Críticas mais duras ao filme ‘Barbie’ vêm justamente dos colecionadores da boneca


Entrevistados contam o que gostaram ou não no longa de Greta Gerwig e dizem esperar que o sucesso do filme aumente a disponibilidade de produtos relacionados à boneca

Por Esther Zuckerman

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Antes de assistir ao filme Barbie, Laura Maar, colecionadora de bonecas, tinha suas dúvidas. Ao ver as primeiras imagens, não ficou satisfeita com a representação da amiga grávida da Barbie, Midge (sua favorita), ou de Allan, o amigo de Ken que compartilha o guarda-roupa com seu colega. “Fiquei um pouco frustrada com a maneira como o filme retratou esse personagem, porque ele não é assim na realidade”, comentou ela.

Ryan Gosling e Margot Robbie em cena de 'Barbie', sucesso de bilheteria dirigido por Greta Gerwig." (Warner Bros. Pictures via AP) Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Ainda processando o que sentira depois de assistir pela primeira vez ao filme dirigido por Greta Gerwig, Laura Maar decidiu vê-lo novamente. “Na segunda vez, realmente me apaixonei. Tentei deixar de lado as questões iniciais e, ao longo da semana, quando as pessoas me convidavam para assistir de novo, eu ia”, disse Maar, professora de jardim de infância de 49 anos no sul da Califórnia. No momento de nossa conversa, ela já assistira ao filme cinco vezes e planejava vê-lo mais uma vez.

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O filme Barbie, estrelado por Margot Robbie, tornou-se um fenômeno indiscutível, arrecadando US$ 1 bilhão nas bilheterias e inspirando o público a se vestir com suas melhores peças cor-de-rosa. Mas colecionadores como Maar já eram fãs da Barbie muito antes disso. Essas pessoas possuem centenas ou mesmo milhares de bonecas, e aguardavam com grande expectativa a estreia de sua estrela na versão live-action nas telas de cinema. Conversei com dez colecionadores, muitos dos quais se apresentaram para a videoentrevista vestindo roupas rosa-choque da Barbie ou ostentando orgulhosamente suas bonecas. O objetivo era entender se o filme atendeu às expectativas desse grupo de fãs mais exigente.

Liliana Saldaña, de 36 anos, que é professora de inglês do ensino médio em Laredo, no Texas, e que calcula ter mais de 400 Barbies, contou que saiu do cinema com rímel escorrendo pelo rosto: “Foi uma experiência emocional muito forte, e fiquei muito satisfeita com o fato de haver tantas homenagens aos fãs leais da Barbie.”

Taylor Brione Ballard, de 31 anos, organizadora de eventos de Houston que possui 350 bonecas, disse que o filme também a levou às lágrimas: “A moça que estava ao meu lado comentou que me ouviu chorar durante o filme.” Ballard, que coleciona principalmente Barbies negras, explicou que sempre se inspirou na boneca e que “o filme mostrou de fato por que as pessoas podem gostar da Barbie, e como é inspiradora, um ícone de empoderamento feminino”.

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Outras colecionadoras viram as próprias experiências refletidas na tela. No filme, não é uma garotinha que brinca com a Barbie principal, mas uma mãe (interpretada por America Ferrera) cuja filha cresceu e já não brinca de boneca. Em determinado momento, os personagens humanos passam a acompanhar Barbie em sua jornada de autodescoberta. “Se a simples ação de escovar o cabelo e apresentar a Barbie às pessoas deixa minha alma e meu coração leves, não há nada negativo nisso, não há absolutamente nada de errado. Uma das principais lições do filme foi a transformação pela qual passaram as pessoas reais por conta da interação com a boneca, e foi isso que a Barbie fez por mim também”, afirmou Beth Largent, de 61 anos, cantora de ópera de Massachusetts.

Roland Moreno, de 31 anos, iniciou sua coleção de bonecas há cerca de três anos, quando morava em Chicago. Por meio da Barbie, conheceu Matthew Keith, seu atual namorado, e depois se mudou para Los Angeles. “Para mim, a Barbie representa um tipo de fuga da realidade. Acho que a personagem de America Ferrera queria escapar de sua situação triste, e eu também buscava o mesmo quando comecei minha coleção.”

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Moreno apreciou os “presentinhos” que Greta Gerwig deixou para os colecionadores ao longo do filme, como a participação especial de Skipper, irmã da Barbie, que desenvolveu seios, e um texto na tela com o nome real das roupas que vinham no armário da Barbie. “Primeiro, achei interessante, mas depois percebi que o valor desses itens provavelmente vai aumentar bastante.” Vários colecionadores entrevistados pelo The New York Times também destacaram a referência ao item colecionável cancelado, mais conhecido como “Sugar Daddy Ken” (cujo nome, na verdade, era uma alusão ao fato de seu cachorro se chamar Sugar).

Colecionadores de longa data da Barbie tinham grandes expectativas e preocupações com sua estreia na tela grande, que se tornou um fenômeno inequívoco.  Foto: Jian Yang/The New York Times

Mais pontos negativos

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No entanto, também houve críticas a alguns detalhes. Jian Yang, comerciante de 43 anos de Cingapura, que possui uma coleção de 12 mil bonecas, observou que as roupas pareciam feitas à mão, e não produzidas pela Mattel. Tanto Maar, que trabalhou na Mattel durante mais de duas décadas, quanto Keith, de 55 anos, discordaram da maneira como foi retratada a criadora da Barbie, Ruth Handler (interpretada por Rhea Perlman), como se fosse uma espécie de guia espiritual gentil para a Barbie de Margot Robbie. “Ruth nunca foi do tipo avó; muito pelo contrário, ela era implacável”, disse Maar sobre Handler, que faleceu em 2002.

Esses fãs da Barbie também teriam preferido que o Mundo Real tivesse menos destaque no filme. Afinal, uma vez que o atrativo da Barbie é justamente a fantasia, o mundo real pode parecer decepcionante. “Eu me senti muito mais envolvida quando vi a Terra da Barbie”, contou Saldaña, enquanto Lindsey Walker, de 27 anos, que trabalha com direitos civis em Washington, D.C., teve uma sensação semelhante: “Toda vez que eles voltavam ao Mundo Real, eu pensava: tá, quando eles vão voltar para a Terra da Barbie? Porque lá era um lugar muito mais interessante e colorido.”

Também houve queixas mais substanciais. Walker elogiou a diversidade do elenco, mas expressou o desejo de que Issa Rae e Ncuti Gatwa, que estão entre os atores negros do elenco, tivessem tido mais destaque em cena. Ele também discordou da abordagem dos temas feministas: “Entendo que o filme foi escrito por uma mulher branca, que tem uma perspectiva própria, mas também tem gente que pode não estar familiarizada com o feminismo e que pode aprender alguma coisa com isso, portanto estou só vendo o filme como ele é.”

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Saldaña expressou sua esperança de que o filme leve a um aumento na disponibilidade de itens colecionáveis da Barbie, bem como ao tratamento equitativo da personagem por parte dos varejistas, assim como é feito com personagens como o Homem-Aranha, por exemplo. Segundo ela, as pessoas veem as coleções de Barbies como um interesse predominantemente feminino, e por isso seus produtos não recebem o respeito nem a atenção que merecem.

Moreno também deseja que a popularidade do filme influencie outras pessoas a abraçar sua paixão. Ele conta que ocasionalmente ele e Keith são insultados quando fazem sessões de fotos com suas Barbies. Sua esperança é que essa situação possa ser aceita com mais naturalidade, por causa do longa-metragem.

Ele já está planejando ver o filme pelo menos mais uma vez, e Maar não descarta a possibilidade de uma sétima sessão: “Para quem coleciona e ama a Barbie, é uma oportunidade única. Por isso, quero aproveitar para ver o filme o maior número de vezes possível.”

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The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Antes de assistir ao filme Barbie, Laura Maar, colecionadora de bonecas, tinha suas dúvidas. Ao ver as primeiras imagens, não ficou satisfeita com a representação da amiga grávida da Barbie, Midge (sua favorita), ou de Allan, o amigo de Ken que compartilha o guarda-roupa com seu colega. “Fiquei um pouco frustrada com a maneira como o filme retratou esse personagem, porque ele não é assim na realidade”, comentou ela.

Ryan Gosling e Margot Robbie em cena de 'Barbie', sucesso de bilheteria dirigido por Greta Gerwig." (Warner Bros. Pictures via AP) Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Ainda processando o que sentira depois de assistir pela primeira vez ao filme dirigido por Greta Gerwig, Laura Maar decidiu vê-lo novamente. “Na segunda vez, realmente me apaixonei. Tentei deixar de lado as questões iniciais e, ao longo da semana, quando as pessoas me convidavam para assistir de novo, eu ia”, disse Maar, professora de jardim de infância de 49 anos no sul da Califórnia. No momento de nossa conversa, ela já assistira ao filme cinco vezes e planejava vê-lo mais uma vez.

O filme Barbie, estrelado por Margot Robbie, tornou-se um fenômeno indiscutível, arrecadando US$ 1 bilhão nas bilheterias e inspirando o público a se vestir com suas melhores peças cor-de-rosa. Mas colecionadores como Maar já eram fãs da Barbie muito antes disso. Essas pessoas possuem centenas ou mesmo milhares de bonecas, e aguardavam com grande expectativa a estreia de sua estrela na versão live-action nas telas de cinema. Conversei com dez colecionadores, muitos dos quais se apresentaram para a videoentrevista vestindo roupas rosa-choque da Barbie ou ostentando orgulhosamente suas bonecas. O objetivo era entender se o filme atendeu às expectativas desse grupo de fãs mais exigente.

Liliana Saldaña, de 36 anos, que é professora de inglês do ensino médio em Laredo, no Texas, e que calcula ter mais de 400 Barbies, contou que saiu do cinema com rímel escorrendo pelo rosto: “Foi uma experiência emocional muito forte, e fiquei muito satisfeita com o fato de haver tantas homenagens aos fãs leais da Barbie.”

Taylor Brione Ballard, de 31 anos, organizadora de eventos de Houston que possui 350 bonecas, disse que o filme também a levou às lágrimas: “A moça que estava ao meu lado comentou que me ouviu chorar durante o filme.” Ballard, que coleciona principalmente Barbies negras, explicou que sempre se inspirou na boneca e que “o filme mostrou de fato por que as pessoas podem gostar da Barbie, e como é inspiradora, um ícone de empoderamento feminino”.

Outras colecionadoras viram as próprias experiências refletidas na tela. No filme, não é uma garotinha que brinca com a Barbie principal, mas uma mãe (interpretada por America Ferrera) cuja filha cresceu e já não brinca de boneca. Em determinado momento, os personagens humanos passam a acompanhar Barbie em sua jornada de autodescoberta. “Se a simples ação de escovar o cabelo e apresentar a Barbie às pessoas deixa minha alma e meu coração leves, não há nada negativo nisso, não há absolutamente nada de errado. Uma das principais lições do filme foi a transformação pela qual passaram as pessoas reais por conta da interação com a boneca, e foi isso que a Barbie fez por mim também”, afirmou Beth Largent, de 61 anos, cantora de ópera de Massachusetts.

Roland Moreno, de 31 anos, iniciou sua coleção de bonecas há cerca de três anos, quando morava em Chicago. Por meio da Barbie, conheceu Matthew Keith, seu atual namorado, e depois se mudou para Los Angeles. “Para mim, a Barbie representa um tipo de fuga da realidade. Acho que a personagem de America Ferrera queria escapar de sua situação triste, e eu também buscava o mesmo quando comecei minha coleção.”

Moreno apreciou os “presentinhos” que Greta Gerwig deixou para os colecionadores ao longo do filme, como a participação especial de Skipper, irmã da Barbie, que desenvolveu seios, e um texto na tela com o nome real das roupas que vinham no armário da Barbie. “Primeiro, achei interessante, mas depois percebi que o valor desses itens provavelmente vai aumentar bastante.” Vários colecionadores entrevistados pelo The New York Times também destacaram a referência ao item colecionável cancelado, mais conhecido como “Sugar Daddy Ken” (cujo nome, na verdade, era uma alusão ao fato de seu cachorro se chamar Sugar).

Colecionadores de longa data da Barbie tinham grandes expectativas e preocupações com sua estreia na tela grande, que se tornou um fenômeno inequívoco.  Foto: Jian Yang/The New York Times

Mais pontos negativos

No entanto, também houve críticas a alguns detalhes. Jian Yang, comerciante de 43 anos de Cingapura, que possui uma coleção de 12 mil bonecas, observou que as roupas pareciam feitas à mão, e não produzidas pela Mattel. Tanto Maar, que trabalhou na Mattel durante mais de duas décadas, quanto Keith, de 55 anos, discordaram da maneira como foi retratada a criadora da Barbie, Ruth Handler (interpretada por Rhea Perlman), como se fosse uma espécie de guia espiritual gentil para a Barbie de Margot Robbie. “Ruth nunca foi do tipo avó; muito pelo contrário, ela era implacável”, disse Maar sobre Handler, que faleceu em 2002.

Esses fãs da Barbie também teriam preferido que o Mundo Real tivesse menos destaque no filme. Afinal, uma vez que o atrativo da Barbie é justamente a fantasia, o mundo real pode parecer decepcionante. “Eu me senti muito mais envolvida quando vi a Terra da Barbie”, contou Saldaña, enquanto Lindsey Walker, de 27 anos, que trabalha com direitos civis em Washington, D.C., teve uma sensação semelhante: “Toda vez que eles voltavam ao Mundo Real, eu pensava: tá, quando eles vão voltar para a Terra da Barbie? Porque lá era um lugar muito mais interessante e colorido.”

Também houve queixas mais substanciais. Walker elogiou a diversidade do elenco, mas expressou o desejo de que Issa Rae e Ncuti Gatwa, que estão entre os atores negros do elenco, tivessem tido mais destaque em cena. Ele também discordou da abordagem dos temas feministas: “Entendo que o filme foi escrito por uma mulher branca, que tem uma perspectiva própria, mas também tem gente que pode não estar familiarizada com o feminismo e que pode aprender alguma coisa com isso, portanto estou só vendo o filme como ele é.”

Saldaña expressou sua esperança de que o filme leve a um aumento na disponibilidade de itens colecionáveis da Barbie, bem como ao tratamento equitativo da personagem por parte dos varejistas, assim como é feito com personagens como o Homem-Aranha, por exemplo. Segundo ela, as pessoas veem as coleções de Barbies como um interesse predominantemente feminino, e por isso seus produtos não recebem o respeito nem a atenção que merecem.

Moreno também deseja que a popularidade do filme influencie outras pessoas a abraçar sua paixão. Ele conta que ocasionalmente ele e Keith são insultados quando fazem sessões de fotos com suas Barbies. Sua esperança é que essa situação possa ser aceita com mais naturalidade, por causa do longa-metragem.

Ele já está planejando ver o filme pelo menos mais uma vez, e Maar não descarta a possibilidade de uma sétima sessão: “Para quem coleciona e ama a Barbie, é uma oportunidade única. Por isso, quero aproveitar para ver o filme o maior número de vezes possível.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Antes de assistir ao filme Barbie, Laura Maar, colecionadora de bonecas, tinha suas dúvidas. Ao ver as primeiras imagens, não ficou satisfeita com a representação da amiga grávida da Barbie, Midge (sua favorita), ou de Allan, o amigo de Ken que compartilha o guarda-roupa com seu colega. “Fiquei um pouco frustrada com a maneira como o filme retratou esse personagem, porque ele não é assim na realidade”, comentou ela.

Ryan Gosling e Margot Robbie em cena de 'Barbie', sucesso de bilheteria dirigido por Greta Gerwig." (Warner Bros. Pictures via AP) Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Ainda processando o que sentira depois de assistir pela primeira vez ao filme dirigido por Greta Gerwig, Laura Maar decidiu vê-lo novamente. “Na segunda vez, realmente me apaixonei. Tentei deixar de lado as questões iniciais e, ao longo da semana, quando as pessoas me convidavam para assistir de novo, eu ia”, disse Maar, professora de jardim de infância de 49 anos no sul da Califórnia. No momento de nossa conversa, ela já assistira ao filme cinco vezes e planejava vê-lo mais uma vez.

O filme Barbie, estrelado por Margot Robbie, tornou-se um fenômeno indiscutível, arrecadando US$ 1 bilhão nas bilheterias e inspirando o público a se vestir com suas melhores peças cor-de-rosa. Mas colecionadores como Maar já eram fãs da Barbie muito antes disso. Essas pessoas possuem centenas ou mesmo milhares de bonecas, e aguardavam com grande expectativa a estreia de sua estrela na versão live-action nas telas de cinema. Conversei com dez colecionadores, muitos dos quais se apresentaram para a videoentrevista vestindo roupas rosa-choque da Barbie ou ostentando orgulhosamente suas bonecas. O objetivo era entender se o filme atendeu às expectativas desse grupo de fãs mais exigente.

Liliana Saldaña, de 36 anos, que é professora de inglês do ensino médio em Laredo, no Texas, e que calcula ter mais de 400 Barbies, contou que saiu do cinema com rímel escorrendo pelo rosto: “Foi uma experiência emocional muito forte, e fiquei muito satisfeita com o fato de haver tantas homenagens aos fãs leais da Barbie.”

Taylor Brione Ballard, de 31 anos, organizadora de eventos de Houston que possui 350 bonecas, disse que o filme também a levou às lágrimas: “A moça que estava ao meu lado comentou que me ouviu chorar durante o filme.” Ballard, que coleciona principalmente Barbies negras, explicou que sempre se inspirou na boneca e que “o filme mostrou de fato por que as pessoas podem gostar da Barbie, e como é inspiradora, um ícone de empoderamento feminino”.

Outras colecionadoras viram as próprias experiências refletidas na tela. No filme, não é uma garotinha que brinca com a Barbie principal, mas uma mãe (interpretada por America Ferrera) cuja filha cresceu e já não brinca de boneca. Em determinado momento, os personagens humanos passam a acompanhar Barbie em sua jornada de autodescoberta. “Se a simples ação de escovar o cabelo e apresentar a Barbie às pessoas deixa minha alma e meu coração leves, não há nada negativo nisso, não há absolutamente nada de errado. Uma das principais lições do filme foi a transformação pela qual passaram as pessoas reais por conta da interação com a boneca, e foi isso que a Barbie fez por mim também”, afirmou Beth Largent, de 61 anos, cantora de ópera de Massachusetts.

Roland Moreno, de 31 anos, iniciou sua coleção de bonecas há cerca de três anos, quando morava em Chicago. Por meio da Barbie, conheceu Matthew Keith, seu atual namorado, e depois se mudou para Los Angeles. “Para mim, a Barbie representa um tipo de fuga da realidade. Acho que a personagem de America Ferrera queria escapar de sua situação triste, e eu também buscava o mesmo quando comecei minha coleção.”

Moreno apreciou os “presentinhos” que Greta Gerwig deixou para os colecionadores ao longo do filme, como a participação especial de Skipper, irmã da Barbie, que desenvolveu seios, e um texto na tela com o nome real das roupas que vinham no armário da Barbie. “Primeiro, achei interessante, mas depois percebi que o valor desses itens provavelmente vai aumentar bastante.” Vários colecionadores entrevistados pelo The New York Times também destacaram a referência ao item colecionável cancelado, mais conhecido como “Sugar Daddy Ken” (cujo nome, na verdade, era uma alusão ao fato de seu cachorro se chamar Sugar).

Colecionadores de longa data da Barbie tinham grandes expectativas e preocupações com sua estreia na tela grande, que se tornou um fenômeno inequívoco.  Foto: Jian Yang/The New York Times

Mais pontos negativos

No entanto, também houve críticas a alguns detalhes. Jian Yang, comerciante de 43 anos de Cingapura, que possui uma coleção de 12 mil bonecas, observou que as roupas pareciam feitas à mão, e não produzidas pela Mattel. Tanto Maar, que trabalhou na Mattel durante mais de duas décadas, quanto Keith, de 55 anos, discordaram da maneira como foi retratada a criadora da Barbie, Ruth Handler (interpretada por Rhea Perlman), como se fosse uma espécie de guia espiritual gentil para a Barbie de Margot Robbie. “Ruth nunca foi do tipo avó; muito pelo contrário, ela era implacável”, disse Maar sobre Handler, que faleceu em 2002.

Esses fãs da Barbie também teriam preferido que o Mundo Real tivesse menos destaque no filme. Afinal, uma vez que o atrativo da Barbie é justamente a fantasia, o mundo real pode parecer decepcionante. “Eu me senti muito mais envolvida quando vi a Terra da Barbie”, contou Saldaña, enquanto Lindsey Walker, de 27 anos, que trabalha com direitos civis em Washington, D.C., teve uma sensação semelhante: “Toda vez que eles voltavam ao Mundo Real, eu pensava: tá, quando eles vão voltar para a Terra da Barbie? Porque lá era um lugar muito mais interessante e colorido.”

Também houve queixas mais substanciais. Walker elogiou a diversidade do elenco, mas expressou o desejo de que Issa Rae e Ncuti Gatwa, que estão entre os atores negros do elenco, tivessem tido mais destaque em cena. Ele também discordou da abordagem dos temas feministas: “Entendo que o filme foi escrito por uma mulher branca, que tem uma perspectiva própria, mas também tem gente que pode não estar familiarizada com o feminismo e que pode aprender alguma coisa com isso, portanto estou só vendo o filme como ele é.”

Saldaña expressou sua esperança de que o filme leve a um aumento na disponibilidade de itens colecionáveis da Barbie, bem como ao tratamento equitativo da personagem por parte dos varejistas, assim como é feito com personagens como o Homem-Aranha, por exemplo. Segundo ela, as pessoas veem as coleções de Barbies como um interesse predominantemente feminino, e por isso seus produtos não recebem o respeito nem a atenção que merecem.

Moreno também deseja que a popularidade do filme influencie outras pessoas a abraçar sua paixão. Ele conta que ocasionalmente ele e Keith são insultados quando fazem sessões de fotos com suas Barbies. Sua esperança é que essa situação possa ser aceita com mais naturalidade, por causa do longa-metragem.

Ele já está planejando ver o filme pelo menos mais uma vez, e Maar não descarta a possibilidade de uma sétima sessão: “Para quem coleciona e ama a Barbie, é uma oportunidade única. Por isso, quero aproveitar para ver o filme o maior número de vezes possível.”

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