Crise de imigração na Europa já passou, mas xenofobia continua


Apesar das reivindicações dos líderes de extrema-direita, o número de imigrantes em situação irregular que chegam a cada ano está de volta aos níveis pré-crise - e tem sido assim há algum tempo

Por Patrick Kingsley

LAMPEDUSA, ITÁLIA - Milhares de imigrantes chegavam todos os dias às praias da Grécia. Nos portos da Itália, milhares chegavam todas as semanas. Centenas de milhares cruzavam as fronteiras da Alemanha, Áustria e Hungria a cada mês. Mas isso foi em 2015.

Três anos após o auge da crise de imigração da Europa, as praias gregas estão comparativamente calmas. Desde agosto, os portos da Sicília estão mais vazios. E aqui, na remota ilha de Lampedusa - o ponto mais meridional da Itália, e uma das linhas de frente da crise - o centro de detenção de imigrantes tem longos períodos de inatividade. Visitantes recentes ao campo encontraram apenas o canto dos pássaros.

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Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015. Uma cena de Lesbos naquele ano Foto: Sergey Ponomarev para The New York Times

“Não víamos as coisas tão calmas desde 2011", disse o prefeito da ilha, Salvatore Martello. “O número de imigrantes que chegam diminuiu muito.”

Este é o paradoxo da crise de imigração da Europa: o número real de imigrantes chegando ao continente voltou aos patamares anteriores a 2015, mesmo enquanto as questões trazidas pela imigração abalam a política do continente.

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Em reunião realizada em Bruxelas no dia 29 de junho, líderes da União Europeia concordaram em reforçar as fronteiras externas e criar centros de triagem para imigrantes, para decidir mais rapidamente se eles são refugiados legítimos ou não.

E, no dia 2 de julho, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, que apostou seu legado na decisão de receber centenas de milhares de refugiados na Alemanha, concordou em construir campos para os solicitantes de asilo e reforçar a fronteira com a Áustria num acordo político para salvar seu governo.

Foi uma reviravolta surpreendente de uma líder que tem sido a porta-estandarte da ordem liberal europeia, mas se viu sob pressão intensa da extrema direita e dos conservadores que integram a coalizão do seu governo.

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Os países ainda têm dificuldade em absorver os cerca de 1,8 milhão de imigrantes que chegaram pelo mar desde 2014. A ansiedade do público aumentou em países como a Alemanha após ataques bem conhecidos que envolveram imigrantes, incluindo o assassinato de uma estudante alemã de 19 anos em 2016 e o ataque terrorista a um mercado de natal que matou 12 pessoas, também em 2016.

E os líderes ainda mantém diferenças consideráveis em relação a quem deveria assumir a responsabilidade pelos recém chegados - países de fronteira como Grécia e Itália, por onde a maioria dos imigrantes entra na Europa, ou países mais ricos como a Alemanha, aonde muitos imigrantes tentam chegar em seguida.

Viktor Orban, da Hungria, alertou recentemente contra a 'invasão de imigrantes'. Estação de trem de Keleti, em Budapeste, em junho Foto: Akos Stiller para The New York Times
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Mas o mais notável é o quanto muitos líderes, principalmente dos partidos de extrema direita, continuam a criar com sucesso a impressão segundo a qual a Europa seria um continente sitiado.

“Fracassamos em nos defender contra a invasão dos imigrantes", disse Viktor Orban, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, num discurso recente. Ele transformou em crime passível de detenção a prestação de ajuda a imigrantes sem documentos.

E Orban não está sozinho na adoção de uma linha dura. No mês passado, o ministro italiano do interior, Matteo Salvini, fechou os portos da Itália para as embarcações de caridade e resgate. O ministro do interior da Alemanha, Horst Seehofer, ameaçou recusar a entrada de refugiados na fronteira do sul do país. E, do outro lado do Atlântico, o presidente Donald J. Trump afirmou, equivocadamente, que a imigração teria levado a um surto de criminalidade na Alemanha.

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Parece que a tática está funcionando. Dados divulgados no mês passado pela União Europeia mostraram que os europeus estão mais preocupados com a imigração do que com qualquer outro desafio social. O partido de Salvini está na frente nas pesquisas de opinião da Itália. Orban obteve a reeleição em abril.

Mesmo em Lampedusa, Martello elegeu-se prefeito no ano passado prometendo se concentrar mais em questões locais em vez de zelar pela reputação internacional da ilha de santuário para imigrantes. Mas a realidade que se observa é que a imigração voltou aos níveis anteriores à crise, e isso já há algum tempo.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015, com a maioria deles finalmente seguindo para países do norte da Europa como a Alemanha. Até o momento este ano, pouco mais de 13 mil fizeram a mesma jornada. Mais de 150 mil pessoas chegaram à Itália em 2015; este ano, o número é menos de 17 mil, por enquanto. Em 2016, quando as solicitações chegaram ao auge, mais de 62 mil pessoas pediram asilo na Alemanha por mês, em média. Este ano, essa média caiu para pouco mais de 15 mil - a mais baixa desde 2013.

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A estação de trem Keleti, em Budapeste, em 2015. Apesar de uma queda acentuada na imigração, políticos de extrema direita prosperam ao afirmar que a Europa está sitiada. Os países ainda estão absorvendo o 1,8 milhão de recém chegados desde 2014 Foto: Mauricio Lima para The New York Times

Em Lampedusa, mais de 21 mil imigrantes chegaram em 2015. Este ano, até o momento, o número não chega a 1,1 mil. A Espanha é o único país onde houve aumento no número de imigrantes chegando, passando de mais de 16 mil em 2015 para pouco mais de 17 mil em 2018, até o momento. Mas a alta ainda é comparativamente pequena - no auge da crise, chegavam mais pessoas à ilha grega de Lesbos em uma semana do que devem chegar à Espanha este ano.

“Trata-se de uma crise inventada", disse Matteo Villa, especialista em imigração do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais. “Os altos fluxos de chegada dos anos mais recentes deram força aos partidos nacionalistas, que agora criam sua própria crise para manter-se em evidência.”

Salvini e Orban cultivaram apoio criando a impressão de serem os únicos líderes dispostos a tomar as decisões difíceis necessárias para reduzir a imigração. Mas já faz algum tempo que o establishment europeu trabalha nos bastidores com os principais porteiros das rotas de imigração que levam à Europa, incluindo regimes autoritários, para reduzir esses números.

Na Itália, o número de chegadas diminuiu muito depois que o antecessor de Salvini convenceu várias milícias a deter a indústria de tráfico humano a partir do norte da Líbia, e a manter em centros de detenção improvisados e sob condições perigosas milhares de imigrantes que tentariam a viagem até a Europa.

“As medidas implementadas pelo governo anterior, tão criticado por Salvini, deram bons resultados", disse Andrew Geddes, especialista em imigração do Instituto da Universidade Europeia em Florença, Itália.

Vários governos europeus estabeleceram acordos de deportação com o Sudão, cujo líder, Omar Hassan al-Bashir, é acusado de crimes de guerra. Um acordo com o Níger ajudou a combater o tráfico de pessoas no Saara Ocidental. E os governos da Alemanha e Holanda negociaram um acordo na União Europeia em 2016 com o governo autoritário da Turquia que levou a uma queda imediata e drástica na imigração rumo à Grécia.

Agora, o desafio da Europa é uma questão de processo: como abrigar os solicitantes de asilo que aguardam uma decisão para seus casos; como integrá-los à economia e à sociedade caso seus pedidos sejam aceitos; e como deportá-los caso sejam recusados.

Esses desafios permanecem enquanto as autoridades precisam também melhorar as condições dos paupérrimos campos de imigrantes na Grécia, onde residem cerca de metade dos 60 mil solicitantes de asilo no país.

Merkel, que já foi a líder inquestionável do continente, segue mancando como chanceler depois de concordar em construir campos nas fronteiras. Mas ainda não se sabe quando isso vai durar. O nacionalismo e a hostilidade aos imigrantes na Europa estão se enraizando rapidamente nas vertentes da política alemã.

Merkel concordou com a mais recente política depois que uma insurreição envolvendo a política de imigração comandada por Seehofer ameaçou pôr fim à coalizão do seu governo.

Alguns líderes, como Orban na Hungria, dizem que a Europa deveria simplesmente proteger suas fronteiras sem se preocupar com as complexidades de um sistema de asilo.

Estação de trem de Keleti, no centro de Budapeste, Hungria, em 2015. A imigração para a Europa voltou aos patamares anteriores à crise Foto: Mauricio Lima para The New York Times

“Se defendermos nossas fronteiras, o debate em relação à distribuição dos imigrantes se torna irrelevante, pois eles não poderão entrar", disse ele em discurso no mês passado.

Outros desejam reduzir a imigração, mas reconhecem que é impossível extingui-la de vez, a não ser que a Europa abandone o direito ao asilo que foi protegido pelas convenções surgidas após a 2.ª Guerra Mundial.

Para sustentar esse direito e ao mesmo tempo limitar a imigração, as autoridades de Bruxelas querem preparar centrais de processamento para os pedidos de asilo na África. Alguns dizem que seria mais fácil e barato investir em sistemas de asilo mais eficientes na Grécia e Itália - e garantir mais acordos de deportação com os países de origem dos imigrantes.

Em Lampedusa, o debate parece envolver menos os detalhes a respeito da gestão da imigração, e mais a respeito da crescente distância entre as forças liberais e antiliberais na Europa.

É uma “guerra ideológica", disse Martello. “A Europa está dividida em dois blocos principais: um está defendendo as fronteiras, e o outro está tentando fazer algo para de fato resolver a situação dessas pessoas.” /Katrin Bennhold e Melissa Eddy contribuíram com a reportagem.

LAMPEDUSA, ITÁLIA - Milhares de imigrantes chegavam todos os dias às praias da Grécia. Nos portos da Itália, milhares chegavam todas as semanas. Centenas de milhares cruzavam as fronteiras da Alemanha, Áustria e Hungria a cada mês. Mas isso foi em 2015.

Três anos após o auge da crise de imigração da Europa, as praias gregas estão comparativamente calmas. Desde agosto, os portos da Sicília estão mais vazios. E aqui, na remota ilha de Lampedusa - o ponto mais meridional da Itália, e uma das linhas de frente da crise - o centro de detenção de imigrantes tem longos períodos de inatividade. Visitantes recentes ao campo encontraram apenas o canto dos pássaros.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015. Uma cena de Lesbos naquele ano Foto: Sergey Ponomarev para The New York Times

“Não víamos as coisas tão calmas desde 2011", disse o prefeito da ilha, Salvatore Martello. “O número de imigrantes que chegam diminuiu muito.”

Este é o paradoxo da crise de imigração da Europa: o número real de imigrantes chegando ao continente voltou aos patamares anteriores a 2015, mesmo enquanto as questões trazidas pela imigração abalam a política do continente.

Em reunião realizada em Bruxelas no dia 29 de junho, líderes da União Europeia concordaram em reforçar as fronteiras externas e criar centros de triagem para imigrantes, para decidir mais rapidamente se eles são refugiados legítimos ou não.

E, no dia 2 de julho, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, que apostou seu legado na decisão de receber centenas de milhares de refugiados na Alemanha, concordou em construir campos para os solicitantes de asilo e reforçar a fronteira com a Áustria num acordo político para salvar seu governo.

Foi uma reviravolta surpreendente de uma líder que tem sido a porta-estandarte da ordem liberal europeia, mas se viu sob pressão intensa da extrema direita e dos conservadores que integram a coalizão do seu governo.

Os países ainda têm dificuldade em absorver os cerca de 1,8 milhão de imigrantes que chegaram pelo mar desde 2014. A ansiedade do público aumentou em países como a Alemanha após ataques bem conhecidos que envolveram imigrantes, incluindo o assassinato de uma estudante alemã de 19 anos em 2016 e o ataque terrorista a um mercado de natal que matou 12 pessoas, também em 2016.

E os líderes ainda mantém diferenças consideráveis em relação a quem deveria assumir a responsabilidade pelos recém chegados - países de fronteira como Grécia e Itália, por onde a maioria dos imigrantes entra na Europa, ou países mais ricos como a Alemanha, aonde muitos imigrantes tentam chegar em seguida.

Viktor Orban, da Hungria, alertou recentemente contra a 'invasão de imigrantes'. Estação de trem de Keleti, em Budapeste, em junho Foto: Akos Stiller para The New York Times

Mas o mais notável é o quanto muitos líderes, principalmente dos partidos de extrema direita, continuam a criar com sucesso a impressão segundo a qual a Europa seria um continente sitiado.

“Fracassamos em nos defender contra a invasão dos imigrantes", disse Viktor Orban, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, num discurso recente. Ele transformou em crime passível de detenção a prestação de ajuda a imigrantes sem documentos.

E Orban não está sozinho na adoção de uma linha dura. No mês passado, o ministro italiano do interior, Matteo Salvini, fechou os portos da Itália para as embarcações de caridade e resgate. O ministro do interior da Alemanha, Horst Seehofer, ameaçou recusar a entrada de refugiados na fronteira do sul do país. E, do outro lado do Atlântico, o presidente Donald J. Trump afirmou, equivocadamente, que a imigração teria levado a um surto de criminalidade na Alemanha.

Parece que a tática está funcionando. Dados divulgados no mês passado pela União Europeia mostraram que os europeus estão mais preocupados com a imigração do que com qualquer outro desafio social. O partido de Salvini está na frente nas pesquisas de opinião da Itália. Orban obteve a reeleição em abril.

Mesmo em Lampedusa, Martello elegeu-se prefeito no ano passado prometendo se concentrar mais em questões locais em vez de zelar pela reputação internacional da ilha de santuário para imigrantes. Mas a realidade que se observa é que a imigração voltou aos níveis anteriores à crise, e isso já há algum tempo.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015, com a maioria deles finalmente seguindo para países do norte da Europa como a Alemanha. Até o momento este ano, pouco mais de 13 mil fizeram a mesma jornada. Mais de 150 mil pessoas chegaram à Itália em 2015; este ano, o número é menos de 17 mil, por enquanto. Em 2016, quando as solicitações chegaram ao auge, mais de 62 mil pessoas pediram asilo na Alemanha por mês, em média. Este ano, essa média caiu para pouco mais de 15 mil - a mais baixa desde 2013.

A estação de trem Keleti, em Budapeste, em 2015. Apesar de uma queda acentuada na imigração, políticos de extrema direita prosperam ao afirmar que a Europa está sitiada. Os países ainda estão absorvendo o 1,8 milhão de recém chegados desde 2014 Foto: Mauricio Lima para The New York Times

Em Lampedusa, mais de 21 mil imigrantes chegaram em 2015. Este ano, até o momento, o número não chega a 1,1 mil. A Espanha é o único país onde houve aumento no número de imigrantes chegando, passando de mais de 16 mil em 2015 para pouco mais de 17 mil em 2018, até o momento. Mas a alta ainda é comparativamente pequena - no auge da crise, chegavam mais pessoas à ilha grega de Lesbos em uma semana do que devem chegar à Espanha este ano.

“Trata-se de uma crise inventada", disse Matteo Villa, especialista em imigração do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais. “Os altos fluxos de chegada dos anos mais recentes deram força aos partidos nacionalistas, que agora criam sua própria crise para manter-se em evidência.”

Salvini e Orban cultivaram apoio criando a impressão de serem os únicos líderes dispostos a tomar as decisões difíceis necessárias para reduzir a imigração. Mas já faz algum tempo que o establishment europeu trabalha nos bastidores com os principais porteiros das rotas de imigração que levam à Europa, incluindo regimes autoritários, para reduzir esses números.

Na Itália, o número de chegadas diminuiu muito depois que o antecessor de Salvini convenceu várias milícias a deter a indústria de tráfico humano a partir do norte da Líbia, e a manter em centros de detenção improvisados e sob condições perigosas milhares de imigrantes que tentariam a viagem até a Europa.

“As medidas implementadas pelo governo anterior, tão criticado por Salvini, deram bons resultados", disse Andrew Geddes, especialista em imigração do Instituto da Universidade Europeia em Florença, Itália.

Vários governos europeus estabeleceram acordos de deportação com o Sudão, cujo líder, Omar Hassan al-Bashir, é acusado de crimes de guerra. Um acordo com o Níger ajudou a combater o tráfico de pessoas no Saara Ocidental. E os governos da Alemanha e Holanda negociaram um acordo na União Europeia em 2016 com o governo autoritário da Turquia que levou a uma queda imediata e drástica na imigração rumo à Grécia.

Agora, o desafio da Europa é uma questão de processo: como abrigar os solicitantes de asilo que aguardam uma decisão para seus casos; como integrá-los à economia e à sociedade caso seus pedidos sejam aceitos; e como deportá-los caso sejam recusados.

Esses desafios permanecem enquanto as autoridades precisam também melhorar as condições dos paupérrimos campos de imigrantes na Grécia, onde residem cerca de metade dos 60 mil solicitantes de asilo no país.

Merkel, que já foi a líder inquestionável do continente, segue mancando como chanceler depois de concordar em construir campos nas fronteiras. Mas ainda não se sabe quando isso vai durar. O nacionalismo e a hostilidade aos imigrantes na Europa estão se enraizando rapidamente nas vertentes da política alemã.

Merkel concordou com a mais recente política depois que uma insurreição envolvendo a política de imigração comandada por Seehofer ameaçou pôr fim à coalizão do seu governo.

Alguns líderes, como Orban na Hungria, dizem que a Europa deveria simplesmente proteger suas fronteiras sem se preocupar com as complexidades de um sistema de asilo.

Estação de trem de Keleti, no centro de Budapeste, Hungria, em 2015. A imigração para a Europa voltou aos patamares anteriores à crise Foto: Mauricio Lima para The New York Times

“Se defendermos nossas fronteiras, o debate em relação à distribuição dos imigrantes se torna irrelevante, pois eles não poderão entrar", disse ele em discurso no mês passado.

Outros desejam reduzir a imigração, mas reconhecem que é impossível extingui-la de vez, a não ser que a Europa abandone o direito ao asilo que foi protegido pelas convenções surgidas após a 2.ª Guerra Mundial.

Para sustentar esse direito e ao mesmo tempo limitar a imigração, as autoridades de Bruxelas querem preparar centrais de processamento para os pedidos de asilo na África. Alguns dizem que seria mais fácil e barato investir em sistemas de asilo mais eficientes na Grécia e Itália - e garantir mais acordos de deportação com os países de origem dos imigrantes.

Em Lampedusa, o debate parece envolver menos os detalhes a respeito da gestão da imigração, e mais a respeito da crescente distância entre as forças liberais e antiliberais na Europa.

É uma “guerra ideológica", disse Martello. “A Europa está dividida em dois blocos principais: um está defendendo as fronteiras, e o outro está tentando fazer algo para de fato resolver a situação dessas pessoas.” /Katrin Bennhold e Melissa Eddy contribuíram com a reportagem.

LAMPEDUSA, ITÁLIA - Milhares de imigrantes chegavam todos os dias às praias da Grécia. Nos portos da Itália, milhares chegavam todas as semanas. Centenas de milhares cruzavam as fronteiras da Alemanha, Áustria e Hungria a cada mês. Mas isso foi em 2015.

Três anos após o auge da crise de imigração da Europa, as praias gregas estão comparativamente calmas. Desde agosto, os portos da Sicília estão mais vazios. E aqui, na remota ilha de Lampedusa - o ponto mais meridional da Itália, e uma das linhas de frente da crise - o centro de detenção de imigrantes tem longos períodos de inatividade. Visitantes recentes ao campo encontraram apenas o canto dos pássaros.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015. Uma cena de Lesbos naquele ano Foto: Sergey Ponomarev para The New York Times

“Não víamos as coisas tão calmas desde 2011", disse o prefeito da ilha, Salvatore Martello. “O número de imigrantes que chegam diminuiu muito.”

Este é o paradoxo da crise de imigração da Europa: o número real de imigrantes chegando ao continente voltou aos patamares anteriores a 2015, mesmo enquanto as questões trazidas pela imigração abalam a política do continente.

Em reunião realizada em Bruxelas no dia 29 de junho, líderes da União Europeia concordaram em reforçar as fronteiras externas e criar centros de triagem para imigrantes, para decidir mais rapidamente se eles são refugiados legítimos ou não.

E, no dia 2 de julho, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, que apostou seu legado na decisão de receber centenas de milhares de refugiados na Alemanha, concordou em construir campos para os solicitantes de asilo e reforçar a fronteira com a Áustria num acordo político para salvar seu governo.

Foi uma reviravolta surpreendente de uma líder que tem sido a porta-estandarte da ordem liberal europeia, mas se viu sob pressão intensa da extrema direita e dos conservadores que integram a coalizão do seu governo.

Os países ainda têm dificuldade em absorver os cerca de 1,8 milhão de imigrantes que chegaram pelo mar desde 2014. A ansiedade do público aumentou em países como a Alemanha após ataques bem conhecidos que envolveram imigrantes, incluindo o assassinato de uma estudante alemã de 19 anos em 2016 e o ataque terrorista a um mercado de natal que matou 12 pessoas, também em 2016.

E os líderes ainda mantém diferenças consideráveis em relação a quem deveria assumir a responsabilidade pelos recém chegados - países de fronteira como Grécia e Itália, por onde a maioria dos imigrantes entra na Europa, ou países mais ricos como a Alemanha, aonde muitos imigrantes tentam chegar em seguida.

Viktor Orban, da Hungria, alertou recentemente contra a 'invasão de imigrantes'. Estação de trem de Keleti, em Budapeste, em junho Foto: Akos Stiller para The New York Times

Mas o mais notável é o quanto muitos líderes, principalmente dos partidos de extrema direita, continuam a criar com sucesso a impressão segundo a qual a Europa seria um continente sitiado.

“Fracassamos em nos defender contra a invasão dos imigrantes", disse Viktor Orban, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, num discurso recente. Ele transformou em crime passível de detenção a prestação de ajuda a imigrantes sem documentos.

E Orban não está sozinho na adoção de uma linha dura. No mês passado, o ministro italiano do interior, Matteo Salvini, fechou os portos da Itália para as embarcações de caridade e resgate. O ministro do interior da Alemanha, Horst Seehofer, ameaçou recusar a entrada de refugiados na fronteira do sul do país. E, do outro lado do Atlântico, o presidente Donald J. Trump afirmou, equivocadamente, que a imigração teria levado a um surto de criminalidade na Alemanha.

Parece que a tática está funcionando. Dados divulgados no mês passado pela União Europeia mostraram que os europeus estão mais preocupados com a imigração do que com qualquer outro desafio social. O partido de Salvini está na frente nas pesquisas de opinião da Itália. Orban obteve a reeleição em abril.

Mesmo em Lampedusa, Martello elegeu-se prefeito no ano passado prometendo se concentrar mais em questões locais em vez de zelar pela reputação internacional da ilha de santuário para imigrantes. Mas a realidade que se observa é que a imigração voltou aos níveis anteriores à crise, e isso já há algum tempo.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015, com a maioria deles finalmente seguindo para países do norte da Europa como a Alemanha. Até o momento este ano, pouco mais de 13 mil fizeram a mesma jornada. Mais de 150 mil pessoas chegaram à Itália em 2015; este ano, o número é menos de 17 mil, por enquanto. Em 2016, quando as solicitações chegaram ao auge, mais de 62 mil pessoas pediram asilo na Alemanha por mês, em média. Este ano, essa média caiu para pouco mais de 15 mil - a mais baixa desde 2013.

A estação de trem Keleti, em Budapeste, em 2015. Apesar de uma queda acentuada na imigração, políticos de extrema direita prosperam ao afirmar que a Europa está sitiada. Os países ainda estão absorvendo o 1,8 milhão de recém chegados desde 2014 Foto: Mauricio Lima para The New York Times

Em Lampedusa, mais de 21 mil imigrantes chegaram em 2015. Este ano, até o momento, o número não chega a 1,1 mil. A Espanha é o único país onde houve aumento no número de imigrantes chegando, passando de mais de 16 mil em 2015 para pouco mais de 17 mil em 2018, até o momento. Mas a alta ainda é comparativamente pequena - no auge da crise, chegavam mais pessoas à ilha grega de Lesbos em uma semana do que devem chegar à Espanha este ano.

“Trata-se de uma crise inventada", disse Matteo Villa, especialista em imigração do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais. “Os altos fluxos de chegada dos anos mais recentes deram força aos partidos nacionalistas, que agora criam sua própria crise para manter-se em evidência.”

Salvini e Orban cultivaram apoio criando a impressão de serem os únicos líderes dispostos a tomar as decisões difíceis necessárias para reduzir a imigração. Mas já faz algum tempo que o establishment europeu trabalha nos bastidores com os principais porteiros das rotas de imigração que levam à Europa, incluindo regimes autoritários, para reduzir esses números.

Na Itália, o número de chegadas diminuiu muito depois que o antecessor de Salvini convenceu várias milícias a deter a indústria de tráfico humano a partir do norte da Líbia, e a manter em centros de detenção improvisados e sob condições perigosas milhares de imigrantes que tentariam a viagem até a Europa.

“As medidas implementadas pelo governo anterior, tão criticado por Salvini, deram bons resultados", disse Andrew Geddes, especialista em imigração do Instituto da Universidade Europeia em Florença, Itália.

Vários governos europeus estabeleceram acordos de deportação com o Sudão, cujo líder, Omar Hassan al-Bashir, é acusado de crimes de guerra. Um acordo com o Níger ajudou a combater o tráfico de pessoas no Saara Ocidental. E os governos da Alemanha e Holanda negociaram um acordo na União Europeia em 2016 com o governo autoritário da Turquia que levou a uma queda imediata e drástica na imigração rumo à Grécia.

Agora, o desafio da Europa é uma questão de processo: como abrigar os solicitantes de asilo que aguardam uma decisão para seus casos; como integrá-los à economia e à sociedade caso seus pedidos sejam aceitos; e como deportá-los caso sejam recusados.

Esses desafios permanecem enquanto as autoridades precisam também melhorar as condições dos paupérrimos campos de imigrantes na Grécia, onde residem cerca de metade dos 60 mil solicitantes de asilo no país.

Merkel, que já foi a líder inquestionável do continente, segue mancando como chanceler depois de concordar em construir campos nas fronteiras. Mas ainda não se sabe quando isso vai durar. O nacionalismo e a hostilidade aos imigrantes na Europa estão se enraizando rapidamente nas vertentes da política alemã.

Merkel concordou com a mais recente política depois que uma insurreição envolvendo a política de imigração comandada por Seehofer ameaçou pôr fim à coalizão do seu governo.

Alguns líderes, como Orban na Hungria, dizem que a Europa deveria simplesmente proteger suas fronteiras sem se preocupar com as complexidades de um sistema de asilo.

Estação de trem de Keleti, no centro de Budapeste, Hungria, em 2015. A imigração para a Europa voltou aos patamares anteriores à crise Foto: Mauricio Lima para The New York Times

“Se defendermos nossas fronteiras, o debate em relação à distribuição dos imigrantes se torna irrelevante, pois eles não poderão entrar", disse ele em discurso no mês passado.

Outros desejam reduzir a imigração, mas reconhecem que é impossível extingui-la de vez, a não ser que a Europa abandone o direito ao asilo que foi protegido pelas convenções surgidas após a 2.ª Guerra Mundial.

Para sustentar esse direito e ao mesmo tempo limitar a imigração, as autoridades de Bruxelas querem preparar centrais de processamento para os pedidos de asilo na África. Alguns dizem que seria mais fácil e barato investir em sistemas de asilo mais eficientes na Grécia e Itália - e garantir mais acordos de deportação com os países de origem dos imigrantes.

Em Lampedusa, o debate parece envolver menos os detalhes a respeito da gestão da imigração, e mais a respeito da crescente distância entre as forças liberais e antiliberais na Europa.

É uma “guerra ideológica", disse Martello. “A Europa está dividida em dois blocos principais: um está defendendo as fronteiras, e o outro está tentando fazer algo para de fato resolver a situação dessas pessoas.” /Katrin Bennhold e Melissa Eddy contribuíram com a reportagem.

LAMPEDUSA, ITÁLIA - Milhares de imigrantes chegavam todos os dias às praias da Grécia. Nos portos da Itália, milhares chegavam todas as semanas. Centenas de milhares cruzavam as fronteiras da Alemanha, Áustria e Hungria a cada mês. Mas isso foi em 2015.

Três anos após o auge da crise de imigração da Europa, as praias gregas estão comparativamente calmas. Desde agosto, os portos da Sicília estão mais vazios. E aqui, na remota ilha de Lampedusa - o ponto mais meridional da Itália, e uma das linhas de frente da crise - o centro de detenção de imigrantes tem longos períodos de inatividade. Visitantes recentes ao campo encontraram apenas o canto dos pássaros.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015. Uma cena de Lesbos naquele ano Foto: Sergey Ponomarev para The New York Times

“Não víamos as coisas tão calmas desde 2011", disse o prefeito da ilha, Salvatore Martello. “O número de imigrantes que chegam diminuiu muito.”

Este é o paradoxo da crise de imigração da Europa: o número real de imigrantes chegando ao continente voltou aos patamares anteriores a 2015, mesmo enquanto as questões trazidas pela imigração abalam a política do continente.

Em reunião realizada em Bruxelas no dia 29 de junho, líderes da União Europeia concordaram em reforçar as fronteiras externas e criar centros de triagem para imigrantes, para decidir mais rapidamente se eles são refugiados legítimos ou não.

E, no dia 2 de julho, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, que apostou seu legado na decisão de receber centenas de milhares de refugiados na Alemanha, concordou em construir campos para os solicitantes de asilo e reforçar a fronteira com a Áustria num acordo político para salvar seu governo.

Foi uma reviravolta surpreendente de uma líder que tem sido a porta-estandarte da ordem liberal europeia, mas se viu sob pressão intensa da extrema direita e dos conservadores que integram a coalizão do seu governo.

Os países ainda têm dificuldade em absorver os cerca de 1,8 milhão de imigrantes que chegaram pelo mar desde 2014. A ansiedade do público aumentou em países como a Alemanha após ataques bem conhecidos que envolveram imigrantes, incluindo o assassinato de uma estudante alemã de 19 anos em 2016 e o ataque terrorista a um mercado de natal que matou 12 pessoas, também em 2016.

E os líderes ainda mantém diferenças consideráveis em relação a quem deveria assumir a responsabilidade pelos recém chegados - países de fronteira como Grécia e Itália, por onde a maioria dos imigrantes entra na Europa, ou países mais ricos como a Alemanha, aonde muitos imigrantes tentam chegar em seguida.

Viktor Orban, da Hungria, alertou recentemente contra a 'invasão de imigrantes'. Estação de trem de Keleti, em Budapeste, em junho Foto: Akos Stiller para The New York Times

Mas o mais notável é o quanto muitos líderes, principalmente dos partidos de extrema direita, continuam a criar com sucesso a impressão segundo a qual a Europa seria um continente sitiado.

“Fracassamos em nos defender contra a invasão dos imigrantes", disse Viktor Orban, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, num discurso recente. Ele transformou em crime passível de detenção a prestação de ajuda a imigrantes sem documentos.

E Orban não está sozinho na adoção de uma linha dura. No mês passado, o ministro italiano do interior, Matteo Salvini, fechou os portos da Itália para as embarcações de caridade e resgate. O ministro do interior da Alemanha, Horst Seehofer, ameaçou recusar a entrada de refugiados na fronteira do sul do país. E, do outro lado do Atlântico, o presidente Donald J. Trump afirmou, equivocadamente, que a imigração teria levado a um surto de criminalidade na Alemanha.

Parece que a tática está funcionando. Dados divulgados no mês passado pela União Europeia mostraram que os europeus estão mais preocupados com a imigração do que com qualquer outro desafio social. O partido de Salvini está na frente nas pesquisas de opinião da Itália. Orban obteve a reeleição em abril.

Mesmo em Lampedusa, Martello elegeu-se prefeito no ano passado prometendo se concentrar mais em questões locais em vez de zelar pela reputação internacional da ilha de santuário para imigrantes. Mas a realidade que se observa é que a imigração voltou aos níveis anteriores à crise, e isso já há algum tempo.

Mais de 850 mil solicitantes de asilo chegaram à Grécia em 2015, com a maioria deles finalmente seguindo para países do norte da Europa como a Alemanha. Até o momento este ano, pouco mais de 13 mil fizeram a mesma jornada. Mais de 150 mil pessoas chegaram à Itália em 2015; este ano, o número é menos de 17 mil, por enquanto. Em 2016, quando as solicitações chegaram ao auge, mais de 62 mil pessoas pediram asilo na Alemanha por mês, em média. Este ano, essa média caiu para pouco mais de 15 mil - a mais baixa desde 2013.

A estação de trem Keleti, em Budapeste, em 2015. Apesar de uma queda acentuada na imigração, políticos de extrema direita prosperam ao afirmar que a Europa está sitiada. Os países ainda estão absorvendo o 1,8 milhão de recém chegados desde 2014 Foto: Mauricio Lima para The New York Times

Em Lampedusa, mais de 21 mil imigrantes chegaram em 2015. Este ano, até o momento, o número não chega a 1,1 mil. A Espanha é o único país onde houve aumento no número de imigrantes chegando, passando de mais de 16 mil em 2015 para pouco mais de 17 mil em 2018, até o momento. Mas a alta ainda é comparativamente pequena - no auge da crise, chegavam mais pessoas à ilha grega de Lesbos em uma semana do que devem chegar à Espanha este ano.

“Trata-se de uma crise inventada", disse Matteo Villa, especialista em imigração do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais. “Os altos fluxos de chegada dos anos mais recentes deram força aos partidos nacionalistas, que agora criam sua própria crise para manter-se em evidência.”

Salvini e Orban cultivaram apoio criando a impressão de serem os únicos líderes dispostos a tomar as decisões difíceis necessárias para reduzir a imigração. Mas já faz algum tempo que o establishment europeu trabalha nos bastidores com os principais porteiros das rotas de imigração que levam à Europa, incluindo regimes autoritários, para reduzir esses números.

Na Itália, o número de chegadas diminuiu muito depois que o antecessor de Salvini convenceu várias milícias a deter a indústria de tráfico humano a partir do norte da Líbia, e a manter em centros de detenção improvisados e sob condições perigosas milhares de imigrantes que tentariam a viagem até a Europa.

“As medidas implementadas pelo governo anterior, tão criticado por Salvini, deram bons resultados", disse Andrew Geddes, especialista em imigração do Instituto da Universidade Europeia em Florença, Itália.

Vários governos europeus estabeleceram acordos de deportação com o Sudão, cujo líder, Omar Hassan al-Bashir, é acusado de crimes de guerra. Um acordo com o Níger ajudou a combater o tráfico de pessoas no Saara Ocidental. E os governos da Alemanha e Holanda negociaram um acordo na União Europeia em 2016 com o governo autoritário da Turquia que levou a uma queda imediata e drástica na imigração rumo à Grécia.

Agora, o desafio da Europa é uma questão de processo: como abrigar os solicitantes de asilo que aguardam uma decisão para seus casos; como integrá-los à economia e à sociedade caso seus pedidos sejam aceitos; e como deportá-los caso sejam recusados.

Esses desafios permanecem enquanto as autoridades precisam também melhorar as condições dos paupérrimos campos de imigrantes na Grécia, onde residem cerca de metade dos 60 mil solicitantes de asilo no país.

Merkel, que já foi a líder inquestionável do continente, segue mancando como chanceler depois de concordar em construir campos nas fronteiras. Mas ainda não se sabe quando isso vai durar. O nacionalismo e a hostilidade aos imigrantes na Europa estão se enraizando rapidamente nas vertentes da política alemã.

Merkel concordou com a mais recente política depois que uma insurreição envolvendo a política de imigração comandada por Seehofer ameaçou pôr fim à coalizão do seu governo.

Alguns líderes, como Orban na Hungria, dizem que a Europa deveria simplesmente proteger suas fronteiras sem se preocupar com as complexidades de um sistema de asilo.

Estação de trem de Keleti, no centro de Budapeste, Hungria, em 2015. A imigração para a Europa voltou aos patamares anteriores à crise Foto: Mauricio Lima para The New York Times

“Se defendermos nossas fronteiras, o debate em relação à distribuição dos imigrantes se torna irrelevante, pois eles não poderão entrar", disse ele em discurso no mês passado.

Outros desejam reduzir a imigração, mas reconhecem que é impossível extingui-la de vez, a não ser que a Europa abandone o direito ao asilo que foi protegido pelas convenções surgidas após a 2.ª Guerra Mundial.

Para sustentar esse direito e ao mesmo tempo limitar a imigração, as autoridades de Bruxelas querem preparar centrais de processamento para os pedidos de asilo na África. Alguns dizem que seria mais fácil e barato investir em sistemas de asilo mais eficientes na Grécia e Itália - e garantir mais acordos de deportação com os países de origem dos imigrantes.

Em Lampedusa, o debate parece envolver menos os detalhes a respeito da gestão da imigração, e mais a respeito da crescente distância entre as forças liberais e antiliberais na Europa.

É uma “guerra ideológica", disse Martello. “A Europa está dividida em dois blocos principais: um está defendendo as fronteiras, e o outro está tentando fazer algo para de fato resolver a situação dessas pessoas.” /Katrin Bennhold e Melissa Eddy contribuíram com a reportagem.

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