora estão enviando garrafas remanescentes do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 para o varejo. "Quero morrer quando vejo pessoas no Instagram postando algo que acabaram de encontrar em Atlanta. Quero morrer."

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Kevin Langdon Ackerman tinha uma boa pista, por isso saiu de casa, no bairro de Beachwood Canyon, em Los Angeles, em uma manhã de terça-feira em agosto e dirigiu 29 quilômetros no sentido noroeste até Sylmar, na Califórnia. Ele dirigiu seu BMW preto metálico pela 210 e subiu a estrada sinuosa até o topo do cânion Little Tujunga; à direita, Middle Ranch, uma instalação equestre e um popular local para a realização de festas de casamento; à esquerda, propriedades multimilionárias, tudo cercado pelas montanhas da Floresta Nacional de Angeles.

Por fim, chegou ao seu destino, uma casa no estilo Santa Fé construída no início do século XX. Chegando lá, encontrou-se com Caroline Debbané, que o conduziu não pela porta da frente, mas pelos fundos da propriedade. Uma moderna fechadura com código abriu as portas do porão e os dois desceram um lance de degraus de concreto até o bunker.

Parte da coleção de bebidas alcoólicas de Kevin Langdon Ackerman, incluindo algumas garrafas da era da proibição de propriedade do cineasta americano Cecil B. DeMille, em Los Angeles. Foto: Rozette Rago/The New York Times

Uma parede inteira tinha garrafas de vinho embutidas e, ao lado dela, garrafas empoeiradas de vinho e de champanhe. Outra parede funcionava como um armário de bebidas, com mais garrafas de bourbon, uísque irlandês e rum, intocadas por mais de meio século. Ackerman encontrou a coleção de bebidas de Cecil B. DeMille, o lendário diretor e produtor.

"Fiquei pensando: 'Minha nossa! Quero e preciso conseguir isso.' Na minha cabeça, isso é fruto de minha incrível vigilância nos últimos oito anos", disse ele. Ackerman, ele próprio um hábil cineasta, também é um "dusty hunter" (caçador empoeirado, em tradução literal), ou seja, um colecionador de antiguidades etílicas que só procura garrafas ainda seladas de bebidas vintage, geralmente de uísque americano.

As discussões sobre colecionar garrafas antigas e o uso do termo exato apareceram na internet por volta de 2007, principalmente em blogs e fóruns de fãs de uísque, como o Straight Bourbon. Embora seja um hobby relativamente novo, ele já está chegando ao fim, porque há cada vez menos garrafas a descobrir por aí.

Ackerman aceitou o desafio em 2012, depois de ler um artigo online sobre um grupo de amigos que voou especificamente até o Kentucky para procurar, nas prateleiras das lojas de bebidas, velhas garrafas de bourbon da muito elogiada, mas já extinta, destilaria Stitzel-Weller.

Nos anos seguintes, Ackerman iria atrás de garrafas antigas várias vezes por semana, alternando entre trabalhar em um projeto de filme em um dia e dirigir pela grande Los Angeles nos outros. Se a cidade tem mais de 1.500 pontos de venda de bebida alcoólica, ele calcula ter visitado a maioria deles.

"De uma forma muito real, cerca de seis anos atrás, as pessoas começaram a perceber que comprar garrafas antigas é, em certo sentido, como construir um portfólio de investimentos. Elas vão se valorizar como a barriga de porco, a prata ou o ouro. Garrafas que me custaram US$ 20 passaram a valer US$ 800 e, para mim, isso é muito mais divertido do que comprar um título municipal do departamento de água de Los Angeles. Prefiro caçar em lojas de bebidas alcoólicas", contou Ackerman.

Pablo Moix foi um dos primeiros colecionadores de garrafas antigas dos Estados Unidos. Em seus dias de produção de drinques como o Midslide, no fim dos anos 1990, Moix, de 45 anos, um experiente barman, começou a pegar todas as garrafas antigas e intrigantes que via em lojas de bebidas.

"Eu estava acumulando coisas estranhas só para tê-las em casa. Por fim, comecei a me perguntar: 'Por que isso é tão valioso? Por que isso é colecionável?'". Nos primeiros anos, quando Moix transformou sua arte de colecionar garrafas antigas em algo mais intencional, saiu em busca de tequila; muitas marcas haviam desaparecido e ele as procurava ansiosamente. Em 2011, percebeu um crescente interesse pelo uísque americano, com mais colecionadores entrando na cena.

Na época, ele trabalhava como comprador de bebidas em um bar de Los Angeles e imediatamente começou a estocar caixas de uísque Rittenhouse envelhecido, Vintage Bourbon 17 Year Old e Old Fitzgerald Bottled-in-Bond, que já foi produzido pela Stitzel-Weller quando Julian "Pappy" Van Winkle estava literalmente no comando.

No fim, ele e um parceiro de negócios, Steve Livigni, passavam dez horas por dia, todos os dias, procurando garrafas por toda a Califórnia e pela Península da Baixa Califórnia, no México. Em uma viagem, visitaram praticamente todas as lojas de bebidas entre Detroit e Los Angeles.

"Mais tarde, descobrimos que estávamos indo a lojas de bebidas em bairros que são considerados verdadeiras zonas de guerra", disse Moix. Embora possam ter vergonha de admitir, os colecionadores de garrafas antigas há muito acreditam que, quanto mais violento for o bairro e quanto mais protegido atrás de vidros à prova de balas estiver o caixa, maior será a probabilidade de encontrarem ótimas marcas vintage.

Talvez o colecionador de garrafas antigas mais conhecido hoje em dia seja Eric Witz, de 42 anos, editor de produção sênior da MIT Press, que posta as avaliações em seu perfil no Instagram @aphonik, muitas vezes com uma análise detalhada das origens de cada garrafa. Ele começou a colecionar garrafas antigas por volta de 2010, com a compra de uma garrafa de Forbidden Fruit dos anos 1940, um estranho licor de toranja e mel que não está mais no mercado há décadas.

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Witz coleciona não apenas uísque, a obsessão da maioria dos colecionadores de garrafas antigas de hoje em dia, mas rum vintage, brandy e Chartreuse, todos os quais estão se valorizando no momento. "Adoro a ideia de poder saborear algo que foi feito há algumas gerações", comentou ele.

Os destilados têm um teor alcóolico maior do que o vinho, por isso realmente não envelhecem nem se estragam na garrafa; assim, são como cápsulas do tempo que podem ser bebidas. Na verdade, a maioria dos colecionadores de garradas antigas acredita que os destilados vintage têm um sabor superior ao que está sendo feito hoje, mesmo que não consigam explicar por quê.

Talvez naquela época o material fosse melhor e o método de produção fosse mais artesanal, talvez os conglomerados internacionais de bebidas ainda não tivessem destruído a qualidade, ou talvez algo mágico aconteça com o vidro ao longo de todos esses anos.

"Quando um pouco de álcool vaza, a concentração fica mais profunda. A profundidade e a riqueza são como a diferença entre o xarope simples e o xarope de bordo", explicou Scott Torrence, de 52 anos, proprietário da Chapter 4, fornecedora de bebidas finas e raras em Culver City, na Califórnia, que provou bastante bourbon da era da Lei Seca. Os colecionadores de garrafas antigas como Ackerman, Moix e Witz entraram na hora perfeita nesse mundo.

Em 2010, a indústria de bourbon valia US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos; hoje, vale mais de US$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas. Esse entusiasmo fez com que mais colecionadores quisessem revisitar as garrafas da chamada era do "excesso", as décadas de 1960 a 1990, quando a ascensão da vodca e uma falta de interesse geral por destilados marrons fizeram com que muitas garrafas excelentes nunca fossem compradas e ficassem paradas nas prateleiras das lojas, juntando uma fina camada de sujeira.

Embora alguns digam que os dias de glória dos colecionadores de garrafas antigas já acabaram há muito tempo, com quase todas as lojas de bebidas nos Estados Unidos agora completamente recuperadas, ainda há jovens otimistas adotando o hobby, como Jonah Goodman, consultor de restaurante de 22 anos em Atlanta.

Criado em Louisville, no Kentucky, por um pai que amava bourbon, Goodman se apaixonou precocemente pela bebida. Em 2018, pouco depois de ter atingido a idade para beber legalmente, ele começou a vasculhar as lojas de bebidas do Kentucky, chegando a encontrar uma Eagle Rare 101 de 1984 em seus primeiros dias.

Goodman acredita que a pandemia injetou vida nova no hobby, como em tantos outros. "Houve uma grande quantidade de descobertas recentes, já que muitas pessoas estão entediadas, presas em casa, e começaram a procurar lojas", disse Goodman, observando que ainda deve haver garrafas vintage no fundo das lojas de bebidas que, enfim, estão sendo colocadas na parte da frente.

Ele também suspeita que os distribuidores finalmente tiveram tempo para reorganizar seus estoques e agora estão enviando garrafas remanescentes do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 para o varejo. "Quero morrer quando vejo pessoas no Instagram postando algo que acabaram de encontrar em Atlanta. Quero morrer."

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