Conheça frutas e legumes do futuro: eles desafiam o clima e poderão crescer num planeta em crise


Cientistas tentam aprimorar plantas para que elas resistam às mudanças climáticas e possam alimentar seres humanos em um planeta ambientalmente ameaçado

Por Kim Severson

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os criadores de novas variedades de plantas são indivíduos pacientes por natureza. Podem aperfeiçoar durante anos, ou até décadas, uma nova variedade de fruta ou legume que tenha um sabor melhor, cresça mais depressa ou permaneça fresca por mais tempo.

Mas essa tarefa ganhou uma urgência sem precedentes diante das crescentes instabilidades climáticas. As inundações recentes fizeram com que mais de um terço das uvas de mesa da Califórnia apodrecesse nas videiras. O excesso de luz solar está queimando as plantações de maçã, e pragas que antes não eram motivo de preocupação agora se espalham pelos campos de alface.

Desenvolver novas culturas capazes de prosperar em face desses desafios é uma empreitada que demanda tempo. As soluções provavelmente virão de uma série de frentes de pesquisa, que vão desde a tecnologia de edição molecular de genes até a exploração das vastas coleções globais de sementes que foram conservadas ao longo dos séculos.

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Tom Adams, CEO e um dos fundadores da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de frutas e legumes, em Durham, na Carolina do Norte, 13 de setembro de 2023. ( Foto: Kate Medley/The New York Times

E, obviamente, as novas frutas e os novos legumes precisam ser saborosos. “É possível usar essas técnicas para encontrar soluções climáticas, mas elas não vão ser úteis se as pessoas não quiserem consumir os alimentos”, observou Michael Kantar, professor associado da Universidade do Havaí em Manoa, que estuda parentes selvagens de culturas existentes.

Algumas dessas novas variedades já estão nas prateleiras dos supermercados, enquanto outras ainda estão em fase de elaboração. Abaixo, apresentamos uma rápida olhada em algumas das mais promissoras.

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Cerejas resistentes ao calor

Para que as cerejeiras produzam frutos, é essencial que recebam o que os produtores chamam de “horas de frio”, isto é, pelo menos um mês acumulado de temperaturas entre 0ºC e 7ºC. Invernos excessivamente quentes podem resultar em floração irregular e, por vezes, em ausência de colheita.

Está ficando mais difícil para que as cerejeiras de algumas regiões obtenham horas de frio suficientes. Uma possível solução é a Cheery Cupid, variedade de cereja em forma de coração, desenvolvida pela International Fruit Genetics, recentemente adquirida pela Bloom Fresh International. (Os cientistas que desenvolveram essa variedade de cereja também criaram aquelas uvas populares que têm gosto de algodão-doce.) Essa nova cereja só precisa de aproximadamente um terço da quantidade habitual de clima frio. “Nosso objetivo é torná-la mais tolerante no verão para suportar esse calor absurdo, mas também garantir que sobreviva a invernos mais amenos”, afirmou Chris Owens, o principal criador de plantas da empresa.

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A Cupid, que é suculenta e mais doce do que algumas outras cerejas, é apenas uma das diversas novas variedades “low chill” vendidas aos produtores sob a marca Cheery. Deve estar disponível no Hemisfério Sul neste outono setentrional e, posteriormente, nos mercados da América do Norte.

Couve-flor com filtro solar

Quando a couve-flor está madura, suas folhas verdes se abrem e expõem o miolo branco formado pelos floretes. Estes são extremamente sensíveis à luz solar - em excesso, podem ficar manchados e adquirir um tom bege, tornando a couve-flor inadequada para a venda nos supermercados.

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Para evitar isso, os agricultores dobram manualmente as folhas sobre o miolo cerca de duas semanas antes da colheita - processo dispendioso e demorado. Como alternativa, os criadores de plantas desenvolveram a couve-flor Destinica true-white, que agora é comumente encontrada nas prateleiras dos supermercados. Basicamente, essa variedade de couve-flor não sofre queimaduras solares. Também é mais fácil de cultivar, porque demanda menos mão de obra nos campos.

A Destinica faz parte de uma linha de couves-flores projetadas para resistir às condições climáticas adversas, desenvolvida pela Syngenta Vegetable Seeds, divisão da empresa global de agricultura Syngenta, com sede na Suíça. Os agricultores também estão adotando seu repolho-branco resistente às intempéries, que requer menos fertilizante de nitrogênio e é capaz de prosperar durante períodos prolongados de seca. Além disso, ele cresce um pouco mais alto no campo do que os outros repolhos, o que facilita a colheita.

Melões que bebem menos

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Em 2011, depois de um surto de listeriose relacionado a melões do Colorado que resultou na morte de 33 pessoas, os pesquisadores do Centro de Melhoramento de Frutas e Vegetais da Universidade Texas A&M iniciaram esforços para desenvolver melões mais seguros. Contudo, na última década, ajudar os melões a sobreviver às mudanças climáticas também se tornou urgente, de acordo com Bhimu Patil, diretor do centro.

Com essa finalidade, a universidade empregou um financiamento do Departamento de Agricultura dos EUA no lançamento de dois novos melões, o Supermelon e o Flavorific. Os sistemas radiculares mais profundos dessas variedades foram criados para enfrentar a seca, extraindo mais água do solo. Provadores descrevem esses melões como doces, com polpa densa. Agora eles estão disponíveis para os agricultores.

Amoras da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de plantas.  Foto: Kate Medley/The New York Times
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Amora-preta sem espinhos

Em um laboratório em Durham, na Carolina do Norte, os cientistas da Pairwise estão aplicando a tecnologia de edição de genes chamada Crispr para acelerar o trabalho que poderia levar décadas para os criadores tradicionais. (A edição de genes é um processo diferente da modificação genética, que envolve a transferência de DNA de uma espécie para outra.) Ao realçar algumas características e apagar outras, os pesquisadores buscam desenvolver mais rapidamente culturas que cresçam melhor em climas extremos. O problema é que uma maçã, por exemplo, pode ter 57 mil genes. Descobrir quais deles, e em que combinações, podem resultar em colheitas abundantes e saborosas, capazes de resistir a condições climáticas severas, é um desafio colossal.

Até o momento, os pesquisadores, que também trabalham com a gigante química alemã Bayer, conseguiram suprimir o gene que dá às folhas de mostarda seu sabor picante, que lembra o wasabi. As verduras serão incorporadas a uma salada mista nutritiva que chegará aos supermercados no início do próximo ano sob a marca Conscious Greens. Esse será o primeiro alimento desenvolvido com a tecnologia Crispr a ser vendido diretamente ao consumidor.

Os pesquisadores esperam que o próximo avanço seja uma amora-preta sem sementes, que cresça em videiras compactas e desprovidas de espinhos, reduzindo a necessidade de terra, água e fertilizantes. Os novos arbustos também facilitarão a colheita das frutas para os trabalhadores. E depois? “Estamos pensando em desenvolver cerejas sem caroço”, revelou Tom Adams, CEO e cofundador da Pairwise.

Cenouras que toleram a salinidade

Phil Simon, professor de horticultura da Universidade do Wisconsin-Madison, passou mais de uma década tentando criar uma cenoura cujas sementes pudessem germinar mesmo em solos excessivamente salinos, quentes e secos. Durante períodos de seca, não há umidade suficiente para diluir os sais minerais presentes nas águas subterrâneas, e as cenouras não toleram bem a salinidade, especialmente quando suas sementes estão no início do desenvolvimento e quando faltam uma ou duas semanas para a colheita.

Uma estratégia é cruzar as cenouras comerciais, doces e alaranjadas, com as selvagens, que são mais resistentes ao calor. Simon encontrou uma dessas cenouras selvagens, de coloração branca, crescendo à beira de uma estrada na Turquia, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 37ºC. No entanto, ele enfatiza que esse casamento pode levar mais dez ou 15 anos para ser aperfeiçoado.

Se isso acontecer, não será a primeira vez que uma cenoura é projetada para prosperar em meio a um clima volátil. Em 2003, a Eskimo, variedade de cenoura de Nantes com extremidades arredondadas e uma pegada de carbono reduzida, foi desenvolvida para se desenvolver bem no inverno rigoroso do norte da Europa.

Batatas que não assam

As batatas apreciam um suprimento de água constante e moderado, e preferem o frio. Mas o clima está mudando tão depressa que um renomado pesquisador de plantas escocês alertou recentemente que a indústria da batata está enfrentando uma “ameaça existencial”.

Para fazer frente a essa ameaça, os pesquisadores da Universidade do Maine, com financiamento do Departamento de Agricultura e da própria indústria da batata dos EUA, estão pesquisando variedades da América do Sul, onde o cultivo teve início por volta de 8000 a.C. A intenção é analisar e acentuar as características genéticas das variedades tolerantes ao calor, para ajudar as batatas a sobreviver ao calor excessivo e às enchentes.

Eles também estão explorando maneiras de combater novas ondas de pragas e doenças que surgem em decorrência do aumento das temperaturas e da umidade. Uma estratégia que está sendo analisada em outros laboratórios é o desenvolvimento de plantas com folhas mais peludas, dificultando a mobilidade dos insetos nas plantações.

Serão necessários pelo menos cinco ou seis anos para que as populares variedades de batatas vermelhas, russet ou de fritar estejam prontas para ser cultivadas pelos agricultores, informou Greg Porter, professor especializado em ecologia e gestão agrícola.

Abacates que usam menos água

O poderoso abacate Hass é o rei do guacamole nos Estados Unidos, mas em poucos anos o Luna UCR, abacate novo e mais ecológico que vem sendo desenvolvido há 50 anos, poderá se tornar um concorrente à altura.

O Luna, que, segundo os degustadores, ostenta um sabor suave de nozes, talvez um pouco mais doce que o Hass, foi desenvolvido por criadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, que abriga uma das maiores coleções de material genético de abacate do mundo, em parceria com a empresa agrícola europeia Eurosemillas SA.

As novas árvores são esguias, mais baixas e ocupam menos espaço. Precisam de menos água, o que é uma grande vantagem para uma fruta que requer irrigação extensiva. Além disso, também produzem mais frutas ocupando uma área menor. “Outra coisa em que as pessoas não pensam é nos custos de mão de obra. A colheita dos frutos das árvores mais altas leva mais tempo e não é tão segura”, observou Eric Focht, pesquisador associado da equipe que ajudou a desenvolver o Luna.

Maçãs que não queimam

De acordo com Kate Evans, horticultora, criadora de variedades de frutas e professora da Universidade do Estado de Washington, a jornada para criar uma variedade de maçã bem-sucedida é uma maratona que, geralmente, abarca cerca de 20 anos. Essa longa espera é uma das razões pelas quais a Cosmic Crisp, maçã concebida para prosperar na nova realidade climática, foi celebrada quando chegou ao mercado em 2019 com o apoio de Evans. Com um bom desempenho no calor, essa maçã agora cresce em 21 milhões de árvores no estado de Washington, mas ela foi desenvolvida quando os impactos das mudanças climáticas ainda não eram tão evidentes. Diante da aceleração dessas mudanças, Evans e outros criadores intensificaram seus esforços para produzir variedades de maçã ainda mais resistentes ao calor.

Uma novidade promissora é a Tutti, maçã vermelha, leve e crocante que foi testada em toda a Europa. Desenvolvida por uma empresa da Nova Zelândia, a Tutti tem como objetivo auxiliar os agricultores espanhóis, que enfrentam o desafio das temperaturas em constante elevação. Apresentada em uma feira comercial em fevereiro, a Tutti é a primeira variedade de maçã de marca criada especificamente para prosperar em climas quentes.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os criadores de novas variedades de plantas são indivíduos pacientes por natureza. Podem aperfeiçoar durante anos, ou até décadas, uma nova variedade de fruta ou legume que tenha um sabor melhor, cresça mais depressa ou permaneça fresca por mais tempo.

Mas essa tarefa ganhou uma urgência sem precedentes diante das crescentes instabilidades climáticas. As inundações recentes fizeram com que mais de um terço das uvas de mesa da Califórnia apodrecesse nas videiras. O excesso de luz solar está queimando as plantações de maçã, e pragas que antes não eram motivo de preocupação agora se espalham pelos campos de alface.

Desenvolver novas culturas capazes de prosperar em face desses desafios é uma empreitada que demanda tempo. As soluções provavelmente virão de uma série de frentes de pesquisa, que vão desde a tecnologia de edição molecular de genes até a exploração das vastas coleções globais de sementes que foram conservadas ao longo dos séculos.

Tom Adams, CEO e um dos fundadores da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de frutas e legumes, em Durham, na Carolina do Norte, 13 de setembro de 2023. ( Foto: Kate Medley/The New York Times

E, obviamente, as novas frutas e os novos legumes precisam ser saborosos. “É possível usar essas técnicas para encontrar soluções climáticas, mas elas não vão ser úteis se as pessoas não quiserem consumir os alimentos”, observou Michael Kantar, professor associado da Universidade do Havaí em Manoa, que estuda parentes selvagens de culturas existentes.

Algumas dessas novas variedades já estão nas prateleiras dos supermercados, enquanto outras ainda estão em fase de elaboração. Abaixo, apresentamos uma rápida olhada em algumas das mais promissoras.

Cerejas resistentes ao calor

Para que as cerejeiras produzam frutos, é essencial que recebam o que os produtores chamam de “horas de frio”, isto é, pelo menos um mês acumulado de temperaturas entre 0ºC e 7ºC. Invernos excessivamente quentes podem resultar em floração irregular e, por vezes, em ausência de colheita.

Está ficando mais difícil para que as cerejeiras de algumas regiões obtenham horas de frio suficientes. Uma possível solução é a Cheery Cupid, variedade de cereja em forma de coração, desenvolvida pela International Fruit Genetics, recentemente adquirida pela Bloom Fresh International. (Os cientistas que desenvolveram essa variedade de cereja também criaram aquelas uvas populares que têm gosto de algodão-doce.) Essa nova cereja só precisa de aproximadamente um terço da quantidade habitual de clima frio. “Nosso objetivo é torná-la mais tolerante no verão para suportar esse calor absurdo, mas também garantir que sobreviva a invernos mais amenos”, afirmou Chris Owens, o principal criador de plantas da empresa.

A Cupid, que é suculenta e mais doce do que algumas outras cerejas, é apenas uma das diversas novas variedades “low chill” vendidas aos produtores sob a marca Cheery. Deve estar disponível no Hemisfério Sul neste outono setentrional e, posteriormente, nos mercados da América do Norte.

Couve-flor com filtro solar

Quando a couve-flor está madura, suas folhas verdes se abrem e expõem o miolo branco formado pelos floretes. Estes são extremamente sensíveis à luz solar - em excesso, podem ficar manchados e adquirir um tom bege, tornando a couve-flor inadequada para a venda nos supermercados.

Para evitar isso, os agricultores dobram manualmente as folhas sobre o miolo cerca de duas semanas antes da colheita - processo dispendioso e demorado. Como alternativa, os criadores de plantas desenvolveram a couve-flor Destinica true-white, que agora é comumente encontrada nas prateleiras dos supermercados. Basicamente, essa variedade de couve-flor não sofre queimaduras solares. Também é mais fácil de cultivar, porque demanda menos mão de obra nos campos.

A Destinica faz parte de uma linha de couves-flores projetadas para resistir às condições climáticas adversas, desenvolvida pela Syngenta Vegetable Seeds, divisão da empresa global de agricultura Syngenta, com sede na Suíça. Os agricultores também estão adotando seu repolho-branco resistente às intempéries, que requer menos fertilizante de nitrogênio e é capaz de prosperar durante períodos prolongados de seca. Além disso, ele cresce um pouco mais alto no campo do que os outros repolhos, o que facilita a colheita.

Melões que bebem menos

Em 2011, depois de um surto de listeriose relacionado a melões do Colorado que resultou na morte de 33 pessoas, os pesquisadores do Centro de Melhoramento de Frutas e Vegetais da Universidade Texas A&M iniciaram esforços para desenvolver melões mais seguros. Contudo, na última década, ajudar os melões a sobreviver às mudanças climáticas também se tornou urgente, de acordo com Bhimu Patil, diretor do centro.

Com essa finalidade, a universidade empregou um financiamento do Departamento de Agricultura dos EUA no lançamento de dois novos melões, o Supermelon e o Flavorific. Os sistemas radiculares mais profundos dessas variedades foram criados para enfrentar a seca, extraindo mais água do solo. Provadores descrevem esses melões como doces, com polpa densa. Agora eles estão disponíveis para os agricultores.

Amoras da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de plantas.  Foto: Kate Medley/The New York Times

Amora-preta sem espinhos

Em um laboratório em Durham, na Carolina do Norte, os cientistas da Pairwise estão aplicando a tecnologia de edição de genes chamada Crispr para acelerar o trabalho que poderia levar décadas para os criadores tradicionais. (A edição de genes é um processo diferente da modificação genética, que envolve a transferência de DNA de uma espécie para outra.) Ao realçar algumas características e apagar outras, os pesquisadores buscam desenvolver mais rapidamente culturas que cresçam melhor em climas extremos. O problema é que uma maçã, por exemplo, pode ter 57 mil genes. Descobrir quais deles, e em que combinações, podem resultar em colheitas abundantes e saborosas, capazes de resistir a condições climáticas severas, é um desafio colossal.

Até o momento, os pesquisadores, que também trabalham com a gigante química alemã Bayer, conseguiram suprimir o gene que dá às folhas de mostarda seu sabor picante, que lembra o wasabi. As verduras serão incorporadas a uma salada mista nutritiva que chegará aos supermercados no início do próximo ano sob a marca Conscious Greens. Esse será o primeiro alimento desenvolvido com a tecnologia Crispr a ser vendido diretamente ao consumidor.

Os pesquisadores esperam que o próximo avanço seja uma amora-preta sem sementes, que cresça em videiras compactas e desprovidas de espinhos, reduzindo a necessidade de terra, água e fertilizantes. Os novos arbustos também facilitarão a colheita das frutas para os trabalhadores. E depois? “Estamos pensando em desenvolver cerejas sem caroço”, revelou Tom Adams, CEO e cofundador da Pairwise.

Cenouras que toleram a salinidade

Phil Simon, professor de horticultura da Universidade do Wisconsin-Madison, passou mais de uma década tentando criar uma cenoura cujas sementes pudessem germinar mesmo em solos excessivamente salinos, quentes e secos. Durante períodos de seca, não há umidade suficiente para diluir os sais minerais presentes nas águas subterrâneas, e as cenouras não toleram bem a salinidade, especialmente quando suas sementes estão no início do desenvolvimento e quando faltam uma ou duas semanas para a colheita.

Uma estratégia é cruzar as cenouras comerciais, doces e alaranjadas, com as selvagens, que são mais resistentes ao calor. Simon encontrou uma dessas cenouras selvagens, de coloração branca, crescendo à beira de uma estrada na Turquia, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 37ºC. No entanto, ele enfatiza que esse casamento pode levar mais dez ou 15 anos para ser aperfeiçoado.

Se isso acontecer, não será a primeira vez que uma cenoura é projetada para prosperar em meio a um clima volátil. Em 2003, a Eskimo, variedade de cenoura de Nantes com extremidades arredondadas e uma pegada de carbono reduzida, foi desenvolvida para se desenvolver bem no inverno rigoroso do norte da Europa.

Batatas que não assam

As batatas apreciam um suprimento de água constante e moderado, e preferem o frio. Mas o clima está mudando tão depressa que um renomado pesquisador de plantas escocês alertou recentemente que a indústria da batata está enfrentando uma “ameaça existencial”.

Para fazer frente a essa ameaça, os pesquisadores da Universidade do Maine, com financiamento do Departamento de Agricultura e da própria indústria da batata dos EUA, estão pesquisando variedades da América do Sul, onde o cultivo teve início por volta de 8000 a.C. A intenção é analisar e acentuar as características genéticas das variedades tolerantes ao calor, para ajudar as batatas a sobreviver ao calor excessivo e às enchentes.

Eles também estão explorando maneiras de combater novas ondas de pragas e doenças que surgem em decorrência do aumento das temperaturas e da umidade. Uma estratégia que está sendo analisada em outros laboratórios é o desenvolvimento de plantas com folhas mais peludas, dificultando a mobilidade dos insetos nas plantações.

Serão necessários pelo menos cinco ou seis anos para que as populares variedades de batatas vermelhas, russet ou de fritar estejam prontas para ser cultivadas pelos agricultores, informou Greg Porter, professor especializado em ecologia e gestão agrícola.

Abacates que usam menos água

O poderoso abacate Hass é o rei do guacamole nos Estados Unidos, mas em poucos anos o Luna UCR, abacate novo e mais ecológico que vem sendo desenvolvido há 50 anos, poderá se tornar um concorrente à altura.

O Luna, que, segundo os degustadores, ostenta um sabor suave de nozes, talvez um pouco mais doce que o Hass, foi desenvolvido por criadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, que abriga uma das maiores coleções de material genético de abacate do mundo, em parceria com a empresa agrícola europeia Eurosemillas SA.

As novas árvores são esguias, mais baixas e ocupam menos espaço. Precisam de menos água, o que é uma grande vantagem para uma fruta que requer irrigação extensiva. Além disso, também produzem mais frutas ocupando uma área menor. “Outra coisa em que as pessoas não pensam é nos custos de mão de obra. A colheita dos frutos das árvores mais altas leva mais tempo e não é tão segura”, observou Eric Focht, pesquisador associado da equipe que ajudou a desenvolver o Luna.

Maçãs que não queimam

De acordo com Kate Evans, horticultora, criadora de variedades de frutas e professora da Universidade do Estado de Washington, a jornada para criar uma variedade de maçã bem-sucedida é uma maratona que, geralmente, abarca cerca de 20 anos. Essa longa espera é uma das razões pelas quais a Cosmic Crisp, maçã concebida para prosperar na nova realidade climática, foi celebrada quando chegou ao mercado em 2019 com o apoio de Evans. Com um bom desempenho no calor, essa maçã agora cresce em 21 milhões de árvores no estado de Washington, mas ela foi desenvolvida quando os impactos das mudanças climáticas ainda não eram tão evidentes. Diante da aceleração dessas mudanças, Evans e outros criadores intensificaram seus esforços para produzir variedades de maçã ainda mais resistentes ao calor.

Uma novidade promissora é a Tutti, maçã vermelha, leve e crocante que foi testada em toda a Europa. Desenvolvida por uma empresa da Nova Zelândia, a Tutti tem como objetivo auxiliar os agricultores espanhóis, que enfrentam o desafio das temperaturas em constante elevação. Apresentada em uma feira comercial em fevereiro, a Tutti é a primeira variedade de maçã de marca criada especificamente para prosperar em climas quentes.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os criadores de novas variedades de plantas são indivíduos pacientes por natureza. Podem aperfeiçoar durante anos, ou até décadas, uma nova variedade de fruta ou legume que tenha um sabor melhor, cresça mais depressa ou permaneça fresca por mais tempo.

Mas essa tarefa ganhou uma urgência sem precedentes diante das crescentes instabilidades climáticas. As inundações recentes fizeram com que mais de um terço das uvas de mesa da Califórnia apodrecesse nas videiras. O excesso de luz solar está queimando as plantações de maçã, e pragas que antes não eram motivo de preocupação agora se espalham pelos campos de alface.

Desenvolver novas culturas capazes de prosperar em face desses desafios é uma empreitada que demanda tempo. As soluções provavelmente virão de uma série de frentes de pesquisa, que vão desde a tecnologia de edição molecular de genes até a exploração das vastas coleções globais de sementes que foram conservadas ao longo dos séculos.

Tom Adams, CEO e um dos fundadores da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de frutas e legumes, em Durham, na Carolina do Norte, 13 de setembro de 2023. ( Foto: Kate Medley/The New York Times

E, obviamente, as novas frutas e os novos legumes precisam ser saborosos. “É possível usar essas técnicas para encontrar soluções climáticas, mas elas não vão ser úteis se as pessoas não quiserem consumir os alimentos”, observou Michael Kantar, professor associado da Universidade do Havaí em Manoa, que estuda parentes selvagens de culturas existentes.

Algumas dessas novas variedades já estão nas prateleiras dos supermercados, enquanto outras ainda estão em fase de elaboração. Abaixo, apresentamos uma rápida olhada em algumas das mais promissoras.

Cerejas resistentes ao calor

Para que as cerejeiras produzam frutos, é essencial que recebam o que os produtores chamam de “horas de frio”, isto é, pelo menos um mês acumulado de temperaturas entre 0ºC e 7ºC. Invernos excessivamente quentes podem resultar em floração irregular e, por vezes, em ausência de colheita.

Está ficando mais difícil para que as cerejeiras de algumas regiões obtenham horas de frio suficientes. Uma possível solução é a Cheery Cupid, variedade de cereja em forma de coração, desenvolvida pela International Fruit Genetics, recentemente adquirida pela Bloom Fresh International. (Os cientistas que desenvolveram essa variedade de cereja também criaram aquelas uvas populares que têm gosto de algodão-doce.) Essa nova cereja só precisa de aproximadamente um terço da quantidade habitual de clima frio. “Nosso objetivo é torná-la mais tolerante no verão para suportar esse calor absurdo, mas também garantir que sobreviva a invernos mais amenos”, afirmou Chris Owens, o principal criador de plantas da empresa.

A Cupid, que é suculenta e mais doce do que algumas outras cerejas, é apenas uma das diversas novas variedades “low chill” vendidas aos produtores sob a marca Cheery. Deve estar disponível no Hemisfério Sul neste outono setentrional e, posteriormente, nos mercados da América do Norte.

Couve-flor com filtro solar

Quando a couve-flor está madura, suas folhas verdes se abrem e expõem o miolo branco formado pelos floretes. Estes são extremamente sensíveis à luz solar - em excesso, podem ficar manchados e adquirir um tom bege, tornando a couve-flor inadequada para a venda nos supermercados.

Para evitar isso, os agricultores dobram manualmente as folhas sobre o miolo cerca de duas semanas antes da colheita - processo dispendioso e demorado. Como alternativa, os criadores de plantas desenvolveram a couve-flor Destinica true-white, que agora é comumente encontrada nas prateleiras dos supermercados. Basicamente, essa variedade de couve-flor não sofre queimaduras solares. Também é mais fácil de cultivar, porque demanda menos mão de obra nos campos.

A Destinica faz parte de uma linha de couves-flores projetadas para resistir às condições climáticas adversas, desenvolvida pela Syngenta Vegetable Seeds, divisão da empresa global de agricultura Syngenta, com sede na Suíça. Os agricultores também estão adotando seu repolho-branco resistente às intempéries, que requer menos fertilizante de nitrogênio e é capaz de prosperar durante períodos prolongados de seca. Além disso, ele cresce um pouco mais alto no campo do que os outros repolhos, o que facilita a colheita.

Melões que bebem menos

Em 2011, depois de um surto de listeriose relacionado a melões do Colorado que resultou na morte de 33 pessoas, os pesquisadores do Centro de Melhoramento de Frutas e Vegetais da Universidade Texas A&M iniciaram esforços para desenvolver melões mais seguros. Contudo, na última década, ajudar os melões a sobreviver às mudanças climáticas também se tornou urgente, de acordo com Bhimu Patil, diretor do centro.

Com essa finalidade, a universidade empregou um financiamento do Departamento de Agricultura dos EUA no lançamento de dois novos melões, o Supermelon e o Flavorific. Os sistemas radiculares mais profundos dessas variedades foram criados para enfrentar a seca, extraindo mais água do solo. Provadores descrevem esses melões como doces, com polpa densa. Agora eles estão disponíveis para os agricultores.

Amoras da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de plantas.  Foto: Kate Medley/The New York Times

Amora-preta sem espinhos

Em um laboratório em Durham, na Carolina do Norte, os cientistas da Pairwise estão aplicando a tecnologia de edição de genes chamada Crispr para acelerar o trabalho que poderia levar décadas para os criadores tradicionais. (A edição de genes é um processo diferente da modificação genética, que envolve a transferência de DNA de uma espécie para outra.) Ao realçar algumas características e apagar outras, os pesquisadores buscam desenvolver mais rapidamente culturas que cresçam melhor em climas extremos. O problema é que uma maçã, por exemplo, pode ter 57 mil genes. Descobrir quais deles, e em que combinações, podem resultar em colheitas abundantes e saborosas, capazes de resistir a condições climáticas severas, é um desafio colossal.

Até o momento, os pesquisadores, que também trabalham com a gigante química alemã Bayer, conseguiram suprimir o gene que dá às folhas de mostarda seu sabor picante, que lembra o wasabi. As verduras serão incorporadas a uma salada mista nutritiva que chegará aos supermercados no início do próximo ano sob a marca Conscious Greens. Esse será o primeiro alimento desenvolvido com a tecnologia Crispr a ser vendido diretamente ao consumidor.

Os pesquisadores esperam que o próximo avanço seja uma amora-preta sem sementes, que cresça em videiras compactas e desprovidas de espinhos, reduzindo a necessidade de terra, água e fertilizantes. Os novos arbustos também facilitarão a colheita das frutas para os trabalhadores. E depois? “Estamos pensando em desenvolver cerejas sem caroço”, revelou Tom Adams, CEO e cofundador da Pairwise.

Cenouras que toleram a salinidade

Phil Simon, professor de horticultura da Universidade do Wisconsin-Madison, passou mais de uma década tentando criar uma cenoura cujas sementes pudessem germinar mesmo em solos excessivamente salinos, quentes e secos. Durante períodos de seca, não há umidade suficiente para diluir os sais minerais presentes nas águas subterrâneas, e as cenouras não toleram bem a salinidade, especialmente quando suas sementes estão no início do desenvolvimento e quando faltam uma ou duas semanas para a colheita.

Uma estratégia é cruzar as cenouras comerciais, doces e alaranjadas, com as selvagens, que são mais resistentes ao calor. Simon encontrou uma dessas cenouras selvagens, de coloração branca, crescendo à beira de uma estrada na Turquia, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 37ºC. No entanto, ele enfatiza que esse casamento pode levar mais dez ou 15 anos para ser aperfeiçoado.

Se isso acontecer, não será a primeira vez que uma cenoura é projetada para prosperar em meio a um clima volátil. Em 2003, a Eskimo, variedade de cenoura de Nantes com extremidades arredondadas e uma pegada de carbono reduzida, foi desenvolvida para se desenvolver bem no inverno rigoroso do norte da Europa.

Batatas que não assam

As batatas apreciam um suprimento de água constante e moderado, e preferem o frio. Mas o clima está mudando tão depressa que um renomado pesquisador de plantas escocês alertou recentemente que a indústria da batata está enfrentando uma “ameaça existencial”.

Para fazer frente a essa ameaça, os pesquisadores da Universidade do Maine, com financiamento do Departamento de Agricultura e da própria indústria da batata dos EUA, estão pesquisando variedades da América do Sul, onde o cultivo teve início por volta de 8000 a.C. A intenção é analisar e acentuar as características genéticas das variedades tolerantes ao calor, para ajudar as batatas a sobreviver ao calor excessivo e às enchentes.

Eles também estão explorando maneiras de combater novas ondas de pragas e doenças que surgem em decorrência do aumento das temperaturas e da umidade. Uma estratégia que está sendo analisada em outros laboratórios é o desenvolvimento de plantas com folhas mais peludas, dificultando a mobilidade dos insetos nas plantações.

Serão necessários pelo menos cinco ou seis anos para que as populares variedades de batatas vermelhas, russet ou de fritar estejam prontas para ser cultivadas pelos agricultores, informou Greg Porter, professor especializado em ecologia e gestão agrícola.

Abacates que usam menos água

O poderoso abacate Hass é o rei do guacamole nos Estados Unidos, mas em poucos anos o Luna UCR, abacate novo e mais ecológico que vem sendo desenvolvido há 50 anos, poderá se tornar um concorrente à altura.

O Luna, que, segundo os degustadores, ostenta um sabor suave de nozes, talvez um pouco mais doce que o Hass, foi desenvolvido por criadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, que abriga uma das maiores coleções de material genético de abacate do mundo, em parceria com a empresa agrícola europeia Eurosemillas SA.

As novas árvores são esguias, mais baixas e ocupam menos espaço. Precisam de menos água, o que é uma grande vantagem para uma fruta que requer irrigação extensiva. Além disso, também produzem mais frutas ocupando uma área menor. “Outra coisa em que as pessoas não pensam é nos custos de mão de obra. A colheita dos frutos das árvores mais altas leva mais tempo e não é tão segura”, observou Eric Focht, pesquisador associado da equipe que ajudou a desenvolver o Luna.

Maçãs que não queimam

De acordo com Kate Evans, horticultora, criadora de variedades de frutas e professora da Universidade do Estado de Washington, a jornada para criar uma variedade de maçã bem-sucedida é uma maratona que, geralmente, abarca cerca de 20 anos. Essa longa espera é uma das razões pelas quais a Cosmic Crisp, maçã concebida para prosperar na nova realidade climática, foi celebrada quando chegou ao mercado em 2019 com o apoio de Evans. Com um bom desempenho no calor, essa maçã agora cresce em 21 milhões de árvores no estado de Washington, mas ela foi desenvolvida quando os impactos das mudanças climáticas ainda não eram tão evidentes. Diante da aceleração dessas mudanças, Evans e outros criadores intensificaram seus esforços para produzir variedades de maçã ainda mais resistentes ao calor.

Uma novidade promissora é a Tutti, maçã vermelha, leve e crocante que foi testada em toda a Europa. Desenvolvida por uma empresa da Nova Zelândia, a Tutti tem como objetivo auxiliar os agricultores espanhóis, que enfrentam o desafio das temperaturas em constante elevação. Apresentada em uma feira comercial em fevereiro, a Tutti é a primeira variedade de maçã de marca criada especificamente para prosperar em climas quentes.

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os criadores de novas variedades de plantas são indivíduos pacientes por natureza. Podem aperfeiçoar durante anos, ou até décadas, uma nova variedade de fruta ou legume que tenha um sabor melhor, cresça mais depressa ou permaneça fresca por mais tempo.

Mas essa tarefa ganhou uma urgência sem precedentes diante das crescentes instabilidades climáticas. As inundações recentes fizeram com que mais de um terço das uvas de mesa da Califórnia apodrecesse nas videiras. O excesso de luz solar está queimando as plantações de maçã, e pragas que antes não eram motivo de preocupação agora se espalham pelos campos de alface.

Desenvolver novas culturas capazes de prosperar em face desses desafios é uma empreitada que demanda tempo. As soluções provavelmente virão de uma série de frentes de pesquisa, que vão desde a tecnologia de edição molecular de genes até a exploração das vastas coleções globais de sementes que foram conservadas ao longo dos séculos.

Tom Adams, CEO e um dos fundadores da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de frutas e legumes, em Durham, na Carolina do Norte, 13 de setembro de 2023. ( Foto: Kate Medley/The New York Times

E, obviamente, as novas frutas e os novos legumes precisam ser saborosos. “É possível usar essas técnicas para encontrar soluções climáticas, mas elas não vão ser úteis se as pessoas não quiserem consumir os alimentos”, observou Michael Kantar, professor associado da Universidade do Havaí em Manoa, que estuda parentes selvagens de culturas existentes.

Algumas dessas novas variedades já estão nas prateleiras dos supermercados, enquanto outras ainda estão em fase de elaboração. Abaixo, apresentamos uma rápida olhada em algumas das mais promissoras.

Cerejas resistentes ao calor

Para que as cerejeiras produzam frutos, é essencial que recebam o que os produtores chamam de “horas de frio”, isto é, pelo menos um mês acumulado de temperaturas entre 0ºC e 7ºC. Invernos excessivamente quentes podem resultar em floração irregular e, por vezes, em ausência de colheita.

Está ficando mais difícil para que as cerejeiras de algumas regiões obtenham horas de frio suficientes. Uma possível solução é a Cheery Cupid, variedade de cereja em forma de coração, desenvolvida pela International Fruit Genetics, recentemente adquirida pela Bloom Fresh International. (Os cientistas que desenvolveram essa variedade de cereja também criaram aquelas uvas populares que têm gosto de algodão-doce.) Essa nova cereja só precisa de aproximadamente um terço da quantidade habitual de clima frio. “Nosso objetivo é torná-la mais tolerante no verão para suportar esse calor absurdo, mas também garantir que sobreviva a invernos mais amenos”, afirmou Chris Owens, o principal criador de plantas da empresa.

A Cupid, que é suculenta e mais doce do que algumas outras cerejas, é apenas uma das diversas novas variedades “low chill” vendidas aos produtores sob a marca Cheery. Deve estar disponível no Hemisfério Sul neste outono setentrional e, posteriormente, nos mercados da América do Norte.

Couve-flor com filtro solar

Quando a couve-flor está madura, suas folhas verdes se abrem e expõem o miolo branco formado pelos floretes. Estes são extremamente sensíveis à luz solar - em excesso, podem ficar manchados e adquirir um tom bege, tornando a couve-flor inadequada para a venda nos supermercados.

Para evitar isso, os agricultores dobram manualmente as folhas sobre o miolo cerca de duas semanas antes da colheita - processo dispendioso e demorado. Como alternativa, os criadores de plantas desenvolveram a couve-flor Destinica true-white, que agora é comumente encontrada nas prateleiras dos supermercados. Basicamente, essa variedade de couve-flor não sofre queimaduras solares. Também é mais fácil de cultivar, porque demanda menos mão de obra nos campos.

A Destinica faz parte de uma linha de couves-flores projetadas para resistir às condições climáticas adversas, desenvolvida pela Syngenta Vegetable Seeds, divisão da empresa global de agricultura Syngenta, com sede na Suíça. Os agricultores também estão adotando seu repolho-branco resistente às intempéries, que requer menos fertilizante de nitrogênio e é capaz de prosperar durante períodos prolongados de seca. Além disso, ele cresce um pouco mais alto no campo do que os outros repolhos, o que facilita a colheita.

Melões que bebem menos

Em 2011, depois de um surto de listeriose relacionado a melões do Colorado que resultou na morte de 33 pessoas, os pesquisadores do Centro de Melhoramento de Frutas e Vegetais da Universidade Texas A&M iniciaram esforços para desenvolver melões mais seguros. Contudo, na última década, ajudar os melões a sobreviver às mudanças climáticas também se tornou urgente, de acordo com Bhimu Patil, diretor do centro.

Com essa finalidade, a universidade empregou um financiamento do Departamento de Agricultura dos EUA no lançamento de dois novos melões, o Supermelon e o Flavorific. Os sistemas radiculares mais profundos dessas variedades foram criados para enfrentar a seca, extraindo mais água do solo. Provadores descrevem esses melões como doces, com polpa densa. Agora eles estão disponíveis para os agricultores.

Amoras da Pairwise, empresa que usa técnicas de edição genética para criar novas variedades de plantas.  Foto: Kate Medley/The New York Times

Amora-preta sem espinhos

Em um laboratório em Durham, na Carolina do Norte, os cientistas da Pairwise estão aplicando a tecnologia de edição de genes chamada Crispr para acelerar o trabalho que poderia levar décadas para os criadores tradicionais. (A edição de genes é um processo diferente da modificação genética, que envolve a transferência de DNA de uma espécie para outra.) Ao realçar algumas características e apagar outras, os pesquisadores buscam desenvolver mais rapidamente culturas que cresçam melhor em climas extremos. O problema é que uma maçã, por exemplo, pode ter 57 mil genes. Descobrir quais deles, e em que combinações, podem resultar em colheitas abundantes e saborosas, capazes de resistir a condições climáticas severas, é um desafio colossal.

Até o momento, os pesquisadores, que também trabalham com a gigante química alemã Bayer, conseguiram suprimir o gene que dá às folhas de mostarda seu sabor picante, que lembra o wasabi. As verduras serão incorporadas a uma salada mista nutritiva que chegará aos supermercados no início do próximo ano sob a marca Conscious Greens. Esse será o primeiro alimento desenvolvido com a tecnologia Crispr a ser vendido diretamente ao consumidor.

Os pesquisadores esperam que o próximo avanço seja uma amora-preta sem sementes, que cresça em videiras compactas e desprovidas de espinhos, reduzindo a necessidade de terra, água e fertilizantes. Os novos arbustos também facilitarão a colheita das frutas para os trabalhadores. E depois? “Estamos pensando em desenvolver cerejas sem caroço”, revelou Tom Adams, CEO e cofundador da Pairwise.

Cenouras que toleram a salinidade

Phil Simon, professor de horticultura da Universidade do Wisconsin-Madison, passou mais de uma década tentando criar uma cenoura cujas sementes pudessem germinar mesmo em solos excessivamente salinos, quentes e secos. Durante períodos de seca, não há umidade suficiente para diluir os sais minerais presentes nas águas subterrâneas, e as cenouras não toleram bem a salinidade, especialmente quando suas sementes estão no início do desenvolvimento e quando faltam uma ou duas semanas para a colheita.

Uma estratégia é cruzar as cenouras comerciais, doces e alaranjadas, com as selvagens, que são mais resistentes ao calor. Simon encontrou uma dessas cenouras selvagens, de coloração branca, crescendo à beira de uma estrada na Turquia, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 37ºC. No entanto, ele enfatiza que esse casamento pode levar mais dez ou 15 anos para ser aperfeiçoado.

Se isso acontecer, não será a primeira vez que uma cenoura é projetada para prosperar em meio a um clima volátil. Em 2003, a Eskimo, variedade de cenoura de Nantes com extremidades arredondadas e uma pegada de carbono reduzida, foi desenvolvida para se desenvolver bem no inverno rigoroso do norte da Europa.

Batatas que não assam

As batatas apreciam um suprimento de água constante e moderado, e preferem o frio. Mas o clima está mudando tão depressa que um renomado pesquisador de plantas escocês alertou recentemente que a indústria da batata está enfrentando uma “ameaça existencial”.

Para fazer frente a essa ameaça, os pesquisadores da Universidade do Maine, com financiamento do Departamento de Agricultura e da própria indústria da batata dos EUA, estão pesquisando variedades da América do Sul, onde o cultivo teve início por volta de 8000 a.C. A intenção é analisar e acentuar as características genéticas das variedades tolerantes ao calor, para ajudar as batatas a sobreviver ao calor excessivo e às enchentes.

Eles também estão explorando maneiras de combater novas ondas de pragas e doenças que surgem em decorrência do aumento das temperaturas e da umidade. Uma estratégia que está sendo analisada em outros laboratórios é o desenvolvimento de plantas com folhas mais peludas, dificultando a mobilidade dos insetos nas plantações.

Serão necessários pelo menos cinco ou seis anos para que as populares variedades de batatas vermelhas, russet ou de fritar estejam prontas para ser cultivadas pelos agricultores, informou Greg Porter, professor especializado em ecologia e gestão agrícola.

Abacates que usam menos água

O poderoso abacate Hass é o rei do guacamole nos Estados Unidos, mas em poucos anos o Luna UCR, abacate novo e mais ecológico que vem sendo desenvolvido há 50 anos, poderá se tornar um concorrente à altura.

O Luna, que, segundo os degustadores, ostenta um sabor suave de nozes, talvez um pouco mais doce que o Hass, foi desenvolvido por criadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, que abriga uma das maiores coleções de material genético de abacate do mundo, em parceria com a empresa agrícola europeia Eurosemillas SA.

As novas árvores são esguias, mais baixas e ocupam menos espaço. Precisam de menos água, o que é uma grande vantagem para uma fruta que requer irrigação extensiva. Além disso, também produzem mais frutas ocupando uma área menor. “Outra coisa em que as pessoas não pensam é nos custos de mão de obra. A colheita dos frutos das árvores mais altas leva mais tempo e não é tão segura”, observou Eric Focht, pesquisador associado da equipe que ajudou a desenvolver o Luna.

Maçãs que não queimam

De acordo com Kate Evans, horticultora, criadora de variedades de frutas e professora da Universidade do Estado de Washington, a jornada para criar uma variedade de maçã bem-sucedida é uma maratona que, geralmente, abarca cerca de 20 anos. Essa longa espera é uma das razões pelas quais a Cosmic Crisp, maçã concebida para prosperar na nova realidade climática, foi celebrada quando chegou ao mercado em 2019 com o apoio de Evans. Com um bom desempenho no calor, essa maçã agora cresce em 21 milhões de árvores no estado de Washington, mas ela foi desenvolvida quando os impactos das mudanças climáticas ainda não eram tão evidentes. Diante da aceleração dessas mudanças, Evans e outros criadores intensificaram seus esforços para produzir variedades de maçã ainda mais resistentes ao calor.

Uma novidade promissora é a Tutti, maçã vermelha, leve e crocante que foi testada em toda a Europa. Desenvolvida por uma empresa da Nova Zelândia, a Tutti tem como objetivo auxiliar os agricultores espanhóis, que enfrentam o desafio das temperaturas em constante elevação. Apresentada em uma feira comercial em fevereiro, a Tutti é a primeira variedade de maçã de marca criada especificamente para prosperar em climas quentes.

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