Crise na Venezuela aumenta imigração ao Brasil e sobrecarrega cidades de Roraima


ONU pediu contribuição de 46 milhõs de dólares a doadores internacionais, mas só captou 6% do total

Por Ernesto Londoño

PACARAIMA, Brasil - Centenas chegam todos os dias, muitos deles sem nenhum dinheiro, passando abatidos por uma bandeira desgastada indicando que alcançaram a fronteira.

Depois de cruzá-la, muitos procuram os parques e praças públicas já repletos de abrigos improvisados pelos sem-teto, que trazem consigo preocupações com a criminalidade e as drogas. Os sortudos dormem em barracas e fazem fila para receber as refeições oferecidas pelos soldados. Os menos afortunados dormem sob lonas.

As cenas lembram as ondas de imigrantes que fugiram das guerras na Síria e no Afeganistão, levando a uma reação na Europa. Mas isso acontece no Brasil, onde uma maré de pessoas que fogem da crise econômica na Venezuela começou a testar os limites da tolerância da região em relação aos imigrantes e das permissivas políticas de imigração.

continua após a publicidade

Em abril, a governadora do estado de Roraima, no Norte do Brasil, processou o governo federal, exigindo o fechamento da fronteira com a Venezuela e a aprovação de recursos adicionais pra os sistemas locais de saúde e ensino, já sobrecarregados.

“Tememos muito a possibilidade de uma desestabilização econômica e social do nosso estado", disse a governadora, Suely Campos. “Estou cuidando das necessidades dos venezuelanos em detrimento dos brasileiros.”

As dezenas de milhares de venezuelanos que encontraram refúgio no Brasil são a prova de uma crise humanitária cada vez mais grave que, para o governo do país, não existe. Durante os primeiros meses do ano, 5 mil venezuelanos deixavam sua pátria todos os dias, de acordo com as Nações Unidas. Se o ritmo atual for mantido, mais de 1,8 milhão de venezuelanos podem deixar o país até o fim do ano, juntando-se ao cerca de 1,5 milhão que já o fizeram.

continua após a publicidade

Conforme esses números aumentam, e tendo em vista que muitos chegam sem dinheiro e precisando de cuidados médicos, alguns na região começaram a questionar o bom senso das fronteiras abertas.

Suely disse que processou o governo federal porque a entrada de venezuelanos levou a uma alta no crime, fez baixarem os salários e deu início a um surto de sarampo, que tinha sido erradicado no Brasil.

ONU pediu contribuição de 46 milhõs de dólares a doadores internacionais, mas só captou 6% do total Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO
continua após a publicidade

A população da capital do estado, Boa Vista, aumentou muito nos anos mais recentes com a chegada de cerca de 50 mil venezuelanos à cidade. Eles agora representam cerca de 10% da população. 

Inicialmente, os moradores reagiram com generosidade, com a criação de um sopão e a distribuição de roupas doadas.

Mas, já no ano passado, os moradores de Pacaraima, cidade próxima à fronteira, e de Boa Vista, a uma distância de 200 quilômetros, se sentiam sobrecarregados. “Boa Vista foi transformada", disse a prefeita Teresa Surita. “Isso começou a gerar uma grande instabilidade.”

continua após a publicidade

Numa manhã recente, ocupantes que montaram abrigos na praça Simón Bolivar preparavam suas refeições em pequenos fornos à lenha. O clima era deprimente. Um vírus tinha se espalhado pelo acampamento, levando a muitos casos de vômito e diarreia. Para piorar o desconforto, moradores vizinhos, num ato de protesto, queimaram uma fileira de arbustos que os venezuelanos usavam como banheiro.

Ana García, 56 anos, disse mal poder acreditar em sua nova realidade no Brasil. Ela tinha casa própria e vivia confortavelmente com o salário de funcionária do serviço social na Venezuela. Mas, conforme seu contracheque perdeu todo o valor por causa da inflação fora de controle, ela deixou o emprego que exerceu por mais de uma década, na esperança de receber o dinheiro do fundo de garantia e viajar para o exterior.

Em vez disso, ela recebeu apenas o bastante para comprar um saco de arroz, meio frango e uma banana.  Com o alimento se tornando cada vez mais escasso, Ana partiu numa jornada de quase 900 quilômetros com a filha de 18 anos.

continua após a publicidade

“Nunca pensei que pudéssemos nos ver nessa situação. Não estamos acostumadas a viver como indigentes", disse Ana, com lágrimas nos olhos. “Mas a Venezuela está destruída. As pessoas estão morrendo de fome.”

Em fevereiro, o Governo Federal concedeu ao Exército o controle da reposta à crise de refugiados. 

Desde então, com o apoio das Nações Unidas, o exército brasileiro está construindo abrigos temporários em toda a cidade. Até o fim de maio, espera-se que 11 abrigos estejam prontos, com capacidade para cerca de 5,5 mil pessoas.

continua após a publicidade

Os venezuelanos podem solicitar a realocação para cidades maiores no Brasil, mas esse processo começou lentamente por causa de limitações orçamentárias. A ONU pediu recentemente aos doadores internacionais que contribuíssem com 46 milhões de dólares para enfrentar a crise, mas foram captados apenas 6% desse total.

Mercedes Acuña, 50 anos, disse se sentir abençoada por estar entre as primeiras a serem recebidas num abrigo. Ela chegou ao Brasil dois meses atrás, mas agora concorda com aqueles que defendem o fechamento da fronteira.

“Entendo que estamos num momento de grande necessidade", disse ela. “Mas estamos invadindo o país deles.”

No Hospital Geral de Roraima, o diretor, Samir Xuad, disse que a população de pacientes aumentou de 400 para mil por dia nos dois anos mais recentes. Suprimentos básicos como seringas e luvas estão se esgotando, disse Xuad; nos momentos de mais atividade, as macas dos pacientes formam uma fila nos corredores.

Fora do trabalho, ele disse que os moradores de Boa Vista agora temem a criminalidade e os grupos de flanelinhas que abordam os motoristas nos semáforos.

“Roraima era um estado onde se podia dormir com a porta destrancada", disse ele. “As coisas mudaram.”

Hordas de prostitutas venezuelanas agora trabalham nas ruas. Entre elas está Camilla Suárez, 23 anos, que trabalhava num salão de depilação em Caracas. Conforme a comida começou a ficar escassa, Camilla, que tem uma criança pequena, imaginou que teria mais chance de sustentar a família e ajudar os pais se trabalhasse no Brasil.

“Eu sabia que as brasileiras gostam de se depilar", disse ela, mas foi difícil encontrar trabalho. Logo a prostituição se tornou o único recurso. “Há advogadas e enfermeiras entre nós", disse Camilla.

Num dia de bom movimento, ela ganha 90 dólares. Isso basta para as despesas semanais de aluguel e comida, e ainda sobram cerca de 30 dólares para mandar para casa.

“Com isso, minha família consegue comer bem por três dias inteiros", diz ela, orgulhosa. “Com todas as refeições: café da manhã, almoço e jantar.”

PACARAIMA, Brasil - Centenas chegam todos os dias, muitos deles sem nenhum dinheiro, passando abatidos por uma bandeira desgastada indicando que alcançaram a fronteira.

Depois de cruzá-la, muitos procuram os parques e praças públicas já repletos de abrigos improvisados pelos sem-teto, que trazem consigo preocupações com a criminalidade e as drogas. Os sortudos dormem em barracas e fazem fila para receber as refeições oferecidas pelos soldados. Os menos afortunados dormem sob lonas.

As cenas lembram as ondas de imigrantes que fugiram das guerras na Síria e no Afeganistão, levando a uma reação na Europa. Mas isso acontece no Brasil, onde uma maré de pessoas que fogem da crise econômica na Venezuela começou a testar os limites da tolerância da região em relação aos imigrantes e das permissivas políticas de imigração.

Em abril, a governadora do estado de Roraima, no Norte do Brasil, processou o governo federal, exigindo o fechamento da fronteira com a Venezuela e a aprovação de recursos adicionais pra os sistemas locais de saúde e ensino, já sobrecarregados.

“Tememos muito a possibilidade de uma desestabilização econômica e social do nosso estado", disse a governadora, Suely Campos. “Estou cuidando das necessidades dos venezuelanos em detrimento dos brasileiros.”

As dezenas de milhares de venezuelanos que encontraram refúgio no Brasil são a prova de uma crise humanitária cada vez mais grave que, para o governo do país, não existe. Durante os primeiros meses do ano, 5 mil venezuelanos deixavam sua pátria todos os dias, de acordo com as Nações Unidas. Se o ritmo atual for mantido, mais de 1,8 milhão de venezuelanos podem deixar o país até o fim do ano, juntando-se ao cerca de 1,5 milhão que já o fizeram.

Conforme esses números aumentam, e tendo em vista que muitos chegam sem dinheiro e precisando de cuidados médicos, alguns na região começaram a questionar o bom senso das fronteiras abertas.

Suely disse que processou o governo federal porque a entrada de venezuelanos levou a uma alta no crime, fez baixarem os salários e deu início a um surto de sarampo, que tinha sido erradicado no Brasil.

ONU pediu contribuição de 46 milhõs de dólares a doadores internacionais, mas só captou 6% do total Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

A população da capital do estado, Boa Vista, aumentou muito nos anos mais recentes com a chegada de cerca de 50 mil venezuelanos à cidade. Eles agora representam cerca de 10% da população. 

Inicialmente, os moradores reagiram com generosidade, com a criação de um sopão e a distribuição de roupas doadas.

Mas, já no ano passado, os moradores de Pacaraima, cidade próxima à fronteira, e de Boa Vista, a uma distância de 200 quilômetros, se sentiam sobrecarregados. “Boa Vista foi transformada", disse a prefeita Teresa Surita. “Isso começou a gerar uma grande instabilidade.”

Numa manhã recente, ocupantes que montaram abrigos na praça Simón Bolivar preparavam suas refeições em pequenos fornos à lenha. O clima era deprimente. Um vírus tinha se espalhado pelo acampamento, levando a muitos casos de vômito e diarreia. Para piorar o desconforto, moradores vizinhos, num ato de protesto, queimaram uma fileira de arbustos que os venezuelanos usavam como banheiro.

Ana García, 56 anos, disse mal poder acreditar em sua nova realidade no Brasil. Ela tinha casa própria e vivia confortavelmente com o salário de funcionária do serviço social na Venezuela. Mas, conforme seu contracheque perdeu todo o valor por causa da inflação fora de controle, ela deixou o emprego que exerceu por mais de uma década, na esperança de receber o dinheiro do fundo de garantia e viajar para o exterior.

Em vez disso, ela recebeu apenas o bastante para comprar um saco de arroz, meio frango e uma banana.  Com o alimento se tornando cada vez mais escasso, Ana partiu numa jornada de quase 900 quilômetros com a filha de 18 anos.

“Nunca pensei que pudéssemos nos ver nessa situação. Não estamos acostumadas a viver como indigentes", disse Ana, com lágrimas nos olhos. “Mas a Venezuela está destruída. As pessoas estão morrendo de fome.”

Em fevereiro, o Governo Federal concedeu ao Exército o controle da reposta à crise de refugiados. 

Desde então, com o apoio das Nações Unidas, o exército brasileiro está construindo abrigos temporários em toda a cidade. Até o fim de maio, espera-se que 11 abrigos estejam prontos, com capacidade para cerca de 5,5 mil pessoas.

Os venezuelanos podem solicitar a realocação para cidades maiores no Brasil, mas esse processo começou lentamente por causa de limitações orçamentárias. A ONU pediu recentemente aos doadores internacionais que contribuíssem com 46 milhões de dólares para enfrentar a crise, mas foram captados apenas 6% desse total.

Mercedes Acuña, 50 anos, disse se sentir abençoada por estar entre as primeiras a serem recebidas num abrigo. Ela chegou ao Brasil dois meses atrás, mas agora concorda com aqueles que defendem o fechamento da fronteira.

“Entendo que estamos num momento de grande necessidade", disse ela. “Mas estamos invadindo o país deles.”

No Hospital Geral de Roraima, o diretor, Samir Xuad, disse que a população de pacientes aumentou de 400 para mil por dia nos dois anos mais recentes. Suprimentos básicos como seringas e luvas estão se esgotando, disse Xuad; nos momentos de mais atividade, as macas dos pacientes formam uma fila nos corredores.

Fora do trabalho, ele disse que os moradores de Boa Vista agora temem a criminalidade e os grupos de flanelinhas que abordam os motoristas nos semáforos.

“Roraima era um estado onde se podia dormir com a porta destrancada", disse ele. “As coisas mudaram.”

Hordas de prostitutas venezuelanas agora trabalham nas ruas. Entre elas está Camilla Suárez, 23 anos, que trabalhava num salão de depilação em Caracas. Conforme a comida começou a ficar escassa, Camilla, que tem uma criança pequena, imaginou que teria mais chance de sustentar a família e ajudar os pais se trabalhasse no Brasil.

“Eu sabia que as brasileiras gostam de se depilar", disse ela, mas foi difícil encontrar trabalho. Logo a prostituição se tornou o único recurso. “Há advogadas e enfermeiras entre nós", disse Camilla.

Num dia de bom movimento, ela ganha 90 dólares. Isso basta para as despesas semanais de aluguel e comida, e ainda sobram cerca de 30 dólares para mandar para casa.

“Com isso, minha família consegue comer bem por três dias inteiros", diz ela, orgulhosa. “Com todas as refeições: café da manhã, almoço e jantar.”

PACARAIMA, Brasil - Centenas chegam todos os dias, muitos deles sem nenhum dinheiro, passando abatidos por uma bandeira desgastada indicando que alcançaram a fronteira.

Depois de cruzá-la, muitos procuram os parques e praças públicas já repletos de abrigos improvisados pelos sem-teto, que trazem consigo preocupações com a criminalidade e as drogas. Os sortudos dormem em barracas e fazem fila para receber as refeições oferecidas pelos soldados. Os menos afortunados dormem sob lonas.

As cenas lembram as ondas de imigrantes que fugiram das guerras na Síria e no Afeganistão, levando a uma reação na Europa. Mas isso acontece no Brasil, onde uma maré de pessoas que fogem da crise econômica na Venezuela começou a testar os limites da tolerância da região em relação aos imigrantes e das permissivas políticas de imigração.

Em abril, a governadora do estado de Roraima, no Norte do Brasil, processou o governo federal, exigindo o fechamento da fronteira com a Venezuela e a aprovação de recursos adicionais pra os sistemas locais de saúde e ensino, já sobrecarregados.

“Tememos muito a possibilidade de uma desestabilização econômica e social do nosso estado", disse a governadora, Suely Campos. “Estou cuidando das necessidades dos venezuelanos em detrimento dos brasileiros.”

As dezenas de milhares de venezuelanos que encontraram refúgio no Brasil são a prova de uma crise humanitária cada vez mais grave que, para o governo do país, não existe. Durante os primeiros meses do ano, 5 mil venezuelanos deixavam sua pátria todos os dias, de acordo com as Nações Unidas. Se o ritmo atual for mantido, mais de 1,8 milhão de venezuelanos podem deixar o país até o fim do ano, juntando-se ao cerca de 1,5 milhão que já o fizeram.

Conforme esses números aumentam, e tendo em vista que muitos chegam sem dinheiro e precisando de cuidados médicos, alguns na região começaram a questionar o bom senso das fronteiras abertas.

Suely disse que processou o governo federal porque a entrada de venezuelanos levou a uma alta no crime, fez baixarem os salários e deu início a um surto de sarampo, que tinha sido erradicado no Brasil.

ONU pediu contribuição de 46 milhõs de dólares a doadores internacionais, mas só captou 6% do total Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

A população da capital do estado, Boa Vista, aumentou muito nos anos mais recentes com a chegada de cerca de 50 mil venezuelanos à cidade. Eles agora representam cerca de 10% da população. 

Inicialmente, os moradores reagiram com generosidade, com a criação de um sopão e a distribuição de roupas doadas.

Mas, já no ano passado, os moradores de Pacaraima, cidade próxima à fronteira, e de Boa Vista, a uma distância de 200 quilômetros, se sentiam sobrecarregados. “Boa Vista foi transformada", disse a prefeita Teresa Surita. “Isso começou a gerar uma grande instabilidade.”

Numa manhã recente, ocupantes que montaram abrigos na praça Simón Bolivar preparavam suas refeições em pequenos fornos à lenha. O clima era deprimente. Um vírus tinha se espalhado pelo acampamento, levando a muitos casos de vômito e diarreia. Para piorar o desconforto, moradores vizinhos, num ato de protesto, queimaram uma fileira de arbustos que os venezuelanos usavam como banheiro.

Ana García, 56 anos, disse mal poder acreditar em sua nova realidade no Brasil. Ela tinha casa própria e vivia confortavelmente com o salário de funcionária do serviço social na Venezuela. Mas, conforme seu contracheque perdeu todo o valor por causa da inflação fora de controle, ela deixou o emprego que exerceu por mais de uma década, na esperança de receber o dinheiro do fundo de garantia e viajar para o exterior.

Em vez disso, ela recebeu apenas o bastante para comprar um saco de arroz, meio frango e uma banana.  Com o alimento se tornando cada vez mais escasso, Ana partiu numa jornada de quase 900 quilômetros com a filha de 18 anos.

“Nunca pensei que pudéssemos nos ver nessa situação. Não estamos acostumadas a viver como indigentes", disse Ana, com lágrimas nos olhos. “Mas a Venezuela está destruída. As pessoas estão morrendo de fome.”

Em fevereiro, o Governo Federal concedeu ao Exército o controle da reposta à crise de refugiados. 

Desde então, com o apoio das Nações Unidas, o exército brasileiro está construindo abrigos temporários em toda a cidade. Até o fim de maio, espera-se que 11 abrigos estejam prontos, com capacidade para cerca de 5,5 mil pessoas.

Os venezuelanos podem solicitar a realocação para cidades maiores no Brasil, mas esse processo começou lentamente por causa de limitações orçamentárias. A ONU pediu recentemente aos doadores internacionais que contribuíssem com 46 milhões de dólares para enfrentar a crise, mas foram captados apenas 6% desse total.

Mercedes Acuña, 50 anos, disse se sentir abençoada por estar entre as primeiras a serem recebidas num abrigo. Ela chegou ao Brasil dois meses atrás, mas agora concorda com aqueles que defendem o fechamento da fronteira.

“Entendo que estamos num momento de grande necessidade", disse ela. “Mas estamos invadindo o país deles.”

No Hospital Geral de Roraima, o diretor, Samir Xuad, disse que a população de pacientes aumentou de 400 para mil por dia nos dois anos mais recentes. Suprimentos básicos como seringas e luvas estão se esgotando, disse Xuad; nos momentos de mais atividade, as macas dos pacientes formam uma fila nos corredores.

Fora do trabalho, ele disse que os moradores de Boa Vista agora temem a criminalidade e os grupos de flanelinhas que abordam os motoristas nos semáforos.

“Roraima era um estado onde se podia dormir com a porta destrancada", disse ele. “As coisas mudaram.”

Hordas de prostitutas venezuelanas agora trabalham nas ruas. Entre elas está Camilla Suárez, 23 anos, que trabalhava num salão de depilação em Caracas. Conforme a comida começou a ficar escassa, Camilla, que tem uma criança pequena, imaginou que teria mais chance de sustentar a família e ajudar os pais se trabalhasse no Brasil.

“Eu sabia que as brasileiras gostam de se depilar", disse ela, mas foi difícil encontrar trabalho. Logo a prostituição se tornou o único recurso. “Há advogadas e enfermeiras entre nós", disse Camilla.

Num dia de bom movimento, ela ganha 90 dólares. Isso basta para as despesas semanais de aluguel e comida, e ainda sobram cerca de 30 dólares para mandar para casa.

“Com isso, minha família consegue comer bem por três dias inteiros", diz ela, orgulhosa. “Com todas as refeições: café da manhã, almoço e jantar.”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.