Crise climática: publicações mentirosas tentam apontar outras causas para desastres naturais


Vídeos incorretamente atribuídos, mentiras recicladas e temores distorcidos estão alimentando alegações infundadas sobre o recente calor recorde, inundações e incêndios florestais

Por Tiffany Hsu

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que as catástrofes naturais e as condições ambientais extremas se tornaram mais comuns em todo o mundo neste verão (do hemisfério norte), cientistas apontaram repetidamente para um fator comum: as mudanças climáticas.

Uma visão dos danos causados ​​pelos incêndios florestais em Lahaina, em Maui, Havaí, em 10 de agosto. Foto: Philip Cheung/The New York Times

Os teóricos da conspiração apontaram para tudo menos isso.

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Alguns alegaram falsamente que as ondas de calor recorde que atingiram partes da América do Norte, Europa e Ásia eram normais e que tinham sido exageradas como parte de uma farsa globalista. Outros inventaram histórias de que aviões semeadores de nuvens ou uma barragem próxima, em vez de chuvas torrenciais, haviam causado as inundações excepcionalmente intensas no norte de Itália (e em locais como Vermont e Ruanda).

O devastador incêndio florestal em Maui este mês produziu afirmações especialmente ridículas. As redes sociais que acumularam milhões de visualizações atribuíram o incêndio a uma “arma de energia dirigida” (a prova: imagens de anos atrás não gravadas no Havaí). E enquanto a Flórida se preparava esta semana para o furacão Idalia, algumas pessoas afirmaram incorretamente on-line que tais tempestades não são afetadas pelas emissões de combustíveis fósseis.

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As alegações infundadas que agora acompanham regularmente as catástrofes naturais e as condições meteorológicas perigosas, contradizendo uma preponderância de provas científicas, podem muitas vezes parecer frívolas e fantásticas. No entanto, elas persistem - atraindo um grande público e frustrando os especialistas em clima, que afirmam que o mundo tem pouco tempo para escapar a uma catástrofe de aquecimento global.

As alegações podem começar com postagens em blogs pagas pela indústria de petróleo e gás ou com rumores compartilhados entre vizinhos. Os fóruns on-line estão repletos de comentários em vários idiomas que rejeitam tanto a ciência por trás das emissões de combustíveis fósseis como a autoridade dos cientistas. Por vezes, são amplificados por políticos e especialistas de destaque - o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, por exemplo, chamou as mudanças climáticas de “farsa” durante o primeiro debate primário na semana passada.

“É realmente um dos piores desafios com que temos de lidar”, disse Eleni Myrivili, diretora de aquecimento no programa de assentamentos humanos das Nações Unidas, que também trabalha com questões de aquecimento para o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller.

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Depois de desempenhar um papel semelhante na cidade de Atenas, que foi ameaçada por uma onda desastrosa de incêndios florestais, Myrivili disse que a desinformação climática era “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”.

Eleni Myrivili, que trabalha com questões de calor e resiliência, disse que a desinformação climática é “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”. Foto: Eirini Vourloumis/The New York Times

Negacionistas são minoria

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Os negacionistas absolutos do clima são uma minoria: 74% dos americanos acreditam que o aquecimento global está acontecendo, contra 15% que não acreditam, de acordo com uma pesquisa realizada na primavera pelo Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e pelo Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade George Mason. No entanto, enquanto 61% entendem que os humanos são os principais culpados - o consenso de quase toda a comunidade científica - 28% dizem que o fenômeno é uma evolução em grande parte natural.

Especialistas dizem que as táticas e o teor da negação climática evoluíram. Durante décadas, a indústria do petróleo e do gás gastou bilhões de dólares numa campanha coordenada e altamente técnica para influenciar a opinião pública contra a ciência climática e depois contra a ação climática. Recentemente, os teóricos da conspiração e os extremistas têm operado de uma forma mais descentralizada, gerando receitas através de clickbaits enganosos sobre o aquecimento global.

“Esses dois universos colidiram um com o outro no espaço on-line e basicamente encontraram um casamento de conveniência”, disse Jennie King, diretora de investigação e política climática do Institute for Strategic Dialogue, um think tank que estuda plataformas on-line. “Temos o informal e o formal, o tradicional e o muito digital ocupando agora o mesmo ecossistema e levando-o a novos extremos.”

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As consequências do aquecimento global são complexas. Desastres naturais e eventos climáticos extremos ainda ocorreriam sem ele, embora em menor escala, por exemplo. Isso ajuda a alimentar muitas narrativas falsas, disse Susannah Crockford, antropóloga ambiental da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Crockford, que estuda a negação climática, disse que entendia o desejo de inventar explicações que transferissem a responsabilidade das mudanças climáticas para um bicho-papão como os incendiários ou “a elite”.

“Culpar um inimigo específico faz a luta ficar mais fácil - você só precisa se livrar das pessoas más que estão fazendo isso acontecer, e então o problema desaparece”, disse Crockford.

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O mesmo padrão

Este verão, as teorias da conspiração sobre as mudanças climáticas seguiram padrões familiares. Os negacionistas descreveram-nas como uma tática de controle tirânica - um esforço para realocar os residentes rurais para as cidades para serem melhor monitorados, para obrigar as pessoas a isolarem-se em ambientes fechados ou para forçar uma mudança para energias renováveis, sabotando a indústria dos combustíveis fósseis.

O candidato presidencial republicano, Vivek Ramaswamy, classificou as alterações climáticas como uma “farsa” durante o primeiro debate primário em agosto deste ano. Foto: Kenny Holston/The New York Times

A Climate Action Against Disinformation, uma coligação de dezenas de grupos que combatem narrativas falsas, analisou alegações sobre incêndios florestais nos últimos três anos. Num relatório no mês passado, a organização demonstrou como tais afirmações são recicladas e adaptadas ao zeitgeist. O movimento Black Lives Matter e os manifestantes antifa foram bodes expiatórios quando os incêndios florestais eclodiram na Califórnia, Oregon e Washington em 2020. Quando o Canadá enfrentou os seus próprios incêndios florestais neste verão, o primeiro-ministro Justin Trudeau estava sendo injustificadamente ligado a atividades ecoterroristas.

Em Maui, os temores de que incorporadores predatórios entrariam em ação após o incêndio rapidamente se transformaram em alegações não comprovadas de que investidores imobiliários ricos haviam causado o incêndio. O vídeo do governador do Havaí dizendo que o estado poderia adquirir terrenos em Lahaina para protegê-los para os habitantes locais foi manipulado e apresentado como prova enganosa de que o seu plano era comprar terrenos para criar uma “cidade inteligente” tecnologicamente avançada.

As autoridades do condado de Maui alertaram durante anos sobre o risco das mudanças climáticas causarem incêndios florestais mais frequentes e intensos. Posteriormente, os especialistas sugeriram que o incêndio de Lahaina foi alimentado pelo agravamento das condições de seca, baixa umidade e vendavais ligados a um furacão a centenas de quilômetros de distância.

O aquecimento global, no entanto, não foi levado em conta nas falsas teorias que surgiram nas redes sociais. Uma usuária do TikTok disse que “algumas pessoas tiraram fotos de lasers descendo e iniciando o fogo em Maui”. Como prova, ela compartilhou duas imagens: uma da conta do Instagram da SpaceX mostrando o lançamento de seu foguete Falcon 9 na Califórnia em 2018, a outra de uma foto de 5 anos postada no Facebook após uma explosão controlada de uma refinaria de petróleo em Ohio. (Outras imagens que afirmam capturar uma “arma de energia dirigida” em funcionamento em Maui mostram explosões de transformadores no Chile e na Louisiana.)

Os ativistas climáticos estão preocupados com o fato de as plataformas sociais e a tecnologia, como a inteligência artificial, ajudarem a produzir e acelerar a propagação de desinformação sobre catástrofes naturais e condições meteorológicas extremas.

Cientistas e outros especialistas em mudanças climáticas estão sendo assediados com ataques pessoais, incluindo alegações de que são joguetes de uma conspiração globalista ou de outras forças obscuras, disse King, do Institute for Strategic Dialogue. A erosão da confiança nos especialistas prende todos numa “antecâmara de discussão”, discutindo sobre credibilidade em vez de agir.

“O perigo não é que as pessoas tenham opiniões desagradáveis por si só”, disse ela. “É mais sobre nossa incapacidade de ter uma conversa de boa fé sobre estas questões absolutamente críticas nos próximos anos.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que as catástrofes naturais e as condições ambientais extremas se tornaram mais comuns em todo o mundo neste verão (do hemisfério norte), cientistas apontaram repetidamente para um fator comum: as mudanças climáticas.

Uma visão dos danos causados ​​pelos incêndios florestais em Lahaina, em Maui, Havaí, em 10 de agosto. Foto: Philip Cheung/The New York Times

Os teóricos da conspiração apontaram para tudo menos isso.

Alguns alegaram falsamente que as ondas de calor recorde que atingiram partes da América do Norte, Europa e Ásia eram normais e que tinham sido exageradas como parte de uma farsa globalista. Outros inventaram histórias de que aviões semeadores de nuvens ou uma barragem próxima, em vez de chuvas torrenciais, haviam causado as inundações excepcionalmente intensas no norte de Itália (e em locais como Vermont e Ruanda).

O devastador incêndio florestal em Maui este mês produziu afirmações especialmente ridículas. As redes sociais que acumularam milhões de visualizações atribuíram o incêndio a uma “arma de energia dirigida” (a prova: imagens de anos atrás não gravadas no Havaí). E enquanto a Flórida se preparava esta semana para o furacão Idalia, algumas pessoas afirmaram incorretamente on-line que tais tempestades não são afetadas pelas emissões de combustíveis fósseis.

As alegações infundadas que agora acompanham regularmente as catástrofes naturais e as condições meteorológicas perigosas, contradizendo uma preponderância de provas científicas, podem muitas vezes parecer frívolas e fantásticas. No entanto, elas persistem - atraindo um grande público e frustrando os especialistas em clima, que afirmam que o mundo tem pouco tempo para escapar a uma catástrofe de aquecimento global.

As alegações podem começar com postagens em blogs pagas pela indústria de petróleo e gás ou com rumores compartilhados entre vizinhos. Os fóruns on-line estão repletos de comentários em vários idiomas que rejeitam tanto a ciência por trás das emissões de combustíveis fósseis como a autoridade dos cientistas. Por vezes, são amplificados por políticos e especialistas de destaque - o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, por exemplo, chamou as mudanças climáticas de “farsa” durante o primeiro debate primário na semana passada.

“É realmente um dos piores desafios com que temos de lidar”, disse Eleni Myrivili, diretora de aquecimento no programa de assentamentos humanos das Nações Unidas, que também trabalha com questões de aquecimento para o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller.

Depois de desempenhar um papel semelhante na cidade de Atenas, que foi ameaçada por uma onda desastrosa de incêndios florestais, Myrivili disse que a desinformação climática era “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”.

Eleni Myrivili, que trabalha com questões de calor e resiliência, disse que a desinformação climática é “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”. Foto: Eirini Vourloumis/The New York Times

Negacionistas são minoria

Os negacionistas absolutos do clima são uma minoria: 74% dos americanos acreditam que o aquecimento global está acontecendo, contra 15% que não acreditam, de acordo com uma pesquisa realizada na primavera pelo Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e pelo Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade George Mason. No entanto, enquanto 61% entendem que os humanos são os principais culpados - o consenso de quase toda a comunidade científica - 28% dizem que o fenômeno é uma evolução em grande parte natural.

Especialistas dizem que as táticas e o teor da negação climática evoluíram. Durante décadas, a indústria do petróleo e do gás gastou bilhões de dólares numa campanha coordenada e altamente técnica para influenciar a opinião pública contra a ciência climática e depois contra a ação climática. Recentemente, os teóricos da conspiração e os extremistas têm operado de uma forma mais descentralizada, gerando receitas através de clickbaits enganosos sobre o aquecimento global.

“Esses dois universos colidiram um com o outro no espaço on-line e basicamente encontraram um casamento de conveniência”, disse Jennie King, diretora de investigação e política climática do Institute for Strategic Dialogue, um think tank que estuda plataformas on-line. “Temos o informal e o formal, o tradicional e o muito digital ocupando agora o mesmo ecossistema e levando-o a novos extremos.”

As consequências do aquecimento global são complexas. Desastres naturais e eventos climáticos extremos ainda ocorreriam sem ele, embora em menor escala, por exemplo. Isso ajuda a alimentar muitas narrativas falsas, disse Susannah Crockford, antropóloga ambiental da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Crockford, que estuda a negação climática, disse que entendia o desejo de inventar explicações que transferissem a responsabilidade das mudanças climáticas para um bicho-papão como os incendiários ou “a elite”.

“Culpar um inimigo específico faz a luta ficar mais fácil - você só precisa se livrar das pessoas más que estão fazendo isso acontecer, e então o problema desaparece”, disse Crockford.

O mesmo padrão

Este verão, as teorias da conspiração sobre as mudanças climáticas seguiram padrões familiares. Os negacionistas descreveram-nas como uma tática de controle tirânica - um esforço para realocar os residentes rurais para as cidades para serem melhor monitorados, para obrigar as pessoas a isolarem-se em ambientes fechados ou para forçar uma mudança para energias renováveis, sabotando a indústria dos combustíveis fósseis.

O candidato presidencial republicano, Vivek Ramaswamy, classificou as alterações climáticas como uma “farsa” durante o primeiro debate primário em agosto deste ano. Foto: Kenny Holston/The New York Times

A Climate Action Against Disinformation, uma coligação de dezenas de grupos que combatem narrativas falsas, analisou alegações sobre incêndios florestais nos últimos três anos. Num relatório no mês passado, a organização demonstrou como tais afirmações são recicladas e adaptadas ao zeitgeist. O movimento Black Lives Matter e os manifestantes antifa foram bodes expiatórios quando os incêndios florestais eclodiram na Califórnia, Oregon e Washington em 2020. Quando o Canadá enfrentou os seus próprios incêndios florestais neste verão, o primeiro-ministro Justin Trudeau estava sendo injustificadamente ligado a atividades ecoterroristas.

Em Maui, os temores de que incorporadores predatórios entrariam em ação após o incêndio rapidamente se transformaram em alegações não comprovadas de que investidores imobiliários ricos haviam causado o incêndio. O vídeo do governador do Havaí dizendo que o estado poderia adquirir terrenos em Lahaina para protegê-los para os habitantes locais foi manipulado e apresentado como prova enganosa de que o seu plano era comprar terrenos para criar uma “cidade inteligente” tecnologicamente avançada.

As autoridades do condado de Maui alertaram durante anos sobre o risco das mudanças climáticas causarem incêndios florestais mais frequentes e intensos. Posteriormente, os especialistas sugeriram que o incêndio de Lahaina foi alimentado pelo agravamento das condições de seca, baixa umidade e vendavais ligados a um furacão a centenas de quilômetros de distância.

O aquecimento global, no entanto, não foi levado em conta nas falsas teorias que surgiram nas redes sociais. Uma usuária do TikTok disse que “algumas pessoas tiraram fotos de lasers descendo e iniciando o fogo em Maui”. Como prova, ela compartilhou duas imagens: uma da conta do Instagram da SpaceX mostrando o lançamento de seu foguete Falcon 9 na Califórnia em 2018, a outra de uma foto de 5 anos postada no Facebook após uma explosão controlada de uma refinaria de petróleo em Ohio. (Outras imagens que afirmam capturar uma “arma de energia dirigida” em funcionamento em Maui mostram explosões de transformadores no Chile e na Louisiana.)

Os ativistas climáticos estão preocupados com o fato de as plataformas sociais e a tecnologia, como a inteligência artificial, ajudarem a produzir e acelerar a propagação de desinformação sobre catástrofes naturais e condições meteorológicas extremas.

Cientistas e outros especialistas em mudanças climáticas estão sendo assediados com ataques pessoais, incluindo alegações de que são joguetes de uma conspiração globalista ou de outras forças obscuras, disse King, do Institute for Strategic Dialogue. A erosão da confiança nos especialistas prende todos numa “antecâmara de discussão”, discutindo sobre credibilidade em vez de agir.

“O perigo não é que as pessoas tenham opiniões desagradáveis por si só”, disse ela. “É mais sobre nossa incapacidade de ter uma conversa de boa fé sobre estas questões absolutamente críticas nos próximos anos.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que as catástrofes naturais e as condições ambientais extremas se tornaram mais comuns em todo o mundo neste verão (do hemisfério norte), cientistas apontaram repetidamente para um fator comum: as mudanças climáticas.

Uma visão dos danos causados ​​pelos incêndios florestais em Lahaina, em Maui, Havaí, em 10 de agosto. Foto: Philip Cheung/The New York Times

Os teóricos da conspiração apontaram para tudo menos isso.

Alguns alegaram falsamente que as ondas de calor recorde que atingiram partes da América do Norte, Europa e Ásia eram normais e que tinham sido exageradas como parte de uma farsa globalista. Outros inventaram histórias de que aviões semeadores de nuvens ou uma barragem próxima, em vez de chuvas torrenciais, haviam causado as inundações excepcionalmente intensas no norte de Itália (e em locais como Vermont e Ruanda).

O devastador incêndio florestal em Maui este mês produziu afirmações especialmente ridículas. As redes sociais que acumularam milhões de visualizações atribuíram o incêndio a uma “arma de energia dirigida” (a prova: imagens de anos atrás não gravadas no Havaí). E enquanto a Flórida se preparava esta semana para o furacão Idalia, algumas pessoas afirmaram incorretamente on-line que tais tempestades não são afetadas pelas emissões de combustíveis fósseis.

As alegações infundadas que agora acompanham regularmente as catástrofes naturais e as condições meteorológicas perigosas, contradizendo uma preponderância de provas científicas, podem muitas vezes parecer frívolas e fantásticas. No entanto, elas persistem - atraindo um grande público e frustrando os especialistas em clima, que afirmam que o mundo tem pouco tempo para escapar a uma catástrofe de aquecimento global.

As alegações podem começar com postagens em blogs pagas pela indústria de petróleo e gás ou com rumores compartilhados entre vizinhos. Os fóruns on-line estão repletos de comentários em vários idiomas que rejeitam tanto a ciência por trás das emissões de combustíveis fósseis como a autoridade dos cientistas. Por vezes, são amplificados por políticos e especialistas de destaque - o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, por exemplo, chamou as mudanças climáticas de “farsa” durante o primeiro debate primário na semana passada.

“É realmente um dos piores desafios com que temos de lidar”, disse Eleni Myrivili, diretora de aquecimento no programa de assentamentos humanos das Nações Unidas, que também trabalha com questões de aquecimento para o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller.

Depois de desempenhar um papel semelhante na cidade de Atenas, que foi ameaçada por uma onda desastrosa de incêndios florestais, Myrivili disse que a desinformação climática era “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”.

Eleni Myrivili, que trabalha com questões de calor e resiliência, disse que a desinformação climática é “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”. Foto: Eirini Vourloumis/The New York Times

Negacionistas são minoria

Os negacionistas absolutos do clima são uma minoria: 74% dos americanos acreditam que o aquecimento global está acontecendo, contra 15% que não acreditam, de acordo com uma pesquisa realizada na primavera pelo Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e pelo Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade George Mason. No entanto, enquanto 61% entendem que os humanos são os principais culpados - o consenso de quase toda a comunidade científica - 28% dizem que o fenômeno é uma evolução em grande parte natural.

Especialistas dizem que as táticas e o teor da negação climática evoluíram. Durante décadas, a indústria do petróleo e do gás gastou bilhões de dólares numa campanha coordenada e altamente técnica para influenciar a opinião pública contra a ciência climática e depois contra a ação climática. Recentemente, os teóricos da conspiração e os extremistas têm operado de uma forma mais descentralizada, gerando receitas através de clickbaits enganosos sobre o aquecimento global.

“Esses dois universos colidiram um com o outro no espaço on-line e basicamente encontraram um casamento de conveniência”, disse Jennie King, diretora de investigação e política climática do Institute for Strategic Dialogue, um think tank que estuda plataformas on-line. “Temos o informal e o formal, o tradicional e o muito digital ocupando agora o mesmo ecossistema e levando-o a novos extremos.”

As consequências do aquecimento global são complexas. Desastres naturais e eventos climáticos extremos ainda ocorreriam sem ele, embora em menor escala, por exemplo. Isso ajuda a alimentar muitas narrativas falsas, disse Susannah Crockford, antropóloga ambiental da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Crockford, que estuda a negação climática, disse que entendia o desejo de inventar explicações que transferissem a responsabilidade das mudanças climáticas para um bicho-papão como os incendiários ou “a elite”.

“Culpar um inimigo específico faz a luta ficar mais fácil - você só precisa se livrar das pessoas más que estão fazendo isso acontecer, e então o problema desaparece”, disse Crockford.

O mesmo padrão

Este verão, as teorias da conspiração sobre as mudanças climáticas seguiram padrões familiares. Os negacionistas descreveram-nas como uma tática de controle tirânica - um esforço para realocar os residentes rurais para as cidades para serem melhor monitorados, para obrigar as pessoas a isolarem-se em ambientes fechados ou para forçar uma mudança para energias renováveis, sabotando a indústria dos combustíveis fósseis.

O candidato presidencial republicano, Vivek Ramaswamy, classificou as alterações climáticas como uma “farsa” durante o primeiro debate primário em agosto deste ano. Foto: Kenny Holston/The New York Times

A Climate Action Against Disinformation, uma coligação de dezenas de grupos que combatem narrativas falsas, analisou alegações sobre incêndios florestais nos últimos três anos. Num relatório no mês passado, a organização demonstrou como tais afirmações são recicladas e adaptadas ao zeitgeist. O movimento Black Lives Matter e os manifestantes antifa foram bodes expiatórios quando os incêndios florestais eclodiram na Califórnia, Oregon e Washington em 2020. Quando o Canadá enfrentou os seus próprios incêndios florestais neste verão, o primeiro-ministro Justin Trudeau estava sendo injustificadamente ligado a atividades ecoterroristas.

Em Maui, os temores de que incorporadores predatórios entrariam em ação após o incêndio rapidamente se transformaram em alegações não comprovadas de que investidores imobiliários ricos haviam causado o incêndio. O vídeo do governador do Havaí dizendo que o estado poderia adquirir terrenos em Lahaina para protegê-los para os habitantes locais foi manipulado e apresentado como prova enganosa de que o seu plano era comprar terrenos para criar uma “cidade inteligente” tecnologicamente avançada.

As autoridades do condado de Maui alertaram durante anos sobre o risco das mudanças climáticas causarem incêndios florestais mais frequentes e intensos. Posteriormente, os especialistas sugeriram que o incêndio de Lahaina foi alimentado pelo agravamento das condições de seca, baixa umidade e vendavais ligados a um furacão a centenas de quilômetros de distância.

O aquecimento global, no entanto, não foi levado em conta nas falsas teorias que surgiram nas redes sociais. Uma usuária do TikTok disse que “algumas pessoas tiraram fotos de lasers descendo e iniciando o fogo em Maui”. Como prova, ela compartilhou duas imagens: uma da conta do Instagram da SpaceX mostrando o lançamento de seu foguete Falcon 9 na Califórnia em 2018, a outra de uma foto de 5 anos postada no Facebook após uma explosão controlada de uma refinaria de petróleo em Ohio. (Outras imagens que afirmam capturar uma “arma de energia dirigida” em funcionamento em Maui mostram explosões de transformadores no Chile e na Louisiana.)

Os ativistas climáticos estão preocupados com o fato de as plataformas sociais e a tecnologia, como a inteligência artificial, ajudarem a produzir e acelerar a propagação de desinformação sobre catástrofes naturais e condições meteorológicas extremas.

Cientistas e outros especialistas em mudanças climáticas estão sendo assediados com ataques pessoais, incluindo alegações de que são joguetes de uma conspiração globalista ou de outras forças obscuras, disse King, do Institute for Strategic Dialogue. A erosão da confiança nos especialistas prende todos numa “antecâmara de discussão”, discutindo sobre credibilidade em vez de agir.

“O perigo não é que as pessoas tenham opiniões desagradáveis por si só”, disse ela. “É mais sobre nossa incapacidade de ter uma conversa de boa fé sobre estas questões absolutamente críticas nos próximos anos.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que as catástrofes naturais e as condições ambientais extremas se tornaram mais comuns em todo o mundo neste verão (do hemisfério norte), cientistas apontaram repetidamente para um fator comum: as mudanças climáticas.

Uma visão dos danos causados ​​pelos incêndios florestais em Lahaina, em Maui, Havaí, em 10 de agosto. Foto: Philip Cheung/The New York Times

Os teóricos da conspiração apontaram para tudo menos isso.

Alguns alegaram falsamente que as ondas de calor recorde que atingiram partes da América do Norte, Europa e Ásia eram normais e que tinham sido exageradas como parte de uma farsa globalista. Outros inventaram histórias de que aviões semeadores de nuvens ou uma barragem próxima, em vez de chuvas torrenciais, haviam causado as inundações excepcionalmente intensas no norte de Itália (e em locais como Vermont e Ruanda).

O devastador incêndio florestal em Maui este mês produziu afirmações especialmente ridículas. As redes sociais que acumularam milhões de visualizações atribuíram o incêndio a uma “arma de energia dirigida” (a prova: imagens de anos atrás não gravadas no Havaí). E enquanto a Flórida se preparava esta semana para o furacão Idalia, algumas pessoas afirmaram incorretamente on-line que tais tempestades não são afetadas pelas emissões de combustíveis fósseis.

As alegações infundadas que agora acompanham regularmente as catástrofes naturais e as condições meteorológicas perigosas, contradizendo uma preponderância de provas científicas, podem muitas vezes parecer frívolas e fantásticas. No entanto, elas persistem - atraindo um grande público e frustrando os especialistas em clima, que afirmam que o mundo tem pouco tempo para escapar a uma catástrofe de aquecimento global.

As alegações podem começar com postagens em blogs pagas pela indústria de petróleo e gás ou com rumores compartilhados entre vizinhos. Os fóruns on-line estão repletos de comentários em vários idiomas que rejeitam tanto a ciência por trás das emissões de combustíveis fósseis como a autoridade dos cientistas. Por vezes, são amplificados por políticos e especialistas de destaque - o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, por exemplo, chamou as mudanças climáticas de “farsa” durante o primeiro debate primário na semana passada.

“É realmente um dos piores desafios com que temos de lidar”, disse Eleni Myrivili, diretora de aquecimento no programa de assentamentos humanos das Nações Unidas, que também trabalha com questões de aquecimento para o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller.

Depois de desempenhar um papel semelhante na cidade de Atenas, que foi ameaçada por uma onda desastrosa de incêndios florestais, Myrivili disse que a desinformação climática era “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”.

Eleni Myrivili, que trabalha com questões de calor e resiliência, disse que a desinformação climática é “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”. Foto: Eirini Vourloumis/The New York Times

Negacionistas são minoria

Os negacionistas absolutos do clima são uma minoria: 74% dos americanos acreditam que o aquecimento global está acontecendo, contra 15% que não acreditam, de acordo com uma pesquisa realizada na primavera pelo Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e pelo Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade George Mason. No entanto, enquanto 61% entendem que os humanos são os principais culpados - o consenso de quase toda a comunidade científica - 28% dizem que o fenômeno é uma evolução em grande parte natural.

Especialistas dizem que as táticas e o teor da negação climática evoluíram. Durante décadas, a indústria do petróleo e do gás gastou bilhões de dólares numa campanha coordenada e altamente técnica para influenciar a opinião pública contra a ciência climática e depois contra a ação climática. Recentemente, os teóricos da conspiração e os extremistas têm operado de uma forma mais descentralizada, gerando receitas através de clickbaits enganosos sobre o aquecimento global.

“Esses dois universos colidiram um com o outro no espaço on-line e basicamente encontraram um casamento de conveniência”, disse Jennie King, diretora de investigação e política climática do Institute for Strategic Dialogue, um think tank que estuda plataformas on-line. “Temos o informal e o formal, o tradicional e o muito digital ocupando agora o mesmo ecossistema e levando-o a novos extremos.”

As consequências do aquecimento global são complexas. Desastres naturais e eventos climáticos extremos ainda ocorreriam sem ele, embora em menor escala, por exemplo. Isso ajuda a alimentar muitas narrativas falsas, disse Susannah Crockford, antropóloga ambiental da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Crockford, que estuda a negação climática, disse que entendia o desejo de inventar explicações que transferissem a responsabilidade das mudanças climáticas para um bicho-papão como os incendiários ou “a elite”.

“Culpar um inimigo específico faz a luta ficar mais fácil - você só precisa se livrar das pessoas más que estão fazendo isso acontecer, e então o problema desaparece”, disse Crockford.

O mesmo padrão

Este verão, as teorias da conspiração sobre as mudanças climáticas seguiram padrões familiares. Os negacionistas descreveram-nas como uma tática de controle tirânica - um esforço para realocar os residentes rurais para as cidades para serem melhor monitorados, para obrigar as pessoas a isolarem-se em ambientes fechados ou para forçar uma mudança para energias renováveis, sabotando a indústria dos combustíveis fósseis.

O candidato presidencial republicano, Vivek Ramaswamy, classificou as alterações climáticas como uma “farsa” durante o primeiro debate primário em agosto deste ano. Foto: Kenny Holston/The New York Times

A Climate Action Against Disinformation, uma coligação de dezenas de grupos que combatem narrativas falsas, analisou alegações sobre incêndios florestais nos últimos três anos. Num relatório no mês passado, a organização demonstrou como tais afirmações são recicladas e adaptadas ao zeitgeist. O movimento Black Lives Matter e os manifestantes antifa foram bodes expiatórios quando os incêndios florestais eclodiram na Califórnia, Oregon e Washington em 2020. Quando o Canadá enfrentou os seus próprios incêndios florestais neste verão, o primeiro-ministro Justin Trudeau estava sendo injustificadamente ligado a atividades ecoterroristas.

Em Maui, os temores de que incorporadores predatórios entrariam em ação após o incêndio rapidamente se transformaram em alegações não comprovadas de que investidores imobiliários ricos haviam causado o incêndio. O vídeo do governador do Havaí dizendo que o estado poderia adquirir terrenos em Lahaina para protegê-los para os habitantes locais foi manipulado e apresentado como prova enganosa de que o seu plano era comprar terrenos para criar uma “cidade inteligente” tecnologicamente avançada.

As autoridades do condado de Maui alertaram durante anos sobre o risco das mudanças climáticas causarem incêndios florestais mais frequentes e intensos. Posteriormente, os especialistas sugeriram que o incêndio de Lahaina foi alimentado pelo agravamento das condições de seca, baixa umidade e vendavais ligados a um furacão a centenas de quilômetros de distância.

O aquecimento global, no entanto, não foi levado em conta nas falsas teorias que surgiram nas redes sociais. Uma usuária do TikTok disse que “algumas pessoas tiraram fotos de lasers descendo e iniciando o fogo em Maui”. Como prova, ela compartilhou duas imagens: uma da conta do Instagram da SpaceX mostrando o lançamento de seu foguete Falcon 9 na Califórnia em 2018, a outra de uma foto de 5 anos postada no Facebook após uma explosão controlada de uma refinaria de petróleo em Ohio. (Outras imagens que afirmam capturar uma “arma de energia dirigida” em funcionamento em Maui mostram explosões de transformadores no Chile e na Louisiana.)

Os ativistas climáticos estão preocupados com o fato de as plataformas sociais e a tecnologia, como a inteligência artificial, ajudarem a produzir e acelerar a propagação de desinformação sobre catástrofes naturais e condições meteorológicas extremas.

Cientistas e outros especialistas em mudanças climáticas estão sendo assediados com ataques pessoais, incluindo alegações de que são joguetes de uma conspiração globalista ou de outras forças obscuras, disse King, do Institute for Strategic Dialogue. A erosão da confiança nos especialistas prende todos numa “antecâmara de discussão”, discutindo sobre credibilidade em vez de agir.

“O perigo não é que as pessoas tenham opiniões desagradáveis por si só”, disse ela. “É mais sobre nossa incapacidade de ter uma conversa de boa fé sobre estas questões absolutamente críticas nos próximos anos.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - À medida que as catástrofes naturais e as condições ambientais extremas se tornaram mais comuns em todo o mundo neste verão (do hemisfério norte), cientistas apontaram repetidamente para um fator comum: as mudanças climáticas.

Uma visão dos danos causados ​​pelos incêndios florestais em Lahaina, em Maui, Havaí, em 10 de agosto. Foto: Philip Cheung/The New York Times

Os teóricos da conspiração apontaram para tudo menos isso.

Alguns alegaram falsamente que as ondas de calor recorde que atingiram partes da América do Norte, Europa e Ásia eram normais e que tinham sido exageradas como parte de uma farsa globalista. Outros inventaram histórias de que aviões semeadores de nuvens ou uma barragem próxima, em vez de chuvas torrenciais, haviam causado as inundações excepcionalmente intensas no norte de Itália (e em locais como Vermont e Ruanda).

O devastador incêndio florestal em Maui este mês produziu afirmações especialmente ridículas. As redes sociais que acumularam milhões de visualizações atribuíram o incêndio a uma “arma de energia dirigida” (a prova: imagens de anos atrás não gravadas no Havaí). E enquanto a Flórida se preparava esta semana para o furacão Idalia, algumas pessoas afirmaram incorretamente on-line que tais tempestades não são afetadas pelas emissões de combustíveis fósseis.

As alegações infundadas que agora acompanham regularmente as catástrofes naturais e as condições meteorológicas perigosas, contradizendo uma preponderância de provas científicas, podem muitas vezes parecer frívolas e fantásticas. No entanto, elas persistem - atraindo um grande público e frustrando os especialistas em clima, que afirmam que o mundo tem pouco tempo para escapar a uma catástrofe de aquecimento global.

As alegações podem começar com postagens em blogs pagas pela indústria de petróleo e gás ou com rumores compartilhados entre vizinhos. Os fóruns on-line estão repletos de comentários em vários idiomas que rejeitam tanto a ciência por trás das emissões de combustíveis fósseis como a autoridade dos cientistas. Por vezes, são amplificados por políticos e especialistas de destaque - o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, por exemplo, chamou as mudanças climáticas de “farsa” durante o primeiro debate primário na semana passada.

“É realmente um dos piores desafios com que temos de lidar”, disse Eleni Myrivili, diretora de aquecimento no programa de assentamentos humanos das Nações Unidas, que também trabalha com questões de aquecimento para o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller.

Depois de desempenhar um papel semelhante na cidade de Atenas, que foi ameaçada por uma onda desastrosa de incêndios florestais, Myrivili disse que a desinformação climática era “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”.

Eleni Myrivili, que trabalha com questões de calor e resiliência, disse que a desinformação climática é “uma das coisas mais dolorosas porque é como acrescentar insulto à injúria”. Foto: Eirini Vourloumis/The New York Times

Negacionistas são minoria

Os negacionistas absolutos do clima são uma minoria: 74% dos americanos acreditam que o aquecimento global está acontecendo, contra 15% que não acreditam, de acordo com uma pesquisa realizada na primavera pelo Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e pelo Centro de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade George Mason. No entanto, enquanto 61% entendem que os humanos são os principais culpados - o consenso de quase toda a comunidade científica - 28% dizem que o fenômeno é uma evolução em grande parte natural.

Especialistas dizem que as táticas e o teor da negação climática evoluíram. Durante décadas, a indústria do petróleo e do gás gastou bilhões de dólares numa campanha coordenada e altamente técnica para influenciar a opinião pública contra a ciência climática e depois contra a ação climática. Recentemente, os teóricos da conspiração e os extremistas têm operado de uma forma mais descentralizada, gerando receitas através de clickbaits enganosos sobre o aquecimento global.

“Esses dois universos colidiram um com o outro no espaço on-line e basicamente encontraram um casamento de conveniência”, disse Jennie King, diretora de investigação e política climática do Institute for Strategic Dialogue, um think tank que estuda plataformas on-line. “Temos o informal e o formal, o tradicional e o muito digital ocupando agora o mesmo ecossistema e levando-o a novos extremos.”

As consequências do aquecimento global são complexas. Desastres naturais e eventos climáticos extremos ainda ocorreriam sem ele, embora em menor escala, por exemplo. Isso ajuda a alimentar muitas narrativas falsas, disse Susannah Crockford, antropóloga ambiental da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Crockford, que estuda a negação climática, disse que entendia o desejo de inventar explicações que transferissem a responsabilidade das mudanças climáticas para um bicho-papão como os incendiários ou “a elite”.

“Culpar um inimigo específico faz a luta ficar mais fácil - você só precisa se livrar das pessoas más que estão fazendo isso acontecer, e então o problema desaparece”, disse Crockford.

O mesmo padrão

Este verão, as teorias da conspiração sobre as mudanças climáticas seguiram padrões familiares. Os negacionistas descreveram-nas como uma tática de controle tirânica - um esforço para realocar os residentes rurais para as cidades para serem melhor monitorados, para obrigar as pessoas a isolarem-se em ambientes fechados ou para forçar uma mudança para energias renováveis, sabotando a indústria dos combustíveis fósseis.

O candidato presidencial republicano, Vivek Ramaswamy, classificou as alterações climáticas como uma “farsa” durante o primeiro debate primário em agosto deste ano. Foto: Kenny Holston/The New York Times

A Climate Action Against Disinformation, uma coligação de dezenas de grupos que combatem narrativas falsas, analisou alegações sobre incêndios florestais nos últimos três anos. Num relatório no mês passado, a organização demonstrou como tais afirmações são recicladas e adaptadas ao zeitgeist. O movimento Black Lives Matter e os manifestantes antifa foram bodes expiatórios quando os incêndios florestais eclodiram na Califórnia, Oregon e Washington em 2020. Quando o Canadá enfrentou os seus próprios incêndios florestais neste verão, o primeiro-ministro Justin Trudeau estava sendo injustificadamente ligado a atividades ecoterroristas.

Em Maui, os temores de que incorporadores predatórios entrariam em ação após o incêndio rapidamente se transformaram em alegações não comprovadas de que investidores imobiliários ricos haviam causado o incêndio. O vídeo do governador do Havaí dizendo que o estado poderia adquirir terrenos em Lahaina para protegê-los para os habitantes locais foi manipulado e apresentado como prova enganosa de que o seu plano era comprar terrenos para criar uma “cidade inteligente” tecnologicamente avançada.

As autoridades do condado de Maui alertaram durante anos sobre o risco das mudanças climáticas causarem incêndios florestais mais frequentes e intensos. Posteriormente, os especialistas sugeriram que o incêndio de Lahaina foi alimentado pelo agravamento das condições de seca, baixa umidade e vendavais ligados a um furacão a centenas de quilômetros de distância.

O aquecimento global, no entanto, não foi levado em conta nas falsas teorias que surgiram nas redes sociais. Uma usuária do TikTok disse que “algumas pessoas tiraram fotos de lasers descendo e iniciando o fogo em Maui”. Como prova, ela compartilhou duas imagens: uma da conta do Instagram da SpaceX mostrando o lançamento de seu foguete Falcon 9 na Califórnia em 2018, a outra de uma foto de 5 anos postada no Facebook após uma explosão controlada de uma refinaria de petróleo em Ohio. (Outras imagens que afirmam capturar uma “arma de energia dirigida” em funcionamento em Maui mostram explosões de transformadores no Chile e na Louisiana.)

Os ativistas climáticos estão preocupados com o fato de as plataformas sociais e a tecnologia, como a inteligência artificial, ajudarem a produzir e acelerar a propagação de desinformação sobre catástrofes naturais e condições meteorológicas extremas.

Cientistas e outros especialistas em mudanças climáticas estão sendo assediados com ataques pessoais, incluindo alegações de que são joguetes de uma conspiração globalista ou de outras forças obscuras, disse King, do Institute for Strategic Dialogue. A erosão da confiança nos especialistas prende todos numa “antecâmara de discussão”, discutindo sobre credibilidade em vez de agir.

“O perigo não é que as pessoas tenham opiniões desagradáveis por si só”, disse ela. “É mais sobre nossa incapacidade de ter uma conversa de boa fé sobre estas questões absolutamente críticas nos próximos anos.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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